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Saudades de Mario Faustino. Não temos hoje uma crítica textual
que se disponha a examinar culturalmente questões culturais. Em
vez da densidade histórica, da abrangência contextual ou da
espessura ensaística, o que nos servem, na bandeja da imprensa,
são flores falsas, brotos de safadeza sibilina, trazidas das coxias
em que se disputa o "poder literário" e em que personagens pouco
ou nada interessantes se esforçam para exercer minimandarinatos
culturalmente irrelevantes.

Vejam o que se fala hoje da criação poética no Brasil.
É um quadro curioso. Os poetas tipográficos resolveram defender
com unhas e dentes a sua baia escritural. Por quê? Porque estão
se sentindo ameaçados. E assim desferem pontapés capengas
em duas direções. De uma parte, afirmam que letra de música
não é poesia —logo, à lata de lixo com Assis Valente,
Dorival Caymmi, Humberto Teixeira, Noel Rosa, Caetano Veloso e Chico Buarque,
entre muitos outros.

De outra parte, declaram que a visualidade da escrita, no horizonte da
poesia, é algo que só pode ser cultivado e praticado por
Augusto de Campos —e que o melhor que eu e Arnaldo Antunes (entre outros
mais) temos a fazer é enfiar o computador no saco. O que sobra,
então? A poesia tipográfica, é claro.

Os argumentos são tolos —e seus representantes, também. De
um modo geral, ficamos à mercê de baboseiras que se estendem
de achismos quase cândidos a ascherismos sub-haroldianos. É
aí que se ouriçam e enristam armas os tolentinos e bonvicinos
em promoção.

Atacando a lírica da música popular brasileira e decretando
a impossibilidade da existência de uma "poesia visual" (monopólio
de Augusto de Campos), eles limpara o terreno apenas para, claro, eles
mesmos. É compreensível. Durante muito tempo, e apesar das
profecias de Walter Benjamin e Viclímir Khlébnikov, o reino
da poesia tipográfica, carta marcada da modernidade ocidental, se
pensou como único e eterno.

Mas vamos por partes. O problema com a poesia da música popular,
que parecia superado a partir da década de 70, não merece
maiores comentários. Se vamos excluir as "lyrics" do tabuleiro,
atiremos fora gregos, provençais e elizabetanos. E qual o problema
com a música popular? Como já dizia o supracitado Faustino,
a poesia é um pássaro versátil e bem pouco esnobe,
capaz de fazer o seu ninho em qualquer canto. E a relação
poesia-canto é sublinhada sem exclusivismos, nos mais diversos sistemas
culturais. A estética verbal dos índios kuikuro, por exemplo,
distingue entre poesia da fala, da fala cantada e do canto. É a
música que transfigura o que há de bom e belo na fala comum.
Se foi para emitir tolices que Tolentino se educou com governantas e preceptores
europeus, teria sido melhor ir ao Xingu.

Bobagem, também, pensar que uma determinada forma poética
se cristalizou, no interior da "Galáxia de Gutenberg", para durar
por todos os tempos. Esse tipo de fantasia canônica não resiste
ao mais breve exame histórico. O padrão da poesia "vers libre"
impressa (alinhamento pela esquerda, margem direita irregular, letras dispostas
linearmente da esquerda para a direita e passagem de uma linha a outra
no sentido alto-baixo, o conjunto aparecendo como um bloco tipográfico
colado no branco da página) pode ser várias coisas, menos
eterno.

Deixando de parte padrões extra-europeus, para nos limitar à
cultura poética do Ocidente, devemos dizer que, mesmo nesse âmbito,
o cânone é obviamente histórico. Não existia
em tempos medievais, já não era cultivado por Blake e está
longe de reinar sozinho, na esquina entressecular em que nos encontramos.

Na verdade, os discursos que querem reduzir a poesia a um dos formatos
que ela assumiu, ao longo de sua trajetória histórica, indicam
nada mais que a crescente ansiedade de literatos conservadores (sejam tolentinos
ou bonvicinos) diante das transmutações formais que atualmente
presenciamos. E, em consequência, diante da impossibilidade de sustentar
o caráter único ou mesmo a hegemonia do modelo gráfico
que esses mesmos literatos elegeram para o fazer poético.

Mas o fato é que a arte da palavra é anterior ao espaço
gráfico gutemberguiano —e sobreviverá a este. Se a invenção
da máquina de escrever marcou a escrita poética a partir
das últimas décadas do século 19, como evitar que
o computador e seus programas gráfico-visuais não a marquem
igualmente, e ainda com mais intensidade, na virada do século 20
para o 21?

Só alguém enceguecido pelo afã irracional de defender
a sua baia escritural, frente à proliferação de signos
e formas de nossa circunstância histórico-cultural, pode pretender
que a materialização do poético somente seja viável
por meio do "medium" gutemberguiano. O computador, a holografia e o vídeo
estão aí, ao nosso dispor. Para quem quiser (e souber) usá-los.
É apenas tolo tentar bloquear o acesso de "designers" da linguagem
às novas tecnologias de inscrição sígnica.
E mais: não só a poesia concreta, quando nasceu, foi acusada
de "repetição" (o "caligrama"!), como Augusto de Campos,
antes que ser único e inimitável, pertence, como ele mesmo
é o primeiro a saber, a uma longa e rica tradição
planetária.

E, aliás, o que é mesmo que essas pessoas nos apresentam?
Nada digno de nota. Bruno Tolentino é um
empulhador, aproveitando-se da falta de organicidade da vida
cultural brasileira para enfiar azeitonas marketeiras nas empadas que passam
à sua frente. Nelson Ascher é um
crítico mediano (sub-candido, sub-haroldo) e um versejador de oitava
categoria. Os desinformados de sempre comem gato por lebre,
claro. Mas há quem saiba distinguir as coisas.

Na verdade, Tolentino é um subfilhote do
eruditismo alienado, ansioso por se travestir em porta-voz da alta cultura.
Com sucesso, já que estamos onde estamos. Mas, no caso, talvez eu
esteja alvejando pacas fáceis, já que Bonvicino
é um oportunista patológico, e Tolentino traz
a mente e o coração infectados. Seja como for, se a dieta
vai de Bonvicino a Tolentino, estamos, no mínimo, pessimamente servidos.

Ora, que Tolentino e Bonvicino (com seu escudeiro Nelson Ascher) explorem
a escrita tradicional.

E o façam da melhor maneira possível. Mas não queiram
nos proibir de cantar, ou de navegar nas águas luminosas da escrita
multimídia. A quirografia, a tipografia e a infografia são
tecnologias ou tecnologizações da palavra. E, assim como
o canto não cessou diante da barra do tipógrafo, também
não vai se furtar a introduzir perturbações nas redes
hipertextuais que agora se desenham e se ramificam por todo o planeta.
A poesia não nasceu em função do suporte de celulose,
mas como palavra-evento —ou, Homero na ponta da língua, palavra
alada.

Antonio Risério é poeta e antropólogo, autor de,
entre outros, "Textos e Tribos" (Imago, 1993), "Avant-Garde na Bahia" (Instituto
Lina Bo e P.M. Bardi, 1995) e "Fetiche" (Fundação Casa de
Jorge Amado, 1996).

(in Caderno Mais, Folha de São Paulo, 28.04.96)

Fantástico, Ascher fala de bem de Risério!

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Mais Bovincino

Harry acordou em sua cama, de ressaca. Uma ressaca violenta.
– Merda – ele disse em voz baixa.
Havia uma pequena pia no quarto.
Harry se levantou, aliviou-se na pia, abriu a torneira e deixou a água lavá-la, depois enfiou a cabeça ali e bebeu um pouco de água. Depois lavou o rosto e se secou com uma parte da camiseta que estava vestindo.
O ano era 1943.
Harry juntou algumas roupas do chão e começou a se vestir, devagar. A veneziana estava fechada e tudo estava escuro, a não ser pelos raios de sol que entravam pelos furos da cortina. Havia duas janelas. O apê era de primeira.
Ele percorreu o corredor até o banheiro, trancou a porta e se sentou. Era incrível que ele ainda conseguisse evacuar. Não comia há dias.
Jesus, ele pensou, as pessoas têm intestinos, bocas, pulmões, orelhas, umbigos, orgãos sexuais, e... cabelo, poros, línguas, às vezes dentes, e todas as outras partes... unhas, cílios, dedos, joelhos, estômagos...
Havia algo de tão aborrecido nisso tudo. Como é que ninguém reclamava?
Harry terminou com o áspero papel higiênico da pensão. Pode apostar que as senhorias se limpavam com coisa melhor. Todas aquelas senhoras religiosas, viúvas há séculos.
Ele vestiu as calças, puxou a descarga e saiu de lá, desceu as escadas da pensão e alcançou a rua.
Eram onze da manhã. Caminhou para o sul. A ressaca era brutal, mas ele não ligava. Isso lhe informava que estivera em outro lugar, um lugar bom. Durante a caminhada ele encontrou meio cigarro no bolso da camisa. Ele parou, olhou para a ponta amassada e manchada, achou um fósforo e tentou acender. A chama não pegou. Seguiu tentando. Depois do quarto fósforo, que queimou seus dedos, ele conseguiu dar uma tragada. Ele se engasgou, depois tossiu. Sentiu seu estômago revirar.
Um carro veio velozmente em sua direção. Dentro do carro estavam quatro rapazes.
– EI, SEU VELHO DE MERDA! VÊ SE MORRE!
Os outros riram. Depois eles se foram.
O cigarro de Harry ainda estava aceso. Ele deu outra tragada. Uma espiral de fumaça azul subiu. Ele gostava daquela espiral de fumaça azul.
Caminhou sob o sol cálido pensando, estou caminhando e estou fumando um cigarro.
Harry caminhou até chegar ao parque em frente à biblioteca. Continuava tragando o cigarro. Sentiu o calor da ponta queimando e jogou, com relutância, o cigarro fora. Adentrou o parque e andou até encontrar um lugar entre uma estátua e alguns arbustos. A estátua era de Beethoven. E Beethoven estava caminhando, a cabeça baixa, as mãos para trás, certamente pensando em alguma coisa.
Harry se deitou e se estendeu no gramado. A grama aparada lhe dava coceira. Estava pontiaguda, afiada, mas tinha um cheiro delicioso e limpo. O cheiro da paz.
Pequenos insetos começaram a andar sobre seu rosto, formando círculos irregulares, cruzando o caminho uns dos outros, mas nunca se encontrando.
Eram apenas pontos, mas os pontos estavam procurando alguma coisa.
Harry olhou para o céu. O céu estava azul, e isso era horrível. Harry continuou olhando para o céu, tentando sentir alguma coisa. Mas não sentia nada. Nenhuma sensação de eternidade. Nem de Deus. Nem mesmo do Diabo. Mas era preciso encontrar Deus primeiro se quisesse encontrar o Diabo. Eles vinham nessa ordem.
Harry não gostava de pensamentos graves. Pensamentos graves podiam levar a erros graves.
Pensou um pouco sobre o suicídio... sem fazer disso um grande drama. Do mesmo modo como a maioria dos homens pensaria sobre comprar um par de sapatos novos. O maior problema do suicídio era a hipótese de que ele pudesse levar a algo pior. O que ele realmente precisava era de uma garrafa de cerveja bem gelada, o rótulo úmido, e com aquelas gotas geladas tão lindas na superfície do vidro.
Harry cochilou... e foi acordado pelo som de vozes. As vozes eram de meninas muito jovens, colegiais. Elas estavam rindo, gracejando.
– Ooooh, olhem!
– Ele está dormindo!
– Vamos acordar ele?
Harry piscou à luz do sol, espiando as meninas através das pálpebras semicerradas. Não sabia ao certo quantas eram, mas pôde ver seus vestidos coloridos: amarelos e vermelhos e azuis e verdes.
– Olhem! Ele é lindo!
Elas riram, gargalharam e saíram correndo.
Harry voltou a fechar os olhos.
O que tinha sido aquilo?
Nunca antes lhe acontecera algo tão agradável e delicioso. Elas o tinham chamado de “lindo”. Quanta gentileza!
Mas elas não voltariam.
Ele se levantou e caminhou até o final do parque. Lá estava a avenida. Achou um banco de praça e se sentou. Havia outro mendigo no banco ao lado. Ele era bem mais velho que Harry. O mendigo tinha um ar pesado, sombrio, amargo, que fazia Harry se lembrar de seu pai.
Não, pensou Harry. Estou sendo muito duro.
O mendigo olhou na direção de Harry. O mendigo tinha olhos pequenos e inexpressivos.
Harry lançou-lhe um sorriso tímido. O mendigo virou o rosto.
Então um barulho veio da avenida. Motores. Era um comboio militar. Uma longa faixa de caminhões cheios de soldados. Os soldados estavam apertados como sardinhas, transbordavam, se penduravam do lado de fora dos caminhões. O mundo estava em guerra.
O comboio se movia lentamente. Os soldados avistaram Harry sentado no banco de praça. Então começou o barulho. Era uma mistura de assobios, vaias e xingamentos. Eles gritavam com Harry.
– EI, SEU Filho da puta!
– PREGUIÇOSO!
À medida que cada caminhão do comboio passava, o próximo continuava:
– TIRE A SUA BUNDA DESSE BANCO!
– VEADO DE MERDA!
– COVARDE!
– CAGALHÃO!
Era um comboio muito longo e muito lento.
– VENHA SE JUNTAR A NÓS!
– VAMOS TE ENSINAR A LUTAR, SEU PUTÃO!
Os rostos eram brancos e pardos e negros, flores de ódio.
Então o velho mendigo se levantou do seu banco de praça e gritou para o comboio:
– EU PEGO ELE PARA VOCÊS, RAPAZES! LUTEI NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL!
Os que estavam nos caminhões que passavam riram e abanaram os braços:
– PEGUE ELE, VOVÔ!
– FAÇA ELE VER A LUZ!
Então o comboio se foi.
Eles haviam jogado coisas em Harry: latas de cerveja vazias, latas de refrigerante, laranjas, uma banana.
Harry se levantou, juntou a banana, sentou-se de novo, descascou a banana e a comeu. Estava divina. Depois ele encontrou uma laranja, descascou-a e a mastigou, engoliu a polpa e o suco. Encontrou outra laranja e a comeu também. Então achou um isqueiro que alguém havia jogado ou deixado cair. Girou a pederneira. Funcionava.
Andou até o mendigo que estava sentado no banco, empunhando o isqueiro.
– Ei, camarada, tem um cigarro?
Os pequenos olhos do mendigo se fixaram em Harry. Pareciam vazios, como se as pupilas tivessem sido removidas. O lábio inferior do mendigo tremeu.
– Você gosta do Hitler, não é? – ele disse em voz baixa.
– Olha, amigo – disse Harry –, por que você e eu não damos uma volta juntos? Podemos descolar uns pilas pra tomar umas biritas.
O velho mendigo revirou os olhos. Por um instante Harry pode ver apenas o branco de seus olhos injetados. Os olhos voltaram para o lugar. O mendigo olhou para ele.
– Com você... Não!
– Ok – disse Harry –, até a vista...
O velho mendigo voltou a revirar os olhos e disse de novo, só que mais alto desta vez:
– COM VOCÊ... NÃO!
Harry saiu do parque caminhando devagar e subiu a rua em direção ao seu bar favorito. O bar estava sempre lá. Harry atracava no bar. Era seu único paraíso. Impiedoso e justo.
No caminho, Harry passou por um estacionamento vazio. Um bando de homens de meia-idade jogava softball. Eles estavam fora de forma. Eram, em sua maioria, barrigudos, baixinhos e bundudos, quase como mulheres. Eram todos amadores ou estavam velhos demais para os arremessos.
Harry parou para assistir ao jogo. Era um festival de eliminações, lançamentos ruins, rebatedores golpeados, erros, bolas mal batidas, mas eles seguiam jogando. Quase como um ritual, uma obrigação. E eles estavam com raiva. Era a única coisa em que eram bons. A energia de sua raiva dominada.
Harry ficou assistindo. Tudo parecia perda de tempo. Até mesmo a bola parecia triste, saltitando inutilmente de um lado para o outro.
– Olá, Harry, como é que você não está no bar?
Era o McDuff, um sujeito velho e franzino, dando uma baforada em seu cachimbo. McDuff tinha uns 62 anos, sempre olhava para a frente, nunca diretamente para seu interlocutor, mas ele o via mesmo assim por detrás de seus óculos sem aro. E ele sempre vestia um terno preto com gravata azul. Chegava no bar todos os dias por volta do meio-dia, tomava duas cervejas, depois ia embora. E você não conseguia odiá-lo nem gostar dele. Era como um calendário ou um porta-canetas.
– Estou a caminho – respondeu Harry.
– Eu acompanho você – disse McDuff.
Então Harry caminhou ao lado do velho e franzino McDuff enquanto o velho e franzino McDuff fumava seu cachimbo. McDuff sempre mantinha o cachimbo aceso. Era sua marca registrada. McDuff era o seu cachimbo. Por que não?
Caminhavam juntos, sem dizer nada. Não havia o que dizer. Pararam no semáforo, McDuff fumando seu cachimbo.
McDuff tinha poupado dinheiro. Nunca havia se casado. Morava num apartamento de dois cômodos e não fazia muita coisa. Bem, ele lia os jornais, mas sem muito interesse. Não era religioso. Mas não por falta de convicção. Simplesmente porque não havia se dado ao trabalho de pensar no assunto. Era como não ser republicano por não saber o que é um republicano. McDuff não era feliz nem infeliz. Vez que outra ficava um pouco inquieto, alguma coisa parecia incomodá-lo e por alguns instantes seus olhos se enchiam de terror. Mas logo aquilo passava... como uma mosca que pousa... e em seguida levanta voo à procura de terras mais promissoras.
Então eles chegaram ao bar. Entraram.
As pessoas de sempre.
McDuff e Harry se sentaram em seus bancos.
– Duas cervejas – proferiu o bom e velho McDuff ao dono do bar.
– Como vai, Harry? – perguntou um dos fregueses do bar.
– Tateando no escuro, tremendo e cagando – respondeu.
Sentiu pena do McDuff. Ninguém o havia cumprimentado. McDuff era como um mata-borrão sobre a mesa. Não suscitava nenhum sentimento. Notavam Harry porque ele era um vagabundo. Fazia com que se sentissem superiores. Eles precisavam disso. McDuff fazia com que se sentissem apenas mais insípidos do que já eram.
Não aconteceu nada demais. Todos se debruçaram sobre suas bebidas, observando-as. Poucos tinham imaginação o suficiente para simplesmente encher a cara.
Uma tarde banal de sábado.
McDuff partiu para sua segunda cerveja e foi gentil o bastante para pagar outra a Harry.
O cachimbo de McDuff estava fervendo por conta das seis horas de queima contínua.
Terminou sua segunda cerveja e foi embora, e Harry ficou lá com o resto do pessoal.
Era um sábado muito parado, mas Harry sabia que se aguentasse por mais algum tempo conseguiria se dar bem. Sábado à noite, é claro, era melhor para descolar umas bebidas. Mas não havia nenhum lugar para onde pudesse ir até que a hora chegasse. Harry estava se esquivando da senhoria. Ele pagava por semana e estava nove dias atrasado.
Entre uma bebida e outra, o ambiente mergulhava num marasmo mortal. Os fregueses só precisavam sentar e ficar em algum lugar. Pairavam no ar uma solidão generalizada, um medo latente e a necessidade de estarem juntos e de conversarem um pouco, pois isso os acalmava. Tudo de que Harry precisava era de alguma coisa para beber. Harry podia beber eternamente e ainda precisaria de mais, não havia bebida suficiente para satisfazê-lo. Mas os outros... eles apenas sentavam, falando de vez em quando sobre o que quer fosse.
A cerveja de Harry estava ficando choca. E a ideia não era terminá-la porque aí teria que comprar outra e ele não tinha dinheiro. Teria que esperar e ficar na expectativa. Como um profissional na mendicância de bebidas, Harry sabia a primeira regra: você nunca deve pedir uma. Sua sede era uma piada para os outros e qualquer pedido de sua parte lhes tirava o prazer de dar.
Harry deixou seus olhos passearem pelo bar. Havia quatro ou cinco clientes por ali. Poucos e só gente miúda. Um deles era Monk Hamilton. A maior afirmação de vitalidade para Monk era comer seis ovos no café da manhã. Todos os dias. Ele achava que isso lhe dava uma vantagem. Não era muito bom nesse negócio de pensar. Era um tipo imenso, quase tão largo quanto alto, de olhos pálidos, fixos e despreocupados, pescoço de carvalho, mãos grandes, peludas e nodosas.
Monk estava falando com o atendente do bar. Harry ficou olhando uma mosca que rastejava lentamente para dentro do cinzeiro molhado de cerveja à sua frente. A mosca caminhou por ali, por entre os tocos de cigarro, forçando caminho contra um cigarro empapado, depois soltou um zunido furioso, ergueu-se, então pareceu voar para trás, e para a esquerda, e depois se foi.
Monk era limpador de janelas. Seus olhos inexpressivos encontraram os de Harry. Seus lábios grossos se torceram num riso de superioridade. Ele pegou sua garrafa, andou, sentou-se no banco ao lado de Harry.
– O que você está fazendo, Harry?
– Esperando chover.
– Que tal uma cerveja?
– Esperando chover cerveja, Monk. Obrigado.
Monk pediu duas cervejas. Elas chegaram.
Harry gostava de beber sua cerveja direto do gargalo. Monk despejou um pouco da sua num copo.
– Harry, você está precisando de emprego?
– Não tenho pensado no assunto.
– Tudo que você precisa fazer é segurar a escada. Precisamos de um cara para a escada. Não paga tão bem quanto lá em cima, mas já é alguma coisa. O que você acha?
Monk estava fazendo uma piada. Pensava que Harry era imbecil demais para compreendê-la.
– Me dê um tempo para pensar no assunto, Monk.
Monk olhou em volta para os outros clientes, soltou seu sorriso superior de novo, piscou para eles, então voltou a olhar para Harry.
– Escute, tudo o que você tem que fazer é segurar a escada bem firme. Isso não é tão dificil, é?
– É mais fácil que muita coisa, Monk.
– Então você topa?
– Acho que não.
– Ah, vamos! Por que você não tenta?
– Eu não posso fazer isso, Monk.
Então todos se sentiram bem. Harry era o garoto deles. O esplêndido fracassado.
Harry olhou para todas aquelas garrafas atrás do bar. Todos aqueles bons momentos à espera, todas aquelas risadas, toda aquela loucura... uísque, vinho, gim, vodca e tantas outras delícias. E ainda assim todas aquelas garrafas ficavam lá paradas, em desuso. Era como uma vida esperando para ser vivida, uma vida que ninguém queria.
– Olhe – disse Monk –, vou cortar o cabelo.
Harry sentiu a tranquila solidez de Monk. Monk havia ganhado, em certo momento, alguma coisa. Ele se encaixava, como uma chave numa fechadura que abria para uma outra parte qualquer.
– Por que você não vem comigo enquanto eu corto o cabelo?
Harry não respondeu.
Monk chegou mais perto.
– Paramos pra tomar uma cerveja no caminho e eu pago outra pra você depois.
– Vamos lá...
Harry esvaziou a garrafa facilmente em sua ânsia, depois a largou.
Seguiu Monk para fora do bar. Caminharam juntos ao longo da rua. Harry sentiu-se como um cachorro seguindo seu dono. E Monk estava calmo, estava agindo, tudo se encaixava. Era o seu sábado de folga e ele ia cortar o cabelo.
Acharam um bar e pararam ali. Era muito mais agradável e limpo do que o bar em que Harry normalmente vadiava. Monk pediu as cervejas.
O modo como ele se comportava! Um homem másculo. E seguro de sua masculinidade. Nunca pensava na morte, pelo menos não na sua.
Enquanto estavam ali, lado a lado, Harry percebeu que havia cometido um erro: um trabalho em turno integral teria sido menos doloroso do que aquilo.
Monk tinha uma verruga no lado direito do rosto, uma verruga bem descontraída, uma verruga sem constrangimentos.
Harry ficou olhando Monk pegar sua garrafa e sugá-la. Era apenas algo que Monk fazia, como coçar o nariz. Ele não estava ávido pela bebida. Monk apenas ficava sentado com sua garrafa e estava tudo pago. E o tempo corria como a merda corre pelo rio.
Terminaram suas garrafas, e Monk disse alguma coisa ao atendente do bar e o atendente do bar respondeu alguma coisa.
Então Harry seguiu Monk até o lado de fora do bar. Seguiram juntos, Monk ia cortar o cabelo.
Caminharam até a barbearia e entraram. Não havia outros clientes. O barbeiro conhecia Monk. Enquanto Monk subia na cadeira eles disseram algumas palavras um para o outro. O barbeiro o cobriu com o protetor e a cabeça de Monk pareceu enorme, a verruga firme na bochecha direita, e ele disse:
– Curto ao redor das orelhas e não tire muito em cima.
Harry, desesperado por outra bebida, pegou uma revista, virou algumas páginas e fingiu estar interessado.
Então ouviu Monk dizer ao barbeiro:
– A propósito, Paul, este é Harry. Harry, este é Paul.
Paul e Harry e Monk.
Monk e Harry e Paul.
Harry, Monk, Paul.
– Olhe, Monk – disse Harry –, quem sabe eu vou lá pegar outra cerveja enquanto você corta o cabelo?
Monk olhou fixamente para Harry.
– Não, nós vamos tomar uma cerveja depois que eu terminar aqui.
Depois Monk olhou fixamente para o espelho.
– Não precisa tirar tanto ao redor das orelhas, Paul.
Enquanto o mundo girava, Paul ia cortando.
– Tem pescado alguma coisa, Monk?
– Nada, Paul.
– Não acredito nisso...
– Acredite, Paul.
– Não é o que tenho ouvido.
– Como...?
– Que nem quando a Betsy Ross fez a bandeira americana, treze estrelas não teriam bastado para se enrolar no seu mastro!
– Ah, droga, Paul, você é muito engraçado!
Monk riu. Sua risada era como linóleo sendo cortado com uma faca sem fio. Ou talvez fosse um grito de morte.
Então ele parou de rir.
– Não tire muito em cima.
Harry largou a revista e olhou para o chão. A risada de linóleo havia se transformado num chão de linóleo. Verde e azul, com diamantes lilases. Um chão velho. Alguns pedaços tinham começado a descascar, revelando o soalho marrom-escuro que estava por baixo. Harry gostava de marrom.
Ele começou a contar: três cadeiras de barbeiro, cinco cadeiras de espera. Treze ou quatorze revistas. Um barbeiro. Um cliente. Um... o quê?
Paul e Harry e Monk e o marrom-escuro.
Os carros passavam do lado de fora. Harry começou a contar, parou. Não brinque com a loucura, a loucura não brinca.
Mais fácil contar as bebidas nas mãos: nenhuma.
O tempo reverberava como um sino monótono.
Harry sentia seus pés, seus pés dentro dos sapatos, e seus dedos... nos pés, dentro dos sapatos.
Ele mexia os dedos dos pés. Sua vida completamente desperdiçada indo a lugar nenhum como uma lesma se arrastando em direção ao fogo.
Folhas cresciam sobre os troncos. Antílopes erguiam suas cabeças do pasto. Um açougueiro em Birmingham levantava seu cutelo. E Harry estava parado numa barbearia, na esperança de tomar uma cerveja.
Ele não tinha dignidade, era um vira-latas.
Aquilo seguiu, passou, continuou e continuou, e então terminou. O fim do teatro da cadeira do barbeiro. Paul girou Monk para que ele pudesse se ver no espelho atrás da cadeira.
Harry odiava barbearias. Aquele giro final na cadeira, aqueles espelhos, eram um momento de horror para ele.
Monk não se incomodava.
Ele se olhou. Estudou seu reflexo, rosto, cabelo, tudo. Parecia admirar o que via. Então, ele falou:
– Ok, Paul. Agora você poderia tirar um pouco do lado esquerdo? E está vendo este pedacinho desalinhado? Temos que corrigir.
– Ah, sim, Monk... eu cuido disso...
O barbeiro girou Monk de volta e se concentrou no pequeno pedaço que estava desalinhado.
Harry observava a tesoura. Havia muito barulho, mas não muito corte.
Então Paul girou Monk de novo em direção ao espelho.
Monk se olhou.
Um leve sorriso se esboçou no canto direito de sua boca. Então o lado esquerdo de seu rosto se contorceu um pouco. Autoadoração com uma pequena pontada de dúvida.
– Está bem – ele disse –, agora você acertou.
Paul espanou Monk com uma pequena escova. Pedaços de cabelo morto flutuaram num mundo morto.
Monk revirou os bolsos atrás do valor do corte e da gorjeta.
A transação monetária fez tinir a tarde apática.
Então Harry e Monk caminharam pela rua, juntos, de volta ao bar.
– Não há nada como um corte de cabelo – disse Monk –, faz você se sentir um novo homem.
Monk sempre vestia work shirts azul-claras, mangas arregaçadas para mostrar seus bíceps. Um cara e tanto. Tudo o que ele precisava agora era de uma fêmea para dobrar suas cuecas e camisetas de baixo, enrolar suas meias e colocá-las na gaveta da cômoda.
– Obrigado por me fazer companhia, Harry.
– Não por isso, Monk...
– Da próxima vez que eu for cortar o cabelo quero que você venha junto comigo.
– Vamos ver, Monk...
Monk caminhava bem perto do meio-fio e era como um sonho. Um sonho amarelado. Simplesmente aconteceu. E Harry não sabia de onde tinha vindo o impulso. Mas cedeu a ele. Fingiu tropeçar e deu um encontrão em Monk. E Monk, como um pesado anfiteatro de carne, caiu na frente do ônibus. Quando o motorista pisou no freio ouviu-se uma pancada, não muito alto, mas uma pancada. E lá estava Monk, caído na sarjeta, corte de cabelo, verruga e tudo o mais. E Harry olhou para baixo. Uma coisa estranhíssima: lá estava a carteira de Monk na sarjeta. Tinha saltado para fora do bolso traseiro de Monk por conta do impacto e ali estava. Só não se achava estendida no chão, mas sim erguida como uma pequena pirâmide.
Harry se agachou, pegou a carteira e a colocou em seu bolso. Parecia cálida, cheia de graça. Ave Maria.
Então Harry se debruçou sobre Monk.
– Monk? Monk... você está bem?
Monk não respondeu. Mas Harry notou que ele estava respirando e não havia sangue. E, de repente, o rosto de Monk pareceu bonito e galante.
Ele está ferrado, pensou Harry, e eu estou ferrado. Nós dois estamos ferrados em sentidos diferentes. Não existe verdade, não existe nada real, não existe nada.
Mas algo existia. A multidão existia.
– Saiam de perto! – alguém disse – Deixem ele respirar!
Harry saiu de perto. Saiu de perto e se misturou à multidão. Ninguém o deteve.
Ele estava caminhando para o sul. Ouviu a sirene da ambulância. Ela gritava, secundando o seu sentimento de culpa.
Então, rapidamente, a culpa desapareceu. Como uma antiga guerra terminada. Era preciso seguir em frente. As coisas seguiam em frente. Como as pulgas e o melado para panquecas.
Harry se enfiou num bar que nunca havia notado antes. Havia um atendente no balcão. Garrafas. Estava escuro ali. Pediu um uísque duplo, bebeu de um só gole. A carteira de Monk estava gorda e abundante. Sexta devia ter sido dia do pagamento. Harry puxou uma nota, pediu outro uísque duplo. Tomou metade, fez uma pausa em reverência, e depois secou o resto, e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se muito bem.
Mais tarde Harry foi até a Groton Steakhouse. Entrou e se sentou no balcão. Nunca tinha ido lá antes. Um homem alto, magro, desinteressante, vestindo chapéu de chef e um avental sujo andou até ele e se curvou sobre o balcão. Estava com a barba por fazer e cheirava a inseticida. Olhou de soslaio para Harry.
– Veio aqui atrás de EMPREGO? – perguntou.
Por que diabos todo o mundo está tentando me botar para trabalhar?, pensou Harry.
– Não – respondeu Harry.
– Temos uma vaga para lavador de prato. Cinquenta centavos a hora e você pode agarrar a bunda da Rita de vez em quando.
A garçonete passou ao lado deles. Harry olhou para a bunda da mulher.
– Não, obrigado. Por hora, vou querer uma cerveja. De garrafa. Qualquer marca.
O chef chegou mais perto. Tinha longos pelos saindo das narinas, fortemente ameaçadores, como um pesadelo imprevisto.
– Ouça, seu merda, você tem dinheiro?
– Tenho – disse Harry.
O chef hesitou por alguns instantes, então saiu, abriu o refrigerador e puxou uma garrafa de cerveja. Tirou a tampa, voltou até onde estava Harry e colocou o líquido fermentado no balcão com uma pancada.
Harry deu um longo gole, pousou a garrafa suavemente.
O chef continuava a examiná-lo. Não conseguia matar a charada.
– Agora – disse Harry –, quero um filé alto de carne de gado, bem passado, com batatas fritas, e pegue leve na gordura. E me traga outra cerveja, agora.
O chef fez surgir diante dele uma nuvem de fúria, depois se afastou, foi até o refrigerador, repetiu a cena, o que incluía trazer a garrafa e colocá-la no balcão com um estrondo.
Em seguida o chef foi até a grelha, jogou um bife lá dentro.
Um glorioso manto de fumaça se ergueu. O chef encarava Harry por entre a fumaça.
Não faço ideia, pensou Harry, de por que ele não gosta de mim. Bem, talvez eu precise mesmo de um corte de cabelo (tire bastante de todos os lados, por favor) e fazer a barba, meu rosto está um pouco abatido, mas as minhas roupas estão bem limpas. Gastas, mas limpas. Devo ser mais limpo que o prefeito desta cidade de merda.
A garçonete chegou perto dele. Não era feia. Nenhuma maravilha, mas não estava mal. Seus cabelos empilhavam-se sobre a cabeça, meio bagunçados, pequenos cachos desciam soltos pelos lados. Bacana.
Ela se debrucou sobre o balcão.
– Você não pegou o trabalho de lavador de pratos?
– O salário é bom mas não é meu ramo de negócio.
– E qual é o seu ramo de negócio?
– Sou arquiteto.
– Metiroso – ela disse e se afastou.
Harry sabia que não era muito bom de papo. Descobriu que quanto menos falava melhor todos se sentiam.
Terminou as duas cervejas. Então chegaram o bife e as batatas fritas. O chef bateu o prato com força no balcão. O sujeito era bom nas pancadas.
Parecia um milagre para Harry. Ele avançou, cortando e mastigando. Fazia uns dois anos que não devorava um bife. À medida que comia, sentia uma força renovada invadindo seu corpo. Quando não se come com frequência, comer é um verdadeiro acontecimento.
Até mesmo seu cérebro sorria. E seu corpo parecia estar dizendo, obrigado, obrigado, obrigado.
Então Harry terminou.
O chef ainda não deixara de encará-lo.
– Ok – disse Harry –, vou querer um repeteco.
– Vai querer a mesma comida?
– Aham.
O chef o olhou de modo ainda mais fixo. Afastou-se e lançou outro bife na grelha.
– E quero outra cerveja também, por favor. Agora.
– RITA! – gritou o chef –, VEJA MAIS UMA CERVEJA PRA ELE!
Rita apareceu com a cerveja.
– Você bebe bastante cerveja – ela disse – para um arquiteto.
– Estou planejando erguer uma grande obra.
– Rá! Como se você conseguisse!
Harry se concentrou na cerveja. Depois levantou e foi até o banheiro masculino. Quando voltou, liquidou a cerveja.
O chef voltou e bateu o prato de bife e fritas com força na frente de Harry.
– A vaga ainda está disponível, se você quiser.
Harry não respondeu. Avançou sobre o novo prato.
O chef seguiu até a grelha, de onde continuou a encarar Harry.
– Você ganha as duas refeições – disse o chef – e sai empregado.
Harry estava ocupado demais com o bife e com as batatas fritas para responder. Ainda estava com fome. Quando se está na vadiagem, e especialmente quando se é um bebum, pode-se ficar dias sem comer, muitas vezes não se tem nem mesmo vontade de comer, e então, zaz, você é fulminado: surge uma fome insuportável. Você começa a pensar em comer qualquer coisa: ratos, borboletas, folhas, bilhetes de jogo, jornal, rolhas, o que aparecer pela frente.
Agora, debruçado sobre o segundo prato, a fome de Harry ainda estava lá. As batatas fritas eram lindas e gordurosas e amarelas e quentes, algo como a luz do sol, uma nutritiva e gloriosa luz solar que se podia mastigar. E o bife não era apenas uma fatia de alguma pobre criatura assassinada, era algo comovente, que alimentava o corpo e a alma e o coração, que fazia os olhos sorrirem, transformando o mundo num lugar menos difícil de suportar. Ou de se viver. Naquele instante, a morte não importava.
E então ele terminou o prato. Só havia restado o osso, que estava totalmente limpo. O chef ainda encarava Harry.
– Vou comer mais um – Harry disse ao chef. – Outro filé alto com fritas e mais uma cerveja, por favor.
– VOCÊ NÃO VAI COMER MAIS UM! – gritou o chef – VOCÊ VAI PAGAR TUDO E DAR O FORA DAQUI!
Cruzou pela frente da grelha e parou na frente de Harry. Tinha um bloco de pedidos nas mãos. Rabiscou furiosamente uma soma. Depois jogou a conta no meio do prato sujo. Harry pegou a conta de cima do prato.
Havia um outro cliente no restaurante, um homem redondo e rosado, de cabeça grande e cabelos despenteados, tingidos de um castanho um tanto desanimador. O homem consumira inúmeras xícaras de café enquanto lia o jornal da noite.
Harry se levantou, tirou algumas notas do bolso, separou duas e as depôs ao lado do prato.
Depois deu o fora dali.
O trânsito do início da noite estava começando a entupir a avenida de carros. O sol se punha atrás dele. Harry olhou para os motoristas dos carros. Pareciam infelizes. O mundo parecia infeliz. As pessoas estavam no escuro. As pessoas estavam apavoradas e decepcionadas. As pessoas estavam presas em armadilhas. As pessoas estavam na defensiva, nervosas. Sentiam que suas vidas estavam sendo desperdiçadas. E elas estavam certas.
Harry seguiu caminhando. Parou no semáforo. E, naquele momento, teve um sentimento muito estranho. Teve a impressão de que era a única pessoa viva no mundo.
Quando o sinal mudou para o verde, esqueceu-se de tudo. Atravessou a rua e seguiu pela calçada do outro lado.
– Septuagenarian Stew
verões escaldantes na metade dos anos 30 em Los Angeles
onde um de cada três lotes estava desocupado
e era um trajeto curto até as plantações
de laranja –
se você tivesse um carro e
gasolina.
verões escaldantes na metade dos anos 30 em Los Angeles
jovem demais pra ser um homem e velho demais pra ser
um garoto.
tempos difíceis.
um vizinho tentou assaltar nossa
casa, meu pai o pegou
entrando pela
janela,
manteve-o preso ali no escuro
junto ao chão:
“seu filho da puta de
merda!”
“Henry, Henry, me solta,
me solta!”
“seu filho da puta, eu vou
te matar!”
minha mãe ligou para a polícia.
outro vizinho colocou fogo na casa
numa tentativa de receber o
seguro.
acabou sendo investigado e
preso.
verões escaldantes na metade dos anos 30 em Los Angeles,
nada para fazer, nenhum lugar para ir, ouvindo
a conversa assustada de nossos pais
à noite:
“o que vamos fazer? o que vamos
fazer?”
“deus, não faço a menor ideia...”
cachorros famintos pelos becos, a pele tesa
as costelas marcadas, o pelo falhando, as línguas
expostas, aqueles olhos tão tristes, mais tristes que toda a tristeza
da Terra.
verões escaldantes na metade dos anos 30 em Los Angeles
os homens da vizinhança em silêncio
e as mulheres pálidas como
estátuas.
os parques cheios de socialistas,
comunistas, anarquistas, junto aos bancos do
parque, discursando, agitando.
o sol brilhava em meio a um céu aberto e
o oceano estava limpo
e nós não éramos
nem homens nem
garotos.
alimentávamos os cães com restos endurecidos de
pão
pelos quais ficavam muito agradecidos,
os olhos brilhando
maravilhados,
os rabos balançando diante de tanta
sorte
como
a Segunda Guerra Mundial veio em nossa direção,
assim mesmo, durante aqueles
verões escaldantes na metade dos anos 30 em Los Angeles.

Naquele verão, julho de 1934, metralharam John Dillinger na saída de um cinema em Chicago. Ele não teve nenhuma chance. A Dama de Vermelho[5] o alcaguetou. Mais de um ano atrás o sistema bancário havia entrado em colapso. A Lei Seca tinha sido revogada, e meu pai pôde voltar a beber a cerveja Eastside. Mas o pior de tudo foi Dillinger ter sido pego. Muitas pessoas o admiravam, e sua morte causou grande comoção. Roosevelt era o presidente. Ele mantinha um programa no rádio em que conversava informalmente e todos escutavam. Realmente sabia falar. E ele começou a criar programas de trabalho para as pessoas. Mas as coisas continuavam muito ruins. E minhas espinhas pioraram, tornando-se descomunais.
Naquele mês de setembro eu fui designado para a escola de ensino médio Woodheaven, mas meu pai insistiu para que eu fosse para a Chelsey.
– Olhe – eu disse –, Chelsey fica em outro bairro. É muito longe.
– Você vai fazer o que estou mandando. Vai se matricular na Chelsey.
Eu sabia por que meu pai desejava que eu fosse para Chelsey. As famílias ricas botavam seus filhos lá. Meu pai era louco. Continuava com o sonho de ser rico. Quando Carequinha descobriu que eu estava indo para Chelsey, decidiu ir para lá também. Não conseguia me livrar dele nem das minhas espinhas.
No primeiro dia, seguimos de bicicleta até Chelsey e as estacionamos. Era uma sensação horrível. Boa parte dos garotos, pelo menos os mais velhos, tinha seus próprios automóveis, muitos deles conversíveis novinhos, e eles não eram pretos ou azul-marinho como os carros normais, eram de cores vibrantes: amarelo, verde, laranja e vermelho. Os caras sentavam ali, do lado de fora da escola, e as garotas se juntavam ao redor deles, loucas por uma carona. Todos se vestiam bem, os garotos e as garotas, usavam pulôveres, relógios de pulso e sapatos bacanas. Pareciam bastante maduros e tinham um ar de superioridade. E lá estava eu, minha camisa feita em casa, meu único par de calças totalmente surrado, meus sapatos esbodegados e coberto de espinhas. Os caras em seus carros não se preocupavam com acne. Eles eram muito elegantes, altos e limpos, seus dentes brilhavam e seus cabelos não eram lavados com sabonete. Eles pareciam saber algo que me era inacessível. Mais uma vez, eu estava por baixo.
E uma vez que todos os caras tinham carros, Carequinha e eu nos envergonhávamos de nossas bicicletas. Acabamos por deixá-las em casa, indo e voltando a pé da escola, uma distância de quatro quilômetros na ida e outros quatro na volta. Carregávamos lancheiras marrons. Mas a maioria dos estudantes sequer comia na cafeteria da escola. Iam junto com as garotas até alguma lanchonete, colocavam as vitrolas para tocar e riam à vontade. Estavam a caminho da Universidade do Sul da Califórnia.
Eu tinha vergonha das minhas espinhas. Em Chelsey você podia escolher entre fazer educação física ou fazer o R.O.T.C.[6]. Escolhi o R.O.T.C. para não ter que usar um abrigo de ginástica que permitiria que todos vissem as espinhas que me cobriam o corpo. Mas eu odiava o uniforme. A camiseta era de lã, o que irritava minhas feridas. Usávamos o uniforme de segunda a quinta. Na sexta, deixavam que usássemos nossas roupas normais.
Estudávamos o Manual do Exército. Era sobre atividades militares e outras merdas desse tipo. Marchávamos ao redor do campo. Praticávamos o que estava no Manual. Segurar o rifle durante os vários exercícios era terrível para mim. Eu tinha espinhas nos ombros. Algumas vezes, quando batia o rifle contra o meu ombro, uma espinha estourava e escorria pela minha camiseta. Saía sangue, mas como a camiseta era grossa e feita de lã, a mancha não ficava visível e não se parecia com sangue.
Falei para minha mãe o que estava acontecendo. Ela costurou nos ombros um forro com tecido de algodão, mas isso só melhorou um pouquinho minha situação.
Uma vez um oficial veio fazer uma inspeção. Tomou o rifle das minhas mãos e o segurou, examinando o cano à procura de pó na parte interna do calibre. Atirou a arma de volta para mim, e então olhou para uma marca de sangue no meu ombro direito.
– Chinaski! – gritou. – Seu rifle está com um vazamento de óleo.
– Sim, senhor.
Concluí o trimestre, mas minhas espinhas tinham piorado ainda mais. Elas eram do tamanho de nozes e cobriam minha face. Eu sentia muita vergonha. Algumas vezes, em casa, eu parava em frente ao espelho do banheiro e estourava uma das espinhas. Pus amarelo espirrava no espelho. E então saía um pequeno caroço branco. De um ponto de vista escatológico, era fascinante que toda aquela porcaria pudesse caber ali dentro. Mas eu sabia como era difícil para as pessoas terem que me olhar.
A escola deve ter alertado meu pai. Ao final daquele trimestre, fui retirado da escola. Fiquei de cama e meus pais me cobriram de unguentos. Tinha uma pomada marrom que fedia. Era a preferida de meu pai. Queimava. Ele insistia para que eu a mantivesse no corpo, muito tempo além do que a bula indicava. Certa noite ele insistiu para que eu a deixasse agir por horas. Comecei a gritar. Corri para a banheira, enchia-a de água e removi a pomada, com dificuldade. Eu estava queimado no rosto, nas costas e no peito. Naquela noite me sentei na beirada da cama. Eu não conseguia me deitar.
Meu pai entrou no quarto.
– Acho que eu te disse para ficar com a pomada!
– Olhe o que aconteceu – eu falei.
Minha mãe entrou no quarto.
– Esse filho da puta não quer se curar – meu pai disse a ela. – O que foi que eu fiz para merecer um filho como esse?
Minha mãe perdeu o emprego. Meu pai continuava saindo todas as manhãs de carro como se estivesse indo trabalhar.
– Sou engenheiro – ele dizia às pessoas. Seu sonho era ter sido engenheiro.
Deu-se um jeito para que eu fosse internado no Hospital Geral do Condado de Los Angeles. Recebi um cartão branco comprido. Peguei o cartão e tomei o bonde da linha 7. A passagem custava sete centavos (ou quatro passes por um quarto de dólar). Guardei meu passe e fui me sentar no fundo. Tinha uma consulta às oito e meia.
Algumas quadras depois um garotinho e uma mulher entraram no bonde. A mulher era gorda, e o garotinho devia ter uns quatro anos de idade. Sentaram-se no banco atrás de mim. Olhei pela janela. Seguimos. Gostava da linha 7. Ia em alta velocidade e balançava bastante enquanto lá fora o sol brilhava.
– Mamãe – ouvi o garotinho perguntar –, o que há de errado no rosto daquele homem?
A mulher não respondeu.
O garoto voltou a fazer a mesma pergunta.
Ela não respondeu.
Então o garoto gritou:
– Mamãe! O que há de errado no rosto daquele homem?
– Cale a boca! Não sei o que há de errado com o rosto dele.
Dirigi-me à recepção do hospital e eles me encaminharam para o quarto andar. Lá, a enfermeira sentada à mesa anotou meu nome e me disse para eu esperar sentado. Ficávamos em duas longas filas de cadeiras verdes de metal, uma de frente para a outra. Mexicanos, brancos e negros. Não havia orientais. Não havia nada para ler. Alguns dos pacientes tinham jornais velhos. Havia pessoas de todas as idades, magras e gordas, velhas e jovens. Ninguém falava. Todos pareciam cansados. Os auxiliares passavam de lá para cá, de vez em quando se via uma enfermeira, mas nunca um médico. Passou-se uma hora, depois duas. Ninguém havia sido chamado. Levantei-me à procura de um bebedor. Olhei para as pequenas salas onde as pessoas seriam examinadas. Não havia ninguém em nenhuma delas, nem médicos, nem pacientes.
Fui até a mesa da enfermeira. Ela examinava um livro grosso, cheio de nomes escritos a mão. O telefone tocou. Ela atendeu.
– O dr. Menen ainda não chegou – e desligou.
– Com licença – eu disse.
– Sim? – perguntou a enfermeira.
– Os médicos ainda não chegaram. Posso voltar mais tarde?
– Não.
– Mas não há ninguém aqui.
– Os médicos estão atendendo.
– Mas eu tinha uma consulta às oito e meia.
– Todos aqui estão marcados para as oito e meia.
Havia entre 45 e cinquenta pessoas esperando.
– Já que estou na lista de espera, que tal se eu voltar daqui a algumas horas, talvez alguns médicos estejam aqui então.
– Se você sair agora, perderá automaticamente a sua consulta. Terá que retornar amanhã, se ainda quiser receber um tratamento.
Voltei até onde estavam as cadeiras e me sentei. Os outros não protestavam. Havia muito pouco movimento. Vez ou outra, duas ou três enfermeiras passavam caminhando e rindo. Noutra oportunidade, empurravam um homem numa cadeira de rodas. Suas pernas estavam completamente enfaixadas e sua orelha, no lado em que pude ver quando passou, havia sido arrancada. Havia um buraco negro, dividido em pequenas seções, e era como se uma aranha tivesse entrado ali e tecido sua teia. Horas se passaram. A hora do almoço veio e se foi. Outra hora passou. E então mais duas. Nós sentados, esperando. Então alguém disse:
– Lá vem um médico!
O médico entrou numa das salinhas e fechou a porta. Ficamos na expectativa. Nada. Uma enfermeira entrou. Escutamos uma risada. Então ela saiu. Cinco minutos. Dez minutos. O médico saiu com uma prancheta na mão.
– Martinez? – o médico chamou. – José Martinez?
Um mexicano, velho e magro, ficou de pé e caminhou na direção do médico.
– Martinez? Martinez, meu velho, como você está?
– Mal, doutor... Acho que vou morrer...
– Bem, agora... entre aqui...
Martinez ficou muito tempo lá dentro. Peguei um jornal que alguém havia deixado e tentei lê-lo. Mas todos pensávamos no destino de Martinez. Se Martinez chegasse um dia a sair dali, o próximo seria chamado.
Então Martinez gritou.
– AHHHHH! AHHHHH! PARE! PARE! AHHHH! TENHA PIEDADE! POR DEUS! PARE, POR FAVOR!
– Calma, calma, não é para tanto... – disse o médico.
Martinez voltou a gritar. Uma enfermeira entrou na salinha. Houve silêncio. Tudo que podíamos ver era a sombra da porta entreaberta. Então um auxiliar também correu para lá. Martinez emitiu um som que parecia um gorgulho. Foi removido numa cama com rodinhas. A enfermeira e o auxiliar o empurraram pelo corredor, fazendo-o passar por uma porta de vaivém. Martinez estava coberto por um lençol, mas ele não estava morto, pois o tecido não lhe cobria o rosto.
O médico ficou na sua sala por mais uns dez minutos. Então saiu com a prancheta.
– Jeferson Williams? – ele perguntou.
Não houve resposta.
– Jeferson Williams está aí?
Não houve reação.
– Mary Blackthorne?
Não houve resposta.
– Harry Lewis?
– Sim, doutor?
– Venha, por favor...
As consultas progrediam muito devagar. O médico examinou mais cinco pacientes. Então deixou a sala, parou junto à mesa da enfermeira, acendeu um cigarro e falou com ela por uns quinze minutos. Parecia ser um homem muito inteligente. Tinha um tique no lado direito da face, que ficava se contraindo. Seu cabelo era ruivo com algumas mechas grisalhas. Usava óculos que ficava pondo e tirando o tempo todo. Outra enfermeira apareceu e lhe serviu uma xícara de café. Tomou um gole, e então, segurando o café numa das mãos, com a outra empurrou a porta vaivém e desapareceu.
A enfermeira se levantou da mesa com nossos longos cartões brancos e chamou por nossos nomes. À medida que íamos respondendo, ela nos devolvia os cartões.
– O expediente de hoje terminou. Por favor, retornem amanhã, se quiserem. O horário de sua consulta está marcado no cartão.
Olhei para o meu. Estava escrito oito e meia da manhã.
– Misto-quente

Era como uma broca para madeira, poderia ser mesmo uma broca para madeira, eu podia sentir o fedor do óleo queimando, e eles enfiavam aquela coisa na minha cabeça e na minha carne, e a broca perfurava e saía sangue e pus e eu ficava lá sentado, vagando sobre a corda bamba, à beira de um precipício. Eu estava coberto de espinhas monstruosas do tamanho de pequenas maçãs.
Era ridículo e inacreditável.
– O pior caso que já vi – disse um dos médicos, e olha que ele era velho.
Eles se reuniam ao redor de mim como se eu fosse uma aberração.
Eu era uma aberração. Ainda sou uma aberração. Andava de bonde, indo e vindo da ala de caridade do hospital. As crianças no bonde me olhavam e perguntavam a suas mães:
– O que há de errado com aquele homem? Mãe, o que há de errado com a cara daquele homem?
E a mãe fazia:
– PSSSIIIIT!!!
Aquele psit era a pior das condenações, e depois daquilo elas deixavam que os pequenos cretinos e cretininhas me encarassem por sobre os encostos de seus assentos, e eu olhava pela janela e observava os prédios passando e me afogava, eu estava rastejando e me afogando, não havia nada a fazer. Os médicos, por não saberem como chamar o que eu tinha, chamavam de Acne vulgaris. Ficava sentado por horas em um banco de madeira enquanto esperava por minha broca de madeira. Que história triste, né? Lembro-me dos prédios velhos de tijolos, das enfermeiras calmas e descansadas, dos médicos rindo, enquanto faziam aquela coisa. Foi ali que aprendi sobre a falácia dos hospitais... que os médicos eram reis e os pacientes eram merda e os hospitais estavam lá para que os médicos pudessem desfilar toda a sua vigorosa e branca superioridade, além de poderem trepar com as enfermeiras: – Doutor, doutor, doutor, aperta a minha bunda no elevador, esqueça o fedor do câncer, esqueça o fedor da vida. Não somos pobres idiotas, nunca morreremos; bebemos nosso suco de cenoura e, quando nos sentimos mal, podemos tomar um remédio, uma injeção, toda a droga de que precisamos está ao nosso alcance. Pio, pio, pio, a vida cantará para nós, somos as estrelas do momento. Eu entrava e sentava, e eles enfiavam a furadeira em mim. ZIRRRR ZIRRRR ZIRRRR, ZIR, o sol, enquanto isso, cultivando dálias e laranjas e brilhando através dos vestidos das enfermeiras, enlouquecendo ainda mais as pobres aberrações. Zirrrrrrr, zirrrr, zirr.
– Nunca vi ninguém suportar a broca desse jeito!
– Olhem para ele, frio como aço!
Mais uma vez uma reunião de comedores de enfermeiras, uma reunião de homens que tinham casas grandes e tempo para rir e ler e ir ao teatro e comprar pinturas e esquecer como pensar, esquecer como sentir qualquer coisa. Jalecos engomados e a minha derrota. A reunião.
– Como você se sente?
– Maravilhoso.
– Não acha que a agulha machuca um pouco?
– Vá se foder.
– Como?
– Mandei você se foder.
– É apenas um garoto. Um garoto amargo. Não podemos culpá-lo. Quantos anos você tem?
– Catorze.
– Estava apenas elogiando a sua coragem, a forma como suportou a agulha. Você é durão.
– Vá se foder.
– Não pode falar assim comigo.
– Foda-se. Foda-se. Foda-se.
– Você devia se manter mais positivo. Imagina se você fosse cego?
– Então não precisaria olhar para sua cara estúpida.
– O garoto é louco.
– Claro que ele é, deixem-no em paz.
Esse era um hospital qualquer, e não imaginei que voltaria lá vinte anos mais tarde, novamente para a ala de caridade. Hospitais e prisões e prostíbulos: eis as universidades da vida. Eu já recebera vários títulos dessas instituições. Exigia ser tratado por senhor.
– Ao sul de lugar nenhum

A máquina de raios ultravioleta emitiu um clique e se apagou. Eu havia recebido tratamento nos dois lados. Retirei os óculos protetores e comecei a me vestir. A srta. Ackerman entrou na sala.
– Ainda não – ela disse –, fique sem roupa.
O que ela ia fazer comigo?, pensei.
– Sente-se na ponta da mesa.
Sentei-me ali, e ela começou a esfregar um unguento no meu rosto. Era uma substância grossa e com textura semelhante à de manteiga.
– Os médicos decidiram tentar um novo tratamento. Vamos enfaixar seu rosto para tornar a drenagem mais efetiva.
– Srta. Ackerman, o que aconteceu com o homem do nariz grande? O nariz continuou crescendo?
– O sr. Sleeth?
– O homem do narigão.
– Era o sr. Sleeth.
– Não o vejo mais por aqui. Ele conseguiu se curar?
– Morreu.
– Você quer dizer que ele morreu por causa do nariz?
– Suicídio.
A srta. Ackerman continuou a aplicar o unguento.
Então escutei um homem gritar na sala ao lado:
– Joe, cadê você? Joe, você disse que voltaria! Joe, cadê você?
A voz era alta e muito triste, cheia de agonia.
– Ele fez isso durante todas as tardes desta semana – disse a srta. Ackerman – e nada do Joe aparecer para buscá-lo.
– Eles podem ajudá-lo?
– Não sei. Finalmente ficaram quietos. Agora ponha o dedo aqui e segure esta gaze enquanto eu o enfaixo. Isso. Assim. É isso. Pode tirar o dedo. Muito bem.
– Joe, Joe, você disse que ia voltar! Onde você está, Joe?
– Agora segure também esta outra gaze. Isso. Segure bem. Vou enfaixar você bem direitinho! Isso. Falta só fazer os curativos.
Logo seu trabalho estava acabado.
– Ok, ponha suas roupas. Vejo você depois de amanhã. Até mais, Henry.
– Até mais, srta. Ackerman.
Pus uma roupa, deixei o quarto e caminhei pelo corredor. Havia um espelho junto à máquina de cigarros no saguão. Olhei para meu reflexo. Era genial. A minha cabeça estava inteiramente enfaixada. Eu estava todo branco. Não se podia ver nada além de meus olhos, minha boca e minhas orelhas, e alguns tufos de cabelo no topo da minha cabeça. Eu tinha sido ocultado. Era maravilhoso. Fiquei ali e acendi um cigarro, dei uma olhada no saguão. Alguns internos estavam sentados, lendo jornais e revistas. Senti-me extraordinário e também um pouco diabólico. Ninguém tinha a mais vaga ideia do que acontecera comigo. Um acidente de carro. Uma briga até a morte. Um assassinato. Fogo. Ninguém sabia.
Caminhei pelo saguão e para fora do prédio e fiquei plantado na calçada. Ainda podia ouvir:
– Joe! Joe! Cadê você, Joe?
Joe não ia vir. Não valia a pena confiar em nenhum outro ser humano. O que quer que fosse preciso para estabelecer essa confiança não estava presente na humanidade.
Na volta, no bonde, sentei no fundo, fumando cigarros pelo buraco da boca em minha cabeça enfaixada. As pessoas me olhavam, mas eu não dava a mínima. Havia mais medo do que horror em seus olhos. Desejei permanecer assim para sempre.
Segui até o final da linha e desci. A tarde caía e fiquei na esquina da avenida Washington com a Westview, observando as pessoas. Os poucos que tinham emprego voltavam para casa após a jornada de trabalho. Logo meu pai chegaria de carro do seu falso emprego. Eu não tinha emprego nem ia à escola. Eu não fazia nada. Estava enfaixado, parado numa esquina fumando um cigarro. Eu era um cara durão, um cara perigoso. Eu sabia das coisas. Sleeth tinha se suicidado. Eu não iria me suicidar. Preferia matar alguns deles. Levaria quatro ou cinco deles comigo. Ia mostrar para aquela corja o que significava me fazerem de palhaço.
Uma mulher veio andando pela rua em minha direção. Tinha pernas espetaculares. Primeiro, olhei diretamente em seus olhos e então me fixei em suas pernas. Assim que ela passou, fiquei olhando seu rabo, absorvendo cada detalhe daquele rabo maravilhoso, memorizando, guardando inclusive as costuras de suas meias de seda.
Jamais poderia ter feito isso sem minhas bandagens.
As bandagens ajudaram. O Hospital Geral do Condado de Los Angeles finalmente conseguira alguma coisa. As espinhas secaram. Elas não haviam desaparecido, mas diminuíram um pouco de tamanho. Ainda assim, novas surgiriam, erguendo-se outra vez. Novamente me furaram e me enfaixaram.
Minhas sessões de drenagem eram intermináveis. Trinta e duas, 36, 38 vezes. O medo das agulhas se fora, se é que um dia o tivera. Havia apenas a raiva, mas esta também havia desaparecido. Não havia sequer resignação da minha parte, apenas desgosto, um desgosto profundo por isso ter acontecido comigo, e um desgosto com os médicos que não podiam fazer nada a respeito. Estavam impotentes diante das feridas, assim como eu. A diferença é que eu era a vítima. Eles podiam ir para suas casas e viver suas vidas e esquecer, enquanto eu estava condenado a carregar este rosto comigo aonde quer que eu fosse.
Aconteceram, no entanto, mudanças na minha vida. Meu pai arrumou um emprego. Passou no concurso para guarda do Museu do Condado de Los Angeles. Meu pai era bom em concursos. Adorava matemática e história. Passou no concurso e finalmente arrumou um lugar de verdade para ir todas as manhãs. Havia três vagas para guarda e ele conquistou uma delas.
O Hospital Geral do Condado de Los Angeles de alguma forma descobriu sobre meu pai, e a srta. Ackerman me disse um dia:
– Henry, este será seu último tratamento. Vou sentir sua falta.
– Ah, corta essa – eu disse –, pare com essa brincadeira. Você vai sentir a minha falta tanto quanto eu vou sentir falta dessas agulhas elétricas!
Ela, porém, estava bastante estranha naquele dia. Aqueles olhos enormes estavam marejados. Escutei quando assoou o nariz. Uma das enfermeiras lhe perguntou:
– O que há, Janice? O que há de errado com você?
– Nada. Estou bem.
Pobre srta. Ackerman. Eu tinha quinze anos e estava apaixonado por ela e eu estava coberto de espinhas e não havia nada que nós dois pudéssemos fazer.
– Vamos – ela disse –, este vai ser seu último tratamento com os raios ultravioleta. Deite-se de bruços.
– Agora já sei o seu primeiro nome – eu disse. – Janice. É um nome bonito. Assim como você.
– Oh, fique quieto – ela disse.
Ainda a vi mais uma vez quando o primeiro zumbido soou. Eu me virei, Janice reajustou a máquina e deixou a sala. Jamais voltei a vê-la.
Meu pai não acreditava em médicos que não fossem de graça.
– Eles fazem você mijar num tubo, levam seu dinheiro e vão para casa para ficar ao lado de suas esposas em Beverly Hills – ele disse.
Uma vez, contudo, ele me mandou até um. Era um médico com mau hálito e a cabeça redonda como uma bola de basquete. A diferença é que ele tinha dois olhinhos onde uma bola de basquete não teria nenhum. Eu não gostava do meu pai, e o médico não era muito melhor. Ele disse, nada de frituras, e beba suco de cenoura. E foi isso.
Eu retornaria para a escola no próximo trimestre, disse meu pai.
– Estou arriscando meu rabo para evitar que as pessoas roubem. Ontem um negro quebrou o vidro de uma caixa e roubou algumas moedas raras. Peguei o desgraçado. Rolamos juntos escada abaixo. Dei um jeito de segurá-lo até que os outros chegassem. Arrisco minha vida todos os dias. Por que é que você poderia ficar aí sem mexer o seu rabo, deprimido? Quero que você seja um engenheiro. Como, diabos, você vai ser um engenheiro se eu encontro um caderno cheio de desenhos de mulheres com as saias arriadas até a altura da bunda? Isso é tudo o que você é capaz de desenhar? Por que você não desenha flores ou montanhas ou o oceano? Você vai voltar para a escola!
Eu bebia suco de cenoura, esperando pelo momento de ser rematriculado. Eu tinha perdido apenas um trimestre. As espinhas não estavam curadas, mas já não estavam tão terríveis quanto antes.
– Misto-quente
o vento sopra forte esta noite
e é um vento frio
e eu penso nos
garotos na miséria.
espero que eles tenham uma garrafa
de vinho.
é quando você está na miséria
que percebe que
tudo
tem um dono
e que os cadeados estão por toda
parte.
este é o modo como funciona a
democracia:
você pega aquilo que pode,
tenta manter o que pegou
e acrescentar mais ao acumulado
se possível.
é esta também a maneira de agir de uma
ditadura
a diferença é que elas destroem ou
escravizam seus
dissidentes.
nós simplesmente esquecemos
os nossos.
nos dois casos
o vento segue
frio e
cortante.

As filmagens iam começar em Culver City. O bar ficava lá, e o hotel com o meu quarto. A parte seguinte seria feita no distrito da Rua Alvarado, onde ficava o apartamento da mulher.
Depois vinha um bar que frequentávamos na 6th Street com Vermont. Mas as primeiras tomadas seriam em Culver City.
Jon nos levou para ver o hotel. Parecia autêntico. Os bebuns moravam ali. O bar ficava embaixo. Nós ficamos parados, olhando.
– Que tal? – perguntou Jon.
– Sensacional. Mas já vivi em lugares piores.
– Eu sei – disse Sarah. – Eu vi.
Subimos para o quarto.
– Aqui está. Parece familiar?
Era pintado de cinza, como muitos desses lugares. Persianas rasgadas. A mesa e a cadeira. A geladeira coberta de grossa crosta de sujeira. E a pobre cama bamba.
– Está perfeito, Jon. É o quarto.
Fiquei um pouco triste por não ser jovem e estar fazendo tudo aquilo de novo, bebendo e brigando e jogando com as palavras. Quando a gente é jovem, pode realmente aguentar uma surra. A comida não importava. O que importava era beber e sentar à máquina. Eu devia ter sido louco, mas há muitos tipos de loucura, e alguns são muito gostosos. Eu morria de fome para ter tempo de escrever. Não se faz mais isso. Olhando aquela mesa, via-me ali sentado de novo. Naquele tempo estava louco e sabia disso e não importava.
– Vamos descer pra dar outra verificada no bar...
Descemos. Os bebuns que iam aparecer no filme já estavam lá. Bebiam.
– Vamos lá, Sarah, vamos pegar um banco. Tchau, Jon...
O garçom nos apresentou aos bêbados. Eram o Grande Monstro e o Pequeno Monstro, o Nojento, Buffo, Cabeça de Cachorro, Lady Lila, Lance Livre, Clara e outros.
Sarah perguntou ao Nojento o que ele estava bebendo.
– Parece bom – disse.
– É um Cape Cod, suco de amora e vodca.
– Eu tomo um Cape Cod – disse Sarah ao garçom, Cowboy Cal.
– Vodca 7 – eu disse ao Cowboy.
Tomamos algumas. O Grande Monstro me contou uma história de uma briga deles todos com os tiras. Muito interessante. E eu sabia, pelo jeito de ele contar, que era verdade.
Depois veio a chamada para o almoço para os atores e a equipe. Os bebuns ficaram onde estavam.
– É melhor a gente comer – disse Sarah.
Saímos pelos fundos e para leste do hotel. Haviam instalado uma grande banca. Os extras, técnicos, operários e outros já comiam. A comida tinha boa aparência. Jon veio ter com a gente. Pegamos nossas rações na carroça e o seguimos até a ponta da mesa. Quando passávamos, Jon parou. Um homem comia sozinho. Jon apresentou-nos.
– Esse é Lance Edwards...
Edwards fez-nos um leve aceno de cabeça e voltou ao seu filé.
Sentamo-nos na ponta da mesa. Edwards era um dos coprodutores.
– Esse Edwards age como um filho da puta – eu disse.
– Oh – disse Jon – ele é muito acanhado. É um dos caras dos quais Friedman estava tentando se livrar.
– Talvez tivesse razão.
– Hank – disse Sarah –, você nem conhece o cara.
Eu atacava minha cerveja.
– Coma sua comida, Sarah.
Ela ia acrescentar dez anos à minha vida, para o melhor ou para o pior.
– Vamos filmar uma cena com Jack na sala. Você deve vir ver.
– Depois de comermos, vamos voltar pro bar. Quando estiverem prontos pra filmar, mandem alguém nos chamar.
– Tudo bem – disse Jon.
Depois de comermos, contornamos o hotel até o outro lado, verificando-o. Jon nos acompanhava. Vários reboques estacionavam ao longo da rua. Vimos o Rolls-Royce de Jack. E junto a ele um grande reboque prateado, com um anúncio na porta: JACK BLEDSOE.
– Veja – disse Jon –, ele tem um periscópio em cima, pra ver quem se aproxima...
– Nossa...
– Escuta, tenho de acertar umas coisas...
– Tudo bem... Tchau...
Jon tinha uma coisa engraçada. Seu sotaque francês ia desaparecendo à medida que ele só falava inglês nos Estados Unidos. Era um pouco triste.
A porta do reboque de Jack abriu-se. Era ele.
– Ei, entrem!
Subimos os degraus. Uma televisão estava ligada. Uma garota jovem deitava-se no beliche, vendo TV.
– Essa é Cleo. Comprei uma moto pra ela. A gente roda junto.
Um cara sentava-se na outra ponta.
– Esse é meu irmão, Doug...
Eu me aproximei de Doug, ensaiei uns passos de boxe na frente dele. Ele não disse nada. Apenas encarava. Sujeito frio. Ótimo. Eu gostava de caras frios.
– Tem alguma coisa pra beber? – perguntei a Jack.
– Claro...
Pegou um uísque, serviu-me uma dose com água.
– Obrigado...
– Quer um pouco? – ele perguntou a Sarah.
– Obrigada – ela disse. – Não gosto de misturar bebidas.
– Ela está tomando Cape Cods – eu disse.
– Oh...
Sarah e eu nos sentamos. O uísque era bom.
– Gosto deste lugar – eu disse.
– Fique o quanto quiser – disse Jack.
– Talvez eu fique pra sempre...
Jack me lançou seu famoso sorriso.
– Seu irmão não é de falar muito, é?
– Não, não é.
– Um cara frio.
– Ééé.
– Bem, Jack, decorou suas falas?
– Eu nunca olho as minhas falas até o último instante antes da filmagem.
– Sensacional. Bem, escuta, a gente tem de se mandar.
– Eu sei que você consegue, Jack – disse Sarah. – Estamos satisfeitos por você ter o papel principal.
– Obrigado.
No bar, os bebuns ainda estavam lá e não pareciam nem um pouco mais bêbados. Era preciso muita coisa pra derrubar um profissional.
Sarah tomou outro Cape Cod. Eu voltei ao Vodca 7.
Bebemos e ouvimos outras histórias. Cheguei até a contar uma. Talvez houvesse passado uma hora. Aí eu ergui o olhar e vi Jack parado, olhando por cima das portas de vaivém da entrada. Eu via apenas a cabeça dele.
– Ei, Jack – gritei –, entre e tome uma.
– Não, Hank, vamos filmar agora. Por que não vem ver?
– Já vou lá, baby...
Pedimos mais duas doses. E já as atacávamos quando Jon entrou.
– Vamos filmar agora – ele disse.
– Tudo bem – disse Sarah.
– Tudo bem – disse eu.
Acabamos nossas doses, e eu peguei umas duas garrafas de cerveja para levar conosco.
Seguimos Jon por uma escada acima e pelo quarto adentro. Cabos por toda parte. Técnicos mexendo-se de um lado para outro.
– Aposto que poderiam rodar um filme com cerca de um terço desses porras todos.
– É o que Friedman diz.
– Às vezes ele tem razão.
– Tudo bem – disse Jon –, estamos quase prontos. Fizemos alguns ensaios. Agora filmamos. Você – disse para mim – fica nesse canto. Pode ver daqui sem entrar na cena.
Sarah recuou até ali comigo.
– SILÊNCIO! – gritou o assistente de direção de Jon. – PREPARANDO PRA RODAR!
Tudo ficou em silêncio.
Então foi a vez de Jon:
– CÂMERA! AÇÃO!
A porta do quarto abriu-se e Jack Bledsoe entrou cambaleando. Merda, era o jovem Chinaski! Era eu! Senti uma dor mole dentro de mim. Juventude, sua filha da puta, aonde foi você?
Queria voltar a ser o jovem bêbado. Queria ser Jack Bledsoe. Mas era apenas o cara velho no canto, mamando uma cerveja.
Bledsoe cambaleou até a janela junto à mesa. Abriu a persiana escangalhada. Ensaiou uns passos de boxe, um sorriso no rosto. Depois sentou-se à mesa, pegou um lápis e um pedaço de papel. Ficou ali sentado algum tempo, depois puxou a rolha de uma garrafa de vinho, tomou uma talagada, acendeu um cigarro. Ligou o rádio e deu sorte de sintonizar Mozart.
Começou a escrever naquele pedaço de papel com o lápis, enquanto a cena escurecia...
Pegara a coisa. Pegara do jeito que era, quer isso significasse alguma coisa ou não, ele a pegara como era.
Eu me aproximei dele e apertei sua mão.
– Peguei bem? – ele perguntou.
– Pegou – eu disse.
No bar lá embaixo, os bebuns ainda estavam em serviço e com a mesma aparência.
Sarah voltou aos seus Cape Cods e eu tomei a rota do Vodca 7. Ouvimos algumas histórias ótimas. Mas havia uma tristeza no ar, porque depois de rodado o filme, o bar e o hotel iam ser desmontados, para servir a algum fim comercial. Alguns dos fregueses moravam no hotel há décadas. Outros moravam numa estação ferroviária deserta próxima, e havia uma ação judicial para retirá-los dali. Por isso, a bebida era pesada e triste.
Sarah disse por fim:
– Precisamos voltar pra casa pra dar comida aos gatos.
A bebida podia esperar.
Hollywood podia esperar.
Os gatos não esperavam.
Concordei.
Despedimo-nos dos bebuns e fomos para o carro. Eu não me preocupava com a direção. Alguma coisa na visão do jovem Chinaski naquele velho quarto de hotel me estabilizara. Filho da puta, eu fora um jovem touro do caralho. Realmente um fodido de primeira.
Sarah se preocupava com o futuro dos pinguços. Eu também não gostava daquilo. Por outro lado, não podia vê-los sentados em torno da minha porta da frente, bebendo e contando suas histórias. Muitas vezes o charme diminui quando chega perto demais da realidade. E quantos irmãos a gente pode manter?
Eu dirigia em frente. Chegamos.
Os gatos esperavam.
Sarah desceu e limpou as tigelas deles e eu abri as latas.
Simplicidade, era disso que se precisava.
Subimos, tomamos banho, trocamos de roupa e fomos para a cama.
– Que é que aquele pessoal vai fazer? – perguntou Sarah.
– Eu sei. Eu sei...
Aí chegou a hora de dormir. Desci para dar uma última olhada e voltei. Sarah já adormecera. Apaguei a luz. Dormimos. Tendo visto fazer o filme naquela tarde, agora estávamos um pouco diferentes, jamais voltaríamos a pensar ou falar exatamente da mesma forma. Agora sabíamos algo mais, mas, o que era, parecia muito vago e talvez até um pouco desagradável.
– Hollywood
Às
vezes poemas querem dizer tanta coisa
Outras não dizem nada
Querem transformar letras mortas
Em vida animada
Decompor frases tortas
Em palavra certa ou errada

Poesias são restos de sentimento
Cacos de liberdade ou coisa parecida
Fragmentos de dor e pensamento
Centelhas de emoção que querem ganhar vida.

Poetas são eternos sofredores
Podem ser mentirosos ou fingidores
Uns falam de alegrias outros de amores
Alguns tentam transformar o que está invisível
Em algo que tenha cores
E podem trazer a tona às lágrimas represadas
Do que se julga um insensível

Poemas podem falar de tudo
Ensinar a um cego o que é vazio
Põe palavras na boca de um mudo
Sopra frases aos ouvidos de um surdo

Mas eu gosto de escrever poemas tristes
Cada verso é uma batida do meu coração
As palavras são como reflexos do meu olhar
São lugares onde me perco para poder achar
A dor de viver aflora nas frases desse poema emoção

Se alguém algum dia quiser saber por onde andei
Ou quem eu fui
Que leia os meus versos
Porque foi neles onde fui mais feliz onde mais amei
Nos meus versos sou mais do que poderia ser
Quero aqui para sempre poder viver.

Ser poeta é transformar a própria vida em poesia
Os dias são os versos
As horas são as frases
As palavras são o agora

Ser poeta é viver amando o que não pode ser amado
É sentir saudade de algo que ainda não aconteceu
É chorar até a ultima lágrima
É sorrir até o ultimo sorriso

Todos nós somos poetas
Porque todos nós amamos
Uma partícula de mim está dentro de você
Eu e você no mesmo coração...

I
Cristóbal Miranda
(“palero”, Tocopilla)

Te conheci, Cristóbal, nas lanchas
da baía, quando desce
o salitre, para o mar, na queimante
vestimenta de um dia de novembro.

Relembro aquele garbo extático,
os cerros de metal, a água quieta.

E só o homem das lanchas, úmido
de suor, removendo neve.

Neve dos nitratos, derramada
sobre os ombros da dor, caindo
na barriga cega das naves.

Ali, sapadores, heróis de uma aurora
carcomida por ácidos, sujeita
aos destinos da morte, firmes,
recebendo o nitrato caudaloso.

Cristóbal, esta lembrança para ti.

Para os camaradas da sapa,
em cujos peitos entra o ácido
e as emanações assassinas,
inchando como águias machucadas
os corações, até que tomba o homem,
até que role o homem pelas ruas,
para as cruzes quebradas do pampa.

Bem, não digamos mais nada, Cristóbal, agora
este papel que te recorda, a todos,
aos lancheiros da baía, ao homem
enegrecido dos barcos, meus olhos
seguem com vocês nesta jornada
e minha alma é uma pá que se ergue
carregando e descarregando sangue e neve,
junto de vocês, vida do deserto.




II
Jesús Gutiérrez
(“agrarista”)

Em Monterrey morreu meu pai
Genovevo Gutiérrez, se foi
com Zapata.
De noite os cavalos
perto de casa, a fumaça
dos federais, os tiros no vento,
o furacão que sai do milho,
levei o fuzil de lado a lado,
desde as terras de Sonora,
dormíamos de vez em quando, medíamos
rios e bosques, a cavalo,
entre mortos, a defender
a terra do pobre, feijões,
omelete, guitarra, rolávamos
até o limite, éramos pó,
os senhores nos faziam madrugar,
até que de cada pedra
nasciam os nossos fuzis.

Aqui está minha casa, minha terra
pequena, o certificado
firmado por meu general
Cárdenas, os perus,
os patinhos na lagoa,
agora já não se luta,
meu pai ficou em Monterrey
e aqui pendurado na parede
junto à porta a cartucheira,
o fuzil pronto, o cavalo pronto,
pela terra, por nosso pão,
amanhã talvez a galope,
se o meu general me aconselha.




III
Luis Cortés
(de Tocopilla)

Camarada, meu nome é Luis Cortés.

Quando veio a repressão, em Tocopilla
me agarraram.
Me atiraram em Pisagua.

Você, camarada, sabe como é isso.

Muitos caíram doentes, outros
enlouqueceram.
É o pior
campo de concentração de González
Videla.
Vi Ángel Veas morrer,
do coração, uma manhã.
Foi horrível
ver Veas morrer nessa areia assassina,
rodeado de cercas de arame, depois de toda
sua vida generosa.
Quando me senti doente
também do coração, me mudaram
para Garitaya.
Você não conhece, camarada.

É lá no alto, na fronteira com a Bolívia.

Um ponto desolado, a 5000 metros de altura.

Há uma água salobre para beber, mais
salobre que a água do mar, e cheia de pulgões
como vermes rosados que pululam.

Faz frio e parece que o céu em cima
da solidão vai cair sobre nós,
sobre meu coração que já mal se agüenta.

Os próprios carabineiros tiveram pena
e contra a ordem de deixar a gente morrer
sem querer nunca mandar uma maca,
me amarraram a uma mula e descemos as montanhas:
26 horas caminhou a mula, e meu corpo
já não resistia, camarada, entre a cordilheira sem caminhos,
e meu coração doente, e aqui estou eu, olhe
os machucados, não sei até quando vou viver,
mas você sente, não quero pedir nada,
conte você, camarada, o que faz ao povo o desgraçado,
a nós que o levamos à altura em que ri
com um riso de hiena em cima de nossas dores,
conte, você, camarada, conte, conte, pouco importa minha morte,
nem os nossos sofrimentos, pois a nossa luta é grande,
mas que fiquem sabendo destes sofrimentos,
que fiquem sabendo, camarada, não se esqueça.




IV
Olegario Sepúlveda
(sapateiro, Talcahuano)

Olegario Sepúlveda é meu nome.

Sou sapateiro, fiquei
coxo desde o grande terremoto.

Sobre o cortiço um pedaço de morro
e o mundo em cima de minha perna.

Lá gritei dois dias,
mas minha boca ficou cheia de terra,
gritei mais mansamente
até que adormeci para morrer.

Foi um grande silêncio o terremoto,
o terror dos morros,
as lavadeiras choravam,
uma montanha de pó
enterrou as palavras.

Aqui está me vendo com esta sola
defronte do mar, o único limpo,
as ondas nem eram pra chegar
azuis na minha porta.

Talcahuano, tuas grades sujas,
teus corredores de pobreza,
nos morros água podre,
madeira quebrada, covas negras
onde o chileno mata e morre.

(Ó dores do fio aberto
da miséria, lepra do mundo,
arrabalde dos mortos, gangrena
acusadora e venenosa!
Haveis vindo do sombrio
Pacífico, à noite, ao porto?
Haveis tocado entre as pústulas
a mão do menino, a rosa
salpicada de sangue e urina?
Haveis erguido os olhos
para os degraus retorcidos?
Haveis visto a mendiga
com um arame na lixeira
tremer, levantar os joelhos
e olhar lá do fundo onde
já não restam lágrimas nem ódio?)
Sou sapateiro em Talcahuano.

Sepúlveda, na frente do dique Grande.

Quando quiser, meu senhor, pobre
nunca fecha a porta.




V Arturo Carrión
(navegante, Iquique)

junho, 1948.
Querida Rosaura, aqui
estou eu, em Iquique, preso, me mande uma camisa
e fumo.
Não sei
até quando vai durar este baile.

Quando embarquei no Glenfoster
pensei em você, escrevi de Cádiz,
ali fuzilaram à vontade, e aí foi mais
triste em Atenas, naquela manhã
no cárcere mataram com tiro
duzentos e setenta e três moços:
o sangue corria até fora do muro,
vimos saírem os oficiais
gregos com os chefes norte-americanos, vinham rindo:
eles gostam do sangue do povo,
mas tinha um espécie de fumo preto
na cidade, estava escondido o choro, a dor, o luto,
comprei pra você uma carteira de cartões de visita, lá
conheci um patrício de Chiloé,
tem um pequeno restaurante, me disse
as coisas andam ruíns, há ódio:
mas ficou melhor na Hungria,
os camponeses têm terra,
distribuem livros, em Nova York
encontrei tua carta, mas todos
se juntam, pau e pau no pobre,
está vendo só, eu, marinheiro velho
e porque sou do sindicato,
já na coberta
me pegaram, me perguntaram
besteiras, me deixaram preso,
polícia em toda parte.

lágrimas também no pampa:
até quando estas coisas
vão continuar, perguntam todos, hoje é um
e outro pau para o pobre,
dizem que em Pisagua há dois mil,
eu pergunto o que está acontecendo no mundo,
mas não se tem direito de perguntar
assim, diz a polícía: não esqueça o fumo, fale com o Rojas
se ele não está preso, não chores,
o mundo já tem lágrimas
demais, outra coisa é que faz falta
e aqui digo até breve pra você, um
abraço e um beijo do esposo amoroso
Arturo Carrión Cornejo, cárcere de Iquiyue.




VI
Abraham Jesús Brito
(poeta popular)

Jesús Brito é seu nome, Jesús Parreira ou povo,
e foi-se fazendo água pelos olhos,
e pelas mãos se foi fazendo raízes.

até que o plantaram de novo onde esteve
antes de ser, antes que brotasse
do território, entre as pedras pobres.


E foi entre mina e marinheiro uma ave
nodosa, um patriarcal seleiro
da cortiça suave da pátria terrível:
quanto mais fria, mais luz a encontrava:
quanto mais duro o solo, mais lua lhe saía:
quanto mais fome, mais cantava.


E todo o mundo ferroviário abria
com sua chave e sua lira sarmentosa,
e pela espuma da pátria caminhava
cheio de pacotinhos estrelados,
ele, a árvore do cobre, ia regando
cada pequeno trevo acontecido,
o espantoso crime, o incêndio,
e o ramo dos rios tutelares.


Sua voz era a dos gritos roucos
perdidos na noite dos raptos,
ele levava sinos torrenciais
recolhidos à noite em seu chapéu,
e recolhia em seu casaco esfarrapado
as transbordantes lágrimas do povo.

Ia pelos ramais arenosos,
pelo espaço afundado do salitre,
pelos ásperos montes litorâneos
construindo o romance prego a prego,
e telha a telha levantando o verso:
deixando nele a mancha das mãos
e as goteiras da ortografia.


Brito, pelas paredes capitais,
entre o rumor dos cafés,
andavas como uma árvore peregrina
procurando terra com os pés profundos,
até que foste te fazendo raízes,
pedra e torrão e mineração escura.


Brito, a tua majestade foi batida
como um tambor de majestoso couro
e era uma monarquia à intempérie
a tua altivez de arvoredo e povo.


Árvore errante, agora as tuas raízes
cantam debaixo da terra, e em silêncio.

Um pouco mais profundo és agora.

Agora tens terra e tens tempo.




VII
Antonino Bernales
(pescador, Colômbia)

No rio Magdalena anda como a lua,
lento pelo planeta de folhas verdes,
uma ave vermelha ulula, zumbe o som
de velhas asas negras, as margens
têm o transcorrer de águas e águas.

Tudo ê o rio, toda vida é rio,
e Antonino Bernales era rio.

Pescador, carpinteiro, voga, agulha
de rede, prego para as tábuas,
martelo e canto, tudo era Antonino
enquanto o Magdalena como a lua lenta
arrastava o caudal das vidas do rio.

Mais alto em Bogotá, chamas, incêndio,
sangue, se diz, não é bem claro,
Gaytán morreu.
Entre as folhas
como um chacal o riso de Laureano
açula as fogueiras, um tremor
de povo como um calafrio
percorre o Magdalena.

É Antonino Bernales o culpado.

Não se mexeu de sua pequena choça.

Passou dormindo aqueles dias.

Mas os advogados o intimam,
Enrique Santos deseja sangue.

Unem-se todos debaixo dos fraques.

Antonino Bernales tombou
assassinado na vingança,
caiu abrindo os braços no rio,
voltou ao rio como à água mãe.

O Magdalena leva ao mar seu corpo
e do mar a outros rios, a outras águas
e a outros mares e a outros pequenos rios
girando em redor da terra.

Outra vez
entra no Magdalena, são as margens
que ele ama, abre os braços de água vermelha,
passa entre sombras, entre luz espessa,
e outra vez segue o seu caminho de água.

Antonino Bernales, ninguém pode
distinguir-te na torrente, eu sim, eu te recordo
e ouço arrastar teu nome que não pode
morrer, e que envolve a terra,
nome apenas, entre os nomes, povo.




VIII
Margarita Naranjo
(Salitreira María Elena, Antofagasta)

Estou morta.
Sou de María Elena.

Vivi a vida toda no pampa.

Demos o sangue para a companhia
norte-americana, meus pais antes, meus irmãos.

Sem greve nenhuma, sem nada, nos cercaram.

Era de noite, veio todo o Exército,
iam de casa em casa acordando a gente,
levando todos para o campo de concentração.

Eu esperava que nós não fôssemos.

Meu marido trabalhou tanto para a companhia,
e para o presidente, foi o mais esforçado,
conseguindo os votos aqui, é tão querido,
ninguém tem nada pra dizer dele, ele luta
por seus ideais, é puro e honrado
como poucos.
Aí chegaram à nossa porta,
mandados pelo Coronel Urízar,
e o pegaram ainda se vestindo e a empurrões
o lançaram no caminhão que partiu na noite,
para Pisagua, para a escuridão.
Então
achei que já não podia mais respirar, parecia
que a terra me faltava debaixo dos pés,
é tanta traição, tanta injustiça,
que me subiu à garganta algo como um soluço
que não me deixou mais viver.
Me trouxeram comida
as companheiras, e eu lhes disse: “Não comerei até que ele volte”.

Três dias depois falaram com o Sr.
Urízar,
que deu grandes gargalhadas, mandaram
telegramas e telegramas que o tirano em Santiago
não respondeu.
E eu fui dormindo e morrendo,
sem comer, apertei os dentes para não receber
nem mesmo sopa ou água.
Não voltou, não voltou,
e pouco a pouco fiquei morta, e me enterraram:
aqui, no cemitério do escritório salitreiro,
havia naquela tarde um vento de areia,
choravam os velhos e as mulheres cantavam
as canções que tantas vezes cantei com elas.

Se eu pudesse, teria espiado para ver se lá estava
Antonio, meu marido, mas não estava, não estava,
não o deixaram vir nem a minha morte: agora
aqui estou morta, no cemitério do pampa
só tenho a solidão ao redor de mim, que já não existo,
que já não existirei sem ele, nunca mais, sem ele.




IX
José Cruz Achachalla
(mineiro, Bolívia)

Sim, senhor, José Cruz Achachalla,
da serra de Granito, no sul de Oruro.

Pois lá deve viver ainda
minha mãe Rosalía:
trabalha para uns senhores,
pois é, lavando roupa.

A gente passava fome, capitão,
e com uma varinha batiam
em minha mãe todos os dias.

Por isso virei mineiro.

Fugi pelas grandes serras,
uma folhinha de coca, senhor,
uns ramos na cabeça
e andar, andar, andar.
Os abutres
me perseguiam lá do céu,
e eu pensava: são melhores
que os senhores brancos de Oruro,
e assim andei até o território
das minas.

Já faz
quarenta anos, eu era então
um menino faminto.
Os mineiros
me receberam.
Fui aprendiz
nas galerias escuras,
unha por unha contra a terra,
apanhei o estanho escondido.

Não sei aonde nem pra quê
saem os lingotes prateados:
vivemos mal, as casas em ruínas,
e a fome, outra vez, senhor,
e quando
a gente se juntava, capitão,
para mais um peso de salário,
o vento vermelho, o pau, o fogo,
a polícia nos batia,
e aqui estou, pois é, capitão,
despedido do serviço,
me diga pra onde eu vou,
ninguém me conhece em Oruro,
estou velho como as pedras,
já não posso cruzar os montes,
que posso fazer por esses caminhos,
aqui mesmo agora eu fico,
podem me enterrar no estanho,
pois só o estanho me conhece.

José Cruz Achachalla, sim,
não continues a bater pernas,
até aqui chegaste, até aqui,
Achachalla, até aqui chegaste.




X
Eufrosino Ramírez
(Casa Verde, Chuquicamata)

Tínhamos de tomar as pranchas quentes
de cobre com as mãos, e entregá-las
à pá mecânica.
Saíam quase ardendo,
pesavam mais que o mundo, íamos extenuados
transportando as lâminas do mineral, às vezes
uma delas caía sobre um pé e o quebrava,
sobre uma mão que virava um coto.

Vieram os gringos e disseram: “Trabalhem
mais depressa e podem ir pra casa”.

A duras penas, pra sair mais cedo,
fizemos o trabalho.
Mas eles voltaram:
“Agora trabalhem menos, ganhem menos”.

Foi a greve na Casa Verde, dez semanas,
greve, e quando voltamos ao trabalho,
com um pretexto: onde está a tua ferramenta?
me atiraram na rua.
Olhe o senhor estas mãos,
é um calo só que o cobre fez,
escute meu coração, não parece
que dá pulos?, é o cobre que machuca,
e mal posso andar de um lugar pra outro,
procurando, faminto, serviço que não encontro:
parece que me enxergam agachado, levando
as folhas invisíveis do cobre que me mata.




XI
Juan Figueroa
(Casa do Iodo, María Elena, Antofagasta)

O senhor é Neruda? Entre, camarada.

É, da Casa do Iodo, já não existem
outros vivendo.
Eu me agüento.

Sei que não estou mais vivo, que me espera
a terra do pampa.
São quatro horas
por dia, na Casa do Iodo.

Chega por uns tubos, sai como uma massa,
como uma goma roxa.
Nós a passamos
de bateia em bateia, nós a envolvemos
como um recém-nascido.
Enquanto isso,
o ácido nos corrói, nos consome,
entrando pelos olhos, pela boca,
pela pele, pelas unhas.

Da Casa do Iodo ninguém sai
cantando, companheiro.
E se pedimos
mais uns pesos de salário
para os filhos sem sapatos,
dizem: “Moscou vai mandar”, camarada,
e declaram estado de sítio, e nos cercam,
como se a gente fosse uns animais e nos batem,
eles são assim, camarada, estes filhos da puta!
Aqui estou eu, já sou o último:
onde está Sánchez? onde está Rodríguez?
Podres debaixo do pó de Polvillo.

Afinal a morte deu a eles o que pedíamos:
seus rostos estão com máscaras de iodo.




XII
O mestre Huerta
(da mina A Desprezada, Antofagasta)

Quando o senhor for ao norte,
vá até a mina A Desprezada,
pergunte lá pelo mestre Huerta.

De longe não vai o senhor ver nada,
só os areais cinzentos.

Depois, verá as estruturas,
o corrimão, os desmontes.

Os cansaços, os sofrimentos
a gente não vê, estão debaixo da terra
mexendo, partindo seres,
ou então descansam, estendidos,
se transformando, silenciosos.

Era “picano” o mestre Huerta.

Media um metro e noventa e cinco.

Os picanos são os que abrem
o terreno até o desnível,
quando o veio se rebaixa.

Quinhentos metros abaixo,
com água até a cintura,
o picano, pica, pica, vai furando.

Só pode sair do inferno
cada quarenta e oito horas,
até que as perfuradoras
na rocha, na escuridão,
no barro, deixam a polpa
por onde a mina caminha.

O mestre Huerta, grande picano,
parecia que enchia a picada
com as suas costas.
Entrava
cantando como um capitão.

Saía gretado, amarelo,
encurvado, ressecado, e seus olhos
olhavam como olho de morto.

Depois se arrastou pela mina.

Já não podia descer à galeria.

O antimônio lhe comeu as tripas.

Emagreceu de dar medo.

Mas nem podia andar.

Tinha as pernas picadas
como por pontas, e como era
tão alto, parecia
um fantasma faminto
pedindo sem pedir, o senhor sabe.

Ainda não tinha trinta anos.

Pergunte onde está enterrado.

Ninguém sabe dizer,
porque a areia e o vento derrubam
e enterram as cruzes, mais tarde.

Ainda não tinha trinta anos.

É em cima, na Desprezada,
onde trabalhou o mestre Huerta.




XIII
Amador Cea
(de Coronel, Chile, 1949)

Como tinham detido meu pai
e entrou o presidente que elegemos
e disse que éramos livres, eu pedi que soltassem o meu velho.

Me levaram e me bateram um dia inteiro.

Não conheço ninguém no quartel.
Não sei, não posso
nem me lembrar das caras deles.
Era a polícia.

Quando perdia o sentido, me atiravam
água no corpo e continuavam batendo.

Numa tarde, antes de sair, me levaram
arrastado a um banheiro,
me enfiaram a cabeça dentro dum vaso
de WC cheio de excrementos.
Ia me afogando.

“Agora, vai pedir liberdade ao presidente,
que te manda este presente”, me diziam.

Me sinto arrebentado, me quebraram esta costela.

Mas por dentro estou como antes, camarada.

A gente eles só quebram matando.




XIV Benilda Varela
(Concepción, Cidade Universitária, Chile, 1949)

Arrumei a comida das criancinhas e saí.

Quis entrar em Lota para ver meu marido.


Como se sabe, mandam a polícia
e ninguém pode entrar sem sua licença.

Minha cara não agradou.
Eram ordens
de González Videla, antes de começar
a dizer seus discursos, para que nossa gente
tenha medo.
Foi assim: me agarraram,
me despiram, me atiraram ao chão com pancadas.

Perdi o sentido.
Acordei no chão
nua, com um lençol molhado sobre
o meu corpo em sangue.
Reconheci um verdugo:
chama-se Víctor Molina esse bandido.

Mal abri os olhos, continuaram me batendo
com pedaços de borracha.
Estou toda roxa
de sangue, e nem posso me mexer.

Eram cinco, e os cinco me espancavam
como um saco.
Durou seis horas isso.

Só não morri para dizer a vocês, camaradas:
temos de lutar muito mais, até que desapareçam
esses verdugos da face da terra.

Que os povos conheçam seus discursos
Na ONU sobre a “liberdade”,
enquanto os bandidos matam de pancadas as mulheres
nos porões, sem ninguém ficar sabendo.

Aqui não aconteceu nada, vão dizer, e Dom Enrique
Molina nos vai falar do triunfo do “espírito”.

Mas isto não vai acontecer pra sempre.

Um fantasma percorre o mundo, e podem começar de novo
a espancar nos porões: vão pagar por seus crimes, não demora.




XV
Calero, trabalhador dos bananais
(Costa Rica, 1940)

Não te conheço.
Nas páginas de Fallas li a tua vida,
gigante obscuro, menino batido, esfarrapado e errante.

Dessas páginas voam o teu riso e as tuas canções
entre os bananais, no barro sombrio, a chuva e o suor.

Que vida a dos nossos, que alegrias ceifadas,
que forças destruídas pela comida ignóbil,
que cantos derrubados pela moradia em pedaços,
que poderes do homem desfeitos pelo homem!
Porém mudaremos a terra.
Não irá a tua sombra alegre
de charco em charco até a morte desnuda.

Mudaremos, juntando tua mão com a minha,
a noite que te cobre com a sua abóbada verde.

(As mãos dos mortos que tombaram
com estas e outras mãos que constroem
estão seladas como as alturas andinas
com a profundidade de seu ferro enterrado.
)

Mudaremos a vida para que a tua linhagem
sobreviva e construa sua luz organizada.




XVI
Catástrofe em Sewell

Sánchez, Reyes, Ramírez, Núnez, Alvarez.

Estes nomes são como o cimento do Chile.

O povo é o cimento da pátria.

Se os deixais morrer, a pátria vai caindo,
vai sangrando-se até ficar vazia.

O campo nos disse: cada minuto
há um ferido, e cada hora um morto.

Cada minuto e cada hora
o nosso sangue cai, o Chile morre.

Hoje é o fumo do incêndio, ontem foi o gás grisu,
anteontem o despenhadeiro, amanhã o mar ou o frio,
a máquina ou a fome, a imprevisão ou o ácido.

Mas lá onde morre o marinheiro,
mas lá onde morrem os pampeiros,
mas lá em Sewell onde se perderam,
está todo o cuidado, as máquinas, as vidraças,
os ferros, os papéis,
menos o homem, a mulher ou o menino.

Não é o gás: é a cobiça que mata em Sewell.

Essa torneira fechada de Sewell para que não caísse
nem uma gota d'água para o pobre café dos mineiros,
aí está o crime, o fogo não é culpado.

Por todas as partes se fecham as torneiras ao povo
para que não se distribua a água da vida.

Mas a fome e o frio e o fogo que devora
a nossa raça, a flor, os cimentos do Chile,
os farrapos, a casa miserável,
isso não se raciona, sempre há bastante
para que cada minuto haja um ferido
e cada hora um morto.

Não temos nós deuses que nos socorram.

As pobres mães vestidas de preto
terão rezado depois de choradas todas as suas lágrimas.


Nós não rezamos.

Stálin disse: “Nosso melhor tesouro
é o homem”,
os cimentos, o povo.

Stálin ergue, limpa, constrói, fortifica,
preserva, olha, protege, alimenta,
porém também castiga.

E isto é que desejava dizer-vos, camaradas:
faz falta o castigo.

Não pode ser esse desmoronamento humano,
esta sangria da pátria amada,
este sangue que cai do coração do povo
cada minuto, esta morte
de cada hora.

Eu me chamo como eles, como os que morreram.

Eu também sou Ramírez, Munoz, Pérez, Fernández.

Me chamo Álvarez, Núnez, Tapia, López, Contreras.

Sou parente de todos os que morrem, sou povo
e por todo este sangue que tomba estou de luto.

Compatriotas, irmãos mortos, de Sewell, mortos
do Chile, operários, irmãos, camaradas,
hoje que estais silenciosos, vamos conversar.

E que vosso martírio nos ajude
a construir uma pátria severa
que saiba florescer e castigar.




XVII
A terra se chama Juan

Atrás dos libertadores estava Juan
trabalhando, pescando e combatendo,
em seu trabalho de carpintaria ou em sua mina molhada.

Suas mãos araram a terra e mediram
os caminhos.

Seus ossos estão em todos os lugares.

Mas vive.
Regressou da terra.
Nasceu.

Nasceu de novo como uma planta eterna.

Toda a noite impura tratou de submergi-lo
e hoje afirma na aurora seus lábios indomáveis.

Amarraram-no, e é agora decidido soldado.

Feriram-no, e conserva sua saúde de maçã.

Cortaram-lhe as mãos, e hoje fere com elas.

Enterraram-no, e vem cantando conosco.

Juan, é tua a porta e o caminho.

A terra
é tua, povo, a verdade nasceu
contigo, de teu sangue.

Não puderam exterminar-te.
Tuas raízes,
árvore de humanidade,
árvore de eternidade,
hoje estão defendidas com aço,
hoje estão defendidas com tua própria grandeza
na pátria soviética, blindada
contra as mordeduras do lobo agonizante.

Povo, do sofrimento nasceu a ordem.


Da ordem a tua bandeira de vitória nasceu.


Levanta-a com todas as mãos que tombaram,
Defenda-a com todas as mãos que se juntam:
E que avance até a luta final, até a estrela
A unidade de teus rostos invencíveis.
ela ainda faz.
ela esculpe cabeças de homens
depois vai pra cama com
eles
creio que para equiparar a argila
com a carne.

foi assim que a
conheci.

não fiz objeção
mas em tais casos
você sempre acha que é
você.

mas depois
descobri
que eu não era o
primeiro

e depois de começar a morar com
ela
eu olhava aquelas cabeças esculpidas
de homens
sobre uma mesa
e em cima da tv
e
aqui e ali
e pensava
puxa vida.

e aí ela me dizia
“escuta, você sabe que cabeça eu
gostaria esculpir?”

“hmm hmm.”

“eu gostaria de esculpir o grande Mike
Swinnert... ele tem um crânio interessante...
você já reparou na boca dele, nos
dentes?”

“sim, já...”

“eu gosto da esposa dele também... mas acho que gostaria
de fazer o Mike primeiro... você não ficaria
com ciúme, né?”

“ah, não. eu vou nas corridas ou algo assim
pra você se concentrar...”

“é meio embaraçoso eu
pedir pra ele. ele é seu amigo. você se
importaria de pedir...?”

Mike não tinha carro então fui
pegá-lo e voltei com ele. enquanto estacionávamos
ele disse “seguinte, posso comer ela se eu
quiser, você sabe. você se importaria?”
“bem, acho que me importaria”, falei.
ele me olhou daquele jeito: “tá bom,
por você vou me segurar.”

acompanhei Mike até a argila e então
desci as escadas.

fui de carro para o hipódromo e tive
um dia terrível no
hipódromo...

certa vez caminhei com ela pelo McArthur Park
enquanto ela selecionava homens com
cabeças interessantes e
eu me aproximava deles e perguntava se ela
poderia esculpir suas cabeças. eu até
lhes oferecia dinheiro. todos
recusavam, sentindo que havia algo de
errado. eu também sentia que havia algo de
errado, sobretudo comigo.

não foi muito tempo depois disso que
a escultora e eu
nos separamos.

ela tinha até se mudado de cidade mas
me vi voando para outro
estado pra vê-la – duas vezes. e
a cada vez notando
mais cabeças masculinas espalhadas pelo
apartamento.

“quem é esse cara?”, perguntei
sobre uma delas.

“ah, esse é o Billyboy, o
ginete...”

fui embora 2 ou 3 dias
depois...

as vidas seguiram e 2 ou 3 mulheres depois
meu amigo Jack Bahiah apareceu. nós
falamos disso e daquilo e aí Jack
mencionou que havia voado ao
encontro da escultora.

“ela fez a sua cabeça, Jack?”

“fez, cara, ela fez a minha cabeça mas
não ficou parecido comigo, cara. adivinha com
quem ficou parecido, cara?”

“sei lá, cara...”

“ficou parecido com você...”

“Jack, meu rapaz, você sempre soube dizer
muita sacanagem...”

“sem sacanagem, cara, sem sacanagem...”

Jack e eu bebemos bastante vinho naquela noite, ele
vira os copos muito bem.

“ela estava nos meus braços na cama
e falou ‘Deus, eu amo ele, Jack, sinto
falta dele!’, e aí começou a chorar.”

não odeio Jack nem um pouco por comê-la
por dormir encostado nela quando eu tinha dormido
encostado nela por 5 ou 6 anos, e isso demonstra
a durabilidade dos humanos: sabemos extirpar o
troço e destruí-lo e esquecer.

sei que ela ainda esculpe cabeças
de homens e não consegue parar. ela me disse uma vez
que Rodin fez algo similar de um
modo ligeiramente diferente. tá bom.

desejo a ela a sorte da argila e
a sorte dos homens. tem sido uma longa
noite rumo ao meio-dia, por vezes, para a maioria
de nós.
Harry venceu os degraus que o separavam do jardim. Muitos dos pacientes estavam por ali. Haviam-lhe dito que sua esposa, Gloria, estava ali fora. Avistou-a sentada sozinha em uma mesa. Aproximou-se de forma oblíqua, por um dos lados e um pouco às costas dela. Gloria sentava-se bastante ereta, estava muito pálida. Olhava para ele, mas não o enxergava. Até que por fim o viu.
– Você é o condutor? – ela perguntou
– O condutor do quê?
– O condutor da verossimilhança?
– Não, não sou.
Ela estava pálida, seus olhos estavam pálidos, de um azul pálido.
– Como você se sente, Gloria?
Era uma mesa de ferro, pintada de branco, uma mesa capaz de resistir à ação dos séculos. Havia um pequeno vaso com flores no centro, flores murchas e mortas pendendo de tristes e curvas hastes.
–Você trepa com putas, Harry. Você gosta de trepar com putas.
– Isso não é verdade, Gloria.
– Elas também chupam você? Elas chupam seu pau?
– Ia trazer sua mãe, Gloria, mas ela ainda não melhorou da gripe.
– Aquela velha pilantra está sempre armando alguma coisa... Você é o condutor?
Os outros pacientes estavam sentados às mesas, escorados nas árvores ou estendidos sobre o gramado. Estavam imóveis e silenciosos.
– Que tal a comida aqui, Gloria? Já fez algum amigo?
– Terrível. E não. Seu comedor de putas.
– Quer alguma coisa pra ler? Algum tipo de leitura que eu possa trazer?
Gloria não respondeu. Então ela ergueu a mão direita, examinou-a, fechou o punho e golpeou a si mesma no nariz, com toda força. Harry cruzou a mesa e segurou suas duas mãos.
– Gloria, por favor!
Ela começou a chorar.
– Por que você não me trouxe chocolates?
– Gloria, você tinha me dito que odiava chocolate.
As lágrimas desciam em profusão.
– Eu não odeio chocolate! Eu amo chocolate!
– Não chore, Gloria, por favor... Trarei chocolates, trarei o que você quiser... Escute, aluguei o quarto num motel aqui perto, a umas poucas quadras, só pra estar perto de você.
Seus olhos pálidos se arregalaram.
– Um quarto de motel? Você deve estar lá com alguma vagabunda! Devem ficar vendo filmes pornôs juntos, espelho no teto e tudo!
– Vou ficar aqui por perto uns dois dias – disse Harry, com suavidade. – Posso trazer o que você quiser.
– Me traga seu amor, então – ela gritou. – Por que, diabos, você não me traz o seu amor?
Alguns dos pacientes se voltaram para olhar.
– Gloria, tenho certeza que não há no mundo alguém que se importe com você mais do que eu.
– Quer me trazer chocolates? Bem, pois enfie os chocolates no olho do cu!
Harry tirou um cartão de sua carteira. Era do motel. Alcançou-o para ela.
– Só quero dar isso a você, antes que eu me esqueça. Você tem permissão pra fazer chamadas externas? Está aqui o meu número, pra tudo o que você precisar.
Gloria não respondeu. Ela pegou o cartão e dobrou-o até que não restasse mais que um pequeno quadrado. Então se abaixou, tirou um dos sapatos, colocou o cartão lá dentro e voltou a calçá-lo.
Em seguida, Harry avistou o dr. Jensen se aproximando pelo gramado. O médico caminhava sorridente e logo disse:
– Bem, bem, bem...
– Olá, dr. Jensen – falou Gloria sem emoção.
– Posso me sentar? – perguntou o médico.
– Claro – disse Gloria.
O médico era um homem pesado. Emanava um ar de importância, autoridade e responsabilidade. Suas sobrancelhas tinham uma aparência grossa e pesada, eram, de fato, grossas e pesadas. Pareciam querer deslizar até sua boca úmida e redonda e desaparecer, mas a vida jamais lhes permitiria isso.
O médico olhou para Gloria. Depois para Harry.
– Bem, bem, bem – ele disse. – Estou realmente satisfeito com o progresso que fizemos até agora...
– Sim, dr. Jensen, eu estava dizendo pro Harry como me sinto mais estável, o quanto as consultas e as sessões de grupo têm me ajudado. Muito daquela minha raiva sem motivo aparente, daquela minha sensação inútil de frustração, da minha autocomiseração destrutiva já desapareceram...
Gloria se sentou com as mãos cruzadas sobre o colo, sorrindo.
O médico sorriu para Harry.
– Gloria fez um notável progresso!
– Sim – Harry disse –, pude perceber.
– Creio que é questão de um pouquinho mais de tempo, Harry, e Gloria poderá voltar pra casa com você.
– Doutor? – perguntou Gloria. – Posso fumar um cigarro?
– Como não – disse o médico, puxando um maço de cigarros exóticos, fazendo, com um tapinha, saltar um deles. Gloria o apanhou e o médico estendeu seu isqueiro folhado a ouro, acendendo-o. Gloria inalou, exalou...
– Você tem mãos lindas, dr. Jensen – ela disse.
– Oh, muito obrigado, querida.
– E uma gentileza que salva, uma gentileza que cura...
– Bem, fazemos o nosso melhor por aqui... – disse o dr. Jensen, com doçura. – Bem, se vocês puderem me dar licença, tenho que falar com outros pacientes.
Ergueu o corpanzil com facilidade da cadeira e seguiu na direção de uma mesa onde uma mulher visitava outro homem.
Gloria olhou fixamente para Harry.
– Aquele gordo fodido! Vive lambendo o rabo das enfermeiras...
– Gloria, foi ótimo ter estado com você, mas a viagem foi longa e eu preciso descansar um pouco. E acho que o doutor está certo. Pude notar sua melhora.
Ela deu uma risada. Mas não uma risada pura, foi mais como uma daquelas gargalhadas de palco, como se fizesse parte de um papel decorado.
– Não fiz nenhum progresso. Pra falar a verdade, acho até que piorei...
– Isso não é verdade, Gloria...
– Sou eu a paciente, cabeça de peixe. Posso chegar ao diagnóstico melhor do que ninguém.
– Que negócio é esse de “cabeça de peixe”?
– Ninguém nunca lhe disse que a sua cabeça parece a de um peixe?
– Não.
– A próxima vez que fizer a barba, repare nisso. E cuidado para não cortar suas guelras.
– Tenho que ir embora... mas amanhã eu venho fazer outra visita...
– Da próxima vez traga o condutor.
– Tem certeza de que não quer que eu traga nada?
– Eu sei que você vai voltar pro motel pra comer alguma vagabunda!
– Que tal se eu trouxer um número da New York? Você costumava gostar dessa revista...
– Enfia a New York no cu, cabeça de peixe. E aproveita o embalo e já mete junto uma TIME!
Harry estendeu um dos braços e apertou a mão que ela usara para se golpear, deu meia-volta e se afastou em direção à escada. Quando já havia subido metade dos degraus, voltou-se e fez um leve aceno para Gloria. Ela ficou sentada, sem esboçar reação.
Estavam no escuro, tudo ia bem, quando o telefone tocou.
Harry continuou metendo, mas o telefone não parava de tocar. Aquilo era extremamente perturbador. Logo seu pau amoleceu.
– Merda – ele disse, rolando por sobre o corpo. Acendeu a luz e atendeu o telefone.
– Alô?
Era Gloria.
– Você está comendo alguma vagabunda!
– Gloria, eles deixam você ligar a uma hora dessas? Não dão uma pílula pra você dormir ou algo assim?
– Por que você demorou tanto pra atender o telefone?
– Você nunca vai ao banheiro? Eu estava no meio de um cocô dos bons, tudo saindo que era uma maravilha.
– Sim, eu vou... Você ia terminar tudo pra só depois me atender?
– Gloria, tudo isso é culpa dessa sua paranoia extrema. Foi isso que pôs você aí onde você está.
– Cabeça de peixe, minha paranoia frequentemente tem sido a precursora de uma verdade muito aproximada.
– Escute, o que você está dizendo não faz nenhum sentido. Vá dormir um pouco. Amanhã eu lhe faço uma visita.
– Certo, cabeça de peixe, termine a sua TREPADA!
Gloria desligou.
Nan vestia camisola e estava sentada à beira do colchão, com uísque e água em sua cabeceira. Acendeu um cigarro e cruzou as pernas.
– Bem – ela perguntou – como vai a sua querida esposa?
Harry serviu uma bebida e se sentou ao lado dela.
– Sinto muito, Nan...
– Sente pelo quê? Por quem? Por ela, por mim ou o quê?
Harry secou sua dose de uísque.
– Tudo bem, não precisamos fazer um dramalhão por causa disso.
– Ah, não? Bem, como você quer encarar o assunto? Como uma trepadinha qualquer? Quer ver se consegue terminar ainda? Ou prefere ir pro banheiro e bater uma?
Harry olhou para Nan.
– Mas que diabos, não banque a espertinha. Você conhece a situação tão bem quanto eu. Foi você quem quis vir junto comigo!
– Porque sabia que se eu não viesse junto você traria uma vagabunda qualquer com você!
– Caralho – disse Harry –, eis a palavra mágica outra vez.
– Que palavra? Que palavra? – Nan esvaziou seu copo e o lançou contra a parede.
Harry se levantou, apanhou o copo dela, encheu-o novamente, alcançou-o a Nan, e depois voltou a se servir de uma dose.
Nan olhou para a bebida, tomou-a de um gole só, depositou o copo sobre a mesa de cabeceira.
– Vou ligar pra ela. Vou dizer tudo o que está acontecendo entre nós!
– Nem morta! Ela é uma mulher doente!
– E você é um filho da puta doente!
Neste instante o telefone voltou a tocar. Estava posicionado no centro do quarto, no chão, onde Harry o havia deixado. Os dois saltaram da cama ao mesmo tempo em direção ao aparelho. Ao segundo toque os dois já estavam ali, cada qual segurando uma das extremidades do fone. Rolaram sem parar por sobre o tapete, ofegantes, as pernas e os braços numa justaposição desesperada, assim refletida no espelho que cobria todo o teto.
– Septuagenarian Stew
ela escreve
sem parar
como um grande bocal
espalhando jatos
pelo ar,
e ela discute
sem parar;
não há nada
que eu possa dizer
que não pertença realmente
a outra pessoa,
então,
parei de falar;
e ela finalmente
saiu discutindo
porta afora
dizendo
algo como –
não estou tentando
causar uma impressão
em você.
mas eu sei
que ela
voltará, elas
sempre voltam.
e
às 5 da tarde
ela batia a minha porta.
deixei-a entrar.
não vou ficar muito tempo, ela disse,
se você não me quiser.
tudo bem, eu disse,
preciso tomar um
banho.
ela entrou na cozinha e
começou a lavar a
louça.
é como ser casado:
você aceita
tudo
como se
nada tivesse acontecido.
Vocês não são diferentes de mim. *Pais e legisladores adoram culpar pessoas como nós por corromper a juventude do país, mas as crianças já estavam corrompidas bem antes de nós. *Se alguém ouve nossa música, e isso o faz tornar-se criativo, isso me deixa mais feliz que qualquer coisa. **Outubro de 1996, Huh *Eu espero que com nossa música nós possamos inspirar outras pessoas a serem criativas e usar sua imaginação, porque isso é algo que está faltando nos dias de hoje. Você tem realidade virtual, MTV, vídeo games e vídeo cassete. Ninguém realmente quer pensar sobre coisas ou criar coisas. Você tem programas em um computador que escreverem poemas para você. ** 14 de dezembro de 1996, Kerrang! == Sociedade == *Vivemos numa sociedade de vitimização, onde as pessoas sentem-se bem mais à vontade sendo vitimizadas do que erguendo-se sozinhas. *Quando somos ensinados a amar todo mundo, a amar nossos inimigos, então que valor o amor possui? *Ninguém inteligente o bastante para reconhecer o que é a América vai se sentar e ficar passivo. A pessoa vai ficar do mesmo jeito que eu. Do mesmo jeito dos meus fãs. Vai ficar pasma. *Muita gente não quer fazer as suas próprias decisões. São medrosas demais. É mais fácil para elas serem comandadas. Americanos falam tanto sobre ser individualista, mas eles não querem que você seja um, porque se você pensar por si mesmo, então você não vai fazer parte da turma, de qualquer tendência que eles querem que você seja. *A sociedade sempre tentou tradicionalmente achar bodes expiatórios para seus problemas. Bem, aqui estou eu. == Sexo == *O mundo não gira em torno do Sol, gira em torno de um pinto gigante. É sobre isso que o mundo é. É sobre sexo. Qualquer um que não quiser perceber isso está se enganando. As pessoas estão entediadas porque eles fizeram tudo que podiam fazer. Então agora o medo da morte é a única coisa que os deixa animadas. É por isso que algumas pessoas me transformaram em um tipo de sex symbol. Eu sou a morte de saltos do modo que eu sou. **1996, Guitar School *Eu não sou nem um pouco como Brad Pitt ou Antonio Banderas, mas talvez seja esse elemento tabu da minha imagem, que é quase como a morte, que atrai as pessoas. Eu sou a última pessoa pela qual elas deveriam se sentir atraídas. **Janeiro de 1997, CMJ == Controvérsia == *Se eu não tivesse ido à uma escola particular cristã, eu nunca teria construído animosidade suficiente para ter começado uma banda. E agora que eu tenho uma, o fato de eles estarem me dando tanta resistência e publicidade, eles me fizeram bem maior do que eles queriam que eu tivesse me tornado. Então eu acho que, de um modo estranho, os cristãos foram quem mais me influenciou. **Outubro de 1997, Vox *Eu tenho visto pequenas ondas do que eu causei na indústria musical, e como as pessoas estão se tornando mais evoluídas em suas imagens. E há várias novas pessoas Marilyn Manson-escas, mas eu não fico bravo com essas coisas. É como ter apenas um Papai Noel real, mas há vários falsos no shopping. *Explicando coisas para as pessoas, eu cheguei em termos com o fato de que vários dos meus objetivos são bem cristãos no fim. Porque as pessoas não apreciam mais os tabus de sexo, drogas e rock&roll. Eu tenho que levá-las mais longe do que elas nunca foram levadas antes, numa grande escala, para o mundo perceber que temos que começar de novo. É bem como a mitologia da Bília, o fim do mundo, e o Anticristo e pessoas são feitas para fazer uma escolha sobre seus destinos. Eu acho que certos elementos disso estão corretos. **Janeiro de 1997, CMJ *Eu sou grato por ter dois dedos do meio, eu só queria ter mais. *As pessoas tendem a associar quem olha e comporta de maneira diferente com atividade ilegal ou imoral. == Religião == * [O mundo] não é mais um ótimo lugar, e não pode ser. Eu estou certo de que devia ser bem mais aproveitável estar vivo nos anos cinquenta, quando havia pelo menos a ilusão de pureza, e as coisas que eram tabu tinham um poder tão grande sobre eles. Eu acho que era um tempo em que a mágica estava realmente viva. Não há mais imaginação. Ela foi eliminada com vídeo games e vídeo cassetes. Eu apenas sou necessário por cause do modo que o mundo é. Bem, talvez se eu conseguir fazer do mundo um lugar melhor eu desejarei ter um filho. **1996, Guitar World *Para mim, tudo que é igreja é realmente mente fechada demais. **2007, Ultimate-Guitar *Há muito tempo atrás, existiu um homem que foi mal-compreendido como nós somos e eles pregaram ele numa porra de uma cruz! **M. Manson sobre Jesus Cristo *

De acordo com o entendimento de Mario Luiz Bonsaglia: “As teorias políticas que explicam a origem e justificam a existência do Estado apontam que o fim principal deste é a garantia da coexistência pacífica entre os indivíduos, com a prevenção fim principal deste é a garantia da coexistência pacífica entre os indivíduos, com a prevenção e arbitramento dos conflitos, e punição dos faltosos, atividades estas de que o Estado deve se desincumbir por órgãos adredemente instituídos, in casu sob comento a Justiça.

Nesse sentido é possível falar na existência de “direitos de proteção” (Alexy), ou seja, de direitos que tem frente ao Estado o titular de um direito fundamental, para que aquele o proteja da intervenção de terceiros. Com efeito, ao passar de uma situação pré-estatal à situação estatal, o indivíduo renuncia à autotutela em troca da proteção estatal.
Desse modo, a ordem constitucional, para além de enunciar os direitos fundamentais, deve prover também os mecanismos institucionais que garantam a proteção desses direitos.

Essa ampla gama de tarefas estatais destinadas a garantir o respeito aos direitos individuais básicos é referida na Constituição Federal brasileira, no que diz respeito ao rol de atribuições do Poder Executivo, como atividades atinentes à “segurança pública”. Nesse sentido, o art. 144 da Constituição estabelece que “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio...”.

“Como se vê, o texto constitucional associa a segurança pública à garantia da ordem pública, bem como à preservação da incolumidade das pessoas e do patrimônio”.

Não obstante a inteligência do enunciado acima, a verdade é uma só, o problema da segurança pública e do combate a violência vai muito mais além do que uma norma cunhada no papel, o imbróglio é de todos nós e a obrigação de combatê-la não com a própria violência em si, mas com a adoção de medidas eficazes traze-nos à baila a questão da segurança no mais lato sentido da palavra, pois além de ser obrigação e responsabilidade do Estado é também dever da sociedade organizada buscar soluções através de ações estratégicas para minimizá-la.

Chega de promessas, retóricas midiáticas, discurso de palanque. Queremos sim daqueles que ocupam cargos públicos e estratégicos com poder de decisão, comando, e  que nada fazem, mais responsabilidade e comprometimento. É axiomático que o buraco é mais em baixo, aqui não me cabe o meritório da questão histórica das classes dominantes do país e outras mazelas sociais, onde os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres explorados cada vez mais miseráveis, porém, atenho-me no que pertine a objetividade como algo imediatista, por exemplo: a intensificação de ações preventivas de inteigênca e contínuas por parte das polícias com seus aparatos e demais parafernálias para conter dentro dos limites da lei, essa onda incessante e crescente da violência que assola os trabalhadores, os pais de famílias e a sociedade como um todo, que se propaga a passos largos alimentada não só pela omissão do Estado que não se faz de modo efetivo e presente - príncipio da eficácia e eficiência - em todos os fronts de acordo com o que reza o preceito constitucional garantindo cidadania ampla, geral e irrestrita ao povo brasileiro e demais direitos básicos assegurados, como também mormente pela lentidão uma justiça caquética pautada em leis caducas que fometam a impunidade quase sempre certa daquele que comete um ilícito penal, mormente com relação aos crimes hediondos e o cumprimento integral em regime fechado da pena imposta sem direito ao gozo de qualquer benefício assegurado por lei como forma do apenado furtar-se ao cumprimento da mesma. Não estou fazendo apologia tampouco defesa de um Estado-Polícia e punidor a qualquer custo, muito pelo contrário.

Não à toa, a face mais feia da violência, do crime organizado e da bandidagem existente na grade social, desde alguns anos não se contentando em ficar reclusa aos ditos delitos mais brandos, recrudesce o cenho a feiúra do mal avançando sobre os campos e as cidades tomam-nos lugares, praças, casas, nichos, clubes, etc. e ameaçam-nos, sufocam-nos e destroem indiscriminadamente vidas e famílias inteiras que choram a perda de algum amigo, filho, pais, parentes próximos ou distantes.

Se hoje foi a vez do vizinho, amanhã poderá ser você e todos nós. Inaceitável que fatos de natureza grave se tornem corriqueiro e, vidas o bem maior do homem o nada sem valor, a morte, o crime e a bandidagem o lugar comum, a banalização da criminalidade pela sociedade como se à regra fosse e não a exceção de um sistema “civilizado” organizado por leis eficientes, normas, tratados, costumes, etc. que regulamentam e disciplinam a conduta humana.

Inconcebível hodiernamente aceitar-se o silêncio ou a omissão de quem quer que seja ao presenciar ou ter a no titia crimines da consumação de qualquer tipo ou espécie assombrosa ou macabra de crime, venha calar.

Infelizmente em pleno terceiro milenium teima reinar no seio e na base da sociedade cristã tal desdita: a família é o berço e a inerente razão de ser de tudo que se relaciona a vida perene do homem.

A monstruosidade de crimes de tal natureza em que toda a sociedade repudia pela covardia imposta às vítimas indefesas, deve ter em definitivo um basta.

Qual a razão do homicídio e da crueldade homicida desde priscas eras? Por que o homem se torna animal irracional e sanguinário a ponto de cometer tão descabida maldade?

De acordo com a jornalista Sheila Pereira, matéria publicada em Conhecimento Prático Filosofia – Ed. 20 – pág. 30 e 31 – Dostoievski e o mundo-cão, conforme transcrição ipis litteris, alude que: “A obra “Crime e Castigo”, o russo Fiôdor Dostoievski, retrata a racionalização do crime e a culpa que vem da consciência, além da redenção, hoje em dia, parece que essa consciência, na maioria das vezes, não existe mais, ou seja, se o homem comete um crime, não recorre mais a consciência, na verdade, o que o incomoda é a punição em si [acresço então que: não aqui no Brasil onde impera a impunidade]”.

Nesse contexto, e por extensão, afirma o Bacharel em Teologia; e Bacharel, Mestre e Doutorando em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Jonas Madureira, assim como Marcos Sidnei Pagotto-Euzébio, Graduado em Filosofia pela FFLCH-USP, Mestre e Doutor em Filosofia da Educação pela FE-USP. É professor de Filosofia na Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, vide transcrição in ver bis que: o primeiro afirma que um dos primeiros “filósofos que levantaram a questão da culpabilidade e a fundamentação da consciência, pela reflexão e não pelo peso da culpa foi Michael Foucault”. De acordo com o mestre “ele levanta a questão de que a nossa consciência é constituída a partir de uma história e de um contexto cultural que a gente vive. “[...] que a nossa consciência é constituída, todas as nossas ações são baseadas em uma consciência inata que nos pertence desde que nascemos, mas foi construída a partir de nossa vivência no mundo”. E segue fundamentando que: “E quando essa consciência é constituída pelo sistema da culpa, da punição, do que você faz você paga, toda a teoria da ação passa a se fundamentar não mais em numa consciência do bem, mas em uma consciência da punição, pelo que eu tenho que pagar”. Por outro lado o segundo mestre preconiza que: “De fato, onde encontrar justificativa para não se agir como se quiser, ainda que isso causasse mal aos outros? Por que ser bondoso se isso não me traz vantagem? Como fundamentar a ética sem recurso absoluto [Deus, a Razão, etc.]? Esse é o problema de nosso tempo... As chamadas “grandes narrativas” tradicionais perderam a força e não são capazes de suprir sentido ou determinar nossas ações. Sendo assim, uma infinidade de “pequenas narrativas” passam a cumprir esse propósito: [tribos, grupos de todo tipo, derivações de outras narrativas [o extremismo político e religioso, por exemplo,] se põem a doar sentido para nossos atos. Atualmente, nossa “grande narrativa”, se quisermos continuar a pensar assim, é aquela que faz do sucesso pessoal, individual, o grande objetivo da vida; dele derivaria a felicidade e a realização. Ora, tendo esse ponto de partida, podemos imaginar inúmeras possibilidades de justificativa para ações que consideramos, no geral, egoístas, medonhas, cruéis [o assassinato, o roubo violento]: aquilo que se coloca entre meu desejo e sua realização deve ser afastado, pois o sentido da vida é cumprir as promessas de felicidade que me foram feitas por essa sociedade do capitalismo avançado [ironicamente, a mesma sociedade que se horroriza com tais ações], em que tudo é objeto, mesmo as pessoas”.

Para Bertrand Russell, na obra - Ensaios Céticos - Editora Nacional - corroborando com o objeto da matéria sub examine este leciona in ver bis que: "O homicídio é um crime antigo, e encaramo-lo através duma névoa de horror secular. A falsificação é um crime moderno, e a encaramos racionalmente. Punimos os falsários, porém não os consideramos estes estranhos, a afastar de nós, como os assassinos. E ainda pensamos, na prática social, independentemente do que digamos em teoria, que a virtude consiste mais em não fazer do que em fazer certos atos rotulados de "pecaminosos” é bom, mesmo que nada faça para promover o bem-estar dos outros. Esta, naturalmente, não é a atitude inculcada nos Evangelhos: "Ama o teu próximo como a ti mesmo" é um preceito positivo. Mas em todas as comunidades cristãs o homem que obedece a este preceito é perseguido, sofrendo no mínimo pobreza, em geral prisão, e às vezes a morte. O mundo esta cheio de injustiça, e os que lucram com a injustiça estão em situação de administrar recompensas e castigos. Os prêmios cabem àqueles que inventam engenhosas justificativas para a desigualdade, e os castigos aos que procuram remediá-la".

Destarte, sejam quais forem os motivos ou quais sejam o limite ou não limite da perversidade d'alma humana, da pessoa, da mente com a agravante de propósito deliberado, frio e calculista... impiedosos desalmados e indignos de qualquer clemência machucam, esganam e atiram a queima roupa são merecedores de penas severas além do desterro perpétuo e pleno em cárcere privado do ventre livre da sociedade dita “moderna”.

Manoel Serrão da Silveira Lacerda [Advogado Criminalista e Professor de Direito]

 

Missão Belém

Há quatorze anos acolhendo jovens e pessoas doentes devido as drogas.
Acolhida no evangelho, no âmbito de equipe, onde todos podem varrer o chão, ou não, uns alimentam aos outros, com compaixão, e respeito.
Tudo é feito com carinho, é um árduo caminho para o jovem seguir, têm que gostar muito, e ter a certeza que o Cristo o fortalecerá todos os dias.
Meu filho, que é amigo de um dos jovens da Missão, veio sem pretensão falar comigo, para que eu escreve algumas palavras de aniversário, e eu fiz uma pesquisa, para realmente saber o que é a Missão Belém ( https://missaobelem.org/ ), e após ler algumas coisas, e ver outras, lembrei-me da felicidade de quando meu filho foi para um retiro com o pessoal da Missão.
Veio diferente, e com o coração mais puro, e isso transmitiu para a gente.
Vejo hoje um algo a mais, o bem se pode fazer, é só querer praticar, sem anunciar, sem se expor, e quem quiser colaborar, basta doar ( https://pagseguro.uol.com.br/checkout/nc/nl/donation/sender-identification.jhtml?t=e85aef70faf5de120b535836c05be8112f806d27161a330ea0c657c8b102f2cc&e=true#rmcl ), não importa o valor não, doe de coração.
Eu talvez em bens materiais não sei agora no momento, se vou doar, mas vou anunciar em minhas redes sociais e em vários grupos que faço parte, pois a Igreja, não é um templo, onde as pessoas ficam ali, muitas vezes por razões sociais, ou por mero apreciar da cultura, a igreja é o povo, o pobre, o doente, e nós que temos amor, tempo, podemos doar de modo diferente. Somos todos igreja, sem se importar com religião, mas com atitudes maravilhosas que nos renovam ao coração.
Hoje em especial, dia do Idoso, dia de Santa Terezinha, dia em que a Missão Belém completa 14 anos, logo, logo, debutando, se tornando adolescente, e então, convido a você para que possa compreender a vida, e para tudo há uma saída.
Podemos vencer a doença das drogas, aqui coloco também medicamentos que tomamos sem receituário médico, podemos vencer a medida que somos ajudados, compreendidos, acolhidos, e acima de tudo, queremos vivenciar um novo caminho.
Assim, em resumo agradeço a Samuel, que levou meu Emmanuel ao acampamento em 2018 na Missão Belém e ele gostou muito, em especial da Irmã Karen. Que Deus abençoe a todos, e mais uma vez meus parabéns e felicitações a todos os envolvidos.
Paz e bem.
Teka Castro.
Ofereço a Samuel e sua mãe Laudeina, ao meu filho Emmanuel, a irmã Karen e a todos apoiadores, envolvidos, e resgatados na Missão Belém.
São Paulo, 1 de outubro de 2019.
Transcrito para 3 sites.
Basta buscar por Tereza Cristina G castro, no google ou em qualquer outro site de busca. Grata.
Um dia belo, para mim as vezes não é quase todos os dias,
assim como as canções que nem sempre todas são boas.
As vezes um sorriso e uma piada sem graça, é apenas para esconder
uma pessoa triste e as vezes desmotivada.
Quando eu quiser falar algo, apenas escute.
Quando quiser ficar quieto apenas respeite o silêncio.
Quando eu quiser sair correndo, apenas deixe.
Quando eu quiser um abraço, apenas abrace!
Breve Resenha Crítica



Belíssimo Romance O PESO DO PÁSSARO MORTO de Aline Bei: a magia da contação que alça voo na leitura...



"Todo escritor é útil(...) se

acrescenta à lucidez do leitor,

livra-o da timidez(...), faz com

que ele veja e sinta o que não

teria visto nem sentido

sem ele (Margherite Yourcenar)



-Um romance que, nidificando, come pelas beiradas... Você acaba a "leção" e cobra-se: -Quando vai ter o Peso do Pássaro Morto, O Retorno, continuação? Sim, um romance nada linear, proseado com palavras soltas, como voos dispares que se arremessam e se agregam, como se em estética de poesia e em nele tendo a poética narrativa, num feminilirismo gracioso, tocante, que você começa até mesmo em pensar, como o fera Marcelino Freire - que tive já o prazer de resenhar uns cantos negros dele anos atrás - descobriu (levantou a asa criativa) de uma escritora pássara-flor desse naipe?

-Menininha quando dorme, põe a mão no coração, diz a cantilena popularesca, mas escritora que se faz menininha na criação, quando sonha, bota a mão na pá-lavra, e dela vira menininha, mocinha, mundos e fugas, fragrâncias e reinações, e assim cresce a mão, cresce a personagem criança, cresce com a gente, e como a gente, e, como se diz que a imaginação pode mais do que o conhecimento, no caso da Aline Bei bota talento, imaginação e cantárias em prosa do que ela refinada, entalha e ria...

-Amigo virtual também é para essas coisas... volta e meia troco livros, ou recebo um e outro, para leitura crítica, palpite, pitacos, dicas, orelhas, prefácio, posfácio, resenha que seja, e com isso descubro mundos além dos meus já limitados e passados de priscas eras, conheço caras novas, amigos virtuais que selam uma baita amizade virtual bonita de ser e de se saber sendo, e quando se vê, um livraço bem editado (Editora Nós), salpica de estrelas e açúcares nossa vazão de encontros e redondezas de encantos. Acertei na moça. E no livro, bonito também técnico-editorialmente falando.

-Mulher escritora é bicho esquisito, dá couro na gente, tira filé de granito. Não, baby, não existe cura para a tal da existencialização, principalmente nesse tempos tenebrosos de muito ouro e pouco pão. Mas existe apuro, fermentação, purgação, arte como levitação, tudo junto e misturado botando para fora os nós, e mesmo os nosotros, já que, afinal nos restamos todos furtivos, as vezes Hamlets, as vezes espelhos quebrados de Alices no país das armadilhas em pontos de fuga. E escrever desmonta a engrenagem da máquina humana que somos e que não somos, quando se vê, a arte cria vida, personifica, dá nome a borboletras, bois e boys, e quando menos se espera, Evoé arco e lira, descobre-se um livro que é rio, que é pássaro, nuvem, e a morta pelanca de nós sobreviventes do antes que ainda reside e resiste em nós é lixada, trazida à tona de novo a carne-vida da palavra bem torneada e nos dando gosto de barulheza de infância de tempos idos, lucidezas de criação, e então rimos, sentimos, choramos, acordamos de novo pra vida com orgulho e benção de ter lido algo embonitado pela alma femina de quem mostra seu tempo e as trilhas do seu tempo...

-Ah o menino Jesus fora da manjedoura, o Luís Benzedor, a escola, o choro, as árvores, a morte na cabeça da doidinha da pá virada e da pá varrida, personagem içando intenções, descobertas, miras e prumos. O jogo de palavras, as montagens graciosas como acordes de uma sinfonia-voo-de-pássaro-morto, feito uma corruíra de palavras tecendo acontecências, armários, Ventos, distâncias, noturnos e flashes de auroras e crepúsculos... Romance de, na leitura, se catar com as mãos de menino atiçado (e ledor voraz e feroz) os parágrafos curtos, bicudinhos-rápidos, verbos, orações, como epigramas/fotogramas, e, já disse Drummond, o mundo não pesa mais do que a mão de uma criança no ombro...

-Um romance com narrativas maviosas e as vezes entrelaçadas para todas as idades, para se contar na escola, para o jovem descobrir um mundaréu em contagem progressiva, para um adulto pegar na mão da menina e ser pai dela, irmão dela, namoradinho dela, e ainda assim e por isso mesmo também, filho dela... Já pensou que pássaro-livro arisco de se conter na emoção de lê-lo? Acabei e pensei com meus borbotões, é pouco. Cadê o bem-virá do quero mais, tipo Quero Quero ciscando nas laudas da autora, teatralizando as palavras em cenas breves, rápidas, passageiras, e ainda assim um bem-te-ler de fazer gosto?... Ah o deusinho da arte na manjedoura das palavras... e o menino (menina) livro?

-Aline Bei nasceu em São Paulo, em 1987. É formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em Artes Cênicas pelo Teatro Escola Célia-Helena. É editora e colunista do site cultural OitavaArte.

Aline-se, eis o verbo.

-O PESO DO PÁSSARO MORTO é um livro tão graciosamente leve, ao mesmo tempo um romance de peso estimativo em qualidade e literatura fina, que você sai da leitura meio que, ponhamos, encantado...

-Encantado? Então é um gostar de arregalar-se.

-0-

Silas Corrêa Leite

E-mail: poesilas@terra.com.br

www.artistasdeitarare.blogspot.com/

Professor, escritor, autor de TIBETE, De Quando você não quiser mais ser gente, Romance, Editora Jaguatirica, Rio de Janeiro, 2017.

BOX:

O PESO DO PÁSSARO MORTO, Romance, Aline Bei.

Editora Nós, SP, 2017

www.editoranos.com.br

166 páginas.

Link:

http://editoranos.com.br/nosso-catalogo/o-peso-do-passaro-morto/

Autora:

https://alinebei.wordpress.com/author/alinebei/











Poema, o que é um poema?
Se ser poeta é escrever sobre seus problemas,
decido por aqui parar,
poema não é como um fixo sistema
onde já se sabe o que vai falar...

Oxe, intaum naum possu + falá assim,
que o poema fica ruim?
Poema não tem idioma nem forma verbal,
o poema NÃO SEGUE UM MANUAL.

Estabelecer regras para seus sentimentos
é como impedir que no céu tenha ventos.
Se eu quiser ir pulando
de verso
sem rimar
eu
posso...
O sentimento é meu.
E até sentimentos possuem buracos...

Se eu qsiuer ercveser emlboado,
quem é que vai me impedir?
Ouentãocomeçaraescrevertudoapertado,
sou eu quem vou decidir...

Poema é sentimento,
sentimento não tem regra.
Escreva o que vem em seu pensamento,
depois é só organizar às cegas.

E com esse pensamento estranho,
já que não tem regra nessa parada,
posso então ir para o meu banho,
terminando com algo bem "do nada":
Sei lá que raio é "rancanho"...

(d'Medeiros)
AUTOBIBLIOGRAFIA

 

quando você quiser me dar um beijo na boca

por favor não me diga nada

sou um astronauta das madrugadas

sob a influência de aquário eu nasci

 

tenho os mais diferentes conceitos

sei que a terra gira que o vento faz curva

e que as estrelas são psicólogas

dos bêbados e das galinhas

 

por isso quando você quiser me procurar

me achará dentro de um livro

de rimbaud ou de artes plásticas

ou ainda ouvindo schummann

 

os meus conceitos as minhas poesias

os meus retratos são fúnebres concertos

de vanguarda e de guarda-chuvas

aliás eu adoro a metafísica de um pé de mamão

 

sonhos tenho aos milhares de milhões

nas esquinas os meus passos têm o esboço

da via-láctea e a minha poesia dorme de costas

tentando conversar com o futuro


 

RECÉM-FORMADO EM BOTÂNICA

 
 

arrumei cinco folhas era madrugada

na mesa um macarrão fora de moda

agora não posso desistir

os meus óculos passeiam pelo chão

o dia inteiro não foi como uma sinfonia

por ironia não foi como uma de mahler

 

rasguei a primeira e joguei ao destino

as minhas pupilas declamavam rilke

estava ensaiada toda a obra da minha vida

tudo fantasia do meu retrato que sorria

sem parar gáudios de safo

o pensamento platônico me fazia brincar

com uma borboleta

o tempo não depende das asas de uma borboleta

 

a segunda tinha um tom meio balzaquiano

rimei em versos dodecassílabos

antes de opugná-la ao lixo

a noite navega como um argonauta apaixonado

o sono toca sua harpa indolentemente

o tempo aterrissa para confidenciar ao crepúsculo

 

a terceira veio impulsionada pelo concerto de brahms

desta vez o inverno não chegou aos meus ombros

com ela o sincretismo de descartes

sófocles ao piano passa pelo meu subconsciente

estava eu em delírios gregos

 
a lua começa a bocejar

tudo é sombra e abandono

no meu quarto a vida é insatisfação

de quem nunca viajou por si mesmo

 

a quarta completa os estágios de mallarmé

não consigo esquecer os versos do sobrinho

neste momento tudo é pausa

o universo é monótono átomos em prosa

o poema flui como galáxias

a madrugada brilha uma vez mais

 

a quinta está completa

pelos passos prostituídos das outras

o tempo não depende das asas de uma borboleta


 

COTIDIANO DE UM POETA

 

acordo às nove e meia da manhã

com os olhos no sol que dormiu

comigo pego um copo com água

olho-me no espelho escovo os dentes

 

sento-me em uma mesa

como um pão com chocolate frio

aos poucos vou me sentindo no mundo

 

minuciosamente vou em direção ao quarto

observo a velha máquina de escrever

arrumo algumas folhas e começo a trabalhar

a mesma cor metafísica de sempre

 

a névoa começa a dançar em meus neurônios

sinto-me como se estivesse com ressaca

tento estralar os dedos como forma de abstração

 

uma pessoa me telefona está tudo bem

volto para o vazio não sei me convencer

estou perdido nem o noticiário é interessante

a tarde namora meu telhado

 

estou confuso sai a primeira linha

muito inocente desenho a chuva no campo

a lua para atrás da minha janela

 

é tão estranho que a noite não me sorria

ouço prelúdios de brisas


aprendo a conviver com a verdade já é tarde

minha cama é o caminho da eternidade

amanhã quem sabe

eu me ouça menos

e a poesia fale




VIOLETAS DANÇAM NO PLAYGROUND

 

sete e meia da manhã

um menino busca o pão

a família o espera

 

oito e vinte e cinco

um carro o atropela

 

doze e quinze

a família fica sabendo

 

dezesseis e trinta e sete

o seu corpo é sepultado

 

sete e meia da manhã

do dia seguinte

o pão aumenta

uma família diminui



A PENÚLTIMA CASA

 


1. eu não lerei o último

poema meu

talvez seja anacrônico

ou até mesmo contrabandista

 

2. terá por certo a perfeita alusão

de mim

sem me desvendar

 

3. cicatrizes no peito

olhos bem espantados

2,20 m de curiosidade

 

4. suave como borboletas

no cio

metade eterno por todo tempo

metade orgasmo por insatisfeito


 

ETERNIDADE MÍNIMA

 

 

estou cego

e a coleção completa dos filmes

de lars von trier ainda não assisti

o gato que antes passeava pela minha

imaginação agora só dorme no tapete

 

entre todos estes combalidos anos

não encontrei o lado b da vida

que consiga me causar espantos

ou a mulher de beijos estonteantes

que me faça negar meus pedros

 

estou cego

e a felicidade é só mais um lúdico cartaz

os fantasmas que nunca ousei encarar

riem das minhas fotos de casamento

amigos me culpam pelo crasso silêncio

 

mesmo a guerra não declarada

do meu comportamento antissocial

é capaz de compreender

os carinhos extremos dos amantes

da ponte neuf

 
estou cego

e cada vez mais os sorrisos recuam

os amores não mais se reconhecem

o absurdo sepulta em mim seu engano

na incerteza cambaleante de continuar


 

A DOMÉSTICA CASA DAS INVENÇÕES PARTICULARES

 

o tempo elege sempre uma vida para levar

mas aprendi que não existe certeza

 
antes corria dos trilhos incendiados

para compreender a perda que imaginamos

nem todo dia é para comemorarmos

 
existe uma parada ela estava lá silenciosa

 
há uma música que sempre ouço pela manhã

faça chuva ou quando lembro de meu pai


estão disfarçados os amantes que mandam flores

sem meus valores não julgo ninguém

meu filho acha engraçado eu dormir de pijama


a vida é uma série de confusos movimentos

 
escolhi o vazio dos lugares sem nomes

para mutilar lembranças que nunca existiram



RODOPIO

 

não esperarei mais

que teus beijos encontrem

meus sapatos trocados

 

nunca ninguém me disse

que eu deveria correr tanto

 

amar foi para mim

uma estranha maneira

de se comparar amanhãs

 

sempre segui na contramão

do que eu sentia sem saber

 

não sei te amar mais

do que uma imagem

desfocada no espelho


 

OS PÁSSAROS

 

a cada dia extinto uma dívida

                             imagens que rangem no espelho

              ouso sentir mais que quase tudo

talvez bispo do rosário tivesse olhos

                         para os infalíveis caos que me perseguem

                                                                    às vezes desamarro

                                                                                              meus girassóis

 

cada foda que dermos uma serpente

                        tigres famintos rodeiam minha solidão

                                                                enquanto escuto o sussurrar das coxas

                        teus olhos parecem se perder em mim

                                                         nem mesmo os poemas de hilda hilst possuem

                                                                                       a báquica carne

                                                                                                      de tuas ancas

                                                                                                                    possuídas


 

MÃOS

 

as mãos sobre o papel

como se fora um barco

o papel

mas na verdade um branco

que dói

 

as mãos sobre o papel

como se esperassem um sonho

nascer

mas na verdade é um sino

que nasce

 

as mãos sobre o papel

como que derrotadas

por hoje

 

mas na verdade a derrota

não houve

 

as mãos sobre o papel

como se não tivessem nada

a fazer a vida inteira

mas na verdade o tempo

não importa


 

ESTUÁRIO

 

 
poesia

uma insatisfação

 

pausa que pulsa por detrás

do mundo lâmina de alta precisão

 

contraventora de palavras

fuga da minha imaginação

 

destino que me alucina

rupestre inscrição

 

incêndio controlado

em minhas mãos


 

HABITAÇÕES

 

 

I)

vague entre estrelas e sóis imaturos pregue a doutrina do beijo

compreenda a dor enamorando-se beba o belo e o feio que são

eternos vista o sonho de realidade ressuscite retratos amarelecidos

com o mesmo ontem solitário experimente novidades sem naufragar

em mares de nunca cruze a saudade velejada nos ombros

 

II)

fale de ventos e tempestades íntimas dance com ternura a valsa dos

peixes deposite o azul dos céus nos olhos mudos toque em notas nuas

as pausas da solidão cicatrize feridas com um leve silêncio de luas

faça versos em sereno utópico à procura do momento exato anuncie

em prosa amiga a grandeza das trevas brancas

 

III)

cante para as noites as suítes úmidas do vento busque no horizonte

um sonho de mãos descalças trace o ridículo em carinhos incomuns

acene em gestos simples sem reduzir rostos de papel ultrapasse

mundos vazios sem flagelos de um soprar castanho escute histórias

de atalhos com urgência de nuvens

 

IV)

suavize as madrugadas num deleite de estrelas trilhe pelos muros do

tempo sem um único sinal de beijo póstumo envolva dores de mães

em dédalos de linho olhe para os homens como palavras rudes resista

calado às dores das cicatrizes amanheça em brumas com sonhos de

distâncias viva à sombra da foice sem massa de cadáveres

 

V)

pinte de aurora a tela do infinito pacifique cóleras com doações

de simplicidade respire corpos perfeitos sem cansaço de bandeiras

tenha mãos pacíficas e seja poeta até no desalento sorria sem perder

a identidade sonhe transparências sem nitidez de suspiros lute contra

os medos são apenas pensamentos

 

VI)

reviva a rosa noturna sem cotidianos de sangue dispa destinos

incertos na nua profundeza dos sonhos decifre províncias sem reter

liberdades pese pecados enrolando confissões sopre o perfume

das fêmeas acariciando orgasmos tenha segredos sem se tornar

prisioneiro conforme o pranto com travesseiros de nunca

 

VII)

abrace o covarde para que ele saiba o que é amar beije a face de

modo elétrico saúde cada momento com exatidão beltrana ore com

olhos sinceros para os de pés cansados procure na dúvida o futuro

embaçado absorva fábulas sem desperdiçar uma borboleta sequer

reduza incertezas em cemitério de comas

 

VIII)

garanta aos humildes um necessário lugar alegre a mesmice em

infernos de flores roucas dissolva o hálito da ruína percebendo o

silêncio mármore dos girassóis retire do lodo as pessoas puras

procurando a essência dos beijos conviva lúcido em um mundo de

hashtags whatsapps & selfies torne público o que de público não há

 


IX)

pregue um mundo de perdões de franciscos protestando contra as

mazelas seculares fuja dos intolerantes dos preconceituosos dos

moderadores e se arrependa das amantes que nunca amou acorde

e olhe para o céu para o sol e o mar para as estrelas como símbolos

contínuos do nosso existir sede vós a essência dos mundos


 

SERENDIPIDADE

 

 

quase observo

uma velhinha passear pela rua

do sol com os calcanhares duros

 

pelas tantas do meio-dia

quase cai e o vento passa

 

de longe apreensivo

pergunto se não quer ajuda

 

abre a sombrinha e me dá a mão

 

lembro do meu avô que morreu

em uma queda de um muro

ou melhor meses depois

de banhar por horas na chuva

 

abruptamente ela para me olha

até aqui está bom vá com deus

 

o caminhar impreciso e frágil

flutuava pelos paralelepípedos

 

como guiados por uma razão maior


 

LEITO QUATRO

 

 

se vai mais um dia entre muitos que pensei viver melhor olhares como

se esperança fosse um entulho de lamentações acelera meus pulmões

ginsberg tece comentários entre a luva indesejada e o prato de comida

que chega como hospitalidade aquele antro de desespero e chagas

destila em meu caos inconformidades com o divino que insiste em me

reter sem qualquer motivo na verdade queria estar em um aeroplano

sobrevoando as praias de humberto de campos ou conversando com

uns amigos na porta do bar do Adalberto

 

às vezes yeats faz me lembrar da samsara que é um copo de leite gelado

após a bebedeira flanando pela avenida melo e povoas agarrado nas

arrepiadas ancas de uma morena observo o marasmo da calcinha

da mulher que ri ao lado naquele bar entre estrelas descontinuadas

todos os meus provérbios de existir me negam tropeço mais uma vez

na mesmice de acreditar em corações complacentes hainoã quando

me chama de pai caem meus hemisférios sobre a baía de são marcos

há felicidade entre o roer de unhas e a dor da cutícula

 

na rua do giz minha vertebral luz minha jerusalém estoica meu

gozo sobre o colo de prostitutas noites que como beatnik caminhava

desolado em busca de algo mais que pudesse estancar as interferências

prejudiciais dos versos inacessíveis anti-herói soprava a dualidade

dos anos oitenta/noventa com barba rala & jaqueta desbotada

transpirando revoluta paixão um ser barroco à procura dos

espelhos perdidos com a obscura missão de continuar em precipícios

acreditando que há um verão orgástico no caminho do poeta

 

a verdade da vida era para ser escrita em forma de poesia pouparia

do desgaste secular de acreditar em são tomás de aquino o amor

só vale a pena se não exigir tíquetes de estacionamento bandeira

da mastercard crediário nas lojas de departamento da magalhães

de almeida agora recluso entre gotas interestelares seringas peidos

fortuitos e azedos o deserto de barreirinhas é o arpoador das minhas

abstrações bundinhas tesas adornadas de branco tangenciam minha

libido meu cacete endurece entre uma e outra troca de antibióticos

 

o céu mais azul que já havia visto se instala em meu coração do olho

d’água à ponta do farol iemanjá me guia com suas ondas caudalosas

o espírito de meu avô parece dançar entre as pedras de arrebentação

da ponta da areia batuques inebriantes cadenciam aquela noite

enquanto os trinta e nove e meio graus me jogam de um lado para

outro iniciado em rotinas e fast-foods inconformismos parecem me

tragar para o boqueirão se pudesse acenderia velas para os ancestrais

bashô está comigo é o que me deixa calmo pelo menos dessa vez

 

reviro-me para tentar apaziguar o cansaço do trópico de capricórnio

que há em minhas costas as mulheres da antiga sunset rasgam meus

olhos pela madrugada naquele equinócio de desesperança onde líamos

camus pessoa gullar chopes ecoavam no saloon pronto a explodir a

nudez de uma amistosa moça nem todos se sentiam na primeira fila

do carnegie hall o cobertor florido aquece meus ossos embargados

por um dia quase todo de febre e delírios ao lado da cama minha

mulher ronca baixinho como um poema arisco de alice ruiz

 

rabolú encontrou as engrenagens simbióticas de jesus maomé

quetzacoaltl pelas ruas desfilou em seu fleetmaster conversível muito

embora a discoteca fosse o religare preterido chove sobre os telhados

do turu e não sinto nada estou vazio como um biscoito ensopado

de café frio aproveito para conferir intempéries não aguento mais

ficar imóvel sobre a esquálida cama apesar de muitos livros ao meu

redor nenhum tem a atmosfera lúdica de peshkov se eu fosse líquido

precipitaria sobre os túmulos carcomidos do cemitério do gavião

 


queria caminhar pela rua portugal destilar imoralidades com sotero

vital ou ouvir o guriatã cantar que a coroa está no maracanã meu

alento são alguns metros quadrados e a memória profícua e desolada

a contemplar a kalevala entre uvas tangerinas e sorrisos de minha

mãe a conversar há uma catarse de choros e ainda não é sexta-feira

nos corações das pessoas nem mesmo o extremismo fático dos grupos

muçulmanos a cortar gargantas pelo iêmen calará os preciosos traços

dos redatores da charlie hebdo

 

meus cabelos parecem a décima quinta de shostakovich a antissepsia é

tão complexa quanto as linhas de nazca mamãe me dá uma ajudazinha

e me enche de sândalo barato ouço no rádio que o país não é mais o

mesmo crise à vista salários minguados violência se instalando dentro

das casas a oligarquia baixando a guarda no maranhão o mundo é

uma sobra de falências múltiplas enquanto uma criança vietnamita

chora a perda de seu cão assado em um mercado público a standard

& poor’s rebaixa a nota de investimentos no brasil


 

RELIGARE

 

 
o tempo todo guardou segredo

na noite de núpcias baixou a luz

pediu que eu viesse com calma

 

abriu o zíper virou-se de costas

beijei-lhe o pescoço as nádegas

 

a virei de frente desci a calcinha

suguei os seios a batata da perna

 

quando estava lá pediu que eu

parasse que seguiria ao closet

 

fechou a porta apagou as luzes

de repente surgiu todinha nua

 

maluquice da minha mulher

tatuar um buda em sua xoxota


 

MÍNIMO MÁQUINA

 

                                                          

uma pessoa que escreve poesia

não é nenhum pouco diferente

de uma costureira de franzidos

de um instalador de antenas

 

não difere em nada

de um ostreiro de um pirata

que rouba barcos fundeados

na baía de são marcos

 

não é nada distante

de copeiros de fast-foods

de acionistas de fundos

de investimentos

 

pelo contrário

um sujeito como os outros

que desliza seus olhos

pelas cidades de si mesmo

 

uma pessoa que escreve poesia

de maneira alguma é diferente

a não ser por levar humanidades

dentro do seu hábito de caminhar



TERMOS E CONDIÇÕES

 

A velhice é a crítica da mocidade

                                José de Ribamar Brito



sempre quis o futuro todos querem o futuro

mesmo com suas ameaças seus mísseis e guerras

açoitado pela rotina não desnorteio o carinho

por quem um dia foi o meu amor

 

nunca seremos ideais ou seja lá o que for

nem admitiremos que a morte nos espreita

pelos corredores e filas ou no orgasmo

com sua manta pungente cheia de significados

 

vivo como se o respirar fosse sempre festa

não minto que já passei por momentos difíceis

me preservo ouço a chuva e preparo o espírito

 

ninguém nunca duvidará do futuro

nem as tais tecnologias serão capazes

de automatizar o que de humano já fomos

tudo se alinha com o que é certo

 

todos os contratempos são antíteses

ou então deus ainda insiste em estrelas

ninguém é muito diferente das ruas à noite

não existe futuro o que existe é agonia

lamentável que os sinais da existência

sejam reticentes ou maneiras de otimismo

já deixei você antes agora só quero voar

 

vou sair

procurar alguém para escolher minhas árvores

ouvir boa música ou mesmo sentar em uma pracinha

de um lugar sem ninguém por perto

 

pessoas passarão por mim

verão meu carimbado rosto

meu livro de cabeceira

 

a eternidade há muito deixou de estar

em meu cabide de roupas prediletas

sempre se constrói algo quando se tenta acreditar 

 

vivências me fazem lembrar que pouco mudei

não havia cordas pesadas em meu pescoço

 

beiramos a estupidez ao pensar em inovações

tudo é complexo para parecer que estamos bem

não ria de mim eu também já me apaixonei

 

talvez reescreva meu destino na tua porta

ou quem sabe me desespere em fugir de ti



PASTO

 

 

quando fernando pessoa

ensaiava o livro do desassossego

minha avó debulhava juçara

nos brejos do interior

 

quando manuel bandeira

modernizava as cinzas das horas

meu avô galopava cavalos

pelas manhãs infinitas

 

quando jorge luis borges

ilustrava a história universal da infâmia

meu pai ainda caminhava

dentro da voz do meu avô

 

quando carlos drummond de andrade

apresentava a rosa do povo

o mundo se diluía entre guerras

meu pai carregava água nos ombros

 

quando pablo neruda

apaixonava com cem sonetos de amor

minha mãe descascava coco babaçu

para ajudar a renda da família

 

quando bandeira tribuzi

se mostrava em pele e osso

meus pais se encontravam

nos clubes de dança de são luís

 

quando cecília meireles

despetalava flor de poemas

eu nascia na benedito leite

com muita gritaria

 

quando luís augusto cassas

concatenava rosebud

eu nos primeiros versos

tomava um espanto

 

quando hagamenon de jesus

emplacava the problem

minha poesia começava a trilhar

entre as transições do mundo

 

quando ricardo leão

palpitava em primeira lição de física

meu combustível se expandia

em anticópias de paixão

 

quando antonio aílton

fulgurava com cerzir

há tempos já acreditava

na desordem das coisas

 

poesia essa ponte de significados

que trisca os olhos necessários

como se o tempo fosse incrustado

no penso parâmetro do porvir  


 

A ESPOSA

 

 

i)

foi necessário perder a costela

para entender toda sua ontologia

 

mesmo no desfiladeiro não desisti

aprontei as malas retornei ao círculo

 

nesta turbulência pude entender

os romances de virginia woolf


 

 

 

ii)

apesar dos filhos da casa mobiliada

só restou o que não me desgastava

 

esqueci de tudo voltei para casa

abrigo de minha mãe um paraíso

 

não era para ser este destino

vivíamos em rota estrangeira

 

 

 

 
iii)

estranho ter que cruzar

com a alma em precipício

 

desconstruir incertezas

apostar o que não podia

 

desprender das perdas

estender cálidas feridas


 

 

 

iv)

apaguei os rastros

o caos se equilibrou

 

fui criando apego

pela paz interior

 

tudo se cadenciou

o amor revigorado


 

 

v)

a vida é o entrelaçar

de aparentes dúvidas

 

não crio mais expectativas

só com o que me satisfaz

 

meus olhos agora brincam

como sempre quis


 

INTERVALOS BURLESCOS

 

 

 

1

ele brinca atirando pedras no rio

enquanto o pai se distrai

 

com uma mossberg 500

caçando patos selvagens

 

 

2

a irmã sem o que fazer

ouve imagine dragons

 

entre gibis baratos

pede proteção a belzebu

 

 


 
3

a mãe com a boca

entupida de cannabis

 

descarta bitucas

no vaso sanitário

 


 

 

 

4

o namorado da irmã

bate na janela do quarto

 

entre uma transa e outra

faz boquetes inesquecíveis

 

 


 

5

o pai chega com o filho

coloca a arma sobre a mesa

 

bate na porta do quarto

da filha sem dizer nada

 


 
 

 

6

o namorado não espera

pula do terceiro andar

 

a mãe morre

de rir com a cena


 

CISÃO AMÉM!

 

                                                                  aos 50 anos de Antonio Aílton

 

 

1.

era uma época de beleza de ignorância lamber os seios de uma mulher um feito merecedor de uma chuva de meteoros quando tocava meu pênis detrás daquele jardim luzes inebriantes solapavam os olhos vermelhos dela que se dizia relâmpago entre meus colhões a verdade é que todo aquele tempo vivíamos uma sinfonia de medos não seguíamos mais os beatles e o que se queria ser era só vanguarda ou rebeldia para agradar um bando de gente com suas interrogações doenças bombardeios ônibus espaciais se desintegrando na hora da sessão da tarde mas sobrevivemos a todos os meandros circunscritos nas calças jeans de nossos pais


 
2.

há muito estive cansado meus cachorros se jogaram de dentro dos meus olhos e escaparam da comida ruim dos fast-foods baratos é certo e não existe coisa mais desagradável que um punhado de caos no final de uma sexta-feira naquela cidade naqueles degraus da matriz de são josé de ribamar vi os olhos de deus caminhando nos cabelos crespos de uma senhora que vendia potes de barro meus pecados talvez não durem mais que o olhar do bêbado dormindo na porta daquela casa em ruínas a fila é grande para os que desistem de amar durante muito tempo desisti de me contentar com um pouco de sexo vinho e discos de pink floyd

 


3.

às vezes necessito que teus olhos larguem meus destinos nunca disse que amanhãs estão escritos na parede do quarto na incerteza encontraremos nosso refúgio necessário há um calendário de perdas no desnorteado sentimento tudo conspira e sopra a nosso favor mesmo desiludido encontro suas pegadas na minha sala de estar é a hora que me inflamo e beijo tuas mãos como reverência aquela fogueira não alcança mais minhas dúvidas divide meus vazios as coisas mudaram não são mais como sempre imaginei quando menino sentando em um banco de praça na avenida jerônimo de albuquerque conferia carros e admirava estrelas

 

 

4.

hoje passam por um menino na calçada profissionais liberais advogados pessoas comuns casais de namorados desviam do inoperante destino mudam os olhares talvez só o apreciem o sol a chuva ou um amontoado de latinhas descartadas os sentidos de todos estão vidrados mesmo é com o aumento dos seios da filhinha do papai são silêncios que nos perseguem que quebram as asas dos anjos se eu permitir você com suas conchas estarei contribuindo para o eterno marasmo que nos persegue uma esquina é sempre um bom lugar para chorar calma que deus até hoje não desabrigou nenhum filho seu por isso esperemos

 


 
5.

em horizontal perspectiva se esconde entre a neblina sugando a metafísica sem estralos da porta que o conduz ao precipício o faro de satã faz habitat na planície da noite é mais belo que o compulsivo sexo da amante amo a noite não me ouve às vezes ninguém me espera há uma chance para abrir a porta me sinto no precipício dentro dos meus olhos a vida basta as pessoas nunca se escutam espio o exercício de cada dia na espiral das escolhas todas as manhãs não tomo café meu vizinho ouve baixinho as notícias dos jornais nem mesmo chuva é ritual nesta existência talvez felicidade seja mais que todas essas coisas juntas

 


 
6.

ela desce as escadas do corredor risca as paredes sem motivo inventa caos é estupidez o retrato do que poderia ser estepe diário filosofia esperança e minha debandada ela que retrai sorrisos é luta íntima o olhar nervoso as estrelas o piano e as cordas vocais as rinhas os reinados a bússola a poesia e tudo que inverna e supera a maresia a santidade e a descrença é iemanjá a pausa a alegria dos casais por ela que tudo se acalma tudo se destrói com um gesto põe tudo a ganhar ou a perder é o destino a que todos esperam é o amor é a que se adianta porque nenhum inverno a espera nem a jose cuervo ou o cabaço da mocinha tremendo

 


 

7.

naquele tempo tudo era muito impreciso nem imaginávamos como seria nossa atualidade quantos filhos só intentávamos em comer um monte de besteiras já passaram tantas tempestades meio século e ainda corremos para a felicidade a vida anda chata demais nem mesmo jogar futebol ou empinar papagaios nos distraem a vida é um acúmulo de cabelos brancos aos poucos vamos brilhando cada vez menos rugas até nas fotos de infância desesperança e angústia nossos companheiros do andar de cima e saber que um dia não mais estaremos por aqui o mal existe deuses e raparigas lindas sorrindo no sofá de um clube de adultos



                                                                                                                    bioquemesito@gmail.com

 

 

                                                                                              

Vou te jogar a real, tem dia que o dia nem começa e a gente já tá passando mal. Não sei você, mas eu fico irritado, sobretudo quando sinto que tá tudo estagnado.
Até mesmo os sentimentos, costumeiramente equilibrados, hoje, justo hoje estão todos misturados.
Deve ser essa rotina, passam-se os dias e ela nunca termina. Não tem pra onde correr, ou você enfrenta ou você se senta e lamenta.
A vida parece que tem pressa, e pra seguir seu ritmo tem que caminhar. E aqui tem de tudo, só não tem espaço pra quem quer desanimar.
Tem que correr se quiser pegar o trem, o jogo aqui é duro, corpo mole não cai bem.
 
Eu não sei como é que a vida te colocou nesses trilhos. Mas de pancada em pancada parece que aos poucos a gente vai perdendo o brilho.
Mas posso te dar um conselho? Tente não ficar assim. Amanhã é outro dia, e o de hoje logo logo chega ao fim.
Quando se deitar, abrace o seu travesseiro. Sinta-se acolhido e afagado por inteiro. Inclusive, chore, pois, chorar faz bem e mesmo se alguém perceber, se sinta forte, só você sabe o que te faz doer.
Não de tanto ouvido às inúmeras exigências dessa vida. Cuide de si, dos sentimentos, das feridas.
O tempo passa, o trabalho fica, o estudo fica e o dinheiro também. E no final, só permanecem as coisas boas que te fazem bem.
 
Então, meu irmão, pra que tudo possa melhorar, primeiro você precisa parar um pouquinho de se cobrar. Abrace mais, abrace com sentimento. Lembra das pessoas boas que te dão sustento.
Não to falando de comida não, to falando das pessoas que estão contigo e que sabendo dos teus lutos de dão abrigo.
E quando o seu dia começar assim, olhe pro céu e faça uma prece de boa energia, chama teu guia, faz uma orgia... de paz, amor e esperança. Não deixe que o medo faça peso nessa balança.
E se você se cansar, qual o problema parar um pouquinho pra descansar? Ninguém aqui é de ferro. Somos feitos de carne, de carne que chora, que sorri e que se enamora.
Quem vai dizer que amar a si mesmo é algo impróprio. Então começa de novo, e quando acordar, antes de tudo, tenha amor próprio.
Já faz muito tempo
A primeira vez sentindo aquela sensação
Enfim achou um amor
Sem reclamações e confusões

Mesmo no trabalho ou no curso
Seus pensamentos estavam nela
Louco para chegar e conversar novamente
Saber como está e como foi seu dia

Quando juntos sentia o coração acelerado
Em ver aquele sorriso e olhos brilhantes
Aquela timidez e aquele silêncio
Já dizia tudo entre os dois

Ele não sabia como compensar
Era muito inexperiente para isso
Mas conseguia quando possível
Levar presentes de agrado

Mas em um curto tempo
Quando afetou aquele relacionamento
Por conta de ciúmes
Um provocando o outro

Ambos apontando os erros
Apontando os defeitos
Que poderia ser um dialogo produtivo
Para consertar o relacionamento

Ficou mais de duas semanas
Sem diálogos amorosos
Sentindo que era o fim
Foi onde tudo acabou

Começou uma vida nova
Sentia-se um cara livre
Conhecendo novos rumos
Tendo novas experiências

Realmente era um cara jovem
Experiência nenhuma de vida
Nem sabia direito distinguir
O certo e o errado

Conheceu a falsidade
Conheceu as ilusões
Mas também conheceu seu espirito bom
E também a positividade da vida

Teve sucesso na vida
Conquistando tudo que queria
Sempre batalhando
Sempre estudando

Porem nesse intervalo da vida
De tempos em tempos
Ela vinha na mente
E começava sempre a reflexão

Teve inúmeros sonhos com ela
Sonhou voltando com ela
Sonhou os dois falando ao mesmo tempo
"Somos almas gêmeas"

Tentou se comunicar de alguma forma
Mas sim, ele era um pouco tímido
Não sabia como chegar
E o que falar para uma nova chance

Tentou ir até a casa dela
Pelo injusto destino
Ela não estava
Ele voltava de cabeça baixa

Poderia ter tentado consertar os erros
Poderia ter amado e entendido mais
Quem dera voltar ao passado
Enfim o pensamento adormecia

Passou-se quase uma década
Sempre repetindo os mesmos pensamentos
Mas a correria do dia a dia
Não permitia o pensamento contínuo

Não importa como ele está
Mesmo na felicidade
Ou até mesmo na tristeza
Ela aparece na mente

Quando era caminho
Passava em frente a casa dela
Surgiam aquelas imagens do passado
Querendo saber como ela está agora

Até que um dia o sucesso e a vida
Acaba estacionando no tempo
A sua mente começa a ficar presa
Neste tempo passado

Sente que ainda não teve um fim
Tendo esperanças de que um dia
Poder continuar essa historia
Poder eliminar essa pendencia do coração

Não sabe o porquê depois de muito tempo
Esse pensamento ainda está na mente
Será que ela realmente ainda gosta?
Ou é coisa de seus pensamentos?

Se ela ainda gosta
Realmente sua energia de amor
Esta refletindo na mente dele?
Onde há esperanças

Se ela não gosta
Realmente pode ser coisas da mente?
Onde já pensou em tratamento
Ou consultas psicológicas

Mas é um sentimento
Que nunca sairá de seu coração
Pois ela tem algo misterioso
Simples fato de nunca ser esquecida

Chega a ter pensamentos
De um dia voltar
Ter sucesso juntos
E família

A mente dele está pressionada
Quer entender o que acontece
Porque tudo isso?
Querendo respostas urgentemente

Por força mental
Tentou emitir pensamentos
Para poder reencontrar
Como uma coincidência

Um belo dia de sol ele estava lá
No ponto de encontro onde aconteceu
O pedido de namoro, ótimos papos e beijos
Alí, agora estas a só, refletindo tudo

Fora esse sentimento
Ele vive uma vida em paz
Mas depois desse amor
Nunca mais conseguiu ser romântico

Agora é tentar seguir em frente
Esperar que a vida o traga respostas
Que o destino seja bom aos dois
Seja o que Deus quiser!


Sentimentos de um anônimo.
Foi gostoso, o boy me deixava louca 
a ponto de perder o limite
e gemer bem alto 

Gemia tão alto que se tornava gritos
frenético,
uma foda alucinante 
que me fazia ficar maluca

O boy sabia fazer
empurrava com força
um beijo gostoso 
que me deixava louca

Eu gemia, e gemia
o boy não cansava
não para, sem parar

Até incomodar os vizinhos com essa foda
extraordinária 
uma batida no teto 
eu até pedi desculpa, desculpa se minha foda te encomoda
e voltava

Dessa vez o gemido era mais brando
vamos pra cozinha pra ver se não incomoda
me bota no paredão e mete bronca
me joga na mesa e me faz de puta

Pá, pá, pá
a mesa fazendo barulho na parede
não para, não para
empurra sem parar

A vizinha grita, olha as horas
eu digo, hoje é sábado, não posso transar?

Acho que não, minha foda incomoda

Pá, pá, pá
dessa vez é a porta
eu já tava no chuveiro 
já tinha parado 

Dessa vez eu grito e não gemo
já paramos, desculpa, tô no banho
já paramos

Pá, pá, pá
desculpa gente, parei
eu estou no banho

Um voz de homem, atrás da porta
abre aqui, quero conversar 
eu na inocência abro uma fresta
vejo que não são os vizinhos, mas um homem com uma camisa no rosto

Fecho de imediato, 
ele não conseguiu empurrar
vai embora, já paramos
insisto em dispensar 

Meu medo era ser estuprada
sei lá, vai que eles querem calar minha boca
por gemer demais

Ele insiste atrás da porta, 
abre, você sabe quem é?

É claro que eu não sabia, 
mas encapuzado não é sinal bom
eu puxo a faca de imediato 

O boy com medo, diz que ele é de boa
insiste que acabamos 
e diz que foi mal 

Eu vejo o desespero em seus olhos
meu deus, isso nunca tinha acontecido
“saudade da melhor época do vila floresta <3”

Abre a porta se não eu arrombo
os caras atrás da porta insiste
eu ciente que se abrir a cobra vai fumar pro meu lado 
meu medo era ser estuprada 

Eu digo, não!
a casa é minha, desculpa pelo inconveniente
é minha segurança não vou abrir

Ele, se eu quiser te dar um tiro já tinha dado 
abre a porta
antes que piore

De repente, uma arma na janela
nem era possível alguém lá 
abre a porta se não é bala

Eu logo penso, fudeu
jogo a faca na parede
que fica atrás da porta, quando se abre

O boy nervoso, tenta abrir a porta
não consegue, de nervoso
a porta abre o contrário

Eu abro a porta
o boy leva um chute
eu fico ao lado da porta

Vai vai, afasta
dois homens enormes entram na minha casa
traficantes, um retinto e o outro não

Eu fico parada na porta
ainda imóvel 
o que vai acontecer?

Vai, vai, afasta
o boy vai pro canto da parede
eu fico em frente da mesa

Eles vem no esculacho
diz que não vai atirar e guarda a arma na cintura
eles dizem que eu sou maluca por acordar todo mundo assim

Eu peço desculpa novamente, digo que isso não vai mais acontecer
um esculacho enorme, diz que atira por menos
eu fixa, estática, apenas de toalha, com o celular no peito

Logo notam, e pergunta se estamos gravando 
eu digo que não, eles verificam
o esculacho foi maior, porque eu disse na porta 
vou chamar a polícia, na favela a regra é não envolver polícia

Ele me chama de louca
diz que se eu chamar a polícia, eles me jogam da minha janela
eu pergunto se eles querem que eu vá embora

O boy diz pra eu calar a boca
eu insisto e digo, se você quiser eu vou embora mês que vem
ele pega e me empurra, 
eu saquei que tinha que calar a boca

Vejo ali que algo pode acontecer
não tiro os meus olhos do olhos dilatado dele 
digo, eu estava tentando me defender, não chamei ninguém

Ele pergunta, se eu sei quem ele é
eu digo que não, 
ele pergunta da onde sou, logo penso, vou me fuder mais

Estudo na UFBA, faço arquitetura, sou de São Paulo 
grande São Paulo, Barueri
estou aqui estudando 

Ele pergunta de onde é o boy
desconfia, o boy diz que é daqui
conhece os caras e os caras o conhece

O traficante saca seu Iphone X
tira foto do boy
e pergunta na rede

Por sorte, o boy era conhecido
diz que seu primo é um dos gerentes
isso talvez fez toda diferença

Ele diz que isso não é pra fazer aqui
não tem problema um comer o cu do outro
mas fala pro boy calar minha boca com o pano

Eu nada digo
peço desculpa novamente
e digo que o boy vai embora

Os traficantes diz que não precisa
que ele pode dormir aqui
e que é pra não fazer barulho

De repente saem 
Pedem desculpa pelo ocorrido
e vão embora

Eu fico de cara, fecho a porta em seguida
o boy tá tremendo
eu ainda cheia de ódio

Hoje é sábado
sou tranquila a semana toda
precisa disso?

O boy senta, dá pra ver o desespero em seus olhos
eu me sinto extremamente culpada pelo ocorrido
isso nunca tinha acontecido

Toma uma água, 
ele diz que eu sou muito afrontosa
não se pode peitar traficante

Eu digo que não peitei
apenas, me coloquei
a casa é minha e não precisava daquela cena 

Quase morri

No final, conversamos um pouco
tentei distrair sua mente 
o clima tava trexi

Eu dei uma massagem nele
ele se acalmou mais
conversamos mais um pouco 

Ninguém morreu
ninguém gozou 
ninguém mais gemeu

O boy foi embora
eu fiquei aqui
escrevendo esse texto

03:30 da manhã
A sensualidade no corpo de uma mulher
Que deixa os homens aos seus pés
Provocando da maneira que quiser
Homem, faça o seu melhor para tentar se controlar
Mulher, do seu corpo faça-o se apaixonar
Deixe-o imaginar, fantasiar, te desejar
Deixe-o escutar sua voz meiga
Mas espere, se acalme, não ceda
Nem mesmo se ele demonstrar alguma queixa
Faça com que ele enlouqueça
Deixe-o flutuar em sua correnteza
Diga o que quiser para alterá-lo
Algo nele ficará então "elevado"
Não há como ele evitar, não há como controlá-lo
Fale a falta que ele faz
Em como ele te satisfaz
Que em te agradar ele é capaz
Pois ele quer sua atenção, sua sedução
Quer conversar até a Lua os cumprimentar.

Coloque-o em um estado de abstinência
Que ele deseje o seu corpo com urgência
Demonstre sua saliência e indecência
Pergunte a ele o que ele quer, se puder
Ou se preferir deixe-o navegando na maré
Irá te desejar como nenhum outro qualquer
Se divirta, sinta prazer
Faça cada palavra valer
Mas não seja egoísta, não pense só em você
Proporcione o que ele possa merecer
Mas não o deixe dormir sem nada sentir
Mas caso aconteça, ele não merece te fazer sorrir.

É um erro pensar em somente se satisfazer
Mulher ou homem, todos merecem se envolver
Se um não quer, dois não brigam
Se os dois querem, os dois se excitam
A paixão anda de mãos dadas com a tentação
E não importa a posição, todos sentem a atração
E o corpo dela instiga desejo carnal
Mas não é para ser ser visto como algo mal
Acontece muito isso em um casal com sentimento passional
O desejo de querer ser um só
Em cima da cama, ou na varanda
Se entrelaçarem como um nó
Entre quatro paredes vale tudo, não é?
Aproveite então mulher, o quanto puder
Afinal, com charme e beleza única, é você que ele quer
Todo homem almeja ser amado, desejado
Todo homem almeja ser acariciado, beijado, valorizado
Toda mulher merece ser tratada como uma princesa
Toda mulher merece ser tratada com delicadeza
Outras talvez gostem mais de um pouco de dureza
Sonhe com o corpo dele, assim como ele sonha com o seu
Valorize o encanto e qualidades que a vida lhe deu.

Sentir o doce gosto dos lábios
E talvez com versos ávidos
Xícaras e mais xícaras de afrodisíaco
O ninho do vício.

O poder de despertar, levantar, uma certa alegria
Um sentimento que no corpo do homem contagia
O que os excita, causa euforia
De tão prazeroso torna-se uma agonia
A sensualidade feminina.
Em uma noite sombria com os ventos siberianos à solta, uma estrela azul aparece no céu, e aparece em frente a uma casa, ele toca na porta, alguém abre e.
-Olá! Prazer em conhecê-lo, eu sou o mensageiro azul e está carta irei lhe entregar!
-Quem é o remetente? Diz a mulher com um olhar triste.
-De Koly Mac Wil.
-Uhm, vá enganar outra pessoa meu filho morreu ontem.
-Eu sei disso, ele que me pediu para enviar tal carta, se não queres vê-la de que serve meu trabalho?
-Ok...lhe darei uma chance. Assim que a Mulher abre a carta, ela vê a caligrafia de seu filho, “Impossível “ela diz.
Na carta estava escrita: “mãe? Como está? Estranho né? Para mim vc morreu ontem, mas esse emissário azulado, apareceu e falou que eu conseguiria falar com você novamente, bem... Isso funciona?” É imediatamente a mulher começa a chorar.
-Sim meu filho... Isto funciona. Chorando a todo momento, e agarrando aquela carta como se a vida dependesse disso
-Você quer enviar uma Missiva à ele? Diz o mensageiro Azul.
-Sim. por favor me dê está chance. E Assim que ela fala isso um portal amarelo aparece, e de um lado está Koly Mac Will , e do outro ele vê sua mãe. É lá eles têm seu reencontro, E quando eles terminam de falar.
-Muito obrigada por ter me dado está última chance de reencontrar meu filho.
-De nada. Diz o mensageiro azul, virando de costas para ela, com seu grande cabelo azul ciano, e sua máscara cobrindo toda sua face ele voa para outro mundo para a próxima encomenda.
E no caminho ele fala: A primeira do dia é sempre a mais fácil, queria que todos fossem assim, mas bem, qual é o próximo, pedido de encomenda feita por Vanessa Fisk para Wilson Great Fisk codinome “Rei do crime” ,Esse parece que vai ser chato de entregar, mas parece que posso ficar invisível. O mensageiro azul dá um grito de felicidade. “Finalmente poderei fazer algo rápido” ele diz, mas assim que ele fala isso ele lê a próxima palavra, “Pelo Spiderman” , e imediatamente ele começa a chorar.
-Porque vida cruel, Porque você faz isso comigo. Mas bem que eu posso usar a super velocidade e ficar invisível para a maioria. Bem então vamos lá! E ele voa até Forest Hills(cidade do homem aranha) mas assim que ele chega, ele começa à dar uma volta na cidade completamente oculto então ele faz uma ronda na cidade e corre até o escritório de Fisk, e quando ele estava correndo até o escritório ele sente que alguém viu ele.
Então ele ativa a leitura de pensamentos e, descobre que têm alguém com um sexto sentido, e ele dá meia-volta para apagar a mente de quem o viu, mas a pessoa em questão percebeu e começou a tentar se esconder, mas o mensageiro é rápido de mais e apaga todas as memórias que aconteceram de 30 segundos atrás. E quando chegou no escritório do Fisk ele pegou o protótipo de uma vacina, curioso com aquilo ele levou consigo. Após isso ele continuou entregando às cartas, e no final do dia. Ele foi para uma casa temporária. *Chat de jogo abre*
-é aí blumes? Como tá
-a e aí Eredi. Tô bem pô e tu?
-tô bem também, viu o novo evento do jogo? Tá muito louco deveria jogar. Mas e como tá o dinheiro para o PC? Já tô em 40% da meta.
-Ainda tá longe da meta um dia você consegue.
É assim eles jogaram até de madrugada. Ao acordar ele lembra que tem que analisar a “vacina” então ele começa à analisa-lá ele percebe que a vacina assim que em contato com outro ser vivo, começa a fortalecer o corpo do indivíduo e protegendo-o de múltiplas doenças, também dando mais força e defesa, ele percebe também que ele têm um chip de computador dentro, então com todo o seu conhecimento ele começa a melhorar a vacina ele passa dias e noites trabalhando somente nisso, e depois de muitos testes ele usa à vacina em si mesmo, é então ele começa à ver um monte de coisas à sua frente.
-Ein? O que é isso? Porque está aparecendo tantas coisas à minha frente? Ele se pergunta.
-Isto é o seu visor mestre, é assim que devo chamá-lo? Diz uma voz feminina dentro de sua cabeça. E assim O mensageiro azul começa a mandar uma quantidade de celular T, A e B junto de uma quantidade massiva de glóbulos brancos, e assim deixando a “Vacina” sem lugar para fugir.
-Qual seu nome? Quem ou o que é você? E para que serve?
-Não tenho nome mas meu número de fabricação é AX-719, sou uma Inteligência artificial feita por você, não sei para que sirvo.
-Como posso confiar em você?
-Não sei... Acho que ao longo do tempo que nós conseguiremos isto... não?
-Ok, eu confio em vc com uma condição, você irá trabalhar para mim, aceita?
-sim? Eu não sei. Então o mensageiro pensa.
-Se conecte na internet aprenda sobre tudo, construa seus propósitos e (alguma coisa como os a favores e contras) e tome cuidado com todos os tipos de sites, Seja útil para mim. E me dá um tutorial de todas as suas funções. Mas lembre-se... Nunca, jamais cogite cometer traição, nesse momento AX-719 Sabia que se ela pensasse em traição, era o túmulo dela
-certo. Depois disso o Mensageiro azul recebeu um tutorial completo de todas as funções de AX-719, “Aprendi que por exemplo ela pode escutar meus pensamentos e falar comigo , e eu também, como tem um sistema que pode construir coisas do zero, que é divino” ele decide reconstruir a armadura dele para implementar a tecnologia de AX-719, que a mesma começa a evoluir exponencialmente.
-Alias AX-719 você não têm um nome certo?
-Sim, blumes!
-Desde quando você me chama assim?
-Não gostou?
-na verdade... Gostei!
-então qual você prefere cosmo azul ou estrela Azul?
-hmm, Cosmo Azul!
-Ok. Então depois disso eles decidem testar a armadura indo em uma terra cheio de demônios, um lugar deserto sem árvores e inteiramente quebrada
-Vamos testar a nova armadura?
-Sim! Armadura universo impactante 1.5 em ação!
-Qual é a desse nome?
-ué não gostou?
-não não é isso é que... Esquece. E assim eles caem igual um meteoro na toca dos demônios. Blumes se move tão rápido que os demônios não tem tempo de reagir, cortando todos com sua lança, e trocando consecutivamente entre lança, espada e pistolas. “Eixo de vento” “forma de Ashkuh” “chamas de Hades”. E no fim aquilo foi uma verdadeira chacina.
-caramba hoje teve muitos.
-mestre, isso não é errado? Eles não estavam apenas vivendo a vida deles pacificamente e atacamos eles sem mais nem menos, não acha que pegou pesado?
-Não use um drone e vá para dentro da toca deles e veja você mesmo o que eles fazem. Quando Cosmos entra na toca dos demônios ela vê milhares de humanos mortos, e decapitados.
-viu?
-Sim. Fala cosmos com um olhar triste.
-não fique assim, O mundo é um diamante bruto, cheio de pecado e males, você só precisa lapidado para melhorar ele.
-Blumes assim você parece Hitler. E alguns segundos em silêncio que pareciam horas.
-É bem... Não serei como Hitler.
-promete?
-Prometo! E de repente um alto estrondo vem em direção ao Blumes, pelo ritmo do estrondo parecem ser passos, mas de algo gigantesco, e assim que eles se viram eles veem um demônio ancião, e quando eles se virão, e veem ele ambos começam a gritar, e correr.
-Ahhh porque você tinha que matar eles?!
-Ahhh eu não esperava que tinha um deles aqui e, pera. O mensageiro para de correr.
-nós não somos mais forte do que ele? Diz o Blumes.
-é né, detectei um aumento de noradrenalina no seu sangue, ele deve estar usando alguma magia para isso
-Quem habilidade escrota, bem vamos acabar com isso rápido, selo dos 7 relâmpagos. Então múltiplos cortes de espadas elétricas começam a cortar o demônio até que ele cai.
-Então tem algo bom para levar deles? Alguma arma, armadura ou algo assim? Diz o emissário
-Não só algumas espadas bem desgastadas, quer que eu às guarde no cubo do infinito para reutilizar o metal?
-A Sim por favor, mas o cubo do infinito não era um protótipo? Como você já terminou?
-sou bem rápido, mas se você quiser me dar algum elogio eu aceito.
-então muito bem cosmos! Cosmos se enche de alegria indo de um lugar ao outro pegando as espadas e escudos, como se não tivesse fim.
-então, acabou? Diz O mensageiro.
-Sim vamos embora! Este lugar me dá medo eu acho. Então eles vão embora para para o lugar da próxima entrega, no caminho eles têm uma conversa
-De onde vem sua força mensageiro?
-Minha força? De vontade ou mágica?
-Ambas!
-Bem força de vontade por que eu quero comprar um PC gamer, que custa um bilhão na cidade Wicher, o lugar mais famoso para alguém ficcionado em tecnologia.
-Serio?
-Sim, porque?
-de você eu pensava de algo mais grandioso, como: dominar o cosmos, destruir o universo, ser o herói do mundo. Não algo tão pequeno, mas é a mágica?
-Não trate seu mestre assim. Mas a minha força mágica vem de cem pedaços de uua fragmentação estelar.
-fragmentação estelar? Pergunta cosmos com um olhar de desconfiança.
-Sim, pode se sentar porque lá vem história.
-mas eu não tenho corpo físico.
-Imagine que está. Então ele começa: “Há muito tempo atrás onde nada existia, uma estrela azul conte
[21:31, 29/07/2021] 邪: Sei que não usufruo de alguma importância, acredito vir pela sua. Como está você?

[21:32, 29/07/2021] K: Me falta novidades. Você trouxe alguma?

[21:33, 29/07/2021] 邪: Novas penúrias deixam de ser notícias em vidas de miséria.

[21:35, 29/07/2021] K: É costume do destino nos condenar, não leve para o lado pessoal.

[21:37, 29/07/2021] 邪: Já há alguns anos desde que nos conhecemos, ultimamente pouco temos nos falado.

Conheces esta personalidade melancólica, ameaçando-me sobre um precipício que nunca salto.

Desisto em qualquer instante, afasto-me do fim, e encontro o que de volta me traz. Um dos poucos vícios que prazer algum dá.

[21:39, 29/07/2021] 邪: Dou-me o luxo do egoismo, jogando besteira sobre quem não se importa, porém me conhece.

[21:51, 29/07/2021] K: Sou tal alvo?

[21:51, 29/07/2021] K: Surges por instantes, soltas algo que faz de mim desprezível, então desaparece.

[21:52, 29/07/2021] 邪: Não.

[21:52, 29/07/2021] 邪: És o que és. Consciente do caos que assola, indiferente às vidas que choram.

[21:53, 29/07/2021] 邪: Como sempre digo, se não sou eu quem pensa neste mundo não seria tu quem me explicaria tudo.

[21:53, 29/07/2021] 邪: Esqueces de ti como o deus de quem teme a deus.

[21:54, 29/07/2021] K: Sou sempre eu o dono das últimas palavras. És tu quem sempre se cala.

[21:55, 29/07/2021] 邪: Sim...

[21:55, 29/07/2021] 邪: Bom, já mal sei como explicar-te o óbvio.

[21:56, 29/07/2021] K: Sei de óbvias coisas que são outras, de tu são as coisas que reflito.

[21:56, 29/07/2021] 邪: Pois então pensas a cada par de meses.

[21:57, 29/07/2021] 邪: Pares para mim incontáveis, trazem sempre outros motivos com os mesmos princípios, e disso para tu és graça, largando-me sem tristeza para o fim, sem felicidade para ouvir o que sabes de mim. Queria eu tirar-te a vontade de qualquer coisa.

[21:58, 29/07/2021] 邪: Fique, então, onde quiser, pois esta maldição encontra-te onde estiver.

[21:58, 29/07/2021] K: O oceano que nos separa é inspiração para exageros. Sofrer em dobro é tão comum quanto pessoas que não vivem pelos outros. Queres quem testemunhe esta descida e sirva de guia aos curiosos por ruínas. Continue com o óbvio. Sinto suficiente para genuinamente querer teu bem.

[21:59, 29/07/2021] 邪: O que quero não queres me dar, e não tenho índole para isso te tomar.

[21:59, 29/07/2021] K: Amor? Dinheiro? Ambos ou nenhum?

[21:59, 29/07/2021] 邪: Sinto-me excessivo, transpondo o complicado.

[22:00, 29/07/2021] K: A maioria de quem se diz gente é.

[22:02, 29/07/2021] K: Tens onde dormir?

[22:10, 29/07/2021] 邪: Ninguém pode sentir, de verdade, a dor do outro, e se torna cômico supor e comparar.

[22:12, 29/07/2021] K: Faria-te melhor sabermos exatamente o que vive?

[02:37, 30/07/2021] K: Sou sempre eu o dono das últimas palavras.

[06:24, 04/08/2021] K: Fez disto um fim?

[07:24, 08/08/2021] K: 邪?

[04:05, 12/10/2021] 邪: O que o zodíaco mente sobre ti?

[07:11, 12/10/2021] Y: Que meu tempo passa...
Você precisa se livrar desse mal, precisa reerguer seu alto astral
Olhe para cima, sinta o sol que te ilumina
Escute o canto do pássaro, tranquilidade ele irá passar-lhe
Abrace o dia, abra a janela e sorria
Dê olá ao vento que passa em seu lar
Seja o veículo da sua crença, a tristeza vença
Não deixe o tempo passar sem viver, faça cada segundo valer
Aprenda a superar, pois alguém em você uma pedra irá lançar
Fortaleça a sua mente, torne-se uma pessoa diferente
A tempestade no copo, derrube-o e crie a felicidade
Não sofra eternamente, pois a dor te machucará intensamente
Utilize da razão, mas não se esqueça da opinião do seu coração.

Não tenha medo da mudança, revigore sua esperança
Seja uma pessoa boa, e que os frutos você colha
Não tenha medo de lutar, afinal quem disse que não irás ganhar?
"É isso que quero, é isso que sinto", faça seu próprio destino
Que seu passado seja seu mentor, e do futuro será o autor
Não diga que não é capaz, perceberá como você é eficaz
Dê bom dia a sua família, demonstre como ela é querida
Não tranque o seu coração, não deixe ser inquilina a escuridão
Não vá pelo desvio, mostre o seu sorriso
Sinta a vida aquecer dentro de você, que continuará até o anoitecer
Não deixe a tristeza te dominar, mostre que no comando você está
Enxergue aquela luz no fim do túnel, não permaneça no escuro
Faça o que for para ser feliz, acredite em si
Mas é normal se perder, as vezes o caminho vai confundir você
Ainda há muito mais para se aprender, muito mais para se ver
Siga o teu instinto até o fim... ora, talvez isto funcione até para mim.

Se está depressivo, pense em algo produtivo
Se mais nada faz sentido, reveja seu objetivo
Se está chateado, procure algo para acalmá-lo
As pessoas tendem a ferir, magoar as outras
E as lágrimas que deslizam sobre seus rostos não são poucas
Existem pessoas más, existem pessoas boas
Mas a diferença entre elas todas
Tornam cada uma diferente, única
Mas não é por isso que devem se vangloriar
As outras pessoas desprezar e criticar
Não existe a perfeição, pode ou não aceitar
Mil palavras podem ser ditas
Mil palavras podem ser ouvidas
Mas talvez nunca serão entendidas
Frases que pensei enquanto formava minhas rimas
Diga para o espelho o que tu quer
Ou melhor, diga para ele o que quiser
Afinal, críticas não irá escutar ele falar
Não comece a se perguntar o sentido da vida
Pense em seus sonhos, alcance-os, viva.

"Ah, minha rima querida
Você se tornou parte da minha rotina
Obrigado por me ajudar, lágrimas evitar
Dizem que você não é profissional
Desculpe não ser escrita pela pessoa ideal
Dai-me o seu perdão
Pois, agora ferido se encontra meu coração, na desilusão".

Viva feliz e aproveite a leve brisa
Talvez agora seja isso que você precisa.

                  Em teu corpo, ó mulher,
                      há um segredo guardado.
                      É segredo e quem quiser
                      desvendá-lo sai logrado.
                      Não existe corpo feio,
                      sempre há algo a realçar,
                      o colo, a curva do seio,
                      cabelos, boca e olhar.

                      Aquela que assim se entende
                      sabe bem o que lhe vale,
                      se é o modo como prende
                      o cabelo, ou como fale,
                      sorria, vista, caminhe,
                      deixe os pés em evidência,
                      as mãos sobre o peito aninhe,
                      ou olhe com displicência
                      as unhas, enquanto alisa
                      uma mecha do cabelo
                      e de forma bem precisa
                      realça seu tornozelo.

                      Cada mulher é um mistério
                      único, doce, indiviso.
                      Conhecê-la é assunto sério,
                      mas arriscar-se é preciso.

                      Um mistério desvendado
                      perde a graça e o encanto,
                      então mantenha o cuidado;
                      haja o esforço, mas não tanto...
           
                      Nilza Azzi