O Olhar de Tereza
O olhar é magro, pedinte
E rivaliza com a foto no jornal.
O prato colorido, suculento
Aguça o mais primitivo desejo.
O olhar é aflito,
A boca escancarada
Não emite som.
Inexiste a palavra naquele instante
Como também inexiste a saciedade
Da alma e da carne.
O corpo franzino, mal nutrido
Está envolto por uma pele negra
Já murcha, grudada aos ossos.
50 anos lhe dão,
Tem apenas dez...
Dez anos de cabelos ralos,
De pele ressequida,
De pés retorcidos
E de cabeça desproporcional.
Dez anos de desesperanças, necessidades
E cinco séculos de história
De maus tratos, submissão
E agruras.
Sim...
We are the world
Mas dele ela faz parte,
Ou definhará lentamente
A caminho da morte?
Será num breve futuro
Apenas a percepção
De estar parada nos corpos
Das frases ou das fotografias,
Sendo observada
Por outros olhos,
Olhares...
De outras tantas Terezas.