Procurar você é mais forte do que pensa
85 resultadosApreciem, meus leitores,
Uma forte discussão,
Que tive com Zé Pretinho,
Um cantador do sertão,
O qual, no tanger do verso,
Vencia qualquer questão.
Um dia, determinei
A sair do Quixadá —
Uma das belas cidades
Do estado do Ceará.
Fui até o Piauí,
Ver os cantores de lá.
Me hospedei na Pimenteira
Depois em Alagoinha;
Cantei no Campo Maior,
No Angico e na Baixinha.
De lá eu tive um convite
Para cantar na Varzinha.
Quando cheguei na Varzinha,
Foi de manhã, bem cedinho;
Então, o dono da casa
Me perguntou sem carinho:
— Cego, você não tem medo
Da fama do Zé Pretinho?
Eu lhe disse: — Não, senhor,
Mas da verdade eu não zombo!
Mande chamar esse preto,
Que eu quero dar-lhe um tombo —
Ele chegando, um de nós
Hoje há de arder o lombo!
O dono da casa disse:
— Zé Preto, pelo comum,
Dá em dez ou vinte cegos —
Quanto mais sendo só um!
Mando já ao Tucumanzeiro
Chamar o Zé do Tucum.
Chamando um dos filhos, disse
Meu filho, você vá já
Dizer ao José Pretinho
Que desculpe eu não ir lá —
E que ele, como sem falta,
Hoje à noite venha cá.
Em casa do tal Pretinho,
Foi chegando o portador
E dizendo: — Lá em casa
Tem um cego cantador
E meu pai mandou dizer-lhe
Que vá tirar-lhe o calor!
Zé Pretinho respondeu:
— Bom amigo é quem avisa!
Menino, dizei ao cego
Que vá tirando a camisa,
Mande benzer logo o lombo,
Porque vou dar-lhe uma pisa!
Tudo zombava de mim
E eu ainda não sabia
Se o tal do Zé Pretinho
Vinha para a cantoria.
As cinco horas da tarde,
Chegou a cavalaria.
O preto vinha na frente,
Todo vestido de branco,
Seu cavalo encapotado,
Com o passo muito franco.
Riscaram duma só vez,
Todos no primeiro arranco
Saudaram o dono da casa
Todos com muita alegria,
E o velhote, satisfeito,
Folgava alegre e sorria.
Vou dar o nome do povo
Que veio pra cantoria:
Vieram o capitão Duda
Tonheiro, Pedro Galvão,
Augusto Antônio Feitosa
Francisco, Manoel Simão
Senhor José Campineiro
Tadeu e Pedro Aragão.
O José das Cabaceiras
E o senhor Manoel Casado,
Chico Lopes, Pedro Rosa
E o Manoel Bronzeado,
Antônio Lopes de Aquino
E um tal de Pé-Furado.
Amadeu, Fábio Fernandes,
Samuel e Jeremias,
O senhor Manoel Tomás,
Gonçalo, João Ananias
E veio o vigário velho,
Cura de Três Freguesias.
Foi dona Merandolina,
Do grêmio das professoras,
Levando suas duas filhas,
Bonitas, encantadoras —
Essas duas eram da igreja
As mais exímias cantoras.
Foi também Pedro Martins,
Alfredo e José Segundo,
Senhor Francisco Palmeira,
João Sampaio e Facundo
E um grupo de rapazes
Do batalhão vagabundo.
Levaram o negro pra sala
E depois para a cozinha;
Lhe ofereceram um jantar
De doce, queijo e galinha —
Para mim, veio um café
E uma magra bolachinha.
Depois, trouxeram o negro,
Colocaram no salão,
Assentado num sofá,
Com a viola na mão,
Junto duma escarradeira,
Para não cuspir no chão.
Ele tirou a viola
De um saco novo de chita,
E cuja viola estava
Toda enfeitada de fita.
Ouvi as moças dizendo:
— Oh, que viola bonita!
Então, para eu me sentar,
Botaram um pobre caixão,
Já velho, desmantelado,
Desses que vêm com sabão.
Eu sentei-me, ele vergou
E me deu um beliscão.
Eu tirei a rabequinha
De um pobre saco de meia,
Um pouco desconfiado
Por estar em terra alheia.
Aí umas moças disseram:
— Meu Deus, que rabeca feia!
Uma disse a Zé Pretinho:
— A roupa do cego é suja!
Botem três guardas na porta,
Para que ele não fuja
Cego feio, assim de óculos,
Só parece uma coruja!
E disse o capitão Duda,
Como homem muito sensato:
— Vamos fazer uma bolsa!
Botem dinheiro no prato —
Que é o mesmo que botar
Manteiga em venta de gato!
Disse mais: — Eu quero ver
Pretinho espalhar os pés!
E para os dois contendores
Tirei setenta mil réis,
Mas vou completar oitenta —
Da minha parte, dou dez!
Me disse o capitão Duda:
— Cego você não estranha!
Este dinheiro do prato,
Eu vou lhe dizer quem ganha:
Só pertence ao vencedor —
Nada leva quem apanha!
E nisto as moças disseram:
— Já tem oitenta mil réis,
Porque o bom capitão Duda,
Da Parte dele, deu dez. . .
Se acostaram a Zé Pretinho,
Botaram mais três anéis.
Então disse Zé Pretinho:
— De perder não tenho medo!
Esse cego apanha logo —
Falo sem pedir segredo!
Como tenho isto por certo,
Vou pondo os anéis no dedo ...
Afinemos o instrumento,
Entremos na discussão!
O meu guia disse pra mim:
— O negro parece o Cão!
Tenha cuidado com ele,
Quando entrarem na questão!
Então eu disse: — Seu Zé,
Sei que o senhor tem ciência —
Me parece que é dotado
Da Divina Providência!
Vamos saudar este povo,
Com sua justa excelência!
PRETINHO — Sai daí, cego amarelo,
Cor de couro de toucinho!
Um cego da tua forma
Chama-se abusa-vizinho —
Aonde eu botar os pés,
Cego não bota o focinho!
CEGO - Já vi que seu Zé Pretinho
É um homem sem ação —
Como se maltrata o outro
Sem haver alteração?!...
Eu pensava que o senhor
Tinha outra educação!
P. — Esse cego bruto, hoje,
Apanha, que fica roxo!
Cara de pão de cruzado,
Testa de carneiro mocho —
Cego, tu és o bichinho,
Que comendo vira o cocho!
C. — Seu José, o seu cantar
Merece ricos fulgores;
Merece ganhar na saia
Rosas e trovas de amores —
Mais tarde, as moças lhe dão
Bonitas palmas de flores!
P. — Cego, eu creio que tu és
Da raça do sapo sunga!
Cego não adora a Deus —
O deus do cego é calunga!
Aonde os homens conversam,
O cego chega e resmunga!
C. — Zé Preto, não me aborreço
Com teu cantar tão ruim!
Um homem que canta sério
Não trabalha verso assim —
Tirando as faltas que tem,
Botando em cima de mim!
P. — Cala-te, cego ruim!
Cego aqui não faz figura!
Cego, quando abre a boca,
É uma mentira,pura —
O cego, quanto mais mente,
Ainda mais sustenta e jura!
C. — Esse negro foi escravo,
Por isso é tão positivo!
Quer ser, na sala de branco,
Exagerado e altivo —
Negro da canela seca
Todo ele foi cativo!
P. — Eu te dou uma surra
De cipó de urtiga,
Te furo a barriga,
Mais tarde tu urra!
Hoje, o cego esturra,
Pedindo socorro —
Sai dizendo: — Eu morro!
Meu Deus, que fadiga!
Por uma intriga,
Eu de medo corro!
C. — Se eu der um tapa
No negro de fama,
Ele come lama,
Dizendo que é papa!
Eu rompo-lhe o mapa,
Lhe rompo de espora;
O negro hoje chora,
Com febre e com íngua —
Eu deixo-lhe a língua
Com um palmo de fora!
P. —No sertão, peguei
Cego malcriado —
Danei-lhe o machado,
Caiu, eu sangrei!
O couro eu tirei
Em regra de escala:
Espichei na sala,
para amar a solidão; é preciso ter pernas firmes
e uma resistência fora do comum; não se deve arriscar
pegar um resfriado, gripe ou dor de garganta; não se devem temer
assaltantes ou assassinos; há que caminhar
por toda a tarde ou talvez por toda a noite
é preciso saber fazê-lo sem dar-se conta; sentar-se nem pensar;
sobretudo no inverno, com o vento que sopra na grama molhada
e grandes pedras em meio à sujeira úmida e lamacenta;
não existe realmente nenhum conforto, sobre isso não há dúvida,
exceto o de ter pela frente todo um dia e uma noite
sem obrigações ou limites de qualquer espécie.
O sexo é um pretexto. Sejam quais forem os encontros
― e mesmo no inverno, pelas ruas abandonadas ao vento,
ao longo das fileiras de lixo junto aos edifícios distantes,
que são muitos ― eles não passam de momentos da solidão;
mais quente e vivo é o corpo gentil
que exala sêmen e se vai,
mais frio e mortal é o querido deserto ao redor;
é isso o que enche de alegria, como um vento milagroso,
não o sorriso inocente ou a prepotência turva
de quem depois vai embora; ele traz consigo uma juventude
enormemente jovem; e nisso é desumano,
porque não deixa rastros, ou melhor, deixa um único rastro
que é sempre o mesmo em todas as estações.
Um jovem em seus primeiros amores
não é senão a fecundidade do mundo.
É o mundo que chega assim com ele; aparece e desaparece,
como uma forma que muda. Restam intactas todas as coisas,
e você poderia percorrer meia cidade, não voltaria a encontrá-lo;
o ato está cumprido, sua repetição é um rito; pois
a solidão é ainda maior se uma multidão inteira
espera sua vez; cresce de fato o número dos desaparecimentos ―
ir embora é fugir ― e o instante seguinte paira sobre o presente
como um dever; um sacrifício a cumprir como um desejo de morte.
Ao envelhecer, porém, o cansaço começa a se fazer sentir,
sobretudo naquela hora imediatamente após o jantar,
e para você nada mudou; então por um triz você não grita ou chora;
e isso seria enorme se não fosse mesmo apenas cansaço,
e talvez um pouco de fome. Enorme, porque significaria
que o seu desejo de solidão já não poderia ser satisfeito;
e então o que o aguarda, se isto que não se considera solidão
é a verdadeira solidão, aquela que você não pode aceitar?
Não há almoço ou jantar ou satisfação do mundo
que valha uma caminhada sem fim pelas ruas pobres,
onde é preciso ser desgraçado e forte, irmão dos cães.
PROCURA-SE MULHER
Ela parou. Havia um grande pedaço de papelão grudado na janela com alguma substância. A maior parte estava datilografada. De onde estava na calçada, Edna não conseguia ler o aviso. Podia apenas ver as letras graúdas:
PROCURA-SE MULHER
Era um carro novo e caro. Edna deu um passo sobre a grama para ler a parte datilografada:
Homem, 49 anos. Divorciado. Procura mulher para casamento. Deve ter entre 35 e 44 anos. Gosta de televisão e películas cinematográficas. Boa comida. Sou especialista em custos de produção, com estabilidade no emprego. Dinheiro no banco. Gosto de mulheres acima do peso.
Edna tinha 37 anos e estava acima do peso. Havia um número de telefone. Também havia três fotos do cavalheiro em busca de uma mulher. Ele parecia bem sério de terno e gravata. Também parecia estúpido e um pouco cruel. E feito de madeira, pensou Edna, feito de madeira.
Edna se afastou, sorrindo um pouco. Sentia também uma espécie de repulsa. Ao chegar ao seu apartamento, ela o tinha esquecido. Apenas algumas horas depois, sentada na banheira, voltou a pensar nele e, dessa vez, pensou em como ele devia estar realmente sozinho para fazer tal coisa:
PROCURA-SE MULHER
Imaginou-o chegando em casa, encontrando as contas de gás e telefone na caixa de correio, despindo-se, tomando um banho, a televisão ligada. Então leria o jornal da tarde. Depois iria para a cozinha preparar sua refeição. De pé, de cuecas, olhando para a frigideira. Pegando sua comida e caminhando para uma mesa, comendo. Bebendo seu café. Então mais televisão. E talvez uma solitária lata de cerveja antes de se deitar. Havia milhões de homens como ele por toda a América.
Edna saiu da banheira, enrolou-se na toalha, vestiu-se e saiu do apartamento. O carro ainda estava lá. Anotou o nome do homem, Joe Lighthill, e o número do telefone. Leu a parte datilografada novamente. “Películas cinematográficas.” Que termo estranho para se usar. Agora as pessoas dizem “filmes”. PROCURA-SE MULHER. O aviso era muito ousado. Estava diante de um sujeito original.
Quando Edna chegou em casa, tomou três xícaras de café antes de discar o número. O telefone chamou quatro vezes.
– Alô? – ele respondeu.
– Sr. Lighthill?
– Sim?
– Vi seu anúncio. Seu anúncio no carro.
– Ah, sim.
– Meu nome é Edna.
– Como vai, Edna?
– Ah, vou bem. Tem feito tanto calor. Esse tempo está demais.
– Sim, nada fácil.
– Bem, sr. Lighthill...
– Me chame apenas de Joe.
– Bem, Joe, rá rá rá, me sinto tão boba. Sabe por que estou telefonando?
– Você viu meu aviso?
– Quero dizer, rá rá rá, o que há de errado com você? Não consegue arranjar uma mulher?
– Acho que não, Edna. Me diga, onde elas estão?
– As mulheres?
– Sim.
– Ah, por toda parte, veja bem.
– Onde? Me diga. Onde?
– Bem, na igreja, veja bem. Há mulheres na igreja.
– Não gosto de igrejas.
– Ah.
– Escute, por que você não vem para cá, Edna?
– Quer dizer para sua casa?
– Sim. Moro em um lugar legal. Podemos tomar um drinque, conversar. Sem pressão.
– Está tarde.
– Não está tão tarde. Escute, você viu meu aviso. Deve estar interessada.
– Bem...
– Você está com medo, é só isso. Está apenas com medo.
– Não, não estou com medo.
– Então venha pra cá, Edna.
– Bem...
– Venha.
– Certo. Vejo você em quinze minutos.
O apartamento ficava no último andar de um condomínio moderno. Número 17. A piscina abaixo refletia as luzes. Edna bateu. A porta se abriu, e lá estava o sr. Lighthill: entradas frontais, nariz aquilino com pelos que saíam pelas narinas, a camisa aberta na altura do pescoço.
– Entre, Edna...
Entrou, e a porta se fechou atrás dela. Trazia seu vestido azul de seda. Estava sem meias, de sandálias, e fumando um cigarro.
– Sente-se, vou pegar uma bebida para você.
Era um lugar agradável. Tudo nas cores azul e verde e muito limpo. Ela ouviu o sr. Lighthill cantarolar surdamente, enquanto preparava as bebidas, hmmmmmmm, hmmmmmmm, hmmmmmmm... Ele parecia tranquilo e isso a ajudou a descontrair.
O sr. Lighthill – Joe – voltou com as bebidas. Alcançou a Edna a sua e então sentou-se em uma cadeira do outro lado da sala.
– Sim – ele disse –, tem feito muito calor, um calor infernal. Mas tenho ar-condicionado.
– Notei. É muito bom.
– Tome a sua bebida.
– Ah, claro.
Edna tomou um gole. Era uma boa bebida, um pouco forte, mas com um gosto agradável. Observou Joe inclinar a cabeça enquanto bebia. Ele parecia ter rugas profundas em torno do pescoço. E suas calças estavam muito folgadas. Pareciam ser de uma numeração muito maior. Davam a suas pernas uma aparência cômica.
– É um belo vestido, Edna.
– Gosta?
– Oh, sim. Você é bem fornida. O vestido fica muito bem em você, muito bem.
Edna não disse nada. E Joe também não. Apenas permaneceram sentados, olhando um para o outro e bebericando suas bebidas.
Por que ele não fala?, pensou Edna. É ele quem tem de falar. Havia nele algo que lembrava madeira, sim. Ela terminou seu drinque.
– Deixe-me preparar outra bebida para você – disse Joe.
– Não, realmente está na minha hora.
– Ora, vamos lá – ele disse –, deixe-me preparar outra bebida. Precisamos de algo para relaxar.
– Tudo bem, mas depois vou embora.
Joe foi até a cozinha com os copos. Ele não estava mais cantarolando. Voltou, alcançou a Edna um copo e sentou-se novamente em sua cadeira do outro lado da sala, em frente à cadeira dela. A bebida estava ainda mais forte.
– Sabe – ele disse –, me dou bem nesses testes sobre sexo das revistas.
Edna tomou um gole de sua bebida e não respondeu.
– Como você se sai nesses testes? – Joe perguntou.
– Nunca fiz nenhum.
– Deveria, sabe, assim você descobre quem e o que você é.
– Acha que esses testes funcionam? Já vi nos jornais. Nunca fiz nenhum, mas já vi – disse Edna.
– Claro que funcionam.
– Talvez eu não seja boa em sexo – disse Edna –, talvez seja por isso que estou sozinha.
Ela bebeu um longo gole de seu copo.
– Cada um de nós está, no final, sozinho – disse Joe.
– Como assim?
– Quero dizer, não importa quão bem a coisa esteja indo no sexo, no amor ou em ambos, chega um dia em que tudo acaba.
– Isso é triste – disse Edna.
– Claro que é. Então chega o dia em que tudo acaba. Ou há uma separação ou a coisa toda se resolve em uma trégua: duas pessoas vivendo juntas sem sentir nada. Acho que ficar sozinho é melhor.
– Você se divorciou da sua esposa, Joe?
– Não. Ela se divorciou de mim.
– O que deu errado?
– Orgias sexuais.
– Orgias sexuais?
– Veja bem, uma orgia sexual é o lugar mais solitário do mundo. Essas orgias... fiquei com uma sensação de desespero... aqueles caralhos entrando e saindo... me desculpe...
– Tudo bem.
– Aqueles caralhos entrando e saindo, pernas enlaçadas, dedos trabalhando, bocas, todo mundo se agarrando e suando e determinado a fazer a coisa toda... de alguma forma.
– Não sei muito sobre essas coisas, Joe – disse Edna.
– Acho que sem amor, sexo não é nada. As coisas só podem representar alguma coisa quando existe algum sentimento entre os participantes.
– Quer dizer que as pessoas têm que gostar umas das outras?
– Ajuda.
– Imagine que eles se cansem uns dos outros? Imagine que tenham que continuar juntos? Por economia? Filhos? Essas coisas?
– Orgias não os manterão juntos.
– E o que manteria?
– Bem, não sei. Talvez o suingue.
– O suingue?
– Você sabe, quando dois casais se conhecem muito bem e trocam parceiros. Os sentimentos têm, pelo menos, uma chance. Por exemplo, digamos que eu sempre tenha gostado da esposa de Mike. Gosto dela há meses. Já a observei caminhar pela sala. Gosto dos movimentos dela. Os movimentos me deixaram curioso. Imagino, você sabe, o que vem depois desses movimentos. Já a vi braba, já a vi bêbada, já a vi sóbria. E então, vem o suingue. Você está no quarto com ela, finalmente você a está conhecendo. Há uma chance de algo real. É claro, Mike está com a sua esposa no outro quarto. Você pensa: “Boa sorte, Mike, e espero que você seja tão bom amante quanto eu”.
– E isso dá certo?
– Bem, não sei... Suingues podem causar dificuldades... mais tarde. Tudo tem que ser combinado... muito bem combinado, antecipadamente. E então pode ter pessoas que não se conheçam bem o suficiente, não importa quanto tenham conversado.
– Você é um desses, Joe?
– Bem, esse negócio de suingue pode ser bom para alguns... talvez seja bom para muitos. Acho que não daria certo para mim. Sou muito puritano.
Joe terminou sua bebida. Edna bebeu o restante da sua e se levantou.
– Escute, Joe, tenho que ir...
Joe caminhou através da sala na direção dela. Ele parecia um elefante naquelas calças. Ela viu suas orelhas grandes. Então ele a agarrou e começou a beijá-la. Seu mau hálito vencia todas as bebidas. Ele tinha um cheiro muito azedo. Parte de sua boca não estava fazendo contato. Era forte, mas sua força não era pura, sua força claudicava. Ela afastou seu rosto para longe e mesmo assim ele a mantinha presa.
PROCURA-SE MULHER
– Joe, me solta! Você está indo muito rápido, Joe! Me solte!
– Para que você veio aqui, sua puta?
Ele tentou beijá-la novamente e conseguiu. Era horrível. Edna ergueu o joelho. Acertou-o em cheio. Ele se dobrou e caiu no tapete.
– Deus, deus... por que você fez isso? Você tentou me matar...
Ele rolava no chão.
Seu traseiro, ela pensou, ele tinha uma bunda tão feia.
Deixou-o rolando no tapete e desceu as escadas correndo. O ar estava limpo lá fora. Ela ouviu pessoas conversando, ouviu seus aparelhos de televisão. Não era uma caminhada muito longa até seu apartamento. Sentiu necessidade de outro banho, livrou-se do seu vestido de seda azul e se lavou. Então saiu da banheira, secou-se com a toalha e ajeitou os rolos em seus cabelos. Decidiu que nunca mais o veria.
– Ao sul de lugar nenhum
Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.
Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.
Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".
Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."
Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".
Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".
Por fim, a última peça caía, deixando-a nua: "Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".
E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.
Você não pode fazer greve.
Não lhe falaram isto, pela voz
do seu prudente sindicato?
Não sabe que sua pá de lixo
é essencial à segurança nacional?
A lei o diz (decreto-lei
que nem sei se pode assim chamar-se,
em todo caso papel forte,
papel assustador). Tome cuidado,
lixeiro camarada, e pegue a pá,
me remova depressa este monturo
que ofende a minha vista e o meu olfato.
Você já pensou que descalabro,
que injustiça ao nosso status ipanêmico,
lebloniano, sanconrádico, barramárico,
se as calçadas da Vieira Souto e outras conspícuas
vias de alto coturno continuarem
repletas de pacotes, latões e sacos plásticos
(estes, embora azuis), anunciando
uma outra e feia festa: a da decomposição
mor das coisas do nosso tempo,
orgulhoso de técnica e de cleaning?
Ah, que feio, meu querido,
esse irmanar de ruas, avenidas,
becos, bulevares, vielas e betesgas e tá-tá-tá
do nosso Rio tão turístico
e tão compartimentado socialmente,
na mesma chave de perfume intenso
que Lanvin jamais assinaria!
Veja você, meu caro irrefletido:
a Rua Cata-Piolho, em Deus-me-Livre,
equiparada à Atlântica Avenida
(ou esta àquela)
por idêntico cheiro e as mesmas moscas
sartrianamente varejando
os restos tão diversos uns dos outros,
como se até nos restos não houvesse
a diferença que vai do lixo ao luxo!
Há lixo e lixo, meu lixeiro.
O lixo comercial é bem distinto
do lixo residencial, e este, complexo,
oferece os mais vários atrativos
a quem sequer tem lixo a jogar fora.
Ouço falar que tudo se resume
em você ganhar um pouco mais
de mínimos salários.
Ora essa, rapaz: já não lhe basta
ser o confiável serviçal
a que o Rio confere a alta missão
de sumir com seus podres, contribuindo
para que nossa imagem se redoure
de graças mil sob este céu de anil?
Vamos, aperte mais o cinto,
se o tiver (barbante mesmo serve),
e pense na cidade, nos seus mitos
que cumpre manter asseados e luzidos.
Não me faça mais greve, irmão lixeiro.
Eu sei que há pouco pão e muita pá,
e nem sempre ou jamais se encontram dólares,
joias, letras de câmbio e outros milagres
no aterro sanitário.
E daí? Você tem a ginga, o molejo necessários
para tirar de letra um samba caprichado
naqueles comerciais de televisão,
e ganhar com isto o seu cachê
fazendo frente ao torniquete
da inflação.
Pelo que, prezadíssimo lixeiro,
estamos conversados e entendidos:
você já sabe que é essencial
à segurança nacional
e, por que não?, à segurança multinacional.
17/02/1979
– Droga! – eu disse.
Eu estava sentado sob uma árvore. Morgan e Hass estavam sentados de costas para a garagem.
– O que foi? – perguntou Morgan.
– Temos que pegar aquele filho da puta – eu disse. – Ele é um problema na vizinhança!
– Quem? – perguntou Hass.
– O Simpson – eu disse.
– É mesmo – disse Hass –, ele tem sardas demais. Me irrita.
– Não é isso – eu disse.
– Não? – disse Morgan.
– Não. Aquele filho da puta disse que comeu uma garota debaixo da minha casa semana passada. É uma baita mentira! – eu disse.
– Sem dúvida! – disse Hass.
– Ele nem sabe trepar – disse Morgan.
– O que ele sabe é mentir – eu disse.
– Mentirosos não servem pra nada – Hass disse, soprando um arco de fumaça no ar.
– Eu não gosto de ouvir esse tipo de baboseira de um cara que tem sardas – disse Morgan.
– Bem, então talvez a gente tenha que pegar ele – sugeri.
– Por que não? – perguntou Hass.
– Vamos pegar ele – disse Morgan.
Cruzamos a calçada da casa de Simpson e lá estava ele, jogando bola contra a parede da garagem.
– Ei – eu disse –, olhem só quem está brincando sozinho!
Simpson pegou a bola num salto e se virou para nós.
– Olá, companheiros!
Nós o cercamos.
– Andou comendo alguma garota embaixo de alguma casa nesses últimos dias? – perguntou Morgan.
– Não!
– Como não?
– Ah, sei lá.
– Eu não acredito que você tenha comido alguém a não ser você mesmo! – eu disse.
– Eu vou entrar agora – disse Simpson. – Minha mãe me pediu para lavar a louça.
– Sua mãe mete a louça na buceta? – provocou Morgan.
Nós rimos. Chegamos mais perto de Simpson. De súbito, meti um soco na barriga dele. Ele se curvou para frente, segurando o estômago. Ficou desse jeito durante meio minuto, depois se endireitou.
– Meu pai vai chegar a qualquer momento – ele nos disse.
– Ah é? Seu pai também come menininhas debaixo das casas? – perguntei.
– Não.
Nós rimos.
Simpson não disse nada.
– Olhem pra essas sardas – disse Morgan. – Toda vez que ele come uma menininha embaixo de uma casa nasce uma sarda nova.
Simpson não disse nada. Parecia cada vez mais assustado.
– Eu tenho uma irmã – disse Hass. – Quem me garante que você não vai tentar comer a minha irmã embaixo de uma casa?
– Eu nunca faria isso, Hass, te dou a minha palavra!
– Ah é?
– Sim, de verdade!
– Bem, isso é pra você não mudar de ideia!
Hass meteu um soco na barriga de Simpson. Simpson se curvou de novo. Hass se abaixou, pegou um punhado de terra e enfiou na gola da camiseta de Simpson. Simpson se endireitou. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Um veadinho.
– Deixem eu ir, por favor!
– Ir pra onde? – perguntei. – Quer se esconder debaixo da saia da sua mãe para ver a louça sair da buceta dela?
– Você nunca comeu ninguém – disse Morgan –, você não tem nem pau! Você mija pelas orelhas!
– Se um dia eu pegar você olhando pra minha irmã – disse Hass –, vai levar uma surra tão grande que vai virar uma sarda gigante.
– Me deixem ir embora, por favor!
Senti vontade de deixar ele ir. Talvez ele não tivesse comido ninguém. Talvez só estivesse sonhando acordado. Mas eu era o jovem líder. Não podia mostrar compaixão.
– Você vem conosco, Simpson.
– Não!
– Não o caralho! Você vem conosco! Agora, anda!
Caminhei ao redor dele e lhe dei um chute na bunda, bem forte. Ele gritou.
– CALE A BOCA! – berrei. – CALE A BOCA OU VAI SER PIOR! AGORA ANDE!
Nós o conduzimos até a calçada, cruzamos o gramado até a calçada da minha casa e seguimos para o meu quintal.
– Agora se endireite! – eu disse. – Solte as mãos! Vamos organizar um tribunal improvisado!
Eu me virei para Morgan e Hass e perguntei:
– Todos aqueles que acham que este homem é culpado por mentir que comeu uma menininha debaixo da minha casa devem dizer “culpado”.
– Culpado – disse Hass.
– Culpado – disse Morgan.
– Culpado – eu disse.
Eu me virei para o prisioneiro.
– Simpson, você é considerado culpado!
As lágrimas agora escorriam de seus olhos.
– Mas eu não fiz nada – resmungou.
– É disso que você é culpado – disse Hass. – De mentir!
– Mas vocês mentem o tempo todo!
– Não sobre trepar – disse Morgan.
– É sobre isso que vocês mais mentem. Foi com vocês que eu aprendi!
– Sargento – eu me virei para Hass –, amordace o prisioneiro. Estou cansado de suas mentiras de merda!
– Sim, senhor!
Hass correu até o varal. Encontrou um lenço e um pano de prato. Seguramos Simpson, e ele enfiou o lenço em sua boca e amarrou o pano de prato por cima. Simpson emitiu um som abafado e mudou de cor.
– Você acha que ele consegue respirar? – perguntou Morgan.
– Ele pode respirar pelo nariz – eu disse.
– Pois é – concordou Hass.
– O que a gente vai fazer agora? – perguntou Morgan.
– O prisioneiro é culpado, não é? – perguntei.
– Sim.
– Bem, como juiz eu o sentencio a ser enforcado até a morte!
Simpson fez uns barulhos por baixo de sua mordaça. Seus olhos nos encaravam, implorando. Corri até a garagem e peguei a corda. Havia uma, cuidadosamente enrolada, pendurada num grande gancho na parede. Eu não fazia a menor ideia de por que meu pai tinha aquela corda. Até onde eu sabia, ele nunca a havia usado. Agora ela teria uma utilidade.
Saí da garagem levando a corda.
Simpson começou a correr. Hass estava bem atrás dele. Ele pulou em cima de Simpson e o derrubou no chão. Virou-lhe o corpo e começou a dar socos na cara dele. Eu corri até eles e bati forte com a ponta da corda no rosto de Hass. Ele parou com os socos. Olhou para mim.
– Seu filho da puta, eu vou te dar uma surra!
– Como juiz, meu veredicto foi que esse homem seria enforcado. E assim será! SOLTEM O PRISIONEIRO!
– Seu filho da puta, vou te dar uma surra daquelas!
– Primeiro, vamos enforcar o prisioneiro! Depois você e eu resolveremos nossas desavenças.
– Resolveremos mesmo – disse Hass.
– Levante-se, prisioneiro! – eu disse.
Hass se moveu rapidamente e Simpson se ergueu. Seu nariz estava sangrando e havia manchado a parte da frente de sua camiseta. Seu sangue era de um vermelho muito vivo. Mas Simpson parecia resignado. Não estava mais chorando. Seus olhos, porém, revelavam traços de pavor, algo terrível de se ver.
– Me dê um cigarro – eu disse para Morgan.
Ele pôs um na minha boca.
– Acenda – eu disse.
Morgan acendeu o cigarro e eu dei uma tragada, então, segurando o cigarro entre meus lábios, exalei a fumaça pelo nariz enquanto fazia um laço na ponta da corda.
– Levem o prisioneiro para a varanda! – ordenei.
Havia uma varanda nos fundos da casa. Sobre a varanda, havia uma saliência. Lancei a corda sobre uma trave, e então puxei o laço para baixo, em frente à cabeça de Simpson. Eu não queria mais ir adiante com aquilo. Achava que Simpson já havia sofrido o suficiente, mas eu era o líder e ia ter que brigar com Hass depois, assim não podia demonstrar nenhum sinal de fraqueza.
– Talvez a gente não devesse fazer isso – disse Morgan.
– O homem é culpado! – gritei.
– Isso mesmo! – gritou Hass. – Ele deve ser enforcado!
– Olhem, ele se mijou todo – disse Morgan.
De fato, havia uma mancha escura na parte da frente das calças de Simpson, e ela estava aumentando.
– Covarde – eu disse.
Coloquei o laço sobre a cabeça de Simpson. Dei um puxão na corda e levantei Simpson até a ponta dos seus pés. Então, peguei a outra ponta da corda e amarrei numa torneira no lado da casa. Dei um nó bem apertado na corda e gritei:
– Vamos dar o fora daqui!
Olhamos para Simpson, que se equilibrava na ponta dos pés. Ele estava girando um pouco, devagar, parecia já estar morto.
Comecei a correr. Morgan e Hass correram também. Corremos até a calçada e então Morgan e Hass foram embora, cada um para a sua casa. Dei-me conta de que eu não tinha para onde ir. Hass, eu pensei, ou você se esqueceu da briga ou não queria brigar.
Fiquei parado na calçada por alguns instantes, então corri de volta ao pátio. Simpson ainda estava girando. Um pouco, devagar. Tínhamos esquecido de amarrar suas mãos. Ele estava com as mãos erguidas, tentando aliviar a pressão em seu pescoço, mas não estava conseguindo. Corri até a torneira, desatei a corda e a soltei. Simpson bateu na varanda, depois tropeçou e caiu no gramado.
Ele estava de bruços. Virei seu corpo e tirei a mordaça. Ele estava mal. Tinha o aspecto de quem poderia morrer a qualquer momento. Me debrucei sobre ele.
– Ouça bem, seu filho da puta, não morra, eu não queria te matar, de verdade. Se você morrer, vai ser triste. Mas se não morrer e contar isso para alguém, aí você não me escapa. Entendeu?
Simpson não respondeu. Apenas me olhou. Ele estava péssimo. Seu rosto estava roxo e ele tinha marcas de corda no pescoço.
Eu me levantei. Olhei-o por alguns instantes. Ele não se movia. A coisa estava feia. Fiquei tonto. Depois me recompus. Respirei fundo e caminhei até a calçada. Era cerca de quatro da tarde. Comecei a caminhar. Caminhei até a avenida e segui caminhando. Eu estava pensativo. Sentia que minha vida tinha se acabado. Simpson sempre gostara de andar sozinho. Talvez fosse solitário. Nunca se misturava com a gente ou com os outros garotos. Ele era estranho nesse sentido. Talvez fosse isso o que nos incomodava nele. Mesmo assim, ele tinha algo de bom. Eu sentia que havia feito algo muito ruim e, ao mesmo tempo, sentia que não. Na maior parte do tempo eu tinha um sentimento vago, que se centrava no meu estômago. Caminhei e caminhei. Caminhei até a autoestrada e voltei. Meus sapatos machucavam muito meus pés. Meus pais sempre me compravam sapatos vagabundos. Pareciam bons por mais ou menos uma semana, então o couro rachava e as unhas começavam a atravessar a sola. Eu segui caminhando mesmo assim.
Quando voltei para casa já era quase noite. Caminhei vagarosamente pela calçada em direção ao quintal. Simpson não estava lá. Nem a corda. Talvez ele estivesse morto. Talvez ele estivesse em outro lugar. Olhei em volta.
Vi o rosto do meu pai pela porta de tela.
– Venha aqui – ele falou.
Subi as escadas da varanda e passei por ele.
– A sua mãe ainda não chegou. Melhor assim. Vá para o quarto. Quero ter uma conversinha com você.
Avancei até o quarto, sentei na cama e olhei para os meus sapatos vagabundos. Meu pai era um homem grande, mais de um metro e oitenta de altura. Ele tinha uma cabeça grande e olhos que pareciam pendurados sob suas sobrancelhas bagunçadas. Tinha lábios grossos e orelhas grandes. Era másculo sem precisar fazer esforço algum.
– Por onde você andava? – ele perguntou.
– Por aí, caminhando.
– Caminhando? Por quê?
– Gosto de caminhar.
– Desde quando?
– Desde hoje.
Fez-se um longo silêncio. Então ele falou de novo.
– O que aconteceu no nosso quintal hoje à tarde?
– Ele está morto?
– Quem?
– Eu disse pra ele não contar. Se ele contou, é porque não está morto.
– Não, ele não está morto. E os pais dele iam chamar a polícia. Tive que conversar um longo tempo com eles para convencê-los a não fazer isso. Se eles tivessem chamado a polícia, sua mãe teria ficado arrasada! Está entendendo?
Não respondi.
– Sua mãe teria ficado arrasada! Você entende isso?
Não respondi.
– Tive que pagar para que ficassem calados. E, além disso, vou ter que pagar as despesas médicas. Você vai levar a surra da sua vida! Eu vou te dar um corretivo! Não vou criar um filho incapaz de viver em sociedade!
Ele ficou de pé junto à porta, parado. Eu olhei para os seus olhos debaixo daquelas sobrancelhas, para aquele corpo enorme.
– Chame a polícia – eu disse. – Não quero você. Prefiro a polícia.
Ele se aproximou de mim devagar.
– A polícia não entende gente como você.
Levantei da cama e cerrei os pulsos.
– Vamos lá – eu disse –, vou lutar com você!
Com um rápido movimento ele estava em cima de mim. Foi como se um raio de luz me cegasse, uma pancada tão forte que nem cheguei a sentir. Eu estava no chão. Levantei-me.
– É melhor você me matar – eu disse –, porque, quando eu crescer, vou matar você!
A pancada que veio a seguir me arrastou para baixo da cama. Parecia um bom lugar para estar. Olhei para as molas. Eu nunca tinha visto nada mais agradável e maravilhoso que aquelas molas acima de mim. Então eu ri. Foi um riso apavorado, mas eu ri, e ri porque me veio o pensamento de que talvez o Simpson tivesse de fato comido uma garota debaixo da minha casa.
– De que diabos você está rindo? – gritou meu pai. – Você é mesmo o filho do Diabo, você não é meu filho!
Vi sua enorme mão tatear por baixo da cama, procurando por mim. Quando se aproximou, agarrei a sua mão com as minhas e a mordi com toda a força. Ouvi um gemido feroz e a mão se recolheu. Senti o gosto de sangue e carne em minha boca, cuspi fora. Então eu soube que, apesar de Simpson estar vivo, eu poderia estar morto dentro de poucos instantes.
– Muito bem – ouvi meu pai dizer em voz baixa –, agora você pediu e, por Deus, você vai levar.
Eu esperei. E, enquanto esperava, ouvia apenas alguns sons estranhos. Ouvia os pássaros, o som dos carros que passavam, ouvia até mesmo o som do meu coração batendo forte, o som do sangue correndo em minhas veias. Eu ouvia a respiração do meu pai, e me arrastei até a parte do meio da cama e esperei pelo que viria em seguida.
– Septuagenarian Stew
A quinta série era um pouco melhor. Os outros estudantes pareciam menos hostis, e eu crescia fisicamente. Ainda não era escolhido para os times da escola, mas já não sofria ameaças frequentes. David e seu violino tinham partido. Sua família se mudara. Agora eu caminhava sozinho para casa. Muitas vezes, um ou dois caras me seguiam, dentre os quais Juan era o pior, mas não chegavam a me fazer nada. Juan fumava cigarros. Caminhava atrás de mim fumando um cigarro e sempre tinha consigo um parceiro diferente. Jamais me seguia sozinho. Isso me assustava. Queria que eles sumissem. Contudo, por outro lado, eu não dava muita bola. Não gostava de Juan. Não gostava de ninguém naquela escola. Creio que eles sabiam disso. Devia ser por isso que não simpatizavam comigo. Não gostava do jeito que eles caminhavam, de sua aparência, do modo como falavam, mas também não gostava dessas coisas em meu pai e minha mãe. Continuava com a sensação de estar cercado por um grande espaço em branco, um vazio. Havia sempre uma sombra de náusea em meu estômago. Juan tinha a pele morena e usava uma corrente de metal em vez de cinto. As garotas tinham medo dele, assim como os rapazes. Ele e um dos seus capangas me seguiam quase todos os dias. Eu entrava em casa, e eles ficavam parados lá fora. Juan fumaria seu cigarro, bancando o durão, e seu parceiro ficaria ali parado. Eu os observava através das cortinas. Finalmente, depois de um tempo, eles acabavam partindo.
A sra. Fretag era nossa professora de Inglês. No primeiro dia de aula ela perguntou o nome de cada um de nós.
– Quero conhecer cada um de vocês – ela disse.
Sorriu.
– Bem, cada um de vocês tem um pai, estou certa. Penso que seria interessante se descobríssemos o que eles fazem para viver. Começaremos pelo primeiro da fila e iremos adiante, até que todos na sala tenham falado. E então, Marie, o que seu pai faz da vida?
– Ele é jardineiro.
– Ah, mas que legal! Carteira número dois... Andrew, o que seu pai faz?
Foi terrível. Os pais de todos os meus colegas das redondezas tinham perdido seus empregos. Meu pai havia perdido o emprego. O pai de Gene ficava o dia inteiro sentado na varanda. Todos estavam desempregados com exceção do pai de Chuck, que trabalhava num matadouro. Ele dirigia o carro que entregava as carnes, um carro vermelho com o nome do matadouro gravado nos lados.
– Meu pai é bombeiro – disse o número dois.
– Ah, isso é interessante – disse a sra. Fretag. – Carteira número três.
– Meu pai é advogado.
– Carteira quatro.
– Meu pai é... policial...
O que eu iria dizer? Talvez apenas os pais da minha vizinhança estivessem sem emprego. Tinha ouvido falar do crack da bolsa. Significava algo ruim. Talvez o mercado só tivesse entrado em colapso na nossa vizinhança.
– Carteira dezoito.
– Meu pai é ator de cinema...
– Dezenove...
– Meu pai toca violino em concertos...
– Vinte...
– Meu pai trabalha num circo...
– Vinte e um...
– Meu pai é motorista de ônibus...
– Vinte e dois...
– Meu pai é cantor de ópera...
– Vinte e três...
Vinte e três. Era eu.
– Meu pai é dentista – eu disse.
A sra Fretag prosseguiu até que chegou no número 33.
– Meu pai não tem emprego – disse o número 33.
Merda, pensei, queria ter pensado nisso.
Um dia, a sra. Fretag nos passou uma tarefa.
– Nosso ilustríssimo senhor presidente, Herbert Hoover, virá visitar Los Angeles no sábado e fará um discurso. Quero que todos vocês vão até lá ouvir o nosso presidente. E quero que escrevam um ensaio sobre a experiência e sobre o que vocês acharam do discurso do presidente Hoover.
Sábado? Não havia a mínima chance de que eu pudesse ir. Era dia de cortar a grama. Eu tinha que cuidar dos fiapinhos. (Eu nunca conseguia eliminá-los por completo.) Praticamente todos os sábados eu apanhava com o amolador de navalha porque meu pai encontrava um fiapo. (Também apanhava durante a semana, uma ou duas vezes, por outras coisas que eu deixava de fazer ou não fazia corretamente.) Não tinha como dizer a meu pai que eu iria assistir ao presidente Hoover.
Assim, não fui. No dia seguinte, peguei um jornal dominical e me sentei para escrever sobre a aparição do presidente. Seu carro aberto, abrindo caminho entre as bandeiras tremulantes, tinha entrado no estádio de futebol. Um carro, cheio de agentes do serviço secreto, lhe abria caminho, enquanto outros dois seguiam o carro presidencial de perto. Os agentes eram homens de coragem, armados para proteger nosso presidente. A multidão se levantou quando o carro presidencial entrou na arena. Nunca acontecera anteriormente nada parecido. Era o presidente. Era ele. Acenou. Nós aplaudimos. Uma banda começou a tocar. Gaivotas sobrevoavam em círculos, como se soubessem que se tratava do presidente. E havia ainda aviões que escreviam mensagens de fumaça no céu. Escreviam no ar frases como: “A prosperidade está logo ali na esquina”. O presidente se pôs de pé em seu carro, e, assim que ele fez esse movimento, as nuvens se afastaram e os raios de sol incidiram diretamente em seu rosto. Era quase como se Deus também soubesse quem ele era. Então os carros pararam, e nosso grande presidente, rodeado pelos agentes do serviço secreto, caminhou até o palanque. Ao se posicionar junto ao microfone, um pássaro desceu do céu e pousou sobre a bancada em que estava o microfone. O presidente acenou para o pássaro e riu e todos nós rimos com ele. Então ele começou a falar, e as pessoas passaram a ouvi-lo com atenção. Eu quase não conseguia ouvir o discurso porque estava sentado muito próximo a uma máquina de pipocas que fazia muito barulho estourando os grãos, mas creio ter escutado ele falar que os problemas na Manchúria não eram muito sérios e que aqui no país as coisas logo entrariam nos eixos, que não devíamos nos preocupar, tudo o que precisávamos fazer era acreditar na América. Haveria empregos para todo mundo. Haveria bastantes dentistas e dentes suficientes para arrancar, bastantes incêndios e bombeiros bastantes para apagá-los. As fábricas e as indústrias reabririam. Nossos amigos na África do Sul pagariam suas dívidas. Logo todos dormiríamos tranquilamente, com os estômagos cheios e os corações pacificados. Deus e nosso grande país nos envolveriam em seu amor, nos protegendo do mal, dos socialistas, nos despertando de nosso pesadelo nacional, para sempre...
O presidente ouviu os aplausos, acenou, então voltou para o carro, entrou e partiu seguido pelos carros apinhados de agentes do serviço secreto enquanto o sol mergulhava no horizonte e o entardecer se fazia noite, vermelho, dourado e maravilhoso. Havíamos visto e ouvido o presidente Herbert Hoover.
Entreguei meu ensaio na segunda-feira. Na terça, a sra. Fretag se dirigiu à classe:
– Li os ensaios de todos vocês sobre a visita do nosso ilustríssimo presidente a Los Angeles. Eu estava lá. Alguns de vocês, pelo que pude notar, não puderam comparecer ao evento por uma ou outra razão. Para aqueles entre vocês que não puderam estar lá, gostaria de ler o ensaio escrito por Henry Chinaski.
Um terrível silêncio se abateu sobre a turma. Eu era de longe o aluno mais impopular da classe. Era como se todos eles tivessem levado uma facada no coração.
– Este é um texto muito criativo – disse a sra. Fretag e começou a ler meu ensaio.
As palavras me soavam bem. Todos escutavam. Minhas palavras enchiam a sala, corriam de um lado a outro pelo quadro-negro, ricocheteavam no teto e cobriam os sapatos da sra. Fretag, se amontoando no chão. Algumas das garotas mais lindas da classe começaram a me lançar olhares furtivos. Os caras durões estavam putos da cara. Seus ensaios não valiam merda nenhuma. Eu bebia de minhas próprias palavras como se fosse um homem sedento. Comecei, inclusive, a acreditar que elas representassem a verdade. Vi Juan sentado ali como se eu lhe tivesse esmurrado a cara. Estiquei minhas pernas e me recostei na cadeira. Logo, porém, estava tudo terminado.
– Com essa grande redação – disse a sra. Fretag –, encerro a aula...
Todos se levantaram e começaram a guardar seus materiais.
– Você não, Henry.
Sentei-me na cadeira, e a sra. Fretag ficou ali, me encarando. Então disse:
– Henry, você estava lá?
Tentei encontrar uma resposta. Nada me ocorreu. Eu disse:
– Não, eu não estava lá.
Ela sorriu.
– Isso faz com que seu ensaio seja ainda mais notável.
– Sim, madame...
– Você já pode ir, Henry.
Levantei-me e deixei a sala. Fui para casa. Então era isso que eles queriam: mentiras. Mentiras maravilhosas. Era disso que precisavam. As pessoas eram idiotas. Seria fácil para mim. Olhei em volta. Juan e seu comparsa não estavam me seguindo. As coisas estavam melhorando.
– Misto-quente
belas mulheres
e escrever uns poucos e decentes poemas de amor.
e não se preocupe com a idade
e/ou com os talentos frescos e recém-chegados.
apenas beba mais cerveja
mais e mais cerveja
e vá às corridas pelo menos uma vez por
semana
e vença
se possível.
aprender a vencer é difícil –
qualquer frouxo pode ser um bom perdedor.
e não se esqueça do Brahms
e do Bach e também da sua
cerveja.
não exagere no exercício.
durma até o meio-dia.
evite cartões de crédito
ou pagar qualquer conta
no prazo.
lembre-se que nenhum rabo no mundo
vale mais do que 50 pratas.
(em 1977).
e se você tem a capacidade de amar
ame primeiro a si mesmo
mas esteja sempre alerta para a possibilidade de uma
derrota total
mesmo que a razão para essa derrota
pareça certa ou errada –
um gosto precoce da morte não é necessariamente
uma coisa má.
fique longe de igrejas e bares e museus,
e como a aranha seja
paciente –
o tempo é a cruz de todos,
mais o
exílio
a derrota
a traição
todo este esgoto.
fique com a cerveja.
a cerveja é o sangue contínuo.
uma amante contínua.
arranje uma grande máquina de escrever
e assim como os passos que sobem e descem
do lado de fora de sua janela
bata na máquina
bata forte
faça disso um combate de pesos pesados
faça como o touro no momento do primeiro ataque
e lembre dos velhos cães
que brigavam tão bem:
Hemingway, Céline, Dostoiévski, Hamsun.
se você pensa que eles não ficaram loucos
em quartos apertados
assim como este em que agora você está
sem mulheres
sem comida
sem esperança
então você não está pronto.
beba mais cerveja.
há tempo.
e se não há
está tudo certo
também.
– Escuta, seu filho da puta, estou cansada de suas bebedeiras. Me fartei disso com meu pai...
– Ah, diabos, não é tão ruim assim.
– É, sim, e não vou passar por isso de novo.
– Escuta, você está exagerando.
– Não, estou cheia, estou lhe dizendo, estou cheia. Vi você na festa, pedindo mais uísque, foi aí que fui embora. Estou cheia. Não vou aguentar mais nada...
Ela desligou. Ele foi encher outro copo de uísque com água. Entrou no quarto com o copo, tirou a camisa, as calças, os sapatos, as meias. De cueca, foi para a cama com a bebida. Faltavam quinze para meio-dia. Sem ambição, sem talento, sem sorte. O que o mantinha fora da sarjeta era pura sorte, e a sorte jamais durava. Bem, era uma pena aquele negócio da Lu, mas Lu era uma vencedora. Esvaziou o copo e deitou-se. Pegou Resistência, rebelião e morte, de Camus... leu algumas páginas. Camus falava de angústia, terror, e da miserável condição humana, mas falava disso de uma forma tão cômoda e floreada... a linguagem... aquele ali achava que nada afetava a ele ou a sua literatura. Em outras palavras, era como se tudo fosse ótimo. Camus escrevia como alguém que acabou de concluir um lauto jantar de bife com batatas e salada, e depois enxaguou com uma garrafa de bom vinho francês. A humanidade podia ter andado sofrendo, mas ele não. Um sábio, talvez, mas Henry preferia alguém que gritasse quando se queimasse. Largou o livro no chão e tentou dormir. Era sempre difícil. Se conseguia dormir três horas em cada 24, dava-se por satisfeito. Bem, pensou, as paredes ainda estavam ali, era só dar quatro paredes a alguém que ele tinha uma chance. Nas ruas, nada se podia fazer.
A campainha da porta tocou.
– Hank! – gritou alguém. – Oi, Hank!
Que merda é essa, ele pensou. E agora?
– Sim... – respondeu, ali deitado, de cuecas.
– Oi! Que está fazendo?
– Espere um minuto...
Levantou-se, pegou a camisa e as calças e entrou no quarto da frente.
– Que está fazendo?
– Me vestindo...
– Se vestindo?
– É.
Eram meio-dia e dez. Ele abriu a porta. Era o professor de Pasadena que ensinava literatura inglesa. Trazia um mulherão consigo. O professor apresentou-a. Assistente editorial numa das grandes editoras de Nova York.
– Oh, coisinha fofa – ele disse, e avançou e apertou forte a coxa direita dela. – Eu te amo.
– Você não perde tempo – ela disse.
– Bem, você sabe, os escritores sempre tiveram de puxar o saco dos editores.
– Eu achava que era o contrário.
– Não é. É o escritor que morre de fome.
– Ela quer ver seu romance.
– Eu só tenho uma edição encadernada. Não posso dar a ela uma edição encadernada.
– Dê uma a ela. Talvez eles comprem – disse o professor.
Falavam do romance dele, Pesadelo. Ele calculou que ela queria apenas ganhar um exemplar de graça.
– Nós estávamos indo para Del Mar, mas Pat queria ver você em carne e osso.
– Que legal.
– Hank leu os poemas dele para minha classe. Nós lhe pagamos cinquenta dólares. Ele estava assustado e chorando. Tive de empurrá-lo para a frente da classe.
– Foi uma coisa indigna. Só cinquenta dólares. Auden ganhava dois mil. Não acho que ele seja tão melhor assim do que eu. Na verdade...
– É, sabemos o que você acha.
Henry recolheu as cartelas de corrida em torno dos pés da assistente editorial.
– O pessoal me deve mil e cem. Não consigo receber. As revistas de sexo se tornaram incríveis. Tive de conhecer a garota do escritório da frente. Uma certa Clara. “Oi, Clara”, telefono pra ela, “teve um bom café da manhã?” “Oh, sim, Hank, e você?” “Claro”, eu digo, “dois ovos duros.” “Sei por que está telefonando”, ela responde. “Claro”, eu digo, “o mesmo de sempre.” “Bem, estamos com ele aqui, nosso p.o. 984765, no valor de 85 dólares.” “E tem outro, Clara, seu p.o. 973895, por cinco contos, 570 dólares.” “Ah, sim, vou pedir ao Sr. Masters que assine esses.” “Obrigado, Clara”, digo a ela. “Oh, tudo bem”, ela diz, “vocês merecem seu dinheiro.” “Claro”, eu digo. E então ela diz: “E se não receber, você liga de novo, não liga? Ha-ha-ha.” “Sim, Clara”, digo a ela. “Eu ligo de novo.”
O professor e a assistente editorial riram.
– Eu não consigo, porra, alguém quer um drinque?
Eles não responderam e Henry serviu-se um.
– Cheguei a tentar conseguir jogando nos cavalinhos. No princípio fui bem, mas fiquei sem grana. Tive de parar. Só tenho dinheiro pra ganhar.
O professor começou a explicar o sistema para ganhar no vinte e um em Las Vegas. Henry aproximou-se da assistente editorial.
– Vamos pra cama – disse.
– Você tem graça – ela disse.
– É – ele disse –, como Lenny Bruce. Quase. Ele morreu, e eu estou morrendo.
– Ainda tem graça.
– É, sou o herói. O mito. Sou o não mimado, o que não se vendeu. Minhas cartas são vendidas em leilão por 250 dólares lá no leste. E eu não posso comprar um saco de peidos.
– Todos vocês, escritores, vivem chorando miséria.
– Talvez a miséria tenha chegado. Não se pode viver da própria alma. Não se pode pagar o aluguel com a alma. Experimente fazer isso um dia.
– Talvez eu devesse ir pra cama com você – ela disse.
– Vamos, Pat – disse o professor, levantando-se –, temos de chegar a Del Mar.
Dirigiram-se para a porta.
– Foi um prazer conhecer você.
– Claro – disse Henry.
– Vai conseguir.
– Claro – ele disse –, adeus.
Voltou para o quarto, tirou a roupa e meteu-se na cama. Talvez conseguisse dormir. O sono parecia a morte. Então adormeceu. Estava no jóquei. O homem do guichê lhe dava dinheiro e ele o guardava na carteira. Era dinheiro paca.
– Precisa comprar uma carteira nova – disse o homem –, essa aí está rasgada.
– Não – ele disse –, não quero que os outros saibam que estou rico.
A campainha tocou.
– Oi, Hank! Hank!
– Tudo bem, tudo bem... espere um minuto...
Vestiu a roupa de novo e abriu a porta. Era Harry Stobbs. Outro escritor. Conhecia escritores demais.
Stobbs entrou.
– Tem alguma grana, Stobbs?
– Porra, não.
– Tudo bem, eu pago a cerveja. Achei que você estava rico.
– Não, eu estava morando com uma garota em Malibu. Ela me vestia bem, me alimentava. Me deu um chute. Agora estou morando num chuveiro.
– Chuveiro?
– É, é legal. Portas de vidro corrediças de verdade.
– Tudo bem, vamos. Tem carro?
– Não.
– A gente vai no meu.
Entraram no Comet 62 dele e subiram para Hollywood e Normandy.
– Vendi um artigo pra Time. Cara, achei que tinha entrado na grana. Recebi o cheque deles hoje. Ainda não saquei. Adivinha quanto? – perguntou Stobbs.
– Oitocentos dólares?
– Não, 165.
– Quê? A revista Time? Cento e sessenta e cinco dólares?
– É isso aí.
Estacionaram e foram a uma pequena loja de bebidas pegar a cerveja.
– Minha mulher me chutou – disse Henry a Stobbs. – Diz que eu bebo demais. Uma mentira descarada. – Pegou duas embalagens de seis cervejas no freezer. – Estou chegando ao fim da corda. Festa ruim ontem de noite. Só escritores mortos de fome, e professores em risco de perder os empregos. Papo profissional. Muito cansativo.
– Os escritores são prostitutas – disse Stobbs –, os escritores são as prostitutas do universo.
– As prostitutas do universo se dão muito melhor, meu amigo.
Dirigiram-se ao balcão.
– “Asas da Canção” – disse o dono da loja.
– “Asas da Canção” – respondeu Henry.
O dono da loja tinha lido uma matéria no L. A. Times cerca de um ano atrás sobre a poesia de Henry e jamais esquecera. Era o número Asas da Canção deles. A princípio ele detestara, mas agora achava engraçado. Asas da Canção, deus do céu.
Entraram no carro e voltaram. O carteiro tinha passado. Havia alguma coisa na caixa.
– Talvez seja um cheque – disse Henry.
Pegou a carta, abriu duas garrafas e a carta. Dizia:
“Caro sr. Chinaski, acabei de ler seu romance Pesadelo e seu livro de poemas Fotografias do inferno, e acho o senhor um grande escritor. Sou casada, 52 anos, filhos crescidos. Gostaria muito de ter notícias suas. Respeitosamente, Doris Anderson.”
A carta vinha de uma cidadezinha do Maine.
– Eu não sabia que ainda tinha gente no Maine – ele disse a Stobbs.
– Acho que não tem – disse Stobbs.
– Tem. Esta aqui.
Henry jogou a carta no saco de lixo. A cerveja estava boa. As enfermeiras voltavam para o alto edifício do outro lado da rua. Moravam muitas enfermeiras ali. A maioria usava uniformes transparentes, e o sol da tarde fazia o resto. Ele ficou ali com Stobbs vendo-as saltar de seus carros e passar pela entrada de vidro, desaparecendo para seus chuveiros, aparelhos de TV e portas fechadas.
– Veja só aquela – disse Stobbs.
– Um-hum.
– Lá vai outra.
– Oh, nossa!
Estamos agindo como garotos de quinze anos, pensou Henry. Não merecemos viver. Aposto que Camus nunca ficou espionando pelas janelas.
– O que você pretende fazer, Stobbs?
– Bem, enquanto tiver aquele chuveiro, eu vou levando.
– Por que não arranja um emprego?
– Um emprego? Não dê uma de maluco.
– Acho que tem razão.
– Veja só aquela! Olha que rabo!
– É, de fato.
Ficaram sentados, atacando a cerveja.
– Mason – ele disse a Stobbs, falando de um jovem poeta inédito – foi viver no México. Caça carne com arco e flecha, pesca peixes. Levou a mulher e uma empregada. Faturou quatro livros. Escreveu até um western. O problema é que quando a gente está no campo, é quase impossível receber o dinheiro. A única maneira de receber o dinheiro é ameaçar eles de morte. Sou bom nessas cartas. Mas se o cara está a mil e quinhentos quilômetros, eles sabem que a gente esfria até chegar à porta deles. Mas eu gosto de caçar minha própria carne. É melhor do que ir ao A & P. A gente finge que os animais são assistentes editoriais e editores. É sensacional.
Stobbs ficou até umas cinco da tarde. Falaram mal da literatura, dos caras importantes que realmente fediam. Caras como Mailer, Capote. Depois Stobbs foi embora e Henry tirou a camisa, as calças, os sapatos e as meias e voltou para a cama. O telefone tocou. Estava no chão perto da cama. Ele baixou o braço e pegou-o. Era Lu.
– Que está fazendo? Escrevendo?
– Raramente escrevo.
– Bebendo?
– Chegando ao fim da corda.
– Acho que precisa de uma enfermeira.
– Vamos às corridas esta noite.
– Tudo bem. A que horas você passa?
– Seis e meia tá bem?
– Seis e meia tá bem.
– Té logo, então.
Esticou-se na cama. Bem, era bom estar de volta com Lu. Ela era boa para ele. Estava certa, ele bebia demais. Se Lu bebesse como ele, não a quereria. Seja justo, cara. Veja o que aconteceu com Hemingway, sempre sentado com uma bebida na mão. Veja Faulkner, veja eles todos. Bem, merda.
O telefone tocou de novo.
– Chinaski?
– É.
Era a poetisa Janessa Teel. Tinha um belo corpo, mas ele nunca fora para a cama com ela.
– Eu gostaria que você viesse jantar amanhã de noite.
– Estou firme com Lu – ele disse. Nossa, pensou, sou fiel. Nossa, pensou, sou um cara legal. Nossa.
– Traga ela junto.
– Acha que seria sensato?
– Por mim, tudo bem.
– Escuta, eu ligo pra você amanhã. Pra confirmar.
Desligou e tornou a se estender. Durante trinta anos, pensou, eu quis ser um escritor, e agora sou um escritor, e que é que isso significa?
O telefone tornou a tocar. Era o poeta Doug Eshlesham.
– Hank, querido...
– Sim, Doug?
– Estou duro, querido, preciso duns cinco dólares. Me passa uns cinco.
– Doug, os cavalinhos acabaram comigo. Estou duro, absolutamente.
– Oh – disse Doug.
– Desculpe, querido.
– Bem, tudo bem.
Doug desligou. Doug já lhe devia quinze paus. Mas ele tinha os cinco. Devia ter dado a Doug. Provavelmente, Doug estava comendo comida de cachorro. Não sou um cara muito legal, ele pensou. Nossa, não sou um cara muito legal, afinal.
Estendeu-se na cama, pleno, em sua inglória.
– Numa fria
Tom percebeu isso ao longo do dia de trabalho.
Brock estivera na sua cola por meses. Aqueles olhos redondos e sem vida pareciam estar sempre à espreita de Tom. E então Tom acabou notando a mão esquerda, enfiada no cu, escarafunchando.
E Brock estava realmente na sua cola.
Tom executava seu trabalho tão bem quanto os outros. Talvez não mostrasse exatamente o mesmo entusiasmo dos demais, mas cumpria com suas obrigações.
Ainda assim, Brock não deixava de persegui-lo, fazendo comentários, despejando sugestões inúteis.
Brock era parente do dono da loja e um posto lhe fora arranjado: chefe de seção.
Naquele dia, Tom terminava de acondicionar o dispositivo de luz num pacote oblongo de um metro de comprimento e o depositou na pilha que estava atrás da sua mesa de trabalho. Voltou-se para pegar um novo conjunto da linha de montagem.
Brock estava parado à sua frente.
– Quero falar com você, Tom...
Brock era alto e magro. Seu corpo se inclinava para frente a partir da cintura. A cabeça estava sempre curvada, como se pendurada em seu pescoço longo e esguio. A boca ficava sempre aberta. Seu nariz era bastante proeminente com narinas muito grandes. Os pés eram grandes e desajeitados. As calças ficavam frouxas em seu corpo magricelo.
– Tom, você não está fazendo seu trabalho.
– Estou mantendo a média de produção. Do que você está falando?
– Não acho que você esteja empacotando direito. É preciso usar mais fita. Tivemos alguns problemas com quebra de materiais e estamos querendo resolver.
– Por que vocês não colocam as iniciais de cada empacotador nas caixas? Assim, se houver algum estrago por causa de mau acondicionamento, vocês podem rastrear o culpado.
– Quem deve pensar por aqui sou eu, Tom. Esse é o meu trabalho.
– Claro.
– Venha cá. Quero que você observe como o Roosevelt faz os pacotes.
Foram até a mesa de Roosevelt.
Roosevelt estava no trabalho havia treze anos.
Ficaram observando Roosevelt embalar os dispositivos de luz.
– Vê como ele faz? – perguntou Brock.
– Bem, sim...
– O que eu quero dizer é o seguinte: veja como ele faz o empacotamento... ele ergue e deixa cair lá dentro... é como tocar piano.
– Mas desse jeito ele não está protegendo o dispositivo...
– Claro que está. Ele o está acomodando, não consegue ver?
Tom discretamente inspirou e expirou.
– Tudo bem, Brock, está bem acomodado...
– Faça como ele...
Brock deu uma circulada na mão esquerda e a cravou lá dentro.
– A propósito, sua linha de montagem está atrasada...
– Claro. Você estava falando comigo.
– Isso é problema seu. Vai ter que recuperar agora.
Brock enfiou mais uma vez os dedos e depois se afastou.
Roosevelt ria em silêncio.
– Acomode, filho da puta!
Tom riu.
– Quanta merda será que um cara tem que aguentar apenas pra se manter vivo?
– Muita – veio a resposta –, e nunca para...
Tom voltou para sua mesa e conseguiu recuperar o prejuízo. E quando Brock olhava para ele, empacotava com a técnica da “acomodação”. E Brock sempre parecia estar de olho nele.
Por fim, chegou a hora do almoço, trinta minutos de intervalo. Mas para muitos dos trabalhadores a hora do almoço não significa fazer uma refeição, mas sim descer até a Vila e entornar garrafas e mais garrafas de cerveja, preparando-se para enfrentar o turno da tarde.
Alguns dos caras as misturavam com anfetaminas. Outros, com barbitúricos. Muitos com anfetaminas e barbitúricos, levando tudo goela abaixo com uma cerveja.
Do lado de fora da fábrica, no estacionamento, havia mais gente, sentada no interior de carros velhos, reunida em grupos diferentes. Os mexicanos ficavam num, e os negros, noutro, e às vezes, ao contrário do que acontecia nos presídios, eles se misturavam. Não havia muitos brancos, apenas alguns sulistas, sempre silenciosos. Mas Tom gostava de toda a rapaziada.
O único problema no lugar era o Brock.
Durante aquele almoço, Tom estava em seu carro com Ramon.
Ramon abriu a mão e lhe mostrou um enorme comprimido amarelo. Parecia uma bala quebra-queixo.
– Ei, cara, experimente isso. Você vai ficar totalmente na paz. Quatro ou cinco horas parecem cinco minutos. E você vai se sentir FORTE, nada fará você cansar...
– Obrigado, Ramon, mas eu já estou na maior merda.
– Mas isso aqui é justamente pra tirar você da merda, não sacou?
Tom não respondeu.
– Beleza – disse Ramon –, eu já tinha tomado o meu, mas fico com o seu também!
Colocou o comprimido na boca, ergueu a garrafa de cerveja e tomou um bom gole. Tom ficou olhando aquele comprimido gigantesco, dava para vê-lo descer pela garganta de Ramon. Até que enfim foi engolido.
Ramon se virou devagar na direção de Tom e sorriu:
– Veja, a porra do negócio nem chegou no meu estômago e já estou me sentindo melhor!
Tom riu.
Ramon tomou mais um gole de cerveja, depois acendeu um cigarro. Para um homem que supostamente estava se sentindo tão bem ele parecia sério demais.
– Sabe, cara, sou um homem de merda... não posso nem dizer que sou homem... Olha só, na noite passada tentei comer a minha esposa... Ela engordou uns vinte quilos este ano... Preciso me embebedar pra conseguir... Bombei e bombei, cara, e nada... O pior de tudo, fiquei com pena dela... Disse que era por causa do trabalho. E era por causa do trabalho, mas também não era. Ela se levantou e ligou a tevê...
Ramon continuou:
– Cara, tudo mudou. Há um ou dois anos atrás, tudo era divertido entre a gente, interessante, eu e a minha esposa... Ríamos de qualquer coisa... Agora não há mais nada disso... O que a gente tinha se perdeu, não sei onde foi parar...
– Sei como é isso, Ramon...
Ramon se endireitou com rapidez, como se recebesse uma mensagem:
– Merda, cara, está na nossa hora!
– Vamos lá!
Tom retornava da linha de montagem com um dispositivo e Brock o esperava. Brock disse:
– Tudo bem, deixe isso aí. Venha comigo.
Seguiram até a linha de montagem.
E lá estava Ramon com seu pequeno avental marrom e seu bigodinho.
– Fique à esquerda dele – disse Brock.
Brock ergueu a mão e a maquinaria começou a funcionar. A esteira movia os dispositivos de um metro em direção a eles num ritmo firme mas previsível.
Ramon tinha esse enorme rolo de papel à sua frente, uma bobina aparentemente interminável de pesado papel marrom. Surgiu o primeiro dispositivo de luz vindo da linha de montagem. Ele rasgou um pedaço de papel, abriu-o sobre a mesa, e em seguida colocou o dispositivo de luz sobre ele. Dobrou o papel ao meio, prendendo-o com durex. Depois dobrou as pontas em triângulo, primeiro a esquerda, depois a direita, e então o dispositivo seguiu na direção de Tom.
Tom cortou um pedaço de fita adesiva e a fez deslizar com cuidado sobre o topo do dispositivo, onde o papel deveria ser selado. Então, com pedaços menores, terminou de fixar a dobra da esquerda e depois a da direita. Depois ergueu o pesado dispositivo, deu meia-volta, seguiu por um corredor e colocou-o direitinho num suporte de parede, onde aguardaria por um dos empacotadores. Por fim retornou à mesa em que outro dispositivo já vinha em sua direção.
Era o pior trabalho em toda a fábrica e todo mundo sabia disso.
– Agora você vai trabalhar com o Ramon, Tom...
Brock se afastou. Não havia necessidade alguma de vigiá-lo: se Tom não executasse a função com propriedade, a linha de montagem inteira pararia.
Ninguém aguentava muito tempo como o segundo de Ramon.
– Sabia que você ia precisar do amarelão – disse Ramon com um sorriso.
Os dispositivos se moviam sem parar na direção deles. Tom cortava metros e mais metros de fita durex da máquina à sua frente. Era uma fita reluzente, grossa e pegajosa. Esforçava-se ao máximo para manter o acelerado ritmo de trabalho, mas, para acompanhar Ramon, algumas precauções tinham de ser eliminadas: a ponta cortante da máquina de durex acabava por provocar, ocasionalmente, cortes longos e profundos em suas mãos. Os cortes eram quase invisíveis e quase nunca sangravam, mas, ao olhar para seus dedos e suas palmas, podia ver as linhas brilhantes e vermelhas na pele. Não havia nenhuma pausa. Os dispositivos pareciam se mover cada vez mais rápido e a cada momento se tornavam mais e mais pesados.
– Caralho – disse Tom –, vou ter que desistir. Acho que até dormir no banco da praça é melhor.
– Claro – disse Ramon –, claro, qualquer coisa é melhor do que essa merda...
Ramon trabalhava com um sorriso fixo e insano no rosto, negando a impossibilidade daquilo tudo. E então a maquinaria parou, como ocorria de vez em quando.
Que dádiva dos deuses foi aquilo!
Alguma parte havia enguiçado, superaquecido. Sem esses colapsos das máquinas, muitos dos trabalhadores não aguentariam. Durante essas pausas de dois ou três minutos, eles conseguiam reorganizar seus sentidos e suas almas. Quase.
Os mecânicos lutavam com energia para encontrar a causa da falha.
Tom espichou os olhos para as garotas mexicanas que trabalhavam na linha de montagem. Para ele, elas eram todas lindas. Desperdiçavam o seu tempo, entregavam-se a uma vida tola e marcada pela rotina do trabalho, mas ainda assim mantinham alguma coisa em si, alguma coisa não identificável. Boa parte delas usava pequenas fitas nos cabelos: azuis, amarelas, verdes, vermelhas... E faziam piadas entre si e riam o tempo todo. Mostravam uma coragem enorme. Seus olhos conheciam alguma coisa da vida.
Mas os mecânicos eram bons, muito bons, e a maquinaria já voltava a funcionar. Os dispositivos de luz se moviam outra vez na direção de Tom e Ramon. Todos estavam de novo a soldo da Companhia Sunray.
E depois de certo tempo, Tom ficou tão cansado que há muito já não se poderia mais chamar cansaço o que sentia, era como estar bêbado, era como estar enlouquecendo, era como estar bêbado e louco de uma só vez.
Ao aplicar mais um pedaço de durex em um dispositivo de luz, ele gritou:
– SUNRAY!
Talvez tivesse sido o tom, talvez o momento do grito. Seja como for, todos começaram a rir, as mexicanas, os empacotadores, os mecânicos, mesmo o velho que se ocupava de lubrificar e conferir a maquinaria, todos riam. Loucura total.
Brock se aproximou.
– O que está acontecendo? – perguntou.
Ele ficou em silêncio.
Os dispositivos surgiam e partiam; os trabalhadores permaneciam.
Então, de alguma maneira, como despertar de um pesadelo, o dia terminou. Foram até o painel apanhar seus cartões, esperaram na fila para bater o relógio-ponto.
Tom bateu o ponto, colocou o cartão de volta no painel e seguiu na direção do seu carro. Deu a partida e ganhou a rua, pensando: “Espero que ninguém se atravesse no meu caminho, estou tão fraco que acho que não conseguiria nem pisar no freio”.
Tom dirigia com a gasolina no vermelho. Estava cansado demais para parar num posto de gasolina.
Deu um jeito de estacionar, chegou até a porta, abriu-a e entrou.
A primeira coisa que viu foi Helena, sua esposa. Vestia uma camisola suja e frouxa, estirada no sofá, a cabeça sobre um travesseiro. Sua boca estava aberta, ela roncava. Tinha uma boca bastante redonda, e seu ronco era uma mistura de cuspida e engasgo, como se não pudesse se decidir entre cuspir o que lhe restava de vida ou engoli-la.
Era uma mulher infeliz. Sentia que sua vida era incompleta.
Uma garrafa de meio litro de gim estava sobre a mesa de centro. Três quartos tinham sido consumidos.
Os dois filhos de Tom, Rob e Bob, de cinco e sete anos, batiam uma bolinha de tênis contra a parede. Era a parede do lado sul da casa, a que não tinha nenhum móvel. A parede uma vez fora branca, mas agora trazia as marcas da sujeira das infinitas rebatidas das bolinhas de tênis.
Os garotos não prestaram nenhuma atenção à chegada do pai. Haviam parado de jogar a bolinha contra a parede. Discutiam agora.
– EU ELIMINEI VOCÊ!
– NÃO, TEM QUE SER QUATRO BOLAS!
– TRÊS JÁ ESTÁ FORA!
– QUATRO!
– Ei, só um pouquinho – interveio Tom –, posso perguntar uma coisa pra vocês?
Os dois pararam e o encararam, quase ofendidos.
– É isso aí – disse Bob por fim. Ele era o garoto de sete anos.
– Como vocês conseguem jogar basebol batendo uma bolinha de tênis contra a parede?
Olharam para Tom, mas logo o ignoraram.
– TRÊS ESTÁ FORA!
– NÃO, SÓ NA BOLA QUATRO!
Tom seguiu até a cozinha. Havia uma panela branca no fogão. Uma fumaça negra se erguia de seu interior. Tom ergueu a tampa. O fundo estava enegrecido, com batatas, cenouras e pedaços de carne, tudo queimado. Tom fechou a panela e desligou o fogo.
Avançou até a geladeira. Havia uma latinha de cerveja ali. Pegou e abriu, tomou um gole.
O som da bolinha de tênis contra a parede recomeçou.
Em seguida um outro som: Helena. Ela havia trombado em alguma coisa. E agora estava ali, de pé na cozinha. Na mão direita segurava a garrafinha de gim.
– Você deve estar puto, não é?
– Só queria que você desse comida para as crianças...
– Você me deixa a porra de 3 dólares por dia. O que vou fazer com a porra de 3 dólares?
– Podia ao menos comprar papel higiênico. Toda vez que quero limpar a bunda, olho em volta e só tem um rolo vazio ali.
– Ei, uma mulher também tem os seus problemas! COMO VOCÊ ACHA QUE EU VIVO? Todo dia você sai pro mundo, você sai e vê como a vida é lá fora! Eu tenho que ficar sentada aqui! Não sabe o que é isso um dia depois do outro.
– Pois é, tem isso...
Helena tomou um gole de gim.
– Você sabe que eu te amo, Tommy, e que quando você está infeliz isso me machuca, machuca de verdade, aqui no peito.
– Tudo bem, Helena, vamos nos sentar aqui e manter a calma.
Tom foi até a mesa da cozinha e se sentou. Helena trouxe a garrafa consigo e ocupou um lugar na frente dele. Olhou-o.
– Por Deus, o que houve com as suas mãos?
– Trabalho novo. Tenho que descobrir uma maneira de proteger minhas mãos... Uma fita adesiva, luvas de borracha... alguma coisa...
Havia terminado sua latinha.
– Escute, Helena, tem mais desse gim por aí?
– Sim, acho que sim...
Observou-a seguir na direção do guarda-louça, esticar o braço e apanhar uma garrafa das de meio litro. Colocou-a sobre a mesa e se sentou. Tom retirou o lacre e a tampa.
– Quantas dessas você tem por aí?
– Algumas...
– Bom. Como se bebe esse negócio? Puro?
– É...
Tom tomou um bom gole. Depois olhou para as mãos, abrindo e fechando as duas, observando as feridas vermelhas que se expandiam e se contraíam. Eram fascinantes.
Pegou a garrafa, despejou um pouco de gim sobre uma das palmas e em seguida esfregou uma mão na outra.
– Ai! Essa porra arde!
Helena tomou outro gole de sua garrafa.
– Tom, por que você não arranja outro trabalho?
– Outro trabalho? Onde? Tem uns cem caras querendo o meu...
Então Rob e Bob entraram correndo. Detiveram-se junto à mesa.
– Ei – disse Bob –, quando a gente vai comer?
Tom olhou para Helena.
– Acho que tenho algumas salsichas – ela disse.
– Salsichas de novo? – perguntou Rob. – Salsichas de novo? Odeio essas salsichas!
Tom olhou para o filho.
– Ei, camarada, pega leve...
– Bem – disse Bob –, então que tal um gole dessa bebidinha de merda aí?
– Seu miserável! – gritou Helena.
Estendeu o braço e mandou um tapa, forte, de mão aberta, na orelha de Bob.
– Não bata nas crianças, Helena – disse Tom –, já tive o bastante disso quando era pequeno.
– Não me diga como educar os meus filhos!
– São meus também...
Bob estava ali de pé, parado. Sua orelha estava muito vermelha.
– Então você quer uma bebidinha, não é? – perguntou Tom.
Bob não respondeu.
– Venha cá – disse Tom.
Bob se aproximou de seu pai. Tom lhe estendeu a garrafa.
– Vamos lá, beba. Beba a porra da sua bebida.
– Tom, o que você está fazendo? – perguntou Helena.
– Vamos lá... beba – disse Tom.
Bob ergueu a garrafa de meio litro, tomou um gole. Devolveu-a e ficou ali parado. De repente começou a empalidecer, até mesmo sua orelha vermelha começou a ficar branca. Tossiu.
– Esse negócio é HORRÍVEL! É como beber perfume! Por que vocês bebem isso.
– Porque a gente é idiota. Porque vocês têm uns pais idiotas. Agora vá para o quarto e leve o seu irmão junto com você...
– A gente pode ver tevê lá? – perguntou Rob.
– Tudo bem, mas andem duma vez...
Os dois saíram.
– Só o que falta você transformar os meus filhos em bêbados! – disse Helena.
– Espero apenas que eles tenham mais sorte do que a gente na vida.
Helena tomou um gole de sua garrafa. Secou-a.
Ela se levantou, tirou a panela queimada do fogo e jogou a comida no lixo.
– Pra que fazer tanto barulho? Quem precisa dessa barulheira toda! – disse Tom.
Helena parecia chorar.
– Tom, o que a gente vai fazer?
Ligou a água quente e despejou na panela.
– Fazer? – perguntou Tom. – Do que você está falando?
– Desse nosso modo de vida!
– Não há muito que a gente possa fazer.
Helena raspou a comida grudada e despejou um pouco de sabão na panela, depois foi até o guarda-louça e sacou mais uma garrafa de meio litro de gim. Contornou a mesa e se sentou de frente para Tom, abrindo a garrafa.
– É preciso deixar a panela de molho por um tempo... Depois eu ponho as salsichas...
Tom bebia da sua garrafa, deixando a bebida assentar.
– Amor, você é uma bebum, uma gambá.
As lágrimas ainda estavam lá.
– Ah, sim, bem, quem você acha que me deixou assim? UMA CHANCE!
– Essa é fácil – respondeu Tom –, duas pessoas: você e eu.
Helena tomou o primeiro gole da nova garrafa. Com isso, de imediato, as lágrimas desapareceram. Riu de mansinho.
– Ei, tive uma ideia! Posso conseguir emprego como garçonete ou algo assim... Aí você poderia descansar um pouco, sabe... O que você acha?
Tom estendeu sua mão por sobre a mesa e tomou uma das mãos de Helena.
– Você é uma boa garota, mas vamos deixar tudo como está.
Então as lágrimas voltaram a brotar. Helena era boa com as lágrimas, principalmente quando bebia gim.
– Tommy, você ainda me ama?
– Claro, baby, você é maravilhosa quando está bem.
– Eu também te amo, Tom, você sabe disso...
– Claro, baby, o mesmo aqui!
Tom ergueu sua garrafa. Helena a dela.
Brindaram com as garrafas de gim em pleno ar, então cada um bebeu da sua.
No quarto, Rob e Bob mantinham o rádio ligado, a todo volume. Havia uma claque no programa e as pessoas da claque não paravam de gargalhar. Gargalhavam e gargalhavam e gargalhavam
e gargalhavam.
– Septuagenarian Stew
Miami foi o lugar mais distante ao qual conseguir chegar sem deixar o país. Levei Henry Miller comigo e tentei lê-lo ao longo do percurso. Ele era bom quando era bom, e vice-versa. Tomei uma garrafa de uísque. Depois outra e ainda outra. A viagem levou quatro dias e cinco noites. Fora uns amassos com uma jovem morena cujos pais não podiam mais lhe pagar a faculdade, nada de mais ocorreu. Ela deixou o ônibus no meio da noite em uma parte particularmente estéril e fria do país e desapareceu. Eu sempre tive insônia na estrada, e o único modo de dormir em um ônibus era enchendo completamente a cara. Mas não me arriscava a fazer isso. Quando chegamos ao destino, eu mal havia dormido ou cagado por cinco dias e mal conseguia caminhar. Era cedo da noite. A sensação de estar novamente caminhando pelas ruas era deliciosa.
QUARTOS PARA ALUGAR. Aproximei-me e toquei a campainha. Nessas circunstâncias, a atitude mais sábia era deixar a mala fora do alcance da visão da pessoa que abrisse a porta.
– Procuro um quarto. Quanto custa?
– US$ 6,50 por semana.
– Posso dar uma olhada?
– Claro.
Entrei e a segui pela escada. Devia ter uns 45, mas sua bunda balançava de um modo legal. Sempre que seguia essas mulheres escada acima, como agora, eu pensava que, se uma dessas senhoras se oferecesse para tomar conta de mim, oferecendo-me refeições quentes e roupas limpas para vestir, eu aceitaria.
Ela abriu a porta, e eu dei uma olhada no interior.
– Tudo bem – eu disse –, parece um bom lugar.
– Você tem emprego?
– Mais ou menos.
– Posso perguntar o que você faz?
– Sou escritor.
– Oh, você já escreveu livros?
– Oh, ainda não estou pronto pra escrever um romance. Por enquanto escrevo artigos, alguma coisa para revistas. Os textos não são grande coisa, mas estou melhorando.
– Tudo bem. Vou lhe dar uma chave e fazer um recibo.
Seguia-a novamente pela escada. O rabo não se movimentava com a mesma beleza descendo os degraus. Olhei sua nuca e me imaginei a beijá-la atrás das orelhas.
– Sou a sra. Adams – ela disse. – E você?
– Henry Chinaski.
Enquanto ela preenchia o recibo, eu escutava uns sons que lembravam o de uma madeira sendo serrada, vindos detrás de uma porta que ficava à nossa esquerda. O som de serragem era pontuado pelo ofegar de uma respiração penosa. Cada tomada de ar parecia ser a última, ainda que logo fosse sucedida por outra mais dolorosa.
– Meu marido está doente – disse a sra. Adams ao me passar o recibo e a chave. Sorriu. Seus olhos brilhantes tinham uma adorável cor de avelã. Dei meia-volta e segui pela escada.
Quando entrei no meu quarto, lembrei que havia deixado minha mala lá embaixo. Fui buscá-la. Ao passar pela porta da sra. Adams, os ofegos estavam muito mais altos. Levei minha mala escada acima, lancei-a sobre a cama, voltei a descer e ganhei a noite. Encontrei uma espécie de bulevar principal seguindo um pouco para o norte, entrei em uma mercearia e comprei um pote de manteiga de amendoim e um pão de sanduíche. Tinha uma faquinha de bolso e poderia assim espalhar a manteiga no pão e ter algo para comer.
Quando retornei à pensão, parei no saguão e fiquei com os ouvidos no sr. Adams, pensando, eis a Morte. Fui para o meu quarto, abri o pote de manteiga de amendoim e, enquanto escutava os sons do moribundo que vinham do térreo, mergulhei meus dedos fundo no vidro. Comi a pasta direto dos dedos. Estava uma delícia. Então abri o pão. Estava verde e úmido, exalando um cheiro azedo e forte. Como podiam vender um pão nesse estado? Que tipo de lugar era a Flórida? Joguei o pão no chão, tirei a roupa, apaguei as luzes, puxei as cobertas e me deitei no escuro, escutando.
Encontrei um emprego nos classificados do jornal. Fui contratado por uma loja de roupas, mas não em Miami, e sim em Miami Beach, e a cada manhã eu tinha que enfrentar uma travessia aquática junto com a minha ressaca. O ônibus corria por uma faixa muito estreita de cimento e ficava junto à água sem qualquer forma de guard-rail, nenhuma proteção. Só havia a pista. O motorista se recostava, e nós seguíamos sobre essa faixa estreita de cimento completamente cercada pela água, e todos a bordo, as vinte e cinco ou trinta pessoas, confiavam nele, mas eu jamais. Às vezes, era um motorista novo, e eu pensava, como eles selecionam esses filhos da puta? Havia água profunda nos dois lados, e um erro de julgamento mataria a todos nós. Isso era ridículo. Suponha que ele tenha brigado com sua mulher naquela manhã? Ou que tenha câncer? Ou que tenha visões de Deus? Um dente podre? Qualquer coisa. Seria o suficiente para ele. Lá estaríamos nós no fundo do mar. Sei que, se eu estivesse dirigindo, consideraria a possibilidade ou o desejo de afogar todo mundo. E algumas vezes, depois de ter feito essas consideração, a possibilidade passaria à ação. Para cada Joana d’Arc há um Hitler suspenso do outro lado da balança. A velha história do bem e do mal. Mas nenhum dos motoristas jamais nos lançou no mar. Por suas cabeças não passava mais do que prestações do carro, resultados do beisebol, cortes de cabelo, férias, enemas, visitas familiares. Não havia um homem de verdade entre toda aquela merda. Eu sempre chegava enjoado no trabalho, ainda que em segurança. O que demonstra porque Schumann é melhor termo de comparação que Shostakovich...
Fui contratado para o que eles chamavam de bola extra. O bola extra era o cara que fazia de tudo sem ter, ao mesmo tempo, nenhuma atividade específica. Ele devia saber o que fazer após consultar uma espécie profunda e infalível de sexto sentido. Instintivamente, esse cara devia saber como manter as coisas funcionando de modo natural, o que era melhor para a empresa, a Mãe de todos, e suprir-lhe todas as pequenas necessidades que eram irracionais, contínuas e insignificantes.
Um bom bola extra não tem face nem sexo e deve estar disposto a se sacrificar pela causa. Está sempre esperando junto à porta, antes mesmo do primeiro homem chegar. Logo deve lavar a calçada, cumprimentando cada pessoa pelo nome à medida que elas chegam, sempre trazendo no rosto um sorriso brilhante e encorajador. Reverente. Isso fará com que todos se sintam melhores antes que as engrenagens do moedor comecem a funcionar. Ele verifica se os papéis higiênicos estão em ordem, principalmente no banheiro feminino. Os cestos nunca devem estar cheios. As janelas não podem estar encardidas. Os pequenos reparos são prontamente feitos em mesas e cadeiras. Nada de portas que não abram facilmente. Os relógios sempre ajustados. Nenhum tapete enrugado. Jamais deixar uma mulher bem-alimentada e forte ficar sobrecarregada por um pacotinho qualquer.
Eu não era muito bom nisso. Minha ideia era vagar por aí sem fazer nada, evitando sempre cruzar com o chefe, além dos puxa-sacos que poderiam me denunciar. Eu não era tão esperto assim. Agia mais por instinto do que qualquer outra coisa. Sempre iniciava um trabalho com a sensação de que, assim que eu o terminasse, seria demitido, e isso me deu um ar tranquilo, que era facilmente confundido com inteligência ou algum poder secreto.
Era um comércio de roupas autossuficiente e autoabastecido, combinando fábrica e venda no atacado. O mostruário, os produtos finalizados e os vendedores ficavam todos no primeiro andar, enquanto a fábrica funcionava no segundo. A fábrica era um labirinto de passarelas e passagens que nem mesmo os ratos conseguiam vencer, longas e estreitas galerias onde homens e mulheres trabalhavam sob lâmpadas de trinta watts, inclinados, movendo os pedais, costurando, sem jamais erguer os olhos ou trocar uma palavra, curvos e calados, trabalhando incessantemente.
Certa vez, em um de meus empregos em Nova York, eu tinha trabalhado transportando tecido para fábricas como essa. Eu seguia com o caminhão por uma rua congestionada, vencendo o tráfego, e então entrava em uma ruela atrás de um prédio encardido. Havia um elevador escuro, e eu tinha que puxar umas cordas por umas roldanas de madeira. Uma das cordas era para subir, a outra para descer. Não havia luz e, enquanto o elevador subia lentamente, eu ficava de olho nos números brancos sobre a parede nua, números que brotavam da escuridão – 3, 7, 9, rabiscados a giz por uma mão esquecida. Chegava ao meu andar, puxava outra corda com meus dedos e, usando toda a minha força, abria com esforço e devagar uma velha e pesada porta de metal, revelando filas e mais filas de velhas senhoras judias sentadas às suas máquinas, trabalhando nas pilhas de tecidos. A costureira número 1 na máquina 1, inclinada, cuidando do seu espaço. A garota número 2 na máquina 2, pronta para substituí-la se fosse necessário. Elas jamais erguiam os olhos ou tomavam consciência de minha presença.
Nessa mistura de fábrica e comércio em Miami Beach, não havia necessidade de entregas. Tudo estava à mão. No meu primeiro dia, andei entre o labirinto de máquinas de costura olhando para as pessoas. Diferentemente de Nova York, a maioria dos trabalhadores era formada de negros. Aproximei-me de um negro, bem pequeno – quase anão –, que tinha um rosto mais agradável que os outros. Ele fazia algum trabalho de acabamento, com uma agulha. Eu tinha uma garrafinha no bolso.
– Seu trabalho é de matar. Vai um trago?
– Claro – ele disse.
Tomou um bom gole. Então devolveu a garrafa. Ofereceu-me um cigarro.
– Você é novo na cidade.
– Sim.
– De onde veio?
– Los Angeles.
– Um astro de cinema.
– Sim, de férias.
– Não devia estar falando com um costureiro.
– Eu sei.
Ele ficou em silêncio. Parecia um pequeno macaquinho, um macaco velho e gracioso. Para os caras do andar debaixo, ele era realmente um macaco. Tomei um gole. Sentia-me bem. Observava-os trabalhar, todos quietos sob suas lâmpadas de trinta watts, suas mãos movendo-se delicadas e habilidosas.
– Me chamo Henry – eu disse.
– Brad – ele respondeu.
– Escute, Brad, fico muito, mas muito deprimido vendo vocês trabalharem. Que tal se eu cantar uma música pra vocês?
– Não.
– Esse seu trabalho aqui é pavoroso. Por que você segue com isso?
– Porra, não tenho escolha.
– O Senhor disse que há!
– Você acredita no Senhor?
– Não.
– No que você acredita?
– Em nada.
– Então estamos quites.
Falei com alguns dos outros empregados. Os homens eram de poucas palavras, algumas das mulheres riam de mim.
– Sou um espião – eu ria de volta. – Sou um espião da companhia. Estou de olho em todo mundo.
Tomei outro gole. Cantei a eles minha música favorita, “My heart is a Hobo”. Eles seguiram trabalhando. Ninguém tirou os olhos das roupas. Quando terminei, eles seguiam no labor. Por alguns instantes, houve silêncio. Então escutei uma voz:
– Olha só, branquelo, não venha mais aqui.
Decidi que o melhor era passar uma mangueira na calçada da frente.
Levou quatro dias e cinco noites para que o ônibus chegasse a Los Angeles. Como de costume, não consegui dormir ou defecar durante a viagem. Houve uma certa excitação quando uma loira enorme embarcou em algum lugar da Louisiana. Naquela noite ela começou a se vender por US$ 2, e todos os homens e uma das mulheres do ônibus se aproveitaram de sua generosidade, excetuados o motorista e eu. As transações comerciais se davam à noite na parte traseira do veículo. Ela se chamava Vera. Usava um batom púrpura e ria por qualquer motivo. Aproximou-se de mim durante uma rápida parada em uma cafeteria. Plantou-se atrás de mim e me perguntou:
– Qual é, se acha bom demais pra mim?
Não respondi.
– Veadinho.
Ao retornar para o lado de um dos seus fregueses, ouvi seus resmungos enojados...
Em Los Angeles, fiz uma ronda nos velhos bares da vizinhança à procura de Jan. Não obtive qualquer sucesso antes de encontrar Whitey Jackson, que estava trabalhando atrás do balcão no Pink Mule. Ele me disse que Jan estava trabalhando como camareira no Durham Hotel na Beverly com a Vermont. Fui até lá. Eu procurava pelo escritório da gerência quando ela saiu de um dos quartos. Estava com uma boa aparência, como se esse tempo longe de mim lhe tivesse feito bem. Então ela me viu. Não fez nada além de ficar onde estava, parada, apenas seus olhos foram ficando maiores e mais azuis. Até que ela disse:
– Hank!
Correu em minha direção e nos abraçamos. Beijou-me com loucura, que tentei retribuir.
– Por Deus – ela disse –, achei que nunca mais fosse ver você!
– Voltei.
– De vez?
– Minha cidade é L.A.
– Afaste-se um pouco – ela disse –, deixe-me ver você.
Dei um passo para trás, um sorriso aberto no rosto.
– Você está magro. Perdeu peso – Jan disse.
– Você está ótima. Está com alguém?
– Não.
– Não há ninguém mesmo?
– Ninguém. Você sabe que não suporto as pessoas.
– Estou feliz que você esteja trabalhando.
– Venha até o meu quarto – ela disse.
Fui atrás dela. O quarto era muito pequeno, mas tinha um quê de agradável. Você podia olhar o tráfego lá fora pela janela, ver o semáforo mudar de cor, o garoto vendendo jornal na esquina. Gostei do lugar. Jan se jogou na cama.
– Venha, deite aqui do meu lado – ela disse.
– Estou constrangido.
– Eu te amo, seu idiota, nós já trepamos umas 800 vezes, então relaxe.
Tirei meus sapatos e me estiquei na cama. Ela ergueu uma das pernas.
– Continua gostando do que vê?
– Claro que sim! Jan, você terminou seu serviço?
– Sim, com exceção do quarto do sr. Clark. E ele não liga muito pra isso. Ele sempre me dá gorjetas.
– Jan...
– Sim?
– A passagem de ônibus me deixou pelado. Preciso de um lugar pra ficar até arranjar um emprego.
– Posso esconder você aqui.
– Sério?
– Claro.
– Eu te amo, baby – eu disse.
– Cretino – ela respondeu.
Começamos a fazer amor. Estava uma delícia. Uma verdadeira e genuína delícia.
Depois que terminamos, Jan se levantou e abriu uma garrafa de vinho. Abri meu último maço de cigarros e sentamos na cama para beber e fumar.
– Você está todo lá – ela disse.
– Como assim?
– Digo, nunca conheci um homem como você.
– Ah, é?
– Os outros chegavam só uns dez ou vinte por cento lá, você está lá inteiro, você todo está bem lá, é tão diferente.
– Não sei do que você está falando.
– Você tem um gancho, você prende as mulheres.
Aquilo fez eu me sentir bem. Após terminarmos nossos cigarros, voltamos a fazer amor. Então Jan me mandou ir buscar mais uma garrafa. Retornei. Eu tinha que retornar.
Fui contratado de imediato por uma companhia de lâmpadas fluorescentes. Ficava na Alameda Street, na direção norte, em um agrupamento de armazéns. Eu trabalhava no balcão. Era uma verdadeira barbada, pois eu apanhava os pedidos em uma cesta, preenchia-os, embrulhava os conjuntos em papelão e os deixava no setor de expedição, cada conjunto etiquetado e com o endereço de entrega. Eu pesava os embrulhos, acrescentava o valor do transporte e ligava para a transportadora para que viesse apanhar as encomendas.
No primeiro dia em que eu estava lá, no turno da tarde, ouvi um estrondo atrás de mim, próximo à linha de montagem. As velhas caixas de madeira que continham as partes prontas corriam para longe da parede e se espatifavam no chão – metal e vidro atingindo em cheio o cimento do piso, explodindo, produzindo uma terrível barulheira. Os trabalhadores da linha de montagem correram para o outro lado do prédio. Então tudo ficou em silêncio. O chefe, Mannie Feldman, saiu de seu escritório.
– Que diabos está acontecendo aqui?
Ninguém respondeu.
– Certo, desliguem a linha de montagem! Vocês todos, peguem pregos e martelo e deem um jeito nessas caixas de madeira!
O sr. Feldman retornou para o seu escritório. Não havia nada que eu pudesse fazer além de me apresentar para ajudá-los. Nenhum de nós era carpinteiro. Foi preciso toda a tarde e mais da metade da manhã seguinte para que conseguíssemos pregar todas as caixas. Ao terminarmos, o sr. Feldman saiu de seu escritório.
– Então, conseguiram? Muito bem, agora me escutem: quero as 939 em cima, as 820 logo abaixo, os lanternins e vidros nas caixas mais de baixo, entenderam? Será que há alguém aqui que pode não ter entendido o que é pra fazer?
Não houve nenhuma resposta. As 939 eram as caixas mais pesadas – extremamente pesadas – e ele as queria por cima. Ele era o chefe. Fizemos o que ele mandou. Colocamos as 939 no topo, todo aquele peso, e deixamos as mais leves por baixo. Então retornamos ao trabalho. As caixas resistiram o resto do dia e da noite seguinte. Pela manhã, começamos a ouvir uns rangidos. Eram as caixas cedendo. Os trabalhadores da linha de montagem começaram a se afastar, não contendo as gargalhadas. Cerca de dez minutos antes do intervalo da manhã, todas as caixas desabaram. O sr. Feldman veio correndo de seu escritório:
– Mas que diabos está acontecendo aqui?
Feldman tentava receber seu seguro e decretar falência ao mesmo tempo. Na manhã seguinte, um homem de aspecto muito digno veio da parte do Banco da América. Ele nos disse para não montarmos mais nenhuma caixa. “Apenas recolham essa merda do chão”, foi o modo como colocou a questão. Ele se chamava Jennings, Curtis Jennings. Feldman devia ao Banco da América um caminhão de dinheiro, e agora eles o queriam de volta, antes que o negócio falisse. Jennings assumiu o controle da companhia. Estava sempre circulando, observando o trabalho de todos. Mergulhou fundo nos livros-caixa de Feldman; verificou as trancas e as janelas e a cerca de segurança em torno ao estacionamento. Veio até mim:
– Não use mais a transportadora Sieberling. Foram roubados quatro vezes ao transportarem um de nossos carregamentos entre o Arizona e o Novo México. Alguma razão em especial pra você estar trabalhando com esse pessoal?
– Não, nenhuma razão.
O representante da Sieberling me passava dez centavos por baixo dos panos a cada duzentos quilos em mercadorias despachadas.
Em três dias, Jennings demitiu um homem que trabalhava no escritório principal e o substituiu por três jovens mexicanas cheias de disposição para trabalhar por metade do que o outro ganhava. Demitiu também o homem da limpeza e, além de ter que despachar as mercadorias, incluiu em meu trabalho a função de motorista da empresa para entregas locais.
Assim que recebi meu primeiro contracheque, me mudei do quartinho de Jan para um apartamento só meu. Ao chegar certa noite, ela havia se mudado para lá. Ora, foda-se, eu lhe disse, minha terra é sua terra. Pouco tempo depois, tivemos nossa pior briga. Ela foi embora, e eu fiquei bêbado por três dias e três noites. Assim que recuperei a sobriedade, soube que meu trabalho já era. Nunca voltei lá. Decidi limpar o apartamento. Aspirei o chão, escovei as esquadrias das janelas, esfreguei a banheira e a pia, encerei o chão da cozinha, matei todas as aranhas e baratas, esvaziei e lavei os cinzeiros, lavei os pratos, areei a pia da cozinha, estendi toalhas limpas e coloquei um novo rolo de papel higiênico no banheiro. Devia ser a veadagem chegando, pensei.
Quando Jan finalmente voltou para casa – uma semana depois –, acusou-me de ter trazido uma mulher aqui, pois tudo parecia limpo demais. Ela aparentava uma fúria imensa, que não passava, obviamente, de disfarce para sua própria culpabilidade. Eu não conseguia entender por que não me livrava dela. Era uma adúltera compulsiva – ia com qualquer um que conhecesse num bar e, quanto mais baixo e imundo fosse, mais ela gostava. Usava continuamente nossas brigas para se justificar. No íntimo, eu seguia me dizendo que todas as mulheres do mundo não eram putas, somente a minha.
– Factótum
e é um vento frio
e eu penso nos
garotos na miséria.
espero que eles tenham uma garrafa
de vinho.
é quando você está na miséria
que percebe que
tudo
tem um dono
e que os cadeados estão por toda
parte.
este é o modo como funciona a
democracia:
você pega aquilo que pode,
tenta manter o que pegou
e acrescentar mais ao acumulado
se possível.
é esta também a maneira de agir de uma
ditadura
a diferença é que elas destroem ou
escravizam seus
dissidentes.
nós simplesmente esquecemos
os nossos.
nos dois casos
o vento segue
frio e
cortante.
As filmagens iam começar em Culver City. O bar ficava lá, e o hotel com o meu quarto. A parte seguinte seria feita no distrito da Rua Alvarado, onde ficava o apartamento da mulher.
Depois vinha um bar que frequentávamos na 6th Street com Vermont. Mas as primeiras tomadas seriam em Culver City.
Jon nos levou para ver o hotel. Parecia autêntico. Os bebuns moravam ali. O bar ficava embaixo. Nós ficamos parados, olhando.
– Que tal? – perguntou Jon.
– Sensacional. Mas já vivi em lugares piores.
– Eu sei – disse Sarah. – Eu vi.
Subimos para o quarto.
– Aqui está. Parece familiar?
Era pintado de cinza, como muitos desses lugares. Persianas rasgadas. A mesa e a cadeira. A geladeira coberta de grossa crosta de sujeira. E a pobre cama bamba.
– Está perfeito, Jon. É o quarto.
Fiquei um pouco triste por não ser jovem e estar fazendo tudo aquilo de novo, bebendo e brigando e jogando com as palavras. Quando a gente é jovem, pode realmente aguentar uma surra. A comida não importava. O que importava era beber e sentar à máquina. Eu devia ter sido louco, mas há muitos tipos de loucura, e alguns são muito gostosos. Eu morria de fome para ter tempo de escrever. Não se faz mais isso. Olhando aquela mesa, via-me ali sentado de novo. Naquele tempo estava louco e sabia disso e não importava.
– Vamos descer pra dar outra verificada no bar...
Descemos. Os bebuns que iam aparecer no filme já estavam lá. Bebiam.
– Vamos lá, Sarah, vamos pegar um banco. Tchau, Jon...
O garçom nos apresentou aos bêbados. Eram o Grande Monstro e o Pequeno Monstro, o Nojento, Buffo, Cabeça de Cachorro, Lady Lila, Lance Livre, Clara e outros.
Sarah perguntou ao Nojento o que ele estava bebendo.
– Parece bom – disse.
– É um Cape Cod, suco de amora e vodca.
– Eu tomo um Cape Cod – disse Sarah ao garçom, Cowboy Cal.
– Vodca 7 – eu disse ao Cowboy.
Tomamos algumas. O Grande Monstro me contou uma história de uma briga deles todos com os tiras. Muito interessante. E eu sabia, pelo jeito de ele contar, que era verdade.
Depois veio a chamada para o almoço para os atores e a equipe. Os bebuns ficaram onde estavam.
– É melhor a gente comer – disse Sarah.
Saímos pelos fundos e para leste do hotel. Haviam instalado uma grande banca. Os extras, técnicos, operários e outros já comiam. A comida tinha boa aparência. Jon veio ter com a gente. Pegamos nossas rações na carroça e o seguimos até a ponta da mesa. Quando passávamos, Jon parou. Um homem comia sozinho. Jon apresentou-nos.
– Esse é Lance Edwards...
Edwards fez-nos um leve aceno de cabeça e voltou ao seu filé.
Sentamo-nos na ponta da mesa. Edwards era um dos coprodutores.
– Esse Edwards age como um filho da puta – eu disse.
– Oh – disse Jon – ele é muito acanhado. É um dos caras dos quais Friedman estava tentando se livrar.
– Talvez tivesse razão.
– Hank – disse Sarah –, você nem conhece o cara.
Eu atacava minha cerveja.
– Coma sua comida, Sarah.
Ela ia acrescentar dez anos à minha vida, para o melhor ou para o pior.
– Vamos filmar uma cena com Jack na sala. Você deve vir ver.
– Depois de comermos, vamos voltar pro bar. Quando estiverem prontos pra filmar, mandem alguém nos chamar.
– Tudo bem – disse Jon.
Depois de comermos, contornamos o hotel até o outro lado, verificando-o. Jon nos acompanhava. Vários reboques estacionavam ao longo da rua. Vimos o Rolls-Royce de Jack. E junto a ele um grande reboque prateado, com um anúncio na porta: JACK BLEDSOE.
– Veja – disse Jon –, ele tem um periscópio em cima, pra ver quem se aproxima...
– Nossa...
– Escuta, tenho de acertar umas coisas...
– Tudo bem... Tchau...
Jon tinha uma coisa engraçada. Seu sotaque francês ia desaparecendo à medida que ele só falava inglês nos Estados Unidos. Era um pouco triste.
A porta do reboque de Jack abriu-se. Era ele.
– Ei, entrem!
Subimos os degraus. Uma televisão estava ligada. Uma garota jovem deitava-se no beliche, vendo TV.
– Essa é Cleo. Comprei uma moto pra ela. A gente roda junto.
Um cara sentava-se na outra ponta.
– Esse é meu irmão, Doug...
Eu me aproximei de Doug, ensaiei uns passos de boxe na frente dele. Ele não disse nada. Apenas encarava. Sujeito frio. Ótimo. Eu gostava de caras frios.
– Tem alguma coisa pra beber? – perguntei a Jack.
– Claro...
Pegou um uísque, serviu-me uma dose com água.
– Obrigado...
– Quer um pouco? – ele perguntou a Sarah.
– Obrigada – ela disse. – Não gosto de misturar bebidas.
– Ela está tomando Cape Cods – eu disse.
– Oh...
Sarah e eu nos sentamos. O uísque era bom.
– Gosto deste lugar – eu disse.
– Fique o quanto quiser – disse Jack.
– Talvez eu fique pra sempre...
Jack me lançou seu famoso sorriso.
– Seu irmão não é de falar muito, é?
– Não, não é.
– Um cara frio.
– Ééé.
– Bem, Jack, decorou suas falas?
– Eu nunca olho as minhas falas até o último instante antes da filmagem.
– Sensacional. Bem, escuta, a gente tem de se mandar.
– Eu sei que você consegue, Jack – disse Sarah. – Estamos satisfeitos por você ter o papel principal.
– Obrigado.
No bar, os bebuns ainda estavam lá e não pareciam nem um pouco mais bêbados. Era preciso muita coisa pra derrubar um profissional.
Sarah tomou outro Cape Cod. Eu voltei ao Vodca 7.
Bebemos e ouvimos outras histórias. Cheguei até a contar uma. Talvez houvesse passado uma hora. Aí eu ergui o olhar e vi Jack parado, olhando por cima das portas de vaivém da entrada. Eu via apenas a cabeça dele.
– Ei, Jack – gritei –, entre e tome uma.
– Não, Hank, vamos filmar agora. Por que não vem ver?
– Já vou lá, baby...
Pedimos mais duas doses. E já as atacávamos quando Jon entrou.
– Vamos filmar agora – ele disse.
– Tudo bem – disse Sarah.
– Tudo bem – disse eu.
Acabamos nossas doses, e eu peguei umas duas garrafas de cerveja para levar conosco.
Seguimos Jon por uma escada acima e pelo quarto adentro. Cabos por toda parte. Técnicos mexendo-se de um lado para outro.
– Aposto que poderiam rodar um filme com cerca de um terço desses porras todos.
– É o que Friedman diz.
– Às vezes ele tem razão.
– Tudo bem – disse Jon –, estamos quase prontos. Fizemos alguns ensaios. Agora filmamos. Você – disse para mim – fica nesse canto. Pode ver daqui sem entrar na cena.
Sarah recuou até ali comigo.
– SILÊNCIO! – gritou o assistente de direção de Jon. – PREPARANDO PRA RODAR!
Tudo ficou em silêncio.
Então foi a vez de Jon:
– CÂMERA! AÇÃO!
A porta do quarto abriu-se e Jack Bledsoe entrou cambaleando. Merda, era o jovem Chinaski! Era eu! Senti uma dor mole dentro de mim. Juventude, sua filha da puta, aonde foi você?
Queria voltar a ser o jovem bêbado. Queria ser Jack Bledsoe. Mas era apenas o cara velho no canto, mamando uma cerveja.
Bledsoe cambaleou até a janela junto à mesa. Abriu a persiana escangalhada. Ensaiou uns passos de boxe, um sorriso no rosto. Depois sentou-se à mesa, pegou um lápis e um pedaço de papel. Ficou ali sentado algum tempo, depois puxou a rolha de uma garrafa de vinho, tomou uma talagada, acendeu um cigarro. Ligou o rádio e deu sorte de sintonizar Mozart.
Começou a escrever naquele pedaço de papel com o lápis, enquanto a cena escurecia...
Pegara a coisa. Pegara do jeito que era, quer isso significasse alguma coisa ou não, ele a pegara como era.
Eu me aproximei dele e apertei sua mão.
– Peguei bem? – ele perguntou.
– Pegou – eu disse.
No bar lá embaixo, os bebuns ainda estavam em serviço e com a mesma aparência.
Sarah voltou aos seus Cape Cods e eu tomei a rota do Vodca 7. Ouvimos algumas histórias ótimas. Mas havia uma tristeza no ar, porque depois de rodado o filme, o bar e o hotel iam ser desmontados, para servir a algum fim comercial. Alguns dos fregueses moravam no hotel há décadas. Outros moravam numa estação ferroviária deserta próxima, e havia uma ação judicial para retirá-los dali. Por isso, a bebida era pesada e triste.
Sarah disse por fim:
– Precisamos voltar pra casa pra dar comida aos gatos.
A bebida podia esperar.
Hollywood podia esperar.
Os gatos não esperavam.
Concordei.
Despedimo-nos dos bebuns e fomos para o carro. Eu não me preocupava com a direção. Alguma coisa na visão do jovem Chinaski naquele velho quarto de hotel me estabilizara. Filho da puta, eu fora um jovem touro do caralho. Realmente um fodido de primeira.
Sarah se preocupava com o futuro dos pinguços. Eu também não gostava daquilo. Por outro lado, não podia vê-los sentados em torno da minha porta da frente, bebendo e contando suas histórias. Muitas vezes o charme diminui quando chega perto demais da realidade. E quantos irmãos a gente pode manter?
Eu dirigia em frente. Chegamos.
Os gatos esperavam.
Sarah desceu e limpou as tigelas deles e eu abri as latas.
Simplicidade, era disso que se precisava.
Subimos, tomamos banho, trocamos de roupa e fomos para a cama.
– Que é que aquele pessoal vai fazer? – perguntou Sarah.
– Eu sei. Eu sei...
Aí chegou a hora de dormir. Desci para dar uma última olhada e voltei. Sarah já adormecera. Apaguei a luz. Dormimos. Tendo visto fazer o filme naquela tarde, agora estávamos um pouco diferentes, jamais voltaríamos a pensar ou falar exatamente da mesma forma. Agora sabíamos algo mais, mas, o que era, parecia muito vago e talvez até um pouco desagradável.
– Hollywood
na minha infância do som
de:
“TRAPOS! GARRAFAS! SACOS!”
“TRAPOS! GARRAFAS! SACOS!”
foi durante a
Depressão
e você podia ouvir as
vozes
muito antes de avistar a
velha carroça
e o
velho
pangaré.
então você ouvia os
cascos
clop, clop, clop...
e então você avistava
o cavalo e a
carroça
e isso sempre parecia ocorrer
no dia
mais quente do
verão:
“TRAPOS! GARRAFAS! SACOS!”
oh
aquele cavalo estava tão
cansado...
fios de saliva
branca
babando
sempre que o freio se enterrava
em sua
boca
ele puxava uma carga
intolerável
de
trapos, garrafas, sacos
vi seus olhos
imensos
em agonia
suas costelas
expostas
as moscas gordas
circulavam e pousavam sobre
falhas em seu
couro.
às vezes
um de nossos pais
gritava:
“Ei! Por que você não
alimenta esse cavalo, seu
merda!”
a resposta do homem era
sempre a
mesma:
“TRAPOS! GARRAFAS! SACOS!”
o homem era
inacreditavelmente
sujo, barba por
fazer, vestindo um chapéu
de feltro manchado e
roto
ele
se sentava sobre
uma enorme pilha de
sacos
e
vez ou
outra
quando o cavalo parecia
vacilar
um passo
este homem
sentava-lhe
o longo chicote...
o som era como o
disparo de um rifle
uma falange de moscas
se erguia
e o cavalo se
lançava para frente
renovado
os cascos resvalando e
escorregando no asfalto
quente
e então
tudo o que podíamos
ver
era a parte de trás da
carroça
e
o enorme monte de
trapos e garrafas
cobertos pelos
sacos
marrons
e
mais uma vez
a voz:
“TRAPOS! GARRAFAS! SACOS!”
ele foi
o primeiro homem
que tive vontade de
matar
e
desde então
não houve
mais nenhum.
As lutas seguiam de maneira ininterrupta. Os professores pareciam não saber nada a respeito. E sempre tinha problema quando chovia. Qualquer garoto que trouxesse um guarda-chuva ou viesse com uma capa de chuva era discriminado. Nossos pais, em sua maioria, eram pobres demais para comprar esse tipo de coisa. E caso o fizessem, tratávamos de esconder bem os objetos entre os arbustos. Qualquer um que fosse visto carregando um guarda-chuva ou vestindo uma capa de chuva era tido imediatamente por maricas. Era espancado na saída. A mãe de David fazia com que ele carregasse um guarda-chuva mesmo que o dia estivesse apenas um pouco nublado.
Havia dois períodos de recreio. Os alunos das primeiras séries se reuniam em torno de sua própria quadra de beisebol e escolhiam os times. Eu e David permanecíamos juntos. Era sempre assim. Eu era o penúltimo a ser escolhido, e David, o último. Assim, sempre jogávamos em times diferentes. David conseguia ser pior do que eu. Com seus olhos oblíquos, sequer conseguia ver a bola. No meu caso era falta de prática. Eu nunca jogara com as crianças da vizinhança. Eu não sabia como pegar uma bola ou como rebater. Mas eu queria aprender, era divertido. David tinha medo da bola, eu não. Eu movimentava o bastão com força, com mais força do que qualquer um, mas nunca acertava a bola. Eu sempre era eliminado[2]. Uma vez rebati uma bola. Aquilo foi bom. Noutra vez, iniciei uma corrida. Quando cheguei à primeira base, o primeiro basista disse:
– Essa é a única maneira de você chegar até aqui.
Parei e o fitei. Ele mascava um chiclete e longos pelos negros saíam de suas narinas. Seu cabelo estava empapado com vaselina. Sempre tinha um sorrisinho de escárnio nos lábios.
– Está me achando bonito? – ele perguntou.
Não sabia o que responder. Eu não estava acostumado a conversar.
– Os caras dizem que você é louco – ele falou –, mas em mim você não mete medo. Dia desses pego você na saída.
Continuei olhando para ele. Seu rosto era horrível. Então o arremessador jogou a bola, e eu corri para a segunda base. Corri como um louco e deslizei em direção à segunda. A bola chegou depois. Eu estava salvo.
– Você está fora! – gritou o garoto que servia de árbitro.
Levantei-me, sem acreditar.
– Eu disse: VOCÊ ESTÁ FORA! – gritou o árbitro.
Então eu soube que não seria aceito. David e eu não seríamos aceitos. Os outros queriam que eu recebesse o “fora” porque ali não era meu lugar, porque eu devia mesmo ficar de “fora”. Eles sabiam da minha amizade com David. Era por causa dele que eu não era aceito. Enquanto me afastava da quadra, pude ver David na terceira base com suas calças curtas. Suas meias azuis e amarelas estavam arriadas e caíam sobre seus sapatos. Por que ele tinha me escolhido? Eu era um homem marcado. Naquela tarde depois da escola eu caminhei apressado para casa, logo que a aula terminou, sem esperar por David. Não queria vê-lo apanhar novamente dos nossos colegas ou da sua mãe. Não queria ouvir o seu triste violino. Mas no dia seguinte, na hora do almoço, quando ele se sentou comigo, comi suas batatas fritas.
Meu dia chegou. Eu era alto e me sentia poderoso sobre a base. Não conseguia acreditar que eu jogasse tão mal quanto eles queriam me fazer crer. Girei meu bastão de modo desordenado, mas com muita força. Eu sabia que era forte e talvez, como eles mesmos diziam, “louco”. No entanto, tinha essa sensação de que havia algo verdadeiro acontecendo aqui dentro. Talvez fosse a merda endurecida, mas era mais do que qualquer um deles tinha. Eu estava a postos.
– Ei, é o REI DOS REBATEDORES! SR. CATA-VENTO!
A bola chegou. Girei e me senti ligado ao bastão como há muito tempo eu esperava que acontecesse. A bola subiu, subiu às alturas, em direção ao campo da esquerda, passando por sobre a cabeça do jogador que estava à esquerda. Seu nome era Don Brubaker, e ele ficou parado vendo a bola passar por sobre sua cabeça. Parecia que ela nunca mais voltaria a tocar a terra. Então Brubaker começou a correr atrás da bola. Ele queria me eliminar. Jamais conseguiu fazê-lo. A bola aterrissou e rolou para uma outra quadra onde jogavam os garotos da quinta série. Corri lentamente para a primeira base, bati no montinho, olhei para o cara que estava ali posicionado, avancei devagar até a segunda, toquei-a, corri até a terceira onde estava David, ignorei-o, bati na terceira e segui para a base final. Nunca houve dia igual. Nunca alguém da primeira série tinha feito um home run! Ao chegar de volta à posição inicial, ouvi um dos jogadores, Irving Bone, dizer ao capitão do time, Stanley Greenberg:
– Vamos colocá-lo no time titular. (O time titular enfrentava os times de outras escolas.)
– Não – disse Stanley Greenberg.
E ele estava certo. Nunca mais acertei um home run. Furava a maior parte do tempo. Mas sempre lhes vinha às mentes o home run daquele dia, e, embora ainda me odiassem, era uma forma melhor de ódio, um ódio que já não tinha um porquê.
A temporada de futebol americano foi pior. Jogávamos um futebol de toque[3]. Não me era permitido agarrar ou lançar a bola, mas mesmo assim entrei no jogo. Quando o corredor passou na minha frente, agarrei-o pelo colarinho e o joguei no chão. Quando começou a se levantar, o enchi de chutes. Não gostava dele. Era o cara da primeira base, o de vaselina no cabelo e pelos que saíam do nariz. Stanley Greenberg chegou. Ele era maior do que qualquer um de nós. Poderia ter me matado, se quisesse. Era nosso líder. A palavra final era sua. Ele me falou:
– Você não entende as regras. Basta de futebol pra você.
Fui encaminhado para o voleibol. Jogava com David e com os outros. Era uma chatice. Meus parceiros gritavam e urravam e ficavam eufóricos, mas os outros estavam jogando futebol. Eu queria jogar futebol. Só precisava de um pouco de prática. O voleibol era vergonhoso. Meninas jogavam voleibol. Depois de um certo tempo, eu já não jogava mais nada. Ficava apenas parado no meio do pátio onde ninguém estava jogando. Eu era o único que não praticava nenhum esporte. Eu ficava plantado lá, todos os dias, esperando os dois recreios passarem.
Um dia, quando eu estava ali parado, mais problemas apareceram. Uma bola de futebol me pegou desprevenido, atingindo em cheio a minha cabeça. O impacto me nocauteou. Fiquei bastante tonto. Eles se postaram ao meu redor, rindo e fazendo barulhos.
– Oh, vejam, Henry desmaiou! Henry desmaiou como uma donzelinha! Oh, vejam o Henry!
Levantei-me com o sol a girar. Então ele parou. O céu se aproximou e voltou para seu lugar. Era como estar numa jaula. Eles estavam ao meu redor, faces, narizes, bocas e olhos. Como estavam tirando um sarro da minha cara, concluí que tinham me atingido deliberadamente com a bola. Não era justo.
– Quem chutou a bola? – perguntei.
– Quer mesmo saber?
– Sim.
– O que vai fazer quando descobrir?
Fiquei quieto.
– Foi Billy Sherril – alguém disse.
Billy era um garoto gordo, enorme, mais simpático do que a maioria, mas nem por isso deixava de ser um deles. Segui na direção de Billy. Ele ficou parado no mesmo lugar. Quando me aproximei, ele se esquivou. Eu quase não percebi. Acertei-o na orelha esquerda, e quando ele colocou a mão sobre ela, lhe dei um golpe no estômago. Ele caiu no chão. E ali ficou.
– Levante e lute com ele, Billy – disse Stanley Greenberg.
Stanley ergueu Billy e o empurrou em minha direção. Dei-lhe um soco na boca, e ele a cobriu com as duas mãos.
– Certo – disse Stanley –, vou tomar o lugar dele!
Os garotos aplaudiram. Decidi correr, ainda não era minha hora de passar dessa para melhor. Mas então um professor apareceu.
– O que está acontecendo aqui?
Era o sr. Hall.
– Henry bateu no Billy – disse Stanley Greenberg.
– Foi isso mesmo, garotos? – perguntou o sr. Hall.
– Sim – responderam.
O sr. Hall me puxou pela orelha por todo o caminho até a sala do diretor. Forçou-me a sentar numa cadeira em frente a uma mesa vazia e então bateu à porta do diretor. Ficou lá dentro por um tempo considerável e então saiu sem olhar para mim. Fiquei ali sentado por uns cinco ou dez minutos antes que o diretor saísse e fosse ocupar o lado da mesa que estava vazio. Tratava-se de um homem com um aspecto bastante digno, com vastos cabelos grisalhos e uma gravata azul com um belo nó. Parecia um verdadeiro cavalheiro. Seu nome era sr. Knox. O sr. Knox cruzou os dedos e ficou me olhando, sem dizer nada. Quando começou a falar, porém, já não tive tanta certeza de sua cortesia. Seu objetivo parecia ser me humilhar, me tratar como os outros.
– Bem – ele disse por fim –, me conte o que aconteceu.
– Não aconteceu nada.
– Você machucou aquele garoto, Billy Sherril. Os pais dele vão querer saber por quê.
Não respondi.
– Acha que pode resolver seus problemas no braço quando acontece alguma coisa que não o agrada?
– Não.
– Então, por que fez isso?
Novamente me calei.
– Você se acha melhor do que as outras pessoas?
– Não.
O sr. Knox continuou sentado em seu lugar. Tinha um abridor de cartas muito comprido, que ele fazia rolar para lá e para cá sobre o feltro verde que cobria a mesa. Tinha também um enorme tinteiro verde e um porta-canetas com quatro delas dentro. Eu me perguntava se ele iria me bater.
– Diga logo: por que você fez isso?
Não respondi. O sr. Knox continuava movendo o abridor para lá e para cá. O telefone tocou. Ele atendeu.
– Alô? Oh, sra. Kirby? Ele o quê? Quê? Escute, será que a senhora não poderia lhe aplicar um castigo? Estou ocupado no momento. Está certo, eu lhe telefono assim que encerrar a questão com esse aqui...
Ele desligou. Com uma das mãos ele afastou uma mecha do seu belo cabelo branco que lhe caía sobre os olhos e me encarou.
– Por que você está me causando todo esse problema?
Não respondi.
– Você se acha durão, né?
Continuei em silêncio.
– Um garoto durão, né?
Uma mosca voava em círculos ao redor da mesa do sr. Knox. Começou a pairar sobre o tinteiro verde. Então ela pousou sobre a tampa negra do tinteiro e ficou ali sentada, esfregando as asas.
– Certo, garoto, você é durão, e eu sou durão. Vamos selar essa descoberta com um aperto de mãos.
Não me considerava um cara durão; por isso, recusei.
– Vamos, me dê sua mão.
Estendi minha mão e ele começou a balançá-la. Então ele parou o movimento e me encarou. Ele tinha olhos de um azul cristalino, ainda mais claros do que o azul da sua gravata. Seus olhos eram quase bonitos. Continuava me encarando e segurando minha mão. Seu aperto começou a ficar mais forte.
– Quero cumprimentá-lo por ser um cara durão.
Estreitou ainda mais o aperto.
– Acha que eu sou um cara durão?
Não respondi.
Esmagou os ossos dos meus dedos. Podia sentir os ossos de cada um dos dedos cortando a carne do dedo seguinte como uma lâmina afiada. Manchas vermelhas me turvaram a visão.
– E agora, me acha um cara durão? – ele perguntou.
– Vou matar você – eu disse.
– Vai o quê?
O sr. Knox apertou ainda mais sua pegada. Sua mão parecia um torno. Eu podia ver cada poro em seu rosto.
– Caras durões não gritam, não é?
Apertou até o limite. Tive que gritar, mas o fiz do modo mais silencioso possível, assim ninguém nas salas de aula poderia me ouvir.
– E agora, sou um cara durão?
Esperei. Era odioso dizer isso. Mas, afinal, deixei escapar:
– Sim.
O sr. Knox soltou minha mão. Tive medo de olhar para ela. Deixei que ela caísse ao lado de meu corpo. Percebi que a mosca tinha ido embora e não pude deixar de pensar que não era tão ruim ser uma mosca. O sr. Knox escrevia num pedaço de papel.
– Agora, Henry, estou escrevendo um bilhete para os seus pais e você vai entregá-lo. Vai entregar direitinho para eles, não vai?
– Sim.
Ele colocou o bilhete dentro de um envelope e me entregou. O envelope estava selado, e eu não tinha nenhum desejo de abri-lo.
– Misto-quente
eu estava sentado no meu sofá certa noite,
como de costume, de cueca e camiseta,
bebendo cerveja e sem pensar em grande coisa
quando houve uma batida na porta –
“uuh huuu! uuh huuu!”
que diabo agora?, pensei.
“uuh huuu! uuh huuu!”
“o que é?”, perguntei.
“consegui uma magrinha! consegui uma magrinha pra você!”
uma magrinha?
o som era de voz feminina.
“espera um minuto”, pedi.
fui até o banheiro, vesti uma camisa rasgada e
minhas calças chino sujas. então saí e abri a
porta.
era a lésbica que morava nos fundos.
“comprei uma magrinha pra você”, ela disse.
“ah é?”
ela estava de suéter justinho e short,
ela ligou o luar.
“tá vendo? perdi 9 quilos! você gostou?”
“entra”, eu falei.
ela sentou na cadeira diante de mim e
cruzou as pernas.
“não conta pra senhoria que eu vim aqui.”
“não se preocupe”, falei.
e ela cruzou as pernas no outro sentido. as pernas tinham
grandes machucados roxos por todo lado. fiquei imaginando quem
os teria botado ali.
ela falou e fez perguntas, falou e fez perguntas –
quem era aquela mulher que veio aqui com a garotinha? a minha garotinha, era
a minha garotinha? sim, mas elas não moravam aqui. puxa, que legal.
o pai dela a sustentava, o pai lhe dava um monte de dinheiro, o pai era um
cara legal. aquela pintura na parede era minha? sim, era. ela entendia um pouco de
Arte – ela disse. eu tinha uma namorada? o que é que eu fazia quando eu não estava dormindo?
ela falou e fez perguntas, falou e fez perguntas. eu estava entediado,
completamente aéreo.
na minha juventude
eu achava que podia alterar a natureza,
mas uma lésbica tinha mostrado ser pura madeira –
madeira com olho de nó –
e a outra
(eu tentei duas vezes)
tinha quase me matado,
correndo atrás de mim por três lances de escada e
por meio
Bunker Hill.
aquela diante de mim se levantou
se aproximou, então esfregou os seios na minha
cara –
“não quer um pouquinho, não?”
“hmm hmm.”
ela apontou para um troninho no canto –
“você ainda usa aquilo?”
“ah sim. pinica um pouco as minhas nádegas mas me traz
boas lembranças...”
“boa noite!” ela correu até a porta, abriu, bateu
com força.
“boa noite”, eu
disse, e aí terminei minha garrafa de cerveja, pensando,
qual será o problema com
ela hoje?
*
depois teve um homem com perninhas minúsculas correndo lá
atrás. ele tinha um corpo comprido, e aquelas perninhas minúsculas
começavam onde estariam os joelhos de um homem comum
e o cara ia correndo com aquelas perninhas minúsculas
levando cestas de comida para a lésbica lá atrás.
minha nossa, tem algo de errado com aquele pobre sujeitinho,
pensei.
o senhorio o escorraçou de lá certa manhã pelas 5 horas
“ei! que diabo cê tá fazendo aí em cima? some
daqui!”
“eu trouxe comida pra ela! eu trouxe comida pra ela!”
“some daqui!”
o senhorio correu atrás dele pela entrada da garagem. “você tá lá em cima todo
santo dia às 3 da manhã. eu tô ficando de saco cheio! você não dorme nunca?
qual é o maldito problema com as suas pernas?”
“eu durmo! eu durmo! eu trabalho de noite!”
eles passaram correndo pela minha janela.
“você trabalha de noite? qual é maldito problema com você? por que você não arranja um emprego
durante o dia?”
o perninhas apenas seguiu correndo. ele fez uma curva rápida contornando uma cerca viva e subiu a
rua. o senhorio gritou atrás dele:
“idiota desgraçado! você não sabe que ela é sapatão? que diabo você vai fazer com uma
sapatão?”
não houve resposta, é
claro.
*
depois o sujeito do pátio contíguo, um cara tendendo um pouco pro lado
subnormal, herdou 20 mil
dólares. quando eu vi já estava escutando a voz da lésbica
lá dentro. as paredes eram bem finas.
deus, ela ficou de joelhos e esfregou todos os
pisos. e não parava de sair pela porta dos fundos com o
lixo. ele devia estar com um ano de lixo acumulado lá
dentro. toda vez que ela corria pelos fundos a porta de tela
batia – bam! bam! bam!, deve ter batido 70 vezes em uma
hora e meia. ela estava mostrando para ele.
meu quarto era contíguo ao deles. de noite eu escutava o cara comendo
ela. não havia muita ação. meio morto. só um corpo em
movimento. adivinha qual.
poucos dias depois a lésbica começou a dar ordens –
vindo da cozinha –
“ah não, garoto! de pé! de pé! você não pode ir pra cama a essa hora
do dia! não vou arrumar a sua cama duas vezes!”
e uma semana depois acabou. não voltei a escutar a voz dela.
ela estava de novo na casa dela nos fundos.
eu estava parado na minha varanda um dia pensando a respeito –
pobre coitada. por que é que ela não arranja uma namorada? não tenho preconceito, não
tenho nada contra nenhuma lésbica, não senhor! Safo por exemplo. eu não
tinha nada contra Safo
tampouco.
aí levantei o rosto e lá vinha ela pela
entrada da garagem, era tarde demais para fugir pra dentro
de casa. fiquei bem quieto, tentando ser parte da varanda.
ela se aproximou com seu short branco e o pescoço curvado como um abutre e
aí me viu e fez um som incrível:
“yawk!”
“bom dia”, eu disse.
“yawk!”, ela fez de novo.
caramba, pensei, ela acha que eu sou um pássaro. entrei às pressas na minha casa e
fechei a porta, espiei pelas
cortinas. ela estava lá fora respirando
forte. então ela começou a abanar os braços pra cima e pra baixo, fazendo
“yawk! yawk! yawk!”
ela pirou, eu
pensei.
então lentamente lentamente ela começou a subir pelo
ar.
ah não, pensei.
ela estava um metro acima da cerca viva,
abanando o ar – os seios quicando tristemente,
as pernas gigantes dando coices
procurando apoio no
ar. aí ela subiu, mais e
mais alto. ela estava acima dos prédios residenciais, subindo
pela névoa poluída de Los Angeles. então ela pairou sobre o Sunset Boulevard
bem alto acima do Banco Crocker-Citizens, e
então vi outro objeto que vinha voando do
sul. ele parecia ser só corpo com umas perninhas curtas
atrás. aí eles voaram um ao
encontro do outro. quando vi os dois se abraçando em pleno ar
eu me virei, entrei na cozinha e
baixei todas as
cortinas.
e esperei pelo fim do
mundo.
minha cabeça ressoava como um sino
e eu comecei a chorar.
– Alô?
– Oi, Joe. Como vai indo?
– Oh, lindo.
– Lindo, é?
– É.
– Vicki e eu acabamos de nos mudar pra nossa nova casa. Ainda não temos telefone. Mas posso lhe dar o endereço. Tem uma caneta à mão?
– Só um minuto.
Joe tomou o endereço.
– Não gostei daquele conto seu em Anjo Quente.
– Tudo bem – disse Joe.
– Não quero dizer que não gostei, quero dizer que não gostei em comparação com a maioria das outras coisas suas. A propósito, sabe onde anda Buddy Edwards? Griff Martin, que editava Histórias Quentes, está procurando ele. Achei que talvez você soubesse.
– Não sei onde ele está.
– Acho que talvez esteja no México.
– Pode ser.
– Bem, escuta, passo aí pra ver você em breve.
– Claro.
Joe desligou. Pôs dois ovos numa panela d’água, pôs a água do café para ferver e tomou um alka-seltzer. E voltou para a cama.
O telefone tornou a tocar. Ele se levantou e atendeu.
– Joe?
– Sim?
– Aqui é Eddie Greer.
– Ah, sim.
– Queremos que você faça um recital beneficente...
– Que é?
– Pro I.R.A.
– Escuta, Eddie, eu não me ligo em política nem religião, nem seja lá no que for. Realmente não sei o que está acontecendo por lá. Não tenho TV, não leio jornais... nada disso. Não sei quem está certo ou errado, se é que isso existe.
– A Inglaterra está errada, cara.
– Não posso fazer recital pro I.R.A., Eddie.
– Tudo bem então...
Os ovos estavam prontos. Ele se sentou, descascou-os, pôs pão na torradeira e diluiu o Sanka com água quente. Comeu os ovos e a torrada e tomou dois cafés. Depois voltou para a cama.
Já ia dormir quando o telefone tornou a tocar. Levantou-se e atendeu.
– Sr. Mayer?
– Sim?
– Eu me chamo Mike Haven, sou amigo de Stuart Irving. Nós publicamos juntos em Mula de Pedra, quando Mula de Pedra era editada em Salt Lake City.
– Sim?
– Eu cheguei de Montana e fico aqui uma semana. Estou no Hotel Sheraton na cidade. Gostaria de fazer uma visita e conversar com você.
– Hoje é um mau dia, Mike.
– Bem, talvez eu possa passar depois, esta semana.
– É, por que não liga depois?
– Sabe, Joe, eu escrevo como você, poesia e prosa. Quero levar alguns trabalhos meus e ler pra você. Você vai ficar surpreso. Meu material é realmente forte.
– Ah, é?
– Você vai ver.
Depois foi o carteiro. Uma carta. Joe leu-a:
Caro sr. Mayer:
Peguei seu endereço com Sylvia, a quem o senhor escrevia, para Paris, há muitos anos. Sylvia ainda está viva em San Francisco e ainda escreve seus poemas doidos, proféticos e angelicais. Estou morando em Los Angeles agora e adoraria ir visitar o senhor! Por favor, diga-me quando estaria bem para o senhor.
amor, Diana.
Ele despiu o roupão e vestiu-se. O telefone tornou a tocar. Ele foi até lá, olhou-o e não atendeu. Saiu, entrou no carro e dirigiu-se a Santa Anita. Dirigia devagar. Ligou o rádio e sintonizou uma música sinfônica. Não estava muito nublado. Desceu o Sunset, pegou o atalho favorito, subiu o morro em direção a Chinatown, passando pelo Anexo, pelo Little Joe, Chinatown, e pegou o trecho tranquilo ao lado dos pátios da ferrovia, olhando os vagões marrons lá embaixo. Se soubesse pintar, gostaria de pegar aquilo. Talvez os pintasse mesmo assim. Subiu a Broadway e pegou Huntington Drive para ir ao hipódromo. Comprou um sanduíche de carne em conserva e um café, abriu o programa das corridas e sentou-se. Parecia uma boa cartada.
Pegou Rosalina no primeiro a 10,80 dólares, Wife’s Objection no segundo a 9,20 e cravou-os na dupla diária por 48,40. Teve um ganho de 25 dólares em Rosalina e de cinco em Wife’s Objection, e assim faturou 73,20. Perdeu em Sweetott, ficou em segundo com Harbor Point, segundo com Pitch Out, segundo com Brannan, todas apostas na cabeça, e estava com um lucro de 48,20 quando teve um ganho de 20 dólares em Southern Cream, que o levou de volta a 73,20.
Não estava ruim no hipódromo. Só encontrou três conhecidos. Operários de fábrica. Negros. Dos velhos tempos.
A oitava corrida foi o problema. Cougar, que estava pagando 128, corria contra Unconscious, pagando 123. Joe não considerou os outros na corrida. Não conseguia decidir-se. Cougar estava 3 a 5, e Unconscious, 7 a 2. Estando com um ganho de 73,20, ele achou que podia se dar ao luxo de apostar no 3 a 5. Apostou 30 dólares. Cougar partiu mole, como se corresse numa vala. Quando chegou na metade da primeira volta, estava dezessete corpos atrás do cavalo da frente. Joe sabia que pegara um perdedor. No fim, seu 3 a 5 ficou cinco corpos atrás e a corrida acabou.
Ele pôs 10 e 10 em Barbizon Jr. e Lost at Sea no nono, perdeu e saiu com 23,20. Era mais fácil colher tomates. Entrou em seu velho carro e voltou devagar...
Quando entrava na banheira, a campainha da porta tocou. Ele se enxugou e enfiou a camisa e as calças. Era Max Billinghouse. Max tinha vinte e poucos anos, não tinha dentes, era ruivo. Trabalhava como faxineiro e sempre usava blue jeans e uma camiseta branca suja. Sentou-se numa cadeira e cruzou as pernas.
– Bem, Mayer, que é que há?
– Que quer dizer?
– Quero dizer: está sobrevivendo com sua literatura?
– No momento.
– Tem alguma novidade?
– Não desde que você esteve aqui na semana passada.
– Como foi seu recital de poesia?
– Foi tudo bem.
– A turma que vai a recital de poesia é bem falsa.
– A maioria das turmas é.
– Tem algum doce? – perguntou Max.
– Doce?
– É, eu tenho mania de doces. Tenho mania de doces.
– Não tenho nenhum doce.
Max levantou-se e foi até a cozinha. Voltou com um tomate e duas fatias de pão. Sentou-se.
– Nossa, você não tem nada pra comer por aqui.
– Vou ter de ir ao supermercado.
– Sabe – disse Max –, se eu tivesse de ler diante de uma multidão, na verdade insultava eles, ia ferir os sentimentos deles.
– Podia.
– Mas eu não sei escrever. Acho que vou andar por aí com um gravador. Às vezes converso comigo mesmo quando estou trabalhando. Depois posso escrever o que digo e fazer um conto.
Max era homem de hora e meia. Servia para uma hora e meia. Jamais ouvia, só falava. Após uma hora e meia, levantou-se.
– Bem, tenho de ir andando.
– Tudo bem, Max.
Max saiu. Sempre falava das mesmas coisas. Que insultara pessoas num ônibus. Que uma vez se encontrara com Charles Manson. Que um homem estava mais bem servido com uma prostituta que com uma mulher honesta. Tinha sexo na cabeça. Não precisava de roupas novas, de carro novo. Era um solitário. Não precisava das pessoas.
Joe foi à cozinha, pegou uma lata de atum e fez três sanduíches. Pegou a garrafa de uísque que vinha poupando e serviu uma boa dose com água. Ligou o rádio na estação de clássicos. “Danúbio Azul”. Desligou-o. Acabaram os sanduíches. A campainha tocou. Joe foi até a porta e abriu-a. Era Hymie. Hymie tinha um emprego mole em algum lugar de algum governo municipal perto de Los Angeles. Era poeta.
– Escuta – ele disse –, aquele livro que estava pensando, Antologia de poetas de Los Angeles, vamos esquecer.
– Tudo bem.
Hymie sentou-se.
– Precisamos de um novo título. Acho que eu tenho. Perdão aos fomentadores da guerra. Pense nisso.
– Acho que gosto – disse Joe.
– E podemos dizer: “Este livro é para Franco, Lee Harvey Oswald e Adolf Hitler”. Ora, eu sou judeu, logo isso exige alguma coragem. Que acha?
– Parece bom.
Hymie levantou-se e fez sua imitação de um judeu gordo típico dos velhos tempos, um judeu muito gordo. Deu uma cuspida e sentou-se. Era muito engraçado. Era o homem mais engraçado que Hymie conhecia. Servia por uma hora. Após uma hora, levantou-se e foi embora. Sempre falava das mesmas coisas. Que a maioria dos poetas era ruim. Que era trágico, tão trágico que tinha graça. Que se ia fazer?
Joe tomou outro bom uísque com água e foi para a máquina de escrever. Bateu duas linhas, e o telefone tocou. Era Dunning no hospital. Dunning bebia muita cerveja. Cumprira seus vinte anos no exército. O pai de Dunning tinha sido editor de uma revistinha famosa. Morrera em junho. A esposa de Dunning era ambiciosa. Pressionara-o para ser médico, muito. Ele conseguira ser quiropaxista. E trabalhava como enfermeiro tentando economizar oito ou dez mil dólares para uma máquina de raios x.
– Que tal eu aparecer pra tomar umas cervejas com você? – perguntou Dunning.
– Escuta, podemos adiar isso? – perguntou Joe.
– Que é que há? Está escrevendo?
– Mal comecei.
– Tudo bem, eu espero.
– Obrigado, Dunning.
Joe sentou-se à máquina de escrever. Não estava mal. Chegou ao meio da página, quando ouviu passos. Depois uma batida. Abriu a porta.
Eram dois rapazinhos. Um de barba negra, o outro barbeado.
O rapaz de barba disse:
– Vi você em seu último recital.
– Entre – disse Joe.
Entraram. Tinham seis garrafas de cerveja importada, casco verde.
– Vou pegar um abridor – disse Joe.
Ficaram ali sentados mamando a cerveja.
– Foi um bom recital – disse o rapaz de barba.
– Quem foi sua maior influência? – perguntou o sem barba.
– Jeffers. Poemas mais longos. Tamar. Garanhão Ruão. Por aí.
– Alguma coisa nova em literatura que lhe interesse?
– Não.
– Dizem que você está saindo da marginalidade, que faz parte do establishment . Que acha disso?
– Nada.
Houve outras perguntas do mesmo tipo. Os rapazes não aguentavam mais do que uma cerveja por cabeça. Joe cuidou das outras quatro. Eles partiram em 45 minutos.
Mas o sem barba disse, quando saíam:
– A gente volta.
Joe tornou a sentar-se à máquina de escrever com uma nova bebida. Não conseguia bater. Levantou-se e foi ao telefone.
Discou. E esperou. Ela estava em casa. Respondeu.
– Escuta – disse Joe –, me deixa sair daqui. Me deixa ir aí dar uma foda.
– Quer dizer que pretende passar a noite?
– É.
– De novo?
– É, de novo.
– Tudo bem.
Joe foi até o canto da varanda e desceu a rampa da garagem. Ela morava três ou quatro casas abaixo. Ele bateu. Lu deixou-o entrar.
Luzes apagadas. Ela estava só de calcinha e levou-o para a cama.
– Deus – ele gemeu.
– Que foi?
– Bem, é tudo inexplicável de certa forma, ou quase inexplicável.
– E só tirar a roupa e vir pra cama.
Joe fez isso. Deitou-se. A princípio não sabia se ia funcionar de novo. Tantas noites seguidas. Mas o corpo dela estava ali e era jovem. E os lábios abertos e concretos. Joe flutuava. Era bom estar no escuro. Ele malhou-a bem. Chegou a baixar lá embaixo e meter a língua na xoxota. Depois, quando montou, após quatro ou cinco estocadas, ouviu uma voz...
– Mayer... estou procurando um certo Joe Mayer... – Ouviu a voz do senhorio. O senhorio estava bêbado.
– Bem, se ele não está nesse apartamento de frente, verifique aquele de trás. Ele está num ou noutro.
Joe deu quatro ou cinco estocadas até começarem as batidas na porta. Ele escorregou para fora e, nu, foi à porta. Abriu uma janela lateral.
– Sim?
– Ei, Joe! Oi, que anda fazendo, Joe?
– Nada.
– Bem, que tal uma cervejinha, Joe?
– Não – disse Joe.
Bateu a janela lateral e voltou para a cama.
– Quem era? – ela perguntou.
– Não sei. Não reconheci o rosto.
– Me beija, Joe. Não fique aí deitado.
Ele beijou-a, enquanto a lua do sul da Califórnia atravessava as cortinas do sul da Califórnia. Era Joe Mayer. Escritor freelance.
Conseguiu.
– Numa fria
verde escada acima e eu tocava a Quinta do Beethoven
até que batessem nas paredes.
havia um grande balde no meio do quarto
cheio de garrafas de vinho e cerveja;
então, deve ter sido delirium tremens, pois certa tarde
ouvi um som parecido com uma campainha
exceto pelo fato de que a campainha zunia em vez de bater,
e então uma luz dourada apareceu no canto da peça
junto ao teto
a através do som e da luz
brilhou a face de uma mulher, maltratada mas bonita,
e ela me olhou lá de cima
e depois a face de um homem juntou-se à dela,
a luz se tornou mais forte o homem disse:
nós, os artistas, estamos orgulhosos de você!
então a mulher disse: o rapazinho está assustado,
e eu estava, e logo desapareceram.
levantei, me vesti, e fui para o bar
me perguntando quem eram os artistas e por que deveriam se
orgulhar de mim. havia algumas almas no bar
e descolei uns drinques de graça, pus fogo nas minhas calças com as
cinzas do meu cachimbo de vime, quebrei um copo deliberadamente,
não fui expulso, conheci um homem que dizia ser William
Saroyan, e bebemos juntos até uma mulher entrar e
puxá-lo pela orelha e então pensei, não, esse não pode ser
William, e outro cara entrou e disse: cara, você fala
grosso, bem, escute, acabei de sair por roubo e
agressão, então não se meta comigo! fomos para fora do
bar, era um cara legal, sabia como brigar, e aquela luta seguiu
bastante parelha, então eles pararam e nós voltamos para
dentro e bebemos por mais um par de horas. Voltei para
casa, coloquei a Quinta de Beethoven e
quando eles batem nas paredes eu bato
de volta.
sigo pensando em quando eu era jovem, naquela época, em como eu era,
e mal posso acreditar nisso tudo, mas não importa.
espero que os artistas continuem orgulhosos de mim
mas eles jamais voltaram a
aparecer.
a guerra irrompeu e quando percebi
estava em Nova Orleans
entrando bêbado em um bar
após ter caído na lama numa noite chuvosa.
Vi um homem esfaquear outro e não me importei e
pus um níquel no jukebox.
era um jeito de começar. San
Francisco e Nova Orleans eram duas das minhas
cidades favoritas.
verde escada acima e eu toquei a 5ª do Beethoven
até que batessem nas paredes.
havia um balde enorme no meio do quarto
cheio de garrafas de cerveja e de vinho;
então, pode ter sido o delirium tremens, certa tarde
ouvi o som de algo como um sino
só que o sino estava zunindo ao invés de bater,
e logo uma luz dourada apareceu no canto do quarto
bem perto do teto
e através do som e da luz
brilhou a face de uma mulher, envelhecida mas bonita,
e ela me olhou voltando os olhos para baixo
e então uma face masculina apareceu ao seu lado,
a luz se tornou mais forte e o homem disse:
nós, os artistas, estamos orgulhosos de você!
então a mulher disse: o pobrezinho está assustado,
e eu estava, e então eles desapareceram.
levantei, me vesti, e fui até o bar
me perguntando quem eram os artistas e por que razão estariam
orgulhosos de mim. havia umas vivas almas no bar
e consegui algumas bebidas de graça, coloquei fogo nas calças graças
às brasas do meu cachimbo de sabugo, quebrei um copo deliberadamente,
não me sentia incomodado, conheci um homem que dizia ser William
Saroyan, e bebemos até que uma mulher entrou e
puxou-o para fora pela orelha e pensei, não, esse não pode ser o
William, e um outro cara apareceu e disse: velho, você fala
grosso, bem, escute, há pouco saí por assalto e
agressão, então não se meta comigo! fomos para fora do
bar, ele era um bom garoto, sabia como usar os punhos, e aquilo seguiu
bastante parelho, até que eles nos separaram e voltamos
a entrar e bebemos por mais um par de horas. voltei
para o meu quarto, coloquei a 5a de Beethoven e
quando bateram nas paredes eu bati de
volta.
continuo pensando em mim mesmo jovem, lá, o jeito que eu era,
e mal posso acreditar nisso mas não importa.
espero que os artistas sigam orgulhosos de mim
mas eles nunca mais
retornaram.
a guerra atropelou tudo e quando me dei conta
estava em Nova Orleans
caminhando bêbado até um bar
depois de cair no meio da lama numa noite chuvosa.
vi um homem esfaquear outro e fui até uma juke box
colocar uma moeda.
aquilo era um começo. São
Francisco e Nova Orleans eram duas das minhas
cidades favoritas.
Marie enchia tanto o saco sobre sua ida às corridas que ele só ia duas ou três vezes por semana. Vendera sua empresa e se aposentara cedo do ramo da construção. Na verdade não havia muito mais coisas que ele pudesse fazer.
Os quatro cavalos pareciam bons a seis por um, mas ainda havia dezoito minutos para a chegada. Sentiu um puxão na manga do paletó.
– Perdão, senhor, mas eu perdi nas duas primeiras corridas. Vi o senhor trocando suas pules. O senhor parece exatamente um cara que sabe o que está fazendo. Quem prefere nessa próxima corrida?
Era uma ruiva, de uns 24 anos, quadris estreitos, seios surpreendentemente grandes, pernas compridas, um lindo narizinho arrebitado, boca de flor, usando um vestido azul-claro e sapatos brancos de saltos altos. Os olhos azuis dela olhavam-no de baixo para cima.
– Bem – sorriu-lhe Ted –, eu geralmente prefiro o vencedor.
– Estou acostumada a jogar em puros-sangues – disse a ruiva. – Esses páreos de quarto de milha são muito rápidos!
– É. A maioria é corrida em menos de dezoito segundos. A gente descobre muito rápido se acertou ou errou.
– Se minha mãe descobrisse que estou aqui perdendo meu dinheiro, ela me daria uma surra de cinto.
– Eu mesmo gostaria de lhe dar uma surra de cinto – disse Ted.
– Você não é desses, é? – ela perguntou.
– Brincadeira – disse Ted. – Vamos, vamos ao bar. Talvez a gente consiga escolher um vencedor pra você.
– Tudo bem, senhor...?
– Pode me chamar de Ted. E você, como se chama?
– Victoria.
Entraram no bar.
– Que vai tomar? – perguntou Ted.
– O que você tomar – disse Victoria.
Ele pediu dois Jack Daniels. De pé, ele virou o seu, e ela bebericou o dela, olhando direto em frente. Ted conferiu o traseiro dela: perfeito. Era melhor do que muita candidatazinha ao estrelato no cinema, e não parecia mimada.
– Agora – disse Ted, apontando seu programa – na próxima corrida o cavalo quatro aparece melhor, e está dando possibilidades de seis por um...
Victoria exalou um “Ooohhh...?” muito sexy. Curvou-se para olhar o programa dele, tocando-o com o braço. Depois ele sentiu a perna dela comprimir-se contra a sua.
– As pessoas não sabem avaliar uma corrida – ele disse. – Me mostre um cara que sabe avaliar uma corrida, que eu lhe mostro um cara que pode ganhar todo o dinheiro que possa levar.
Ela sorriu para ele.
– Eu queria ter o que você tem.
– Você tem muita coisa, boneca. Quer outra bebida?
– Oh, não, obrigada...
– Bem, escuta – disse Ted –, é melhor fazermos as apostas.
– Tudo bem, vou apostar dois dólares no vencedor. Qual é, o cavalo número quatro?
– É, boneca, é o quatro...
Fizeram suas apostas e saíram para assistir ao páreo. O quatro não largou bem, foi abalroado de ambos os lados, endireitou-se, ficou em quinto num campo de nove, mas aí começou a acelerar e chegou à linha cabeça a cabeça com o favorito de dois a um. Foto.
Porra, pensou Ted, eu tenho de ganhar essa. Por favor, me dê essa!
– Oh – disse Victoria –, estou tão excitada!
O placar anunciou o número. Quatro.
Victoria gritou e pulou de alegria.
– Nós ganhamos, nós ganhamos, nós GANHAMOS!
Agarrou Ted e ele sentiu o beijo no rosto.
– Vá com calma, boneca, o melhor cavalo venceu, só isso.
Esperaram o aviso oficial e aí o placar exibiu o pagamento. Quatorze dólares e sessenta.
– Quanto você apostou? – perguntou Victoria.
– Quarenta no vencedor – disse Ted.
– Quanto vai receber?
– Duzentos e noventa e dois. Vamos pegar.
Dirigiram-se para os guichês. Então Ted sentiu a mão de Victoria na sua. Ela o fez parar.
– Se abaixe – ela disse –, que eu quero dizer uma coisa em seu ouvido.
Ted abaixou-se, sentiu os frios lábios róseos dela em sua orelha.
– Você é um... mágico... Eu quero... foder com você...
Ele ficou ali parado sorrindo debilmente para ela.
– Deus do céu – disse.
– Que é que há? Está com medo?
– Não, não, não é isso.
– Que é que há então?
– É Marie... minha esposa... eu sou casado... e ela me controla no mínimo minuto. Sabe quando as corridas acabam e quando devo chegar.
Victoria deu uma risada.
– A gente sai agora! Vamos a um motel!
– Bem, claro – disse Ted...
Trocaram as pules e voltaram para o estacionamento.
– Vamos no meu carro. Eu trago você de volta quando a gente acabar – disse Victoria.
Foram ao carro dela, um Fiat azul 1982, combinando com o vestido. A placa dizia VICKY. Quando ela pôs a chave na porta, hesitou.
– Você não é mesmo um daqueles, é?
– Daqueles quais?
– Que batem com o cinto, um daqueles. Minha mãe teve uma experiência terrível uma vez...
– Relaxe – ele disse. – Eu sou inofensivo.
Encontraram um motel a pouco mais de dois quilômetros do hipódromo. O Lua Azul. Só que a Lua Azul estava pintada de verde. Victoria estacionou e saltaram, se registraram, deram-lhes o quarto 302. Tinham parado para pegar uma garrafa de Cutty Sark no caminho.
Ted rasgou a embalagem de celofane dos copos, acendeu um cigarro e serviu duas doses enquanto Victoria se despia. A calcinha e o sutiã eram cor-de-rosa, e o corpo cor-de-rosa e branco e lindo. Era espantoso como de vez em quando se criava uma mulher daquelas, quando todas as outras, a maioria das outras, não tinham nada, ou quase nada. Era de enlouquecer. Victoria era um sonho lindo, enlouquecedor.
Victoria estava nua. Aproximou-se e sentou-se na borda da cama junto a Ted. Cruzou as pernas. Tinha os seios firmes e parecia já estar com tesão. Ele realmente não acreditava em sua sorte. Aí ela deu uma risadinha.
– Que foi? – ele perguntou.
– Está pensando em sua mulher?
– Bem, não, estava pensando em outra coisa.
– Bem, devia pensar em sua mulher...
– Diabos – disse Ted –, foi você quem sugeriu a foda!
– Eu gostaria que você não usasse essa palavra...
– Está recuando?
– Bem, não. Escuta, tem um cigarro?
– Claro...
Ted pegou um, entregou a ela, acendeu-o e ela o manteve na boca.
– Você tem o corpo mais lindo que eu já vi – disse Ted.
– Eu não duvido – ela disse, sorrindo.
– Escuta, você está recuando dessa coisa? – ele perguntou.
– Claro que não – ela respondeu –, tire a roupa.
Ted começou a despir-se, sentindo-se gordo, velho e feio, mas também sortudo – tinha sido seu melhor dia nas corridas, em muitos aspectos. Dobrou suas roupas numa cadeira e sentou-se junto a Victoria.
Serviram mais um drinque para cada um.
– Sabe – ele disse –, você é um número de classe, mas eu também sou. Nós dois temos nossa própria maneira de mostrar isso. Eu faturei uma nota no ramo da construção, e ainda estou faturando nas corridas. Nem todo mundo tem esse instinto.
Victoria bebeu metade de seu Cutty Sark e sorriu para ele.
– Oh, você é meu grande Buda gordo!
Ted enxugou a sua bebida.
– Escuta, se você não quiser, a gente não faz. Esqueça.
– Me deixa ver o que é que Buda tem aí...
Victoria baixou o braço e enfiou a mão entre as pernas dele. Pegou-o, segurou-o.
– Oh, oh... estou sentindo uma coisa... – disse.
– Claro... E daí?
Então ela baixou a cabeça. Beijou-o a princípio. Depois ele sentiu que ela abria a boca, e a língua.
– Sua puta! – disse.
Victoria ergueu a cabeça e olhou-o.
– Por favor. Eu não gosto de palavrão.
– Tudo bem, Vicky, tudo bem. Nada de palavrão.
– Se meta entre os lençóis, Buda.
Ted se meteu e sentiu o corpo dela junto ao seu. A pele era fria, e a boca abriu-se e ele a beijou e enfiou a língua. Gostava daquilo assim, fresco, com o frescor da primavera, jovem, novo, bom. Que prazer do caralho. Ia lascar ela ao meio! Masturbou-a, ela demorou muito para gozar. Depois ele a sentiu abrir-se e enfiou o dedo. Pegara-a, a puta. Puxou o dedo e esfregou o clitóris. Você quer aquecimento, vai ter aquecimento!, pensou.
Sentiu os dentes dela enterrarem-se em seu lábio inferior, a dor foi terrível. Ted afastou-se, sentindo o gosto do sangue e a ferida no lábio. Ergueu-se pela metade e deu-lhe um tapa no rosto, depois com as costas da mão no outro lado. Encontrou-a lá embaixo, enfiou e estocou, pondo a boca de volta na dela. Prosseguiu em selvagem vingança, de vez em quando recuando a cabeça e olhando-a. Tentou segurar, se conter, e agora via aquela nuvem de cabelos cor de morango espalhados no travesseiro ao luar.
Ted gemia e suava como um ginasiano. Era aquilo. Nirvana. O lugar a se alcançar. Victoria continuava calada. Os gemidos de Ted foram diminuindo, e então, após um instante, ele rolou para o lado.
Ficou fitando a escuridão.
Esqueci de chupar os peitos dela, pensou.
Então ouviu a voz dela.
– Sabe de uma coisa? – ela perguntou.
– Que é?
– Você me lembra um daqueles cavalos de quarto de milha.
– Que quer dizer?
– Tudo acaba em dezoito segundos.
– A gente corre de novo, boneca – ele disse...
Ela foi ao banheiro. Ted limpou-se no lençol, o velho profissional. Victoria era uma coisa meio desagradável, de certa forma. Mas podia ser manobrada. Ele tinha alguma coisa. Quantos homens eram donos de sua própria casa e tinham 150 mil paus no banco na sua idade? Ele era um número de classe, e ela sabia disso muito bem.
Victoria saiu do banheiro ainda parecendo fresca, intocada, quase virginal. Ted acendeu o abajur de cabeceira. Sentou-se e serviu dois drinques. Ela sentou-se na beira da cama com sua bebida e ele desceu e sentou-se na beira da cama junto dela.
– Victoria – disse –, posso tornar tudo bom pra você.
– Acho que você tem lá seus meios, Buda.
– E vou ser um amante melhor.
– Claro.
– Escuta, devia ter me conhecido quando eu era jovem. Era durão, mas bom. Eu tinha aquilo. Ainda tenho.
Ela sorriu para ele.
– Ora, vamos, Buda, não é tão ruim assim. Você tem uma esposa, você tem um monte de coisas a seu favor.
– Menos uma coisa – ele disse, enxugando sua bebida e olhando-a. – Menos a única coisa que eu quero mesmo...
– Veja o seu lábio! Está sangrando!
Ted baixou o olhar para seu copo. Viu gotas de sangue na bebida e sentiu o sangue escorrendo pelo queixo. Limpou o queixo com as costas da mão.
– Vou ao banheiro lavar isso, boneca, já volto.
Entrou no banheiro, correu a porta do chuveiro e abriu a água, testando-a com a mão. Parecia mais ou menos no ponto e ele entrou, a água escorrendo dele. Via o sangue na água escorrendo para o ralo. Que gata selvagem. Só precisava de uma mão forte.
Marie era legal, era bondosa, na verdade meio chata. Perdera a intensidade da juventude. Não era culpa dela. Talvez ele pudesse arranjar um meio de continuar com Marie e ter Victoria por fora. Victoria renovava sua juventude. Precisava de uma porra de uma renovação. E de mais umas boas fodas como aquela. Claro, as mulheres eram todas loucas. Não entendiam que vencer não era uma experiência gloriosa, só necessária.
– Vamos com isso, Buda! – ouviu-a gritar. – Não me deixe aqui sozinha!
– Não demoro, boneca – ele gritou debaixo do chuveiro. Ensaboou-se bem, lavando tudo.
Depois saiu, enxugou-se, abriu a porta do banheiro e foi para o quarto.
O quarto de motel estava vazio. Ela se fora.
A distância entre os objetos comuns e entre os fatos era notável. De repente, ele viu as paredes, o tapete, a cama, as cortinas, a mesa de café, a penteadeira, o cinzeiro com os cigarros deles. A distância entre essas coisas era imensa. O então e o agora estavam anos-luz separados.
Num impulso, ele correu para o armário e abriu a porta. Nada além de cabides.
Então Ted percebeu que suas roupas haviam desaparecido. A roupa de baixo, a camisa, as calças, as chaves do carro e a carteira, seu dinheiro, seus sapatos, suas meias, tudo.
Em outro impulso, olhou embaixo da cama. Nada.
Então viu a garrafa de Cutty Sark, pela metade, sobre a penteadeira, e aproximou-se, pegou-a e serviu-se uma dose. E ao fazer isso viu duas palavras riscadas no espelho da penteadeira com batom cor-de-rosa: “ADEUS, BUDA!”
Ted tomou a bebida, depôs o copo e viu-se no espelho – muito gordo, muito velho. Não tinha ideia do que fazer em seguida.
Levou o Cutty Sark de volta para a cama, sentou-se pesadamente na beira do colchão onde ele e Victoria tinham-se sentado juntos. Ergueu a garrafa e sugou-a, enquanto as vívidas luzes de néon do boulevard entravam pelas persianas empoeiradas.
Ficou sentado, olhando para fora, sem se mover, vendo os carros passarem de um lado para outro.
– Numa fria
De noite em meu deitar
A imagem sua vem me atormentar.
Não sei oque fazer e nem oque pensar..
Pois teus olhos não me deixam imaginar.
Oque fazeres agora Anjo da Noite, Guardião do Amor..
Se estes olhos você imagina te fitar..
Espera que a noite em vãos brandos venha te buscar..
Ou esperas que estes olhos contigo possa sonhar?
Não saberes diferenciar..
A beleza do Ser com a de Amar?
Como queres então viver entre os mortais que aqui esta..
Se possuis a plenitude do sonhar?
Minutos de silêncio irei ficar, pois respostas não posso te dar..
Viver é a solucão;
Ir sempre atrás dos sonhos alheios e tentar deles participar..
Seres feliz pelos outros;
Não pensares em ti;
Pois como já disse em forte explendor da alma..
Que humano não seres;
Seres apenas O Guardião do Amor...
e veja bem, eles escrevem,
você é um bocó para o estado, para a igreja,
você está num sonho do ego,
leia sua história, estude o sistema monetário,
perceba que a luta racial data de 23.000 anos.
bem, em me lembro de 20 anos atrás, sentado com um velho alfaiate judeu,
seu nariz sob a lâmpada como um canhão apontado para o inimigo; e
havia um farmacêutico italiano que vivia num apartamento caro
na melhor parte da cidade; planejávamos derrubar
uma dinastia cambaleante, o alfaiate cosendo botões numa roupa,
o italiano enfiando seu charuto em meu olho, me inflamando,
eu mesmo uma dinastia cambaleante, sempre o mais empedrado que eu podia,
cheio de leituras, famélico, deprimido, mas de fato
um bom e jovem rabo teria resolvido todo o meu rancor,
mas eu não sabia disso; eu ouvia meu italiano e meu judeu
e eu avançava por ruelas escuras fumando cigarros filados
e assistindo o fundo das casas se tomar de chamas,
mas em algum lugar nós erramos: não éramos homens o suficiente,
nem grandes nem pequenos o suficiente,
ou quem sabe estivéssemos apenas a fim de papo ou entediados, então
a anarquia fracassou,
e o judeu morreu e o italiano se irritou porque fiquei
com sua
mulher quando ele foi para a farmácia; ele não cuidava de proteger seu
próprio governo de ser derrubado, e ela o derrubou facilmente, e
eu tive alguma culpa: as crianças dormiam no quarto ao lado;
mas depois disso eu ganhei $200 num jogo fodido e peguei um ônibus
para Nova Orleans e fiquei numa esquina escutando a música que vinha dos bares
e então eu entrei nos bares,
e fiquei ali pensando sobre o judeu morto,
como tudo o que ele sempre fizera fora falar e pregar botões,
e como ele desistiu mesmo sendo o mais forte de todos nós –
ele desistiu porque sua bexiga não seria capaz de aguentar,
e talvez isso tenha salvado Wall Street e Manhattan
e a Igreja e Central Park West e Roma e a
Margem Esquerda, mas a mulher do farmacêutico, ela era legal,
estava cansada de bombas debaixo do travesseiro e de avacalhar o Papa,
e ela tinha uma bela figura, pernas realmente decentes,
mas creio que ela sentisse o mesmo que eu: que a fraqueza não estava no Governo
mas no Homem, cada qual a seu tempo, que os homens nunca seriam tão fortes quanto
suas ideias
e que as ideias eram governos tornados homens;
e então tudo começou no sofá com um martíni derramado
e terminou no quarto: desejo, revolução,
a falta de sentido acabou, e as sombras se agitaram ao vento,
se agitaram como sabres, troaram como canhões,
e 30 cachorros, 20 homens em 20 cavalos perseguiam uma raposa
através dos campos debaixo do sol,
e eu saí da cama e bocejei e cocei minha barriga
e soube que em breve muito em breve eu teria de me
empedrar mais uma vez.
cobras de gabardine passando através
de paredes, sons
interrompidos por batidas de carros de bêbados em
carros de dez anos de idade
você sabe que sujou de novo e depois
de novo
é nessas meias-noites brilhantes
em meio à luta contra mariposas e minúsculos
mosquitos,
sua mulher atrás de você
se retorcendo nos cobertores
pensando que você não a ama mais;
não é verdade, claro,
mas as paredes são familiares e
já gostei de paredes
já louvei paredes:
me dá uma parede que eu te dou um caminho –
isso é tudo o que pedi em
troca. mas acho que eu queria dizer:
eu te dou o meu
caminho.
é muito difícil escrever um
soneto enquanto você dorme num albergue noturno com
55 homens roncando
em 55 camas todas elas apontadas na mesma direção.
vou contar o que eu pensava:
esses homens perderam tanto a chance quanto a
imaginação.
dá pra descobrir tanto sobre os homens pelo
modo como eles roncam quanto pelo modo como eles
andam, mas por outro lado
nunca fui grande coisa nos sonetos.
mas outrora eu achava que encontraria todos os grandes homens na
rua da amargura,
outrora eu achava que encontraria grandes homens por lá
homens fortes que haviam descartado a sociedade,
em vez disso encontrei homens que a sociedade havia
consumido.
eles eram embotados
ineptos e
ainda
ambiciosos.
os chefes me pareceram mais
interessantes e mais vivos dos que os
escravos.
e isso não era muito romântico. costumamos gostar mais de coisas
românticas.
55 camas apontadas na mesma
direção e
eu não conseguia dormir
minhas costas doíam
e havia uma sensação invariável na minha
testa como um pedaço de
chapa de metal.
realmente não era muito terrível mas de certo modo
era muito impossível.
e eu pensei,
todos esses corpos e todos esses dedos nos pés e todas
essas unhas e todos esses pelos nos
cus e todo esse fedor
imaculada e aceita malhação das
coisas,
não podemos fazer algo a respeito?
sem chance, veio a resposta, eles não
querem.
então, olhando tudo em volta
todas aquelas 55 camas apontadas na mesma
direção
eu pensei,
todos esses homens foram bebês um dia
todos esses homens foram fofinhos e
rosados (com exceção dos pretos e dos amarelos
e dos vermelhos e dos outros).
eles choravam e sentiam,
tinham um caminho.
agora viraram
sofisticados e
fleumáticos
indesejados.
eu
saí.
eu me meti entre 4 paredes
sozinho.
eu me dei uma brilhante
meia-noite. outras meias-noites brilhantes
chegaram. não era tão
difícil.
mas se eles tivessem estado lá:
(aqueles homens) eu teria ficado lá com
eles.
se isso puder poupar você dos mesmos anos de erro
permita-me:
o segredo está nas paredes
ouvir um pequeno rádio
enrolar cigarros
beber
café
cerveja
água
suco de uva
uma lâmpada ardendo perto de você
tudo vem de arrasto –
os nomes
a história
um fluxo um fluxo
o olhar da psique de cima pra baixo
o efeito zunidor
a queima de macacos.
as brilhantes paredes da meia-noite:
não há como parar nem mesmo quando sua cabeça rola
embaixo da cama e o gato enterra
as fezes.
"Você não morre, Belo Corpo dentro do caixão, porque levo-lhe no esquecimento, como aquela menina do poema”, gretei à noite olhando para a vida! Mas o Corpo, o Belo Corpo dentro do caixão, o Corpo que parecia um anjo em oração, que como um instrumento musical continuava a tocar e que eu precisava tocá-lo, danadamente, se refazia em distância luzente e eu, com a força do gerúndio, aí matando-o – porque era preciso!
– Porque um Belo Corpo dentro de um caixão, meus Deus! Por que não em vida, como uma árvore na qual eu poderia subir e colher-lhes os frutos ou como um presente a tanto tempo sonhado e que tanto mereço, e que eu pudesse abri-lo em casa, sem medo e sem culpa e como fome e com sede, meu Deus, por quê? Mas, na " selva selvagem" em que me vira subir na árvore errada, apos isso " esta a reta minha via perdida"!
– Por que, meus Deus! ó Corpo, vir-te num caixão e tão vestido de vida! Por que não pude conhecer teus movimentos e perguntar teu já conhecido nome e ouvir tua já conhecida e aclamadora voz e assistir minha vida inteira em teus olhos de de dúvida e resposta! Desta vez sentindo amor eu chorei e pude, então, voltar para perto dele.
– Quem me dera o amanhã em teus Braços, Sentimento Cacheado e longe de mim! O resto foi uma "fotografia" de Itabira que eu compus dentro de mim. Apenas "uma fotografia", meu Deus, “mas como dói”!
Projeto de Vida- Depoimento de Um Poeta Sexagenário
Silas Corrêa Leite
(Da Série "Testamento de Uma Jornada")
A partir de uma tenra idade, muito precoce ainda, pais honestos, meio probo, vc começa a delinear um básico projeto de vida. De origem humilde, você cisma: -Estudar muito, ler bastante, trabalhar o mais cedo possível, ganhar a vida honestamente, com as mãos limpas. Simples assim.
Começa a trabalhar, sempre lendo, sendo honesto, pontual, produtivo, criativo, admirado e elogiado pelos patrões, tipo "esse menino vai longe". Quando tem a chance de estudar, se entrega loucamente aos estudos que acabou parando na quarta-série primária ainda guri, para trabalhar e ajudar a família carecida. E exemplos de dignidade, criatividade, honestidade em casa, no meio, no clã. Siga os bons.
Cedo sai de casa em busca de melhores condições de trabalho e estudos. Passa necessidade, passa fome, dorme em cortiço, pensão, dorme na rua. Sempre com um ideal, um sonho, esperanças limpas. Nunca é tarde para recomeçar, e a busca de ser feliz ainda que tardia.
Acaba se formando com dificuldades, acaba melhorando de empregos, sempre respeitado pelos colegas, subalternos, amigos, chefes, patrões, donos. Podem confiar em você. Seu sonho é vencer na vida com esforço e por merecimento. Em todo trampo, mesmo começando por baixo, logo acaba chefe por mérito. Começa a ganhar bem. Ajuda amigos, parentes, familiares. Seu projeto de vida é digno. Aprende a respeitar a dor do outro, estender a mão, ser solidário, também tem um projeto de vida ético-humanitário. Vai realizando seus sonhos...
Erra e acerta no amor. Romântico, poeta, sabe como é. Comete erros que pode dizer que cometeu, na caminhadura. Nada a esconder. Nenhum mal feito que revele você interesseiro, mau caráter, roubando a firma, o patrão, o meio, nem nunca chamado de caloteiro, de velhaco, nem nunca sofrendo despejo por falta de pagamento, nunca ostentando nada que não fizesse por merecer ter com sangue, suor e lágrimas. Projeto de vida. Simples assim.
Vez em quando, levando um tombo da vida, uma mentira, uma traição, uma punhalada pelas costas de parente ou amigo, mas sempre saindo da queda, do chão, limpo, se levantando com mais trabalho, resiliência, mais esforços, três trampos, acordando cedo, dormindo tarde, vendendo as férias para fazer caixa, fazendo cursos em finais de semana, nas férias. Projeto: evoluir, comprar uma casa para si, uma casa prometida para a mãe. Finalmente, entre lonjuras e escolhas, acerta e acha a mulher de sua vida, uma mão na roda, honesta, estudiosa, que trabalha muito também, que estuda até tarde, que dá um show em casa, gerencia sua cabeça, suas loucuras, dá estrutura aos seus planos... Luz atrai luz.
De vez em quando um novo curso, um novo diploma, um prêmio literário de renome, um convite pra palestra paga, uma entrevista no rádio, outra na tevê, em programa de alto nível cult, depois bola um livro pioneiro, de vanguarda e único no gênero que sai na chamada grande mídia, vira tese de mestrado, no doutorado, consta em centenas de sites, até em antologias literárias no exterior, ou mesmo na Biblioteca Nacional, e você com seu projeto de vida ganhando amplitude, destaque, reconhecimento. De três sonhos impossíveis quando criança berebenta com amarelão, realizou mais de dez sonhos impossíveis ao longo de seu projeto de vida. E como escritor elogiado entre outros por Elio Gaspari, Fernando Jorge, Lygia Fagundes Telles, Ignácio de Loyola Brandão, Álvaro Alves de faria, Moacir Scliar e Carlos Nejar,ambos da ABL-Academia Brasileira de Letras. Sentiu firmeza.
Encontra colegas de trabalho, patrões, alunos. Em todos o reconhecimento claro e cristalino. Seus textos em sites, até internacionais, em redes socais, em convites de formatura, em discursos, citações, em teses de TCCS, em posses de academias de letras regionais, em agendas, até fora do Brasil. O menino pobre, pondo suas dores pra fora, seu projeto de vida relido e contato, e novos prêmios, outros livros. E palestras, até em universidades federais, publicado em jornal da USP, onde foi bolsista pesquisador, seus textos em sites da Argentina, Itália, Chile, Estados Unidos, Espanha, Portugal, Angola,Moçambique, Rússia, no Pravda. Seu Estatuto de Poeta vertido para o inglês,francês, espanhol e russo. Seu projeto de vida tem o que dizer,o que valer, o que fazer sentido numa croniqueta, num poema, num livro. Você compra a casa para sua mãe. E a sua mãe descendente de negros com índios, vendo você na TV Cultura, duas vezes, na TV Band, em capa de jornais de sua cidade, em matérias e em revistas, e diz: -Ele sempre foi meio espeloteado. Você a honra. E conta que vc esteve para morrer seis vezes, quando criança. Que seu pai gastou vários terrenos para comprar remédios, tratar de vc, para que você sobrevivesse. Você venceu a morte... a miséria... a batalha da vida dura... Os padres dizem que vc seria um ótimo Frei. Os crentes dizem que vc seria um ótimo pastor. Os Médiuns dizem que vc é médium... Será o impossível? E vc na sua vidinha, fé com obras...
Um dia chutam: -Você deu sorte na vida. Não sabem um terço da missa. Um dia perguntam: -E se você fosse avisado por um medico, de que tem pouco tempo de vida,o que faria? Você responde: Eu olharia para trás, vendo que deixei o mundo de meu clã melhor do que recebi, olharia minha origem, minha trajetória, e diria, curto e grosso: -Pintei e bordei.
Cada coisa em sua casa, conquistada com esforço e dignidade. Nunca colocou nada em casa que fosse tirado, furtado, roubado, enganando alguém, a empresa, o amigo, o parente, a facilidade de extorsão, o enriquecimento ilícito com divida, peculato, prevaricação. E ainda socialista, sonhando um humanismo de resultados. Um amigo brinca: Se vc fosse de direita, mau caráter, mulherengo,interesseiro,olho grande,mão rápida, dinheirista, continuasse na área de advocacia, estaria podre de rico? E indagam: -Vc está rico? Vc responde na bucha: -Estou digno.
Quando não te chateiam: -Por que vc estuda tanto,lê tanto, feito um E.T.? Ninguém sabe a sua dor.O que você passou para continuar limpo e para ser o que é. Vc cai no Vestibular na faculdade de letras de sua cidade, da qual é autor de um hino. Cai, junto com Machado de Assis e Vinicius de Moraes no Vestibular da VUNESP.Seu projeto de vida cresceu com você. E vc não ostenta posses,nem nada que valore mais você,a não ser a sua própria história de vida, que já daria um romance de tristeza,de conquista e determinação...
Projeto de vida: vencer com a força de sua cabeça,seus braços; o que tem fazer por merecer e coadugnar com seus ganhos em três trampos e trabalhos de assessorias em escritas,orelhas e prefácios de livros,resenhas criticas, criticas literárias e sociais, escrevendo em mais de 800 links de sites. Você fez além de seu projeto de vida. Há um Deus. Quando chegar a sua hora de ir embora, cantar noutra fregesia do céu, numa Itararezinha Celeste, dirão: -Passou a vida lendo e escrevendo e estudando feito um louco. Alguma pessoa que sabe sua história,dirá: -Queria ter um filho como ele.Uma aluna dirá novamente: -Foi o melhor professor que eu tive,foi como um pai pra mim,e regia aulas como um professor de cursinho, cantava na sala, fazia historias em quadrinhos,teatro,letras de rock, entrevista,rodas vidas de aulas... tudo isso em Geografia,História, Filosofia e Ética e Cidadania, Didática...
Nesses erros e acertos,altos e baixos,idas e vindas, tempos de vacas magras e vacas gordas, perdas e saudades, rupturas e desastres, tragédias e lamentos,procura honrar a memória de seus ancestrais. Você foi forte,dizem. Você deu no couro,diz um parente. E você, passando dos sessenta, jogando limpo, segue o trajeto final de sua vida. Exigindo pelo pai,criticado,cobrado, sancionado,correspondeu, fez bonito. Criticado, foi estudar mais. Cada pé na bunda que levava, um novo curso,um novo livro,um novo diploma. Sempre assim. Primeiro dizem que você é pobre, é feio,filho de preto,de crente, de mãe lavadeira de roupas, faxineira, depois dizem que você é metido (escreve pro jornal com 16 anos), depois que é viado, depois que maconheiro,depois que é bêbado, depois que é comunista, petralha, depois você Vence sem fazer parte do sistema, sem entrar em nenhum esqueminha, sem corporativismo, sem jogos sujos, sem tramoias. E quem humilhou você num determinado tempo de pobrinho, humilhou sua mãe até,hoje compra seus livros no site da Livraria Cutura e pede autografo para você. Já pensou que demais?
A sua primeira professora, que, com a diferenciada pedagogia do afeto alfabetizou você e descobriu sua primeira poesiazinha certamente pueril, décadas depois,num lançamento de mais um livro seu, na Casa das Rosas lotada, na Avenida Paulista, em SP, depõe:--O Silas foi o aluno mais pobre que eu tive. O Silas foi ao aluno mais inteligente que tive.Você chora. Alguns presentes choram.Mais de dez anos depois, você encontra uma ex-aluna que abraça você chama você de pai.Você olha a mãe da aluna chorando por finalmente conhecer você,e diz:-Você ajudou a criar minha filha. Ela estudou oito anos com vc e vc encheu o coração dela de sonhos... e mudou a cabeça. O sr foi como um pai pra ela,que era filha de mãe solteira...
Com quase cinco mil amigos no facebook,muitos até do exterior, entre centenas de ex-alunos, e o surpreso marido de uma ex aluna na pg do facebook diz:-Minha esposa está aqui na sala, na frente dos filhos,chorando,por encontrar o senhor de novo,que diz que foi o melhor professor que ela teve. Esse reconhecimento vale mais que um holerite, vale uma vida, uma alma. Somos todos aprendizes?
Por essas e outras, vencedor com as mãos limpas, sem obter vantagem em nada, sem ludibriar a empresa em que trabalha, ou valer-se do cargo ou situação de meio para ter status, pose, posses, conquistas amorais ou ilegais,você segue seu final de vida, como que lhe couber. Não fiz feio.
Na longa estrada da vida, os amigos podem contar com você. Os parentes podem contar com você. Seu pai contava com você, pois precisou. Você nunca abandonou sua mãe, e ela com você sabia que podia sempre contar.
Todos nós temos uma história pra contar.
Qual é a sua, vai encarar?
Se forem fazer uma auditoria,confirmariam isso. E saberiam de processos que sofreu por corruptos em quem os outros votaram,você não, e vc ainda continua primário apesar de tudo, 47 anos escrevendo para o Jornal O Guarani de Itararé,onde tudo começou como uma escada,uma escola,uma estrada, um treino, um aprendizado básico.
Consciência limpa,sem remorso,várias perdas e tristezas,marcas no corpo e na alma, sem tatuagens mas com várias cicatrizes, e você segue sobrevivendo sem esperar muito da vida agora,afinal,estamos todos no mesmo roçado de trajeto e entornos, e, parafraseando Caetano Veloso, sabemos que uns vão, uns não, uns hão,uns cão, uns chão,e não existem outros...
-0-
Silas Corrêa Leite
E-mail:poesilas@terra.com.br
WWW.artistasdeitarare.blogspot.com/
Texto da Série "Daquilo Que Eu Sei e Vivi Plenamente"
Caminhando a passos lentos, voltando do trabalho muito mais tarde do que eu queria, senti a garganta arranhar, estava muito frio e eu parecia que adoeceria muito em breve. "Mais essa agora!" Pensei. Como se já não bastasse as pilhas de relatorios para revisar inadiavelmente, eu ficaria doente e dolorido. Meus resfriados sempre eram fortes e me deixam muito mal.
As ruas da minha cidade são muito escuras e eu ando sempre a pé. Meu dinheiro é curto e eu tenho que sustentar a mim e ao meu filho, o Felipe. Felipe tem só cinco anos e sente muito a falta da mãe. Minha querida e amada Julia, que Deus a tenha.
Chegando perto de casa eu sempre vejo a luzinha da Tv ligada da janela, já passam das nove e meia da noite e Felipe sabe que já devia estar dormindo. A babá só fica até as oito então ele aproveita pra fazer suas travessuras quando ela sai. Sempre que ele ouve o barulho do velho portão de metal rangir eu vejo a luzinha da TV apagar, e como num passe de magica, quando eu entro em casa ele deita na cama e finge estar dormindo.
Menino travesso,o meu, mas eu prefiro que seja assim, pelo menos não é uma criança triste.
Esta noite em especial eu cheguei e o Felipe não fingiu dormir, ao invez disso ele desligou a TV e me esperou na porta. Parecia chateado.
- Papai! Eu fiquei com medo.
Ele abraçou minhas pernas com força e pareceu choramingar.
Meu coração estava partido, o que tinha feito meu garotinho levado chorar?
Eu acariciei seus cabelos escuros e me pareceram suados e oleosos. Afastei-o devagar e com delicadeza e me agachei para nivelar a altura.
-Do que você teve medo filho? Aconteceu alguma coisa?
Ele esfregou os olhinhos molhados e avermelhados de sono. Seus olhos eram verdes, iguais os da Julia, lembrava muito a mãe.
-A Bárbara, foi embora muito cedo, eu não gosto de ficar sozinho aqui.
Eu fiquei confuso, Bárbara era a babá, sempre foi muito confiável, e ela sempre me avisava quando tinha de sair antes do horário, não me lembrava dela ter dito nada a mim hoje.
-Como assim filho? A Bárbara sempre sai ás oito, quando a lua começa a aparecer lembra? E minutinhos depois o papai chega, só hoje que eu me atrasei um pouquinho.
-Sim Papai! Mas hoje ela saiu quando ainda tinha sol, fiquei muito tempo sozinho, você não chegava nunca mais, achei que você tivesse ido embora.
Felipinho desabou a chorar, e aquilo deixou meu coração em frangalhos, ao mesmo tempo que me deixou enfurecido. Como a Bárbara pode fazer isso sem avisar, deixar meu pequeno sozinho sem mais nem menos.A que horas ela saiu?
-Filho, calma, você já tomou banho?
-Não. Ela saiu sem me dar banho.
Ela sempre da banho no Felipe por volta das seis, antes de ele fazer a lição, jantar e ir pra cama, se ela saiu sem dar banho nele, significava que ela havia saído no meio da tarde. Eu fiquei extremamente zangado. Respirei fundo, não podia transparecer minha fúria a uma criança.
-Vamos para o banheiro, papai vai te dar banho e aí a gente vai dormir, ta bom?
- Ta bom, mas eu posso dormir com você hoje pai? Só hoje!
Tinha um nó na minha garganta. Engoli meu choro.
-Pode sim meu anjo.
Dei um banho no Felipe, ele estava bem sujinho, talvez de tanto brincar, ele pareceu mais alegre naquela hora, fazia muito tempo que eu não dava banho nele e ele gargalhava fazendo espuma pra todo lado. Coloquei ele na cama e acho que não demorou nem cinco minutos para que ele pegasse no sono, o pobrezinho parecia exausto.
Deitei na cama ao lado dele, mas não podia dormir, não sem uma explicação, Levantei e sai do quarto silenciosamente, encostei a porta.
Fui até a cozinha e peguei meu celular. Liguei pra Bárbara. Ela atendeu ao terceiro toque.
-Alô.
-Alô, Bárbara, aqui é o Gregório.
-Ah, seu Gregório, oi.
-Bárbara, o Felipe me disse que você saiu mais cedo hoje, o que foi isso? Aconteceu alguma coisa? Não me lembro de você ter dito nada.
-Não. É que na verdade eu não vou mais.
-Como assim não vem mais? E o nosso contrato? O que aconteceu?
-Eu não posso é que .... Não consigo, não da.
- Como assim? Por que não?
-Essas pessoas estranhas paradas aí na frente da casa o dia todo, é perturbador, eu não posso com isso, to muito apavorada e .... Não vou, não mesmo.
Eu não conseguia processar o que ela estava falando, não estava entendendo bulhufas.
- Que pessoas, menina? Não tem ninguem aqui, do que você ta falando?
- Desculpa, seu Gregório, me desculpa mesmo, manda o Beijo pro Felipinho, fala que eu adoro ele tá?
- O que? Não, espera, como assim?
Ela desligou.
Que porra Bárbara!
Joguei o celular no chão. Estava desamparado. E agora o que eu iria fazer? Ela esteve cuidando do Felipinho por dois anos, como eu iria achar uma substituta tão em cima da hora?
Sentei na cadeira e dei uma respirada. Pequei meu notebook e mandei um e-mail pro meu chefe, não poderia ir trabalhar no dia seguinte, ficaria cuidando do meu filho.
As palavras dela não me saiam da cabeça. De que pessoas ela estava falando?
Levantei e fui até a janela da cozinha, abri só uma pequena fenda da cortina, do outro lado da rua quatro figuras encapuzadas estavam paradas olhando pra casa, quando me perceberam espiar, acenaram pra mim.
Acordei meio suado, parecia já ser tarde, só me lembrava de ter ido me deitar ao lado do meu filho, eu estava apavorado e me perguntando quem seriam aquelas pessoas estranhas em frente à minha casa. Esfreguei os olhos tentando despertar, rolei para o lado e a cama meio bagunçada estava vazia. O Felipe não estava ali.
Levantei de supetão, estava tremendo, não sei se de frio ou de nervoso. Talvez fosse os dois. Procurei no banheiro, nada. Chamei meu filho e não houve resposta.
Estava atordoado, meu deus, meu filho. Fui correndo até a varanda dos fundos e vi o Bolinha, nosso cachorro comendo um pedaço enorme de carne. Estranhei aquilo, eu não havia dado nada a ele, tinha acabado de acordar. Não dei muita importância, precisava achar meu filho.
Corri para a sala, estava vazia, da forma que estava na noite anterior. Estava ofegante, parecia que eu ia desmaiar quando ouvi um barulho de talher na cozinha.
Corri até lá desesperado, entrei pela porta escorregando no piso por causa das meias, e vi meu filho, sentado à mesa, que estava farta, cheia de frutas e doces caseiros. Foi um alivio enorme, tão grande que minhas pernas amoleceram, soltei todo o ar dos pulmões.
-Filho! Não ouviu o papai te chamar?
Ele com toda a sua tranquilidade de criança, balançando as perninhas na cadeira terminou de mastigar uma colherada de cereal com fruta.
-Não ouvi papai, desculpe.
Eu não sabia o que dizer, estava ficando paranoico, dei um beijo na testa dele e fui pegar uma xícara de café, estava aliviado. Enchi uma xícara bem cheia de café e me escorei no balcão, fui dar um gole e me virei para mesa e só então me dei conta. Quem havia preparado aquilo tudo?
Meus olhos arregalaram, meu coração palpitou, me senti tremer novamente, coloquei de vagar a xícara em cima do bancão e vagarosamente me aproximei do Felipe, meu corpo em choque tentando entender, olhei para ele e perguntei pausadamente, engolindo em seco.
-Felipe.
-hum?
-Quem preparou isso tudo pra você?
Ele me olhou confuso.
-Você?
Eu esfreguei a mão na testa, não estava conseguindo conter meu nervosismo.
-Não filho, o pai tava dormindo.
Ele fez uma expressão pensativa, entendo que pra ele deveria estar ainda mais difícil de compreender.
-humm, a Bárbara?
Ele estava tentando adivinhar.
-Não querido, a Bárbara não veio hoje. Você viu alguém aqui hoje cedo? Quero dizer, fazendo alguma coisa?
-Não. Já tava aqui. Ah! Você deixou a porta aberta ontem pai. tava tudo frio aqui.
Eu senti tontura, parecia que eu ia enfartar. "não eu não deixei". Pensei. Me apoiei na mesa para me manter de pé.
-Sim, claro, me esqueci, Obrigado.
Fui até a porta da frente, andando meio duro, parecia um robô inexpressivo, em choque. Olhei para fora com medo do que eu veria, mas para minha surpresa não havia nada estranho, aquelas pessoas da noite passada não estavam mais lá, olhei para a rua cima a baixo, procurando nem eu sei o que, e não vi absolutamente nada fora do normal. Quando já estava quase fechando a porta vi no chão um papel meio amassado, resolvi desamassar para ver o que tinha ali, e para meu espanto, desenhado à lápis havia um símbolo estranho, um pentágono com uma estrela de seis pontas no meio, e quatro assustadores olhos desenhados no centro da estrela, havia também outro pedaço de papel colado no canto da folha com o carimbo de um ponto de interrogação.
O que essas aberrações estavam querendo me dizer? Eu estava surtando, guardei o papel no bolso do pijama, dei mais uma olhada para fora e fechei a porta. Tranquei.
Coloquei um agasalho no Felipe e me aprontei para pegar o ônibus rumo a biblioteca municipal, eu vou scannear essa porcaria e fazer uma busca na internet para ver se eu acho alguma coisa que faça sentido, se eu tiver sorte pode ser que seja alguma piada de mal gosto que se tornou viral.
Estávamos aguardando no ponto quando eu vejo de longe um golzinho velho vermelho se aproximando e parando bem perto de nós, a janela do carro se abriu devagar e fazendo um rangido estranho.
-Falaa Greg!
Era o Barba, meu amigo do trabalho, o apelido dele é esse por causa da barba comprida que ele mantem e cuida igual cabelo de mulher. A maioria do pessoal até já esqueceu o nome dele de verdade, eu mesmo que o conheço desde que entramos juntos na empresa me esqueço as vezes, O nome dele é Jurandir, então Barba, pega mais fácil.
-Eae Barba!-Respondi.
Ele olhou para o Felipe, que estava distraído.
-Oi Felipinho, como você ta campeão?
O Felipe adora o Barba, ao perceber que era ele ficou todo agitado.
-Oi Tio Barba! Eu cresci um tanto assim - Ele fez um sinal exagerado de tamanho com os braços.-
-Tudo isso rapaz? desse jeito vai bater a cabeça nas nuvens eim.
-Uau! Eu acho que eu vou sim, dai eu vou comer um pedaço delas, porque elas são de algodão doce, só que branco.
Levei a mão na testa, que imaginação era aquela, rimos muito.
-Mas eai Senhor Gregório, pra onde você ta indo? Fiquei sabendo do que a Barbara fez, ela não é disso cara, que foda.
-Eu to indo na biblioteca agora. Pois é cara, sacanagem, acontece que ...
-Não, não, me conta no caminho, vou dar uma carona pra vocês entra aí.
Ele jogou umas tralhas pro canto do banco de trás e eu acomodei o Felipe no assento. No caminho até a biblioteca contei tudo o que tinha acontecido pro Barba, ele não falou nada até eu terminar, só balançava a cabeça.
-Uff. - ele soltou o ar como se fosse algo pesado.- Mano, que porra de história bizarra que tu acabou de me contar. Verídico mesmo?
-É claro que é caramba! Da onde que eu ia inventar um troço desse? Você me conhece, sou quadradão demais pra isso de inventar coisa.
-Mas assim, os caras, deixaram o desenho e PUFF desapareceram no ar?
-O que? Não! -Eu estava frustrado, ela não estava me levando a sério-. Eles só deixaram lá e foram embora, seja lá pra onde gente estranha mora.
-Eu vou te ajudar a resolver essa fita aí.
-Não precisa, deve ser bobeira.
-E daí se for bobeira? Agora eu quero saber, sou doido nesse negócio de teoria da conspiração, meu sonho investigar essas paradas.
-Cara, não é teoria da conspiração.
-Não corta o meu barato, falou? Pra mim é sim, esses negócios existem em toda parte irmão, ou você acha que o homem foi mesmo pra lua? Não se iluda!
-Ta bom. -Ri-. Mas eai, porque você não foi trabalhar hoje?
-Peguei atestado, doido.
-Você ta doente?
-To, doente daquele monte de relatório, deus me livre.
-Não acredito, O Marcelo vai ter que fazer tudo sozinho?
-Vai. - Ele me deu um olhar maléfico e demos uma gargalhada juntos.- Aquele mala vive puxando o saco do Afonso, ele que se vire, não é o senhor prestativo, senso de dono da empresa? Se vi-re.
-Bem feito.
Chegamos em nosso destino, eu já mais descontraído por causa da conversa com o Barba. A biblioteca municipal é um lugar enorme, deve ter sido construído lá por mil oitocentos e pouco, porque tem um aspecto bem antigo. Estacionamos o carro e subimos a longa escadaria até a porta. Chegando lá me virei pro meu filho.
-Filho, o papai vi ter que procurar umas coisas e pode ser que demore um pouquinho, lá dentro tem uma sala de joguinhos e uma tia bem simpática que vai cuidar de você, você promete que vai se comportar?
Ele balançou a cabeça em sinal de sim e saiu correndo para a entrada da sala de jogos.
Me aproximei da moça da recepção. Era uma mulher bonita, cerca de 30 anos, morena.
-Quanto tá a hora da salinha? - Perguntei pra ela-.
-São 20 reais, senhor.
Meu bolso doeu, aqueles homens misteriosos estavam me custando os olhos da cara.
-Me ve 1 hora então, por favor.
-Nome?
-Gregório Aparecido Boulevard.
-Nome da criança?
-Felipe de Alcântara Boulevard.
-Vamos anotar o telefone do senhor para contato.
Ela retirou uma fitinha com o nome do meu filho, amarrou no pulso dele e girou a catraca, Felipe saiu correndo feito um doido e sumiu no meio das crianças e dos brinquedos.
Não pude conter minha preocupação, não gostava de deixa-lo sozinho assim, mas desta vez foi preciso. Parece que transpareci demais, o Barba percebeu.
-Relaxa, a recepcionista bonitona vai cuidar dele.
Eu ri.
-Deixa só a Cristina ouvir isso.
-Deus o livre, ela arranca meu couro.
Adentramos a imensa biblioteca e fomos confiantes rumo a nossa caçada ao desconhecido.
Digitalizei o pedaço de papel e fiz uma busca rápida na internet. Nada.
Olhei para o Barba que assim como eu se sentiu frustrado. Resolvi fazer uma busca em livros de papel. Imprimi uma cópia do símbolo para o barba e pedi para ele seguir pelo lado esquerdo da biblioteca e procurar por livros de simbologia ou qualquer coisa que remetesse ainda que vagamente aquilo. Eu segui pelo lado direito.
Voltamos minutos depois, ambos com os braços cheios de livros pesados, colocamos sobre a bancada.
Depois de quase uma hora folheando páginas e mais páginas e sem sucesso algum, me senti exausto, estava quase na hora do Felipe sair da salinha de jogos e eu decidi fazer uma última busca desesperada. Sai entremeio as imensas prateleiras lendo os títulos nas bordas dos livros o mais rápido quanto podia, quando um deles em especial chamou minha atenção, era um livro velho de capa de couro cujo título era "Os lugares mais misteriosos do Brasil e suas histórias".
Me aproximei dele, e retirei da prateleira pela borda, analisei a capa em busca de algo que indicasse se aquilo tinha alguma relação ainda que mínima com meu símbolo misterioso, como não encontrei nada concreto olhei novamente para prateleira na intenção de colocá-lo no lugar, mas o que vi, me fez tremer os ossos. Do outro lado, no espaço vazio que o livro deixara havia um homem parado, cujo o olho estava posicionado perfeitamente na brecha, um homem de pele escura e olhos verdes como folha.
Eu travei, não sabia mais falar, gritar nem me mover, com muito custo consegui chamar o Barba que estava apenas a alguns passos de mim.
Ele parou ao meu lado confuso e olhou para prateleira, ao perceber aquele homem ali, ele entendeu o motivo do meu pavor. Barba sempre foi mais destemido que eu, e resolveu enfrentar a figura que viamos.
-Ei! Ei cara, o que você ta querendo, meu irmão?
O homem moveu-se saiu do nosso campo de visão, mas ouvimos sua voz grave e calma quando ele disse do outro lado:
-Aquele que com aplicação procura, sempre acha.
Barba puxou meu braço, me tirando do meu estado de choque.
-Vamos Greg! Vamos caramba. Vamos pegar esse cara.
Caminhamos a passos rápidos até o fim do corredor para dar a volta e nos encontrarmos com nosso colega misterioso, mas quando dobramos a esquina não encontramos nada incomum. Do outro lado só havia um grupo de estudantes de cerca de vinte anos sentados em volta de uma grande mesa.
Barba se aproximou de um deles e questionou:
-Desculpa interromper, pessoal, mas vocês viram um cara grandão, pele escura, olhos verdes por aqui?
O garoto olhou para os colegas como quem refazia a pergunta a todos e como ninguém se manifestou, respondeu:
-Foi mal, não prestamos atenção não.
Barba deu dois tapinhas no ombro do rapaz como quem diz um obrigado silencioso.
Nos afastamos andando lentamente, confusos e decepcionados. Peguei o Felipe na saída da salinha e só então me dei conta que ainda estava com o livro na mão. Dei meia volta, na intenção de retornar à prateleira para devolve-lo quando ouvi um grito e um alarme soou. No alto falante um rapaz repetia freneticamente. "incêndio na sessão 7, incêndio na sessão 7. Repito. Isso não é um teste, incêndio na sessão 7. Todos os leitores e funcionários favor dirijam-se para a saída mais próxima. Repito(...)"
Coloquei o livro dentro do meu casaco, pequei meu filho no colo e fomos até a saída principal. Atrás de nós um caos de pessoas saindo apressadas e desnorteadas.
Em silencio andamos até o estacionamento e entramos no carro.
Barba suspirou forte, e soltou um palavrão em tom animado e incrédulo.
-Que merda foi essa meu amigo? Caraaaaalho, que isso? Mano, sessão sete não era a que a gente estava? Caraaaalho, isso foi insano.
Eu estava com o olhar fixo a minha frente, era muito para processar, estava nervoso.
-Barba, e-eu roubei um livro da biblioteca municipal!
-O que
-E-eu nunca roubei nada na vida, nem bala, uma vez a moça me deu um real a mais no supermercado e eu devolvi. Eu roubei um livro da caralha da biblioteca municipal!
-Você ta fumado Gregório? Me atualiza aí que eu não to entendendo porcaria nenhuma do que você ta falando.
Abri o casaco, retirei o livro de dentro dele e apontei para o Barba. Estava eufórico.
O Barba olhou pra ele, processou por alguns segundos. Soltou uma gargalhada e ligou o carro.
-Ora, ora, parece que temos um grande ladrão entre nós. Próxima parada, Banco Central.
-Cala sua boca!- Ri.
O transito naquela área estava péssimo por conta do fuzuê do incêndio. Caminhões de bombeiro pra todo lado, curiosos dirigindo devagar e policiais isolando a área. Pedi pro barba ligar o rádio do carro pra gente saber o que os repórteres estavam falando sobre o acontecido.
Em várias estações de rádio, ouvimos notícias de que o incêndio fora criminoso, estavam analisando as câmeras de segurança para identificar o culpado. Chamaram o ato de terrorismo.
Naquele momento estávamos tensos. Aquilo tinha tomado proporções muito maiores do que jamais pudemos imaginar. Não eram apenas caras estranhos querendo fazer uma pegadinha de mal gosto, era algo muito sério, e o pior de tudo é que eu estava envolvido.
-Mano. -Eu disse tentando não parecer nervoso-. O que eu vou fazer agora?
Barba me olhou por uns instantes.
-Você? Você nada. NÓS vamos dar um jeito nesses caras. Vamos na polícia, talvez eles nos ajudem em algo.
Me exaltei.
-Policia? Você ta locão? Eu não posso ir na polícia! E-eu, eu roubei a merda de um livro!
-Ta bom, ta bom! Calma! Vamos resolver nós dois então. Eu e você. Sem polícia.
-Melhor assim.- Esfreguei as mãos no rosto tentando aliviar a tensão e pensar lucidamente-. Mas o que nós dois contadores de uma empresa furreca podemos fazer? Estamos fu...- Lembrei que meu filho de 5 anos de idade estava no banco de trás ouvindo todos aqueles palavrões. Me senti um péssimo pai.- Estamos lascados!
Barba me deixou na porta de casa, tudo parecia estranho ali, segurando a mãozinha gelada do meu filho tudo que eu conseguia sentir era medo. Eu havia passado o dia todo correndo atrás de mistérios e me esqueci completamente que, apesar das minhas horríveis aventuras eu ainda era um pobretão que por acaso trabalharia na manhã seguinte e não tinha nenhuma babá.
Barba já estava saindo quando pedi para que esperasse um pouco e abaixasse os vidros. Precisava fazer um pedido a ele:
-Mano, tem como você me arrumar um desses seus atestados aí? Ainda to sem babá cara.
Barba fez uma expressão malandra.
-É claro que eu consigo, Brother! Peguei um de 7 dias pra mim. Te arranjo um igual, até você acertar essas paradas suas aí com os iluminatti.
Não acreditava que tinha escutado aquilo. Barba era mesmo muito doidão. Ri muito.
-Sim claro! E com os Maçons também.
Barba riu, mas depois fez uma expressão pensativa.
-Mano! Será que eles são Maçons?!
Não podia acreditar naquilo. Bati a mão na testa.
-Vai pra casa, Barba.
Ele arrancou com o carro em alta velocidade e saiu fazendo uma barulheira pelo bairro todo.
Aquele velho golzinho deve estar todo ferrado com as loucuras que o Barba apronta com ele. O que se pode fazer? O cara vive intensamente. Eu, por outro lado, não passo de um pamonha.
Destranquei a porta e logo que ela abril Felipe saiu correndo pra dentro, imaginei o quão cansado das aventuras de hoje ele deveria estar, correu pra geladeira e pegou um pedaço enorme de chocolate que estava lá esquecido. Pensei em repreende-lo por comer doces àquela hora, mas não o fiz, só desta fez não faria mal algum.
Comecei a dar uma organizada na casa, quando fui procurar o Felipe para organizar os brinquedos da sala o encontrei jogado na minha cama dormindo ainda com o chocolate lhe lambuzando as mãozinhas. O cobri e voltei aos meus afazeres domésticos.
Pensei em abandonar toda aquela loucura, aqueles homens de capuz e o episódio todo da biblioteca, não era nenhum agente secreto para ficar resolvendo mistérios, mas era um pai que precisava tomar conta de seu filho pequeno. Decidi que no dia seguinte devolveria o livro à biblioteca e diria que na correria o levei por engano e se acaso aqueles homens aparecessem novamente eu chamaria a polícia. Era o mais sensato a se fazer.
Estava perdido em meus pensamentos quando ouvi uma batida na porta, dei um pulo do susto que levei, não estava esperando ninguém, provavelmente o Barba havia esquecido algo e voltou para dizer.
Abri a porta calmamente, mas não foi o Barba que vi, na verdade era uma figura completamente diferente, uma moça loira, não mais que quarenta anos, trajando um vestido fino vermelho, parecia uma celebridade. O único pensamento que me passava pela cabeça era o que um ser tão deslumbrante fazia à minha porta no subúrbio do mundo. Quase não consegui dizer nada.
-Senhor Boulevard? -Ela perguntou com um sotaque russo-.
Balancei a cabeça como que para desfazer minha cara de bocó.
-Eu mesmo, pois não?
Ela me entregou um envelope igualmente vermelho com meu nome escrito em letra cursiva.
-Compareça neste endereço hoje ás 20:00 horas.
Não entendi porcaria nenhuma, percebi naquele momento que de uns dias para ali eu não entendia nada de porcaria nenhuma. Tentei parecer educado.
-Perdão Senhorita, do que se trata?
Ela não tinha expressão alguma.
-Posso lhe dizer que não se trata de um convite.
Fiquei atônito e com um pouco de raiva também, eu agora seria forçado a ir a lugares.
Abri a boca para protestar, mas ela não permaneceu para me escutar, virou as costas e andou até um enorme carro preto que estava parado em meu portão, sentou no banco de trás e saiu sem nem se quer olhar novamente para mim.
Pronto! Pensei. Mais essa agora! Eu já tinha decido não entrar nessa loucura.
Passei a tarde tentando ignorar aquele envelope maldito, mas eu sofria de um mal incurável, a curiosidade.
Abri o envelope e dentro dele só havia um bilhete simples escrito à mão com um endereço. Naquele momento eu entendi o que me forçaria a ir até lá. Eu mesmo.
Liguei pro Barba e pedi pra ele cuidar do Felipe naquela noite. fucei o guarda roupas em busca do meu terno de casamento, me pareceu pela aparência da moça que eram pessoas poderosas com a qual iria lidar, então precisava me misturar. Ao retirar meu velho paletó empoeirado no cabide, meu coração apertou. "Que saudades Julia, meu amor. Se ao menos você estivesse aqui".
Afastei meus pensamentos tristonhos e me trajei a rigor.Escutei alguém bater à porta, era o Barba, finalmente.
Estava com um cigarro de seda na boca.
-Que porra é essa aí,Barba?
Ele soltou a fumaça e me respondeu com a voz rouca:
-Maconha.
-Eu sei que é maconha seu animal. Eu quero dizer.. cara tem uma criança aqui, você sabe né.
- Ou, eu sei ta. -Jogou o cigarro no chão e pisou em cima-. aí, pronto já joguei fora.
-ah, sim agora ta melhor mesmo. - Estava nervoso, passei a mão pela cabeça-. Deus, eu vou deixar o meu filho com um drogado!
- Cara não surta, relaxa, vai lá encontrar a loira gostosona.
-Eu não ... olha, só não deixa ele sair de casa ta? Ele se vira.
-Ta bom.
Eu não sabia que rumo aquilo estava tomando, peguei as chaves do carro do Barba emprestado e saí sem ter a mínima ideia do que me aguardava.
Dirigi uns vinte minutos pela rodovia, o endereço que a moça me deu era de uma zona rural, não sabia ao certo qual entrada lateral tomar, então parei no acostamento e peguei o bilhete novamente. No final da descrição do endereço estava descrito "Fazenda Escorpião". Dirigi mais uns quinhentos metros e encontrei a entrada com esse nome.
Parado ali na entrada de uma longa estrada de terra eu refleti se eu realmente estava fazendo uma boa escolha, e se me fizessem algum mal, como ficaria meu filho? Ele já não tinha mais a mãe e por conta de uma besteira perderia o pai também?
Pensei em dar meia volta e acabar com aquilo, mas antes que eu pudesse tomar qualquer atitude alguém bateu no vidro da janela. Quase morri de susto, do lado de fora um homem alto, trajado de segurança, usando terno e aqueles comunicadores de ouvido, pedia para que abrisse a janela:
-Boa Noite senhor. Preciso dos seus documentos de identidade e bilhete de convocação.
Eu ainda estava me recuperando do susto, não sabia como lidar com aquilo, com as mãos tremulas e ansioso abri o porta-luvas e entreguei o que ele me pediu. Minha testa suava, eu estava realmente nervoso.
Ele deu uma olhada, falou alguma coisa no comunicador em uma língua que eu não consegui compreender e me devolveu a documentação.
-Siga em frente por mais cem metros, há uma vaga no estacionamento reservada para o senhor após o portão principal. Tenha uma boa noite.
Acenei com a cabeça para identificar que tinha entendido.
-Obrigado.
Era isso, a partir dali não tinha mais volta, se alguma coisa parecesse fugir do controle eu planejava sair de lá o mais rápido possível, dirigi mais um pouco a frente quando avistei um enorme portão branco perolado, era magnifico, digno da realeza.
Ao ultrapassar o portão havia uma vaga logo a frente, no meio de vários carrões de luxo com o meu sobrenome escrito em uma placa. Estacionei o golzinho, que parecia tímido e ofuscado em meio a tantas maquinas milionárias.
Subi uma pequena escadaria de mármore e parei frente a uma enorme porta branca. Toquei a campainha.
Segundo depois a porta se abriu, e lá estava novamente a minha frente aquela mulher deslumbrante, trajando um vestido de veludo preto, igualmente charmosa e fina.
-Por favor entre, estávamos te aguardando. Madame Nikole Ivanov, ao seu dispor.
Entrei meio desconfiado a casa mais parecia um palácio, escadarias enormes de mármore se elevavam em espiral até um segundo piso com pequenas salinhas como em um teatro.
Entramos em uma enorme sala redonda com várias cadeiras organizadas em um semicírculo, contei pelo menos umas vinte, mas sei que haviam mais. Sentados uma em cada cadeira estavam pessoas poderosas, vi alguns vereadores a até mesmo o prefeito em uma delas, o restante deveria ser empresários ou celebridades, não sabia dizer, só conseguia ver a riqueza e o poder em suas faces pomposas.
No meio deles havia apenas uma cadeira vazia, imaginei que seria a minha então tomei-a e me sentei. Ainda estava nervoso com aquela situação, minhas mãos me entregavam e eu batia os dedos no apoio ansiosamente.
Minutos após a minha chegada, Madame Ivanov, que havia se retirado, voltou a sala empurrando uma cadeira de rodas com um senhor muito idoso sentado nela. Colocou a cadeira o centro da sala, para que todos nós o víssemos. Apesar da idade avançada o senhor estava finamente trajado, e tossia em intervalos muito pequenos.
Ivanov parou ao seu lado e começou a discursar:
-Sejam bem-vindos a nossa trigésima sessão de sucessão. Como muitos de vocês já sabem, meu pai, Dom Dimitri Ivanov, está muito doente. Após a sua partida, eu, tomarei o seu lugar como suprema mestre da fraternidade brasileira.
Fiquei confuso e agitado, aquilo era o que? Algum tipo de seita? Estava perdido, mal sabia como me comportar. Ela continuou:
-No entanto, para tomar o meu lugar como governador geral da fraternidade, meu pai escolherá um de seus herdeiros. Eu já tenho o nome de cada um de seus filhos, e ele, junto aos supremos mestres de cada país fará a melhor escolha.
Minha cabeça rodava, governador geral? Nossos filhos? Eu não envolveria o Felipe nessa loucura, eu nem mesmo fazia parte daquilo tudo, não tinha a mínima ideia do porque havia sido levado até aquilo. Protestei.
-Perdão, Madame Ivanov, mas receio que meu filho não fará parte desta votação, eu nem mesmo faço parte disso.
Todos na sala voltaram suas atenções para mim. Me senti suar. A face da mulher era inexpressiva, não poderia dizer de forma alguma como ela sentiu diante da minha objeção. Só depois de alguns segundos me analisando ela exclamou:
-Não. O senhor certamente não, Senhor Boulevard. No entanto a Senhora Julia, era uma de nossas mestras. Você é o representante dela como esposo, devido a infortuna circunstância de sua ausência, nada mais.
Me senti amolecer, tontear, tamanho o meu choque. Julia? Não, não poderia ser. Como? A Julia fazia parte dessa bizarrice. Como eu nunca soube de nada? Porque ele envolveu nosso filho nisso? Eu estava com raiva, como a mulher que eu amava era membro de uma fraternidade louca e eu não sabia? Ivanov continuava a falar.
-Nesse momento faremos uma pausa de quinze minutos para a tomada de decisão dos supremos mestres. Aguardem, por favor.
Ivanov saiu da sala empurrando a cadeira de seu pai. Eu ainda sentado na cadeira, suava frio. Não conseguia processar aquilo, minhas mãos tremiam e ninguém ao meu redor parecia estar preocupado. Quinze minutos pareceram ser horas até que Nikole e o velho senhor retornaram:
-A decisão foi tomada.
Ela tinha um envelope vermelho em mãos. Eu só conseguia pensar. "Que não seja o meu filho, por favor, que não seja o meu filho".
Ela abriu o envelope e leu o cartão que estava dentro dele. Ela soltou um risinho irônico, pareceu sair involuntariamente, só então exclamou:
-Felipe de Alcântara Boulevard.
Meu mundo caiu, naquele momento, eu senti vontade de vomitar, mas não pude, estava paralisado. As pessoas ao redor sussurravam umas com as outras, incrédulas. Meu coração acelerava cada vez mais. Parecia que eu iria explodir. Escutei uma voz masculina vindo do outro lado da sala em tom alto. Era o prefeito.
-Governadora, isso é inconcebível! O garoto é uma criança!
Nikole deu com os ombros como quem diz que não há o que fazer. Pediu silencio a todos.
-Devido a esse atípico fato, declaro que o senhor Gregório será o Mentor de Felipe até que ele alcance a maior idade. Isso não indica a detenção do poder a ele, O cargo é de Felipe por direito, ele só responderá por ele até que o menino alcance a maior idade.
Os cochichos retornaram, os participantes pareciam não aceitar a decisão. Ouvi alguém gritar no meio deles.
-Isso é um absurdo!
Madame Ivanov levantou a voz.
-Absurdo ou não, é a decisão dos supremos. Esta sessão está encerrada! Há um coquetel na sala ao lado, aproveitem.
Ela saiu, soltando o ar de stress. Todos levantaram e se dirigiram para a sala indicada ainda cochichando indignados. Fui atrás de Ivanov.
-Madame Ivanov por favor espere! Nikole!
Ela se virou para mim, também não parecia muito satisfeita.
-Precisa de alguma coisa Senhor Boulevard?
Eu ainda estava muito nervoso, não sabia como começar.
-Olha, eu sei que eu não faço parte disso, a Julia nunca me disse nada sobre vocês, eu realmente não sei o que fazer.
Eu estava desesperado. Ela cerrou os olhos, parecia surpresa.
-Não? Interessante.
-Não, não, não, nada de interessante, olha você não entende, aqueles caras de capuz assustaram minha babá, eu não tenho ninguém, não sou esses ricaços aí, preciso trabalhar, não da.
Ela arregalou os olhos, pareceu assustada.
-O que você disse?
Fiquei confuso, o que eu disse que a assustou?
-Eu não sou rico?
-Não isso, idiota, os caras de capuz, o que você disse sobre os caras de capuz?
-Bom, eles ficam me observando em frente à minha casa, deixam bilhetes.
Ela pareceu ficar nervosa, passou a mão na testa tentando se recompor.
-Quatro caras de capuz, é isso?
Eu não estava entendendo, o que havia de errado.
-Sim, quatro deles, eles não são dos seus?
Ela se apoiou na parede, parecia apavorada, e eu me apavorava mais ainda vendo aquilo.
-Não, não são dos nossos. Isso é ruim, muito ruim. Já estão aqui.
Madame Ivanov me deixou sozinho na sala, saiu rápidamente batendo o salto alto no piso de mármore fazendo ecoar um som seco de trote pelo grande salão. Eu fiquei ali parado, confuso, nervoso e ávido por respostas. Levei as mãos à cabeça e dei aguns passos desnorteados pelo salão até decidir sair dali e ir para casa.
Cruzei o salão até a porta principal andando tão rápido que se alguém me observasse de longe poderia até mesmo dizer que eu estava correndo, entrei no carro e me sentei no banco do motorista sem saber ao certo ainda o que fazer, e foi ali, no silêncio e na solidão que tudo finalmente pesou.
Pensei naquelas pessoas, na votação, na minha esposa. Desferi socos desesperados contra o volante e me peguei chorando. Lembrei do meu filho, me recompus, limpei o rosto na manga do terno e girei a chave.
Não me lembro muito bem de como cheguei em casa, mas cheguei inteiro, estacionei o carro e olhei para a casa. Dela podia se ver apenas uma janela iluminada, era a luz da sala de estar. Entrei ainda amargurado, deixei as chaves na mesa da cozinha e fui até a sala. A cena que encontrei me fez dar o primeiro sorriso do dia, Barba e Felipinho estavam apagados, babando no sofá abraçados, ambos fantasiados de pirata com objetos improvisados. Aquilo aqueceu meu coração. Apesar de toda a loucura eu ainda tinha pessoas que me amavam acima de tudo.
Apaguei a luz da sala e deixei os dois dormindo lá, do jeitinho que estavam, não me atreveria a acorda-los. Entrei no quarto e me despi do meu traje de gala. Estava quase me deitando quando observei o livro que roubei da biblioteca, abandonado no criado mudo. Me peguei pensando no porquê diabos eu tinha me interessado por aquele livro tão aleatório e sem sentido.
Fui até ele e o encarei por um tempo, enquanto minha mente vagava buscando uma explicação, me lembrei da Julia, viva e linda. Amava ver a maneira como ele erguia seus cachos escuros em um coque para ler livros malucos para o nosso pequeno bebê.
Enquanto me deliciava em minhas memórias, por um instante pareci me recordar da minha esposa carregando um livro muito parecido com aquele que eu agora estava segurando, forcei a memória por alguns instantes até me dar conta de que com toda a certeza era o mesmo livro.
Folheei o livro desesperadamente tentando encontrar qualquer coisa fora do comum. depois de muito tempo e sem sucesso, esbravegei e soquei-o contra a madeira do criado mudo. O barulho que aquilo fez fi estranho, oco. Peguei a rapidamente o exemplar de volta e analisei com todo o cuidado a capa grossa que o revestia, até que percebi um relevo quase imperceptível que surgia na contra capa. Com um pedaço de clip de papel consegui desgrudar a parte em relevo da capa. Dentro do buraco, havia um fino medalhão prateado com um entalhe muito peculiar. Um circulo, uma estrela e quatro olhos sinistros. As palavras pularam da minha boca:
- Mas que merda, Julia!
Acordei energizado, tomei um banho rápido, peguei o celular e liguei para o Barba.
-Barba?
- Oi? Greg? Ta tão cedo cara, aconteceu alguma coisa?
- Eu tenho uma ideia, preciso da sua ajuda.
- Chego aí em dez minutos.
Deixei o Felipe com a Cristina, esposa do Barba, expliquei sobre o medalhão para ele. Tirei uma foto do objeto e imprimi o maior que pude. Colei na minha porta da frente, abri duas cervejas e sentamo-nos no sofá.
Barba me olhou com expectativa, algo em seus olhos indicava animação e adrenalina, características as quais eu invejava imensamente. Cansado do meu silencio ele questionou.
-E agora?
-Agora esperamos.
Dei uma golada na minha bebida e permaneci frígido. Estava decidido a obter todas as respostas ali.
O dia se desenrolou sem grandes emoções e a noite já quase caía enquanto eu e Barba permanecíamos jogados no sofá da sala, sem esperança alguma e assistindo um programa de culinária da tevê local.
Barba me dirigiu um olhar cansado e levantou para despedir-se, nesse exato momento ouvimos alguém bater à porta. Levantei de supetão e parei por um momento hesitante frente ao trinco, respirei fundo e abri.
Parado de frente para mim com uma postura invejável, completamente ereta e trajando uma farda muito bem alinhada, estava um homem de meia idade muito provavelmente militar. Sua expressão estava séria e seus duros olhos me encaravam com repreensão.
-Boa noite, Boulevard. O senhor tem a mais vaga noção da origem completamente sigilosa do símbolo que ostenta de forma tão vulgar em sua porta da frente?
O sangue me inundou os olhos, a petulância que me saltava à boca ignorava completamente a figura intimidadora daquele oficial.
-Na verdade, não tenho mesmo. Sou completamente leigo a respeito dessa coisa que vocês chamam de sigilosa e que por motivos que eu nem mesmo sei dizer acabou em minhas mãos civis. A imagem continuará aí até que essa merda toda me seja esclarecida.
Me arrependi de ter aberto a boca no pontual momento em que a fechei, mas já era tarde, tudo já havia sido dito e eu esperava qualquer que fosse a consequência agressiva que provavelmente sofreria.
Contradizendo todos os meus temores e instintos, o homem virou as costas e saiu, dirigiu-se à um carro preto e antigo que estava estacionado próximo ao meu portão. Quando pensei que havia sido deixado falando sozinho, a porta traseira do veículo se abriu, e de dentro dele surgiu o que julguei ser um homem muito robusto trajando uma roupa completamente preta e com o rosto coberto por um capuz.
Meu coração palpitou forte e a minha mente já estava a planejar um plano de fuga, eu queria correr, me esconder. A única frase que eu pude formar naquele momento e que saltaram dos meus lábios mais rápidos do que poderia pensar foi: "Fodeu! ".
"Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa,você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela."Uma grande verdade...
Muitas vezes quando amamos achamos que devemos correr atrás da pessoa amada e esse correr atrás, não se pense que seja a questão bem direta que seria estar aonde a outra pessoa esta. Não. Você pode estar andando atrás do outro quando você também se recusa a esquecer aquele alguém que marcou a sua vida e insiste em ter essa pessoa plenamente presente na sua vida. E pior ainda: presente na sua mente e no seu coração. Quando um relacionamento acaba, nunca saberemos disser o porquê exatamente ele se acaba. Temos à nossa frente diversas causas possíveis, mas serão elas mesmas as culpadas?
Não existirão causas que muitas vezes sequer temos conhecimento?
Sim, existem. Porque quando duas pessoas se separam, nem sempre tudo foi completamente colocado à descoberto. Muitas coisas são ditas, mas muitas vezes nem tudo fica esclarecido. No mínimo se leva quase um ano para que tudo fique realmente esclarecido. E esse tempo variará conforme o grau da separação que ocorreu.
E muitas vezes sequer um dia se descobrirá o porquê, porque poucos casais voltam a se encontrarem.
E pelo resto da vida ficará a indagação: porque não deu certo? Parecia tudo tão fadado a dar certo.
E eu amo a Arte porque a Arte é assim: ela se cria e se recria através da inúmeras obras de Arte ao longo dos anos da humanidade.
Quando Mário Quintana escreveu a sua poesia, não imaginava que na nossa contemporaneidade, um cantor chamado Adam Levine, do grupo Maroon 5, iria atuar num vídeo que muito tem a ver com o seu poema. O vídeo é da música What Lovers Do, que traduzindo significa O que os apaixonados fazem.Nesse vídeo, que convido vocês leitores a verem, vemos que um garoto aparece seguindo borboletas num enorme campo. Nesse campo, além das borboletas tem uma linda menina morena, de cabelos cacheados, pele morena, mulata faceira, uma verdadeira bonequinha.
Ele a persegue , porém as borboletas a acompanham. Viu a semelhança com o poema?
Ela corre toda feliz, consciente de que ele a segue, mas ela está tão envolta com a façanha de estar cercada pelas borboletas e seguida por ele, que ela nem se dá conta do que possa estar acontecendo a ele. E ele, está tão obcecado pelo amor que sente por ela, que a persegue na esperança de que ela parará de correr e o esperará.
O tempo passa no vídeo e os dois personagens crescem.
E depois de adulto, ele continua perseguindo o seu alvo. Agora ela é uma mulata faceira, cabelos cacheados, longo, um corpo estonteante.
Uma verdadeira Gabriela do nosso saudoso Jorge Amado.
Ela continua a saber que o envolve totalmente e continua a correr sem deixar que ele a alcance. Ou melhor, que ele alcance o seu coração.
Ela sabe que ele a ama e isso a mantém firme e forte.
Ela adora saber que é desejada. Num determinado momento, ele a está perseguindo e vão ao fundo do mar. Quando ele quase sucumbe e não poderá mais segui-la, é ela quem vem e o salva.
E porque ela o salva?
Porque não teria graça viver sem ele.
Ela também se nutria daquele amor obcecado e desejoso.
E assim, o vídeo segue e ele sempre atrás da mulher de sua vida.O que quer nos ensinar este vídeo e este poema?
Que devemos desistir daquilo que desejamos?
Seja um amor ou qualquer outro objetivo? Não. Apenas como diz o poema e nos mostra o vídeo: "O segredo é não correr atrás das borboletas...
É cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas, você vai achar não quem vocêestava procurando, masquem estava procurando por você!"Devemos entender que nós não podemos empurrar o rio, expressão que amei quando li num dado texto que não me recordo.
Não podemos tentar prever o que a vida nos reserva, mas é próprio do ser humano querer adivinhar o como as coisas acontecerão. Ao tentarmos empurrar o rio, nós vamos nos cansar e desperdiçar energias.
O segredo para que cheguemos ao que queremos é não desperdiçar os momentos presentes estando correndo atrás do tão almejado prêmio.
Nós temos é que correr atrás dos nossos objetivos sem esquecermos de viver.
Se nos tornamos obcecados e esquecemos de viver, nem sempre chegaremos ao pódium.
Mas, se você vive e ao mesmo tempo vai usando das experiências como aprendizado, aí sim saberemos alcançar os objetivos porque soubemos aproveitar todos os momentos de aprendizagem.
Se você se afasta das reclamações e trabalha no seu jardim, que aqui representa a sua vida, as borboletas virão até nós porque nosso jardim estará perfumado e florido. Aprenda isso: deseje, mas viva!
Não desperdice os seus momentos reclamando da vida, ao contrário, sorria para ela e ela sorrirá para você.
(Anjo Eros)
Observação: este poema tem controvérsias.
Muitos apontam Quintana como autor, outros dizem ser o autor um desconhecido e alguns como sendo D. Elhers o criador.
Compactuo com Mário Quintana.
(Anjo Eros)
Código do texto: T6158952
Aqui, sentado do outro lado de um mundo imundo, pensando na frase poética do artesão das palavras, que disse: "Enquanto a juventude é uva, a vida, passa". Então, surgiram-me outras frases: Buquê de rosas vermelhas quais a existência logo centelha, dando quase o mesmo sentido à vida que se entrelaça amarelo, num matiz de rosa singelo. São oximoros para arejar o nosso pesar mental, que, com o tempo vai somatizando o calejamento na lide da estrada vívida e vivida, preconizando nossas missões. Ou você está deduzindo que, apareceu aqui apenas para brilhar como as estrelas no firmamento, pois, sinto muito, lamento, elas também fenecem na eternidade obscura do seu brilhantismo. Não querendo ser ateu; estão as estrelas e os homens perdidos nas coloridas noites de Deus. - Ah. Não têm noites coloridas. - Depende do foguetório que os deuses fizerem na Terra. Assunto que jamais se encerra. Fato corriqueiro que se dá na virada de ano, pegando mais um gancho no assunto, momento de se fazer plano. Aqui mora o sucesso, conquanto, coloque-se a ação ao funcionamento do ato, na realização de seu sonho, tornando-o verdadeiro fato. E, se a ação de funcionar ato soa cacofônico, e pleonástico, nada importa à pessoa que se faz biônica, ou lunática. E fato, é fato, ponto. Ação amigo, não seja simples fraco. Olhe à frente e enfrente o seu ego, vislumbre as iguarias sobre finíssimos pratos. O impacto faz pacto com a realidade virtual, com pensamentos avulsos emaranhando mentes incautas. No afã de que a evolução aconteça, atingindo tingidas cabeças, trazendo melhoramentos aos seus próximos eventos. Há poetas e pensadores que, deixando de ser escritores abominam o gerúndio, ora, essa é eficaz ferramenta do pronunciamento da língua, quem não gostar que o cuspa fora, mas por não me chegar a hora, continuo engolindo-o, e, até achando-o lindo. Mudei um pouco de rumo, para ver se a você me aprumo, expondo meu conhecimento de convencimento da prosa. E para não ser muito cansativo, fui buscar flores no Lácio, inserindo prosa à língua, tornando-me estrelo do ego profundo, tendo na inconsciência que haverei de matá-lo, extirpando-o do meu ser pequeno, somente assim poderei chegar a um melhor renascer, referto de vastíssimo halo. Caro amigo, não posso acusá-lo, pois, ao fazê-lo serei inferior a você, porém, posso alentá-lo no elã do bem-querer. Nos temporais da empoeirada existência da vida, o ser torna-se eterno em sua forca de seda, sobre pisantes modernos, emaranhado em amarelado terno, com seu anel de bravata. Embora, sua sede não seque, vai correndo atrás do vento ensacando fumaça ecológica, sem ver a bizarra lógica. Até que chegue o inverno. E o colorido vai se firmando no seu firmamento interno. Ou, vai-se esmaecendo conforme se queira ver. Na arte da existência, na arte de bem viver não existe tanta clemência, apenas ambivalência na ciência de se crescer com tempero de padecer. É bom que aqui se diga, apesar de tantas fadigas, somente no colorido do amor, a vida e morte se faz vencer. No alvorecer da existência já podemos ver a vida esvaída, muito próxima de esmaecer. Simples flor, que murcha na esperança de nova vida, à espera de mais uma criança nascer. A nossa portentosa existência pode ser mui singela, simples e decadente, dependendo de como é vista. A vida é bela ao belo, àquele ou àquela que pense bonito, que a enxergue em cores, levando-a na alegria e calma, deixando de lado os berros, embora, sendo do estilo, na mente prevalecem muitos grilos e infinitos gritos, que quebram fortíssimos elos, vendo-a em preto e esquálido amarelo. Assim sejam nossos atos, equilibrados sobre o trilho do amor, para alcançarmos o bem maior, a paz. Isto é sucesso!
Seja feliz invocando o AMOR.
jbcampos
GUTE GUTE - Barriga Experimental de Repertório
Romance Infanto-juvenil do Ciber Poeta e Ficcionista Premiado Silas Correa Leite
Breve introdução querendo ser uma espécie de rascunho para apontamento de Prefácio
"Só pela arte podemos sair de nós mesmos"
Marcel Proust
"Dos desenhos rupestres aos 'noturnos' de Chopin, toda linguagem humana é infantil. Arrisca-se, tateante, para fora das cavernas em direção ao Aberto..." Rodrigo Petrônio. Caderno Sabático, Jornal O Estado de São Paulo, 18/03/2013
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-Quem lê Silas Correa Leite jamais esquece. Quem acompanha sua trajetória de décadas entre os emergentes nomes importantes (em qualidade literária e criação) da nova literatura brasileira contemporânea, se surpreende cada vez mais. Certa vez, ouvi um escritor e jornalista comentar: -Como é que ele pode escrever isso? Ou, como ele mesmo conta, que faz uns vinte anos atrás, uma cigana de rua ao ler gratuitamente sua mão, disse que ele um dia ainda 'Escreveria sobre o que ninguém pensou que um ser humano pudesse escrever um dia'. Bingo, disse ele, me contando.
-Elogiado, entre outros, pelo espetacular e consagrado Moacir Scliar, que diz:
"O que chama a atenção no texto de Silas Corrêa Leite é o prazer que o autor sente em narrar, prazer este que se transmite ao leitor como um forte apelo - o apelo que se espera da verdadeira literatura. Estamos diante de uma inegável vocação de Escritor"
Com mais de mil cadernos de rascunhos poéticos de duzentas páginas (visa a médio prazo o Guiness Book); foram tema de reportagem no Programa Metrópolis da TV Cultura de São Paulo - escrevendo desde os 16 anos nos jornais de Itararé-SP; premiado em concursos de renome, inclusive no exterior (como no Instituto Piaget, Lisboa, Portugal; Cancioneiro Infanto-juvenil), constando em mais de cem antologias literárias em verso e prosa, também internacionais, o hoje Cyber Poeta Silas Correa Leite sempre surpreende pelo inédito, pelo inusitado, pela vocação de criar o indizível, quase o inominável entre versos-prosas e prosas-versos. Como quando bolou o primeiro livro interativo da rede mundial de computadores, o ebook de sucesso O RINOCERINTE DE CLARICE, que, por ser pioneiro, de vanguarda e único no gênero, virou leitura obrigatória no Mestrado de Ciência da Linguagem na matéria Linguagem Virtual, na UNIC-SUL, Universidade de Santa Catarina, além de ser tese de mestrado na Universidade de Brasília e tese de doutorado na UFAL-Universidade Federal de Alagoas. Obra com onze contos fantásticos, cada ficção com três finais, um final feliz, um final de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto, que também foi destaque na chamada grande mídia brasileira, como no jornal O Estado de São Paulo, no Diário Popular (Caderno Informática), na Revista da Web, na Revista Ao Mestre Com Carinho, na Revista Época (Rio de Janeiro) nos programas de tevê Jornal da Noite (Márcia Peltier, Rede Bandeirantes), Programa Na Berlinda (Rede 21) e Provocações, TV Cultura de SP.
O que uma pessoa que escreve tanto, tem tanto a dizer que chega a ser Cult de estar na mídia qualificada e, paradoxalmente nunca ser bancado por uma chamada grande editora do eixo Rio/SP? Para alguns, a loucura santa do Silas é extraordinária. Para outros, uma literatura em prosa e verso (e ensaios, microcontos, twitter-poemas, letras de rocks e blues, poeminhos infantis, poemas para a juventude, links irônicos e de humor como "Silas e Suas 'siladas") tudo muito acima da média e de primeira grandeza. Numa busca pelo Google você o acha em mais de oitocentos sites, no YouTube, até mesmo no exterior, como Chile, Portugal, Angola, Moçambique, e em quase todas as redes sociais, também seguido no twitter e no Facebook. Já há na web ótimas criticas sobre seus trabalhos, seus livros, e um cabedal de seus prêmios de renome, ou mesmo constando em mais de cem antologias literárias até no exterior, e ainda tendo saído na importante Revista Poesia Sempre, como um dos poetas da poesia brasileira contemporânea, bancado pela Fundação Biblioteca Nacional no ano 2000, 500 Anos de "Achamento" do Brasil. Nas entrevistas, surpreende, toca: 'A vida não me deu limões, mas faço limonadas de lágrimas'. Nos ensaios, resenhas, criticas sociais e criticas literárias, feito um livre pensador que sonha depois do fim das utopias com um humanismo de resultados, surpreende por pensar o que ninguém pensou, escrever diferenciado e ter um olhar crítico especial de entrar na alma do escritor que resenha.
Pois com "GUTE-GUTE Barria Experimental de Repertório", não poderia ser diferente. O autor de novo talentosamente surpreende com estilo, por não escrever ralo e raso e, ao mesmo tempo tomar o leitor pela mão, cativar e envolver. Vai compondo sua trajetória de literato, com qualidade vernacular, com seus neologismos, além do resgate de palavras desusadas ou atípicas - um amigo professor francês diz que às vezes ele escreve em língua bárbara - e assim, assustando, surpreende, clarifica, toca corações e mentes. Você não podia ter escrito isso, disse um amigo. Mas você está com os olhos cheios de sangue e chorando, respondeu ele.
Colocando a aldeia natal Itararé, cidade histórica do Brasil (de batalhas que não houve) na consciência do mundo, erguendo suas histórias e lampejos de arte como levitação, e com tantos projetos de livros, Silas tem outros trabalhos inéditos para crianças e jovens, mas quis o destino que o primeiro da lavra fosse esse, por intermédio de uma avaliação qualitativa da visionária Chiado Editores de Portugal. E nada mais bonito do que entrar 'na cabeça' de uma criança ainda na barriga de uma mãe de alto nível, e daí extrair além das ideias, palavras que se somam e se erguem, com começo, meio e fim, em ritmo de falas e pensamentos marotos, em nível de monólogos atiçados pela pólvora do que realmente é existir (ou deve ser existir) mesmo nos nove meses de gestação se tanto, e já ter o que dizer, nessa fauna precoce da vida atiçada in corpore. O prisma, a narrativa, a criatividade. Tudo a ver, aliás, também tudo a ler, como tudo a ser.
Que criança tardia ainda somos, escondidos de nós, até escondidos de sermos, de nossa infância, nossa maior riqueza, nosso maior tesouro? E quando a criança que ainda reside e resiste em nós lê a alma de uma criança ainda na barriga-mãe, de onde, talvez, nós nunca deveríamos ter saído, porque, disse um pensador, que nós vivemos mesmo só nove meses? Pego pela palavra, o leitor vai se colocar no tal troninho com cordão umbilical nutridor e tudo, vai se olhar de dentro pra fora, como já sabe o mundo da fantasia de fora pra dentro, se colocando no lugar do baby vai ser também criança purinha outra vez, e se emocionar; vai chorar, e vai se sentir de alguma maneira em casa, sendo assim também a casa, a casca, o lugar em que estamos, o lugar que somos... De onde nunca deveríamos ter saído?
Conversando com o autor, sobre o processo de criação deste livro, fiquei sabendo que ele perdeu a mãe faz pouco tempo, teria sofrido muito, como uma perda dessas acarreta, e que, tentando lavar a alma, por assim dizer, teve uma ideia desse trabalho e então escreveu o livro como se lavando por dentro, como se de novo se colocando na barriga da mãe, também confessando que chorou muito ao escrever, mas que ao mesmo tempo também como que também se limpou em lágrimas e palavras, se renovando; como se purgando a dor e a partir do término da obra de várias leituras e releituras, se recompondo, como se a obra, o romancear e todo o trajeto criativo, o libertasse. A arte como levitação também?
Lendo o livro GUTE GUTE em seu projeto ainda inaugural, para depois tentar dedilhar alguma coisa sobre o mesmo, veio-me à mente a fala de Giorgio Agamben (Ideia da Prosa/Ideia da Felicidade) quando disse: "Em todas as vidas existe qualquer coisa de não vivido, do mesmo modo que em toda palavra há qualquer coisa que fica por exprimir. O caráter é a obscura força que se assume como guardiã dessa vida intocada; vela atentamente por aquilo que nunca foi e inscreve no teu rosto a marca disso..."
Pondo palavras na boca do personagem principal, narrador da epopeia barrigal - a barriga da mãe é a segunda personagem - a criança por nascer já vai precocemente dando à luz a fatos que identifica e soma, acontecências, intenções, ironias, entendimentos pueris, julgamentos puros e o próprio repertório experimental da linguagem que ouve, avalia, compõe, edifica e no palavrear conjetura e assim e por isso mesmo expõe sonoramente. Quem é que poderia ter escrito um livro desse? Você lembra Gepeto, O Gato de Botas, Alice No País das Maravilhas, ou, no Brasil, o Moleque Saci, ou ainda as maviosas contações aventurosas de um tempo e de um lugar feitas pelo inesquecível Monteiro Lobato, e nesses tempos pós-modernos de tantas infovias efêmeras, capta o romance como um estilo moderno, um olhar cativante, um entendimento bem contemporâneo que vai açodar a mente sempre ativa das crianças, de jovens e adultos, que não caberão em si, entrando na narrativa como dentro da barriga do historial ou dentro de si mesmos. Uma aventura e tanto. GUTE GUTE é isso, tem essa intenção e crédito. Talvez, fora dessa barriga, então, finalmente, podemos entender melhor o que saímos perdendo, quando nos perdemos de nós mundão a fora, ou, quando, de uma forma ou de outra, artisticamente podemos fazer da poesia, da imaginação, do conhecimento e da arte uma bela filosofia de vida, ou ainda, do entretenimento e do mundo da fantasia nas leituras, mais uma barriga acalentadora para nos cuidarmos de nós, nos salvarmos de nós, nos adoçarmos, e assim, então, nos sentirmos em paz com uma literatura envolvente como essa. Gute Gute.
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Antonio T. Gonçalves - Professor Universitário - CULT NEWS
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Balde de água Fria
Cheguei adiantado, Trabalho como colunista geral do Jornal New Age, de Calgary. E como Colunista geral eles querem dizer que sou piadista geral. Escrevo as mais diversas matérias relacionadas com qualquer coisa que seja no mínimo desinteressante. Sonho em um dia ser um grande jornalista atrás de matérias extraordinárias, mas isso, é só um sonho.
Como dizia, entrei adiantado e fui direto para a cozinha buscar meu Elixir negro da Produtividade, que os leigos costumam chamar de café. A primeira pessoa que eu converso no dia é a Dorothy, minha colega de Trabalho. Sempre chamei ela de Dory, como o peixe de Procurando Nemo, porque ela vive esquecendo as coisas. Ela é quem ilustra minhas matérias sensacionais. A Dorothy não é do tipo garota modelo, mas é naturalmente bonita, tem a pele cor de canela e longos cabelos claros ondulados, seus olhos parecem duas grandes amêndoas.
Como de costume entrei na cozinha e procurei pela minha caneca da sorte, na verdade era só uma caneca que meu pai me deu de natal, mas era especial para mim. Lavei a caneca com cuidado enquanto reparava na imensa carranca que a Dory estava fazendo. Ela estava encostada na bancada e batia o dedo indicador na superfície como quem está se segurando por alguma coisa.
Curioso e pronto para provoca-la eu sorrateiramente me esgueirei para perto dela e como quem não se importava fui em direção a cafeteira e retirei o jarro do suporte. Ela soltou o ar com força para chamar a atenção. Escorei na bancada contraria a que ela estava e fingi estar apenas relaxando e olhando para o nada. Dory cruzou os braços e ficou me encarando.
-Vai ficar aí só olhando? Não vai perguntar nada?
Eu ri por dentro. Sempre funcionava.
-Oi Dory, Tudo bem?
-Não! Nada está bem! Você por um acaso sabe o que o Austin pediu para a gente escrever sobre?
-Basicamente, sou eu quem escrevo. Mas não, não sei nada ainda. O que vem agora?
Ela serrou os olhos por conta do meu comentário.
-Me poupe. -Houve uma breve pausa- Ele quer que NÓS escrevamos uma Matéria sobre o John Louco da rua 15!
Ela disse a palavra "nós" gritando por provocação.
Fiquei alguns segundos tentando processar o que Dory estava me falando. John Louco Na verdade Era John Smith, um homem de cerca de 40 anos que há algum tempo havia perdido a sanidade por conta de um acidente de carro. Hoje em dia só fala palavras soltas e sem sentido de um mundo que só ele vê. Coisas como: sem corpo. Fundo escuro. Essas coisas bizarras que faz todo mundo se afastar.
-Não. -foi a única palavra que consegui dizer. -
-Sim! É o que ele me disse agora a pouco. - Retrucou Dory parecendo extremamente irritada.-
Eles acham que somos o que? Piadistas? Coluna de humor? Eu não aceito isso, não aceito!
- Eu acho que... - engoli em seco. - Talvez precisemos só de tempo para se acostumar com a ideia.
Dorothy fez uma careta incrédula e de supetão batendo a porta, saiu da cozinha. Sem dizer mais nada.
Respirei fundo tentando processar a patética ideia de entrevistar um senhor psicologicamente doente e fazer disso uma matéria de jornal. Quase que missão impossível eu pensei. Tomei goladas apertadas de café enquanto olhava para a pequena janela da cozinha. O vento estava soprando forte de novo e mesmo estando aquecido eu podia sentir o frio cortante chegar. Imaginei quem seria eu, se as coisas me fossem diferentes, Se meu coração e meus músculos funcionassem da forma correta. Decidi não pensar.
Abri a porta e caminhei sonolento em direção a minha mesa. A minha e a da Dory ficavam lado a lado e ela já estava lá digitando o que quer que seja sem nem olhar para o lado. Eu estava quase sentando, colocando a caneca sobre a mesa quando ouvi o Grito do Austin. Austin era o nosso superior imediato que vivia nos enlouquecendo com suas besteiras. Ele era muito alto para um homem normal, cabelo grisalho e um tremendo barrigão redondo que lembrava uma melancia.
- Nolan! Já soube das Novidades? Quero a descrição da entrevista com o Senhor Smith na minha mesa amanhã de manhã para revisão. Me traga um bom conteúdo garoto, se esforce.
-Senhor Smith? ah sim senhor. - Quando você coloca apelido nas pessoas o nome delas nunca mais soa familiar, para mim o senhor Smith era John Louco da rua 15. Demorei assimilar.
-Sim, John Smith garoto, vamos! Está dormindo ainda?!
Mentalmente sim. Pensei.
-Não senhor, estará pronto amanhã de manhã.
- Certo.
Enquanto voltava a me acomodar na cadeira ainda meio tremulo e nervoso pela conversa gritante com Austin, Dory já não digitava mais e me olhava fixamente com um ar de deboche no rosto.
- Acostume-se com essa ideia. - Disse ela, e depois voltou a digitar -.
Eu levei minhas mãos até a cabeça, estava preocupado. Que tipo de conteúdo eu traria? Eu precisava muito daquele emprego e como é que eu iria proceder tirando conteúdo interessante da mente de um homem louco. Era frustrante pensar que estava estudando tanto para ser alguém tão (...)
-Nolan!
Dory me retirou de meus pensamentos.
Balancei a cabeça em sinal de resposta.
-Vamos, temos que chegar cedo se quisermos tentar tirar algo dele.
Ela colocou a mão sobre o meu ombro em sinal de consolo, já não estava mais zangada.
- Vai dar certo Ok?
Dei um sorriso forçado.
- OK.
John Smith
Apanhamos tudo que acreditamos que iriamos precisar e colocamos dentro da van da empresa. Era uma van velha, mas bem conservada. Eu estava caindo de tanto sono, entrei no carro sentei e joguei as chaves para Dory.
-Hoje é com você.
Ela me fez uma cara de malicia digna de Velozes e Furiosos, e eu cheguei a pensar de verdade que ela ia arrancar em alta velocidade. Mas não o fez, ela caiu na gargalhada e saiu a trinta km/h uma vez que a van não era nada rápida. Me senti um imbecil completo e me deixei rir com ela.
Ficamos na estrada por cerca de uma hora até finalmente chegarmos a rua onde morava nosso ilustre entrevistado. Eu estava cansado e com muita fome, mas devíamos começar a buscar algum conteúdo o quanto antes.
Atravessamos a rua 15 atentos à procura do número 956 que era o endereço que constava nos registros da prefeitura. Chegamos a uma imensa casa de madeira antiga. Deus do céu aquilo causava arrepios na espinha. Era como entrar em outro universo, a rua era linda, casas coloridas e jardins joviais. E como em um clichê de filmes de horror, lá estava a amedrontadora casa velha de madeira.
Aquilo em si já era conteúdo. Decidimos então perguntar aos vizinhos mais próximos o porquê daquela casa ser tão desproporcional ao lugar, e saber mais sobre o nosso amigo John Louco.
Batemos na porta ao lado e uma simpática senhora já por volta dos seus 70 anos nos atendeu com um sorriso caloroso. Ela vestia roupas simples e muito coloridas, o seu semblante me trazia aconchego, por um momento me lembrei da minha avozinha e senti saudades. Dory a cumprimentou estendendo a mão.
- Bom dia Senhora ...
- Meredith. -Ela disse sorridente-
- Bom dia Senhora Meredith, Eu sou a Dorothy e esse é o Nolan, nós somos do jornal New Age e gostaríamos de lhe fazer algumas perguntas se nos permitir.
- Do jornal!? -ela disse empolgada passando as mãos nos curtos cabelos grisalhos- É claro minha filha, finalmente vou ficar famosa.
Ela deu risada e fez sinal para que entrássemos. Sua casa era igualmente acolhedora, com aroma de lavanda e moveis rústicos, eu me sentia em paz ali, era um ambiente extremamente aconchegante. Nos sentamos no sofá da sala que ficava apenas a alguns passos da porta, era um sofá marrom aveludado muito bem limpo, enfeitado com almofadas coloridas com imagens de filhotes. Comecei perguntando de sua vida, para não assusta-la logo de cara.
- Então Senhora Meredith ...
- Oh não meu caro. Pode me chamar só de Meredith, mesmo.
- Tudo bem. Então Senh ... Meredith, Você nasceu aqui mesmo em Calgary?
-Não, não. Eu vim de Vancouver, meus pais não acreditavam eu um futuro lá, então decidiram se mudar, cheguei aqui quando eu era muito pequenina. Diziam que queriam tentar algo diferente.
- Com o que eles trabalhavam?
- Meu pai era Barbeiro, Minha mãe costureira. Não vivíamos no luxo, mas dava pra sobreviver sabe? Ganhavam pouco e eu tinha mais quatro irmãos menores, muitas bocas para alimentar.
- O importante é a união, certo? A senhora não estaria aqui se não fosse por todo esse sacrifício não é mesmo?
-É verdade filho, essa é uma verdade muito grande da vida.
- Então, faz muito tempo que a senhora está aqui? Digo, nesta casa?
Ela me olhou profundamente por alguns segundos, como se vasculhasse cada intenção minha, minha garganta ficou seca, os velhos olhos azuis apagados me lembravam o mar em dia de tempestade, e eu estava me afogando.
Ela então desviou o olhar, olhou para baixo, como se calculasse o que iria dizer.
- Apenas há quarenta e cinco anos, filho. -Ela deu um sorriso curto de canto de boca, como quem força uma piada.-
-Uau! Isso é bastante tempo. Os vizinhos aqui se mudam muito?
Estava começando a suar, isso é incomum, eu já fiz isso milhões de vezes, não conseguia compreender porque me senti tão nervoso.
- Na verdade não, creio que a maioria deles, assim como eu está aqui há muito tempo.
Ela falava sobre o tempo com tanta tristeza, quase não parecia a senhora sorridente de minutos atrás.
-E o seu vizinho ao lado, o Senhor Smith. A senhora o conhece bem?
-Perdão querido, quem?
-O Senhor John Smith, que mora ao lado, casa de madeira.
-Desculpe, eu acho que não conheço esse homem, filho.
Olhei rapidamente para Dory e ela estava bufando um pouco, havia se frustrado com a nossa falha na comunicação, e decidiu ajudar. Ela parou de desenhar, o que quer que ela estava desenhando e dirigiu-se a senhora:
-Ele ta falando do John Louco, Dona Meredith!
Eu fiquei estupefato, a boca entre aberta em indignação. Não podemos falar de entrevistados dessa forma!! Droga Dory eu vou te esganar. Pensei.
-Aaaaah sim. -Meredith respondeu, dando uma gargalhada-. Conheço ele, Mudou-se a uns anos, a casa já era assim mesmo. Mas eu não gosto de falar dele.
O humor dela mudou da agua pro vinho, de uma gargalhada para um semblante preocupado, quase aterrorizado.
- Receio que tenham que ir, crianças.
- Na verdade a senhora poderia dizer se ele faz algo incomum, ou talv....
Ela cortou minha fala com a mão em sinal de pare. Pigarreou e disse de forma lenta, controlando-se.
-Eu Receio. Que tenham. Mesmo. Que ir.
Ela nos acompanhou até a porta Apressadamente e a única coisa que disse antes de bate-la na nossa cara foi: Até breve.
Eu olhei para Dory com meu olhar mais mortal.
-O que foi? -Ela disse em tom adolescente-.
- E você ainda pergunta? Droga Dory, não podemos chamar as pessoas desse jeito, temos de ser educados. No mínimo Profissionais.
Ela fez cara de deboche e ficou alguns segundos gaguejando até finalmente falar.
-Não senhor, ela até riu, foi você que forçou a barra cedo demais. Poderíamos ter conseguido muito mais informações importantes.
Soltei o ar violentamente e chacoalhei os braços.
-Não importa muito agora. Vamos ter que enfrentar a Fera com o que temos.
Atravessamos de um quintal pro outro, era como trocar de universo, da alegria, para a tristeza. Minhas mãos suavam, eu senti que não estava passando muito bem, o frio era cortante e minha testa começava a encharcar. Caminhamos a passos cautelosos até a porta principal da casa do "Senhor Smith", a porta era grande, de madeira antiga, um pouco apodrecida por conta da exposição ao tempo. Tocamos a campainha.
O Som ecoou longe como se lá dentro houvesse apenas um imenso salão vazio, como se não existissem moveis ou barreiras para conter o som. Passos pesados e apressados começaram a ecoar dentro da casa, e em poucos segundos a porta estava se abrindo.
O rosto de um homem negro empalidecido surgiu no vão da porta entreaberta, seus olhos eram brancos, sem vida e suas roupas estavam muito sujas. Ele nos olhou de cima a baixo e então vociferou como um animal raivoso.
-Eu não vou comprar nada! Não! Nada!
Eu já não estava me sentindo bem e aqueles berros insanos me deixaram além de tudo arrepiado. Dory que estava mais confortável tentou argumentar com o senhor, que mal parecia saber se estávamos realmente ali. De vez em quando ele olhava realmente pra gente, mas na maioria das vezes ele parecia não estar dentro do próprio corpo.
-(...)Como eu disse, somos do jornal. O senhor poderia por favor nos conceder uma entrevista? -Argumentou Dory-.
-Posso.
Ele havia voltado a si. Graças a Deus. Minha pele estava salva, eu teria algo para mostrar ao Austin e manteria meu emprego maravilhoso.
Entramos receosos, a casa era uma bagunça total, mal iluminada e pilhas e mais pilhas de roupas e sujeira esparramadas para todo lado. Eu juro que vi um rato correr do meu lado logo que a porta abriu completamente.
-Podem sentar naquele negócio ali. - Ele disse apontando o dedo para um velho sofá rasgado no canto do cômodo-.
-O sofá? -Perguntou Dory para se certificar-.
-Isso, Sofá. Sofá. SOFÁÁÁÁ! -Disse ele surpreso-
As coisas já não estavam começando muito bem. Eu e a Dory nos entreolhamos e parecia que nos lamentávamos juntos por termos escolhido esse emprego.
Estávamos arrumando as coisas para entrevista e eu resolvi começar a quebrar o gelo com o nosso doido amigo nos apresentando primeiramente.
-Olá senhor Smith. Meu nome é Nolan Lackolzzi vou escrever tudo o que falar, e essa é minha parceira Dorothy Montgomery ela vai ilustrar e fotografar a nossa entrevista, ok?
Ele me olhou estranho, a princípio acreditei que ele estava apenas agindo em seu estranho habitual. Mas aquilo estava diferente, ele não parecia realmente estar bem, parecia estar lutando com algo na própria cabeça, apertava-a tão forte que eu achei que ele mesmo iria esmaga-la. Os olhos apagados começaram a revirar e ele chacoalhava o corpo constantemente. Eu fiquei assustado. Queria correr dali. Me levantei depressa. Precisava de ar. Aquilo não parava. Ele chacoalhava a cabeça e gritava o próprio nome.
Quando estava próximo a porta, olhei novamente para traz e então ouvi a voz dele mudar, quer dizer. A voz que vinha dele. Era grave e duplicada e me chamou pelo nome.
-NOLAN.
Eu tremi, os olhos moribundos daquele homem se tornaram negros, orbitas de escuridão. Eu senti meu corpo amolecer. Ouvi um sussurro: Nigro amictu Dicere salve adventum clementer resalutatis eis, qui corde non videat creatura invisibilis in conspectu eius.
Apaguei.
Acordei confuso, tudo ao meu redor girava. A luz estava forte demais e eu não podia enxergar com clareza. Esfreguei os olhos e tentei foca-los, ouvi barulho de maquinas e vi algumas agulhas, inclusive uma delas estava cravada no meu braço. Eu estou no hospital? Senti alguém tocar minha mão, olhei para o lado e lá estava a Dory, olhando pra mim com seus olhos de avelã cheios de água:
- Oi Dory! Lindo dia, não?
Ela deu risada secando as lagrimas e me deu um tapinha no braço.
- Seu idiota, nunca mais me faça uma coisa dessas entendeu, nunca!
Me esforcei pra levantar um pouco, minha cabeça estava girando ainda e meu corpo pareceu pesado. Com algum custo consegui me colocar sentado na cama, enquanto tentava ajustar as ideias.
- O que aconteceu?
Dory me olhou com olhar de choro novamente, parecia assustada.
- Nós estávamos arrumando as coisas aí você começou falar e aquele homem começou berrar coisas estranhas eu não sabia o que fazer e, aí cadê o número da ambulância? Eu devia arrumar a bolsa, a van não andava rápido, o que eu podia fazer? ...
Ela estava falando muito rápido e chorando, eu não estava entendendo bulhufas.
-Dory, espera. Calma, respira.
Ela respirou profundamente, fechou os olhos e começou de novo.
O Ano é 95 d.C. O cenário é a solitária de Patmos, no Mar Mediterrâneo, próximo da Ásia Menor. Patmos era improdutiva, deserta e rochosa. Um local seguro para os navios aportarem durante as tempestades, mas inadequado para a habitação de seres humanos.
Mas, no primeiro século da era cristã, Patmos era uma colônia penal usada pelos romanos. Cercado de águas por todos os lodos, era uma penitenciária de segurança máxima: o Alcatraz daqueles dias.
Separado dos irmãos em Crista, não tendo comida suficiente, precariamente vestido, dormindo numa caverna fria, escura e solitária. João estava ali como prisioneiro. Seu Crime? Pregar o evangelho de Jesus Cristo (ler: Apoc. 1:9).
Com o Som de Trombeta
João identifica-se à Igreja como um irmão e companheiro na aflição, ou tribulação. Por que João não se apresenta como apóstolo e líder das igrejas da Ásia? É porque, naquele momento, os dias de seu ministério já haviam ficado para trás. João desempenhava ali a última tarefa de sua vida.
É justamente quando sofremos, e nos sentimos esquecidos, que Deus se manifesta para usar-nos de modo maravilhoso. João pensava que o seu ministério já havia chegado ao fim. Mas o melhor estava para vir... É nessa hora de sofrimento e aparente derrota que Cristo se manifesta na vida de João.
Foi em meio ao confinamento que João ouviu o alerta final de Jesus Cristo: "Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta" (Apoc. 1:10).
João ouve uma voz semelhante a trombeta - uma voz forte, distinta, penetrante e dominadora. A voz de Jesus Cristo. Já haviam se passado mais de 65 anos desde que João a ouvira pela última vez intimando-o a deixar a rede para segui-Lo. Tempos mais tarde, ouviu-A soar: "Está consumado!" Depois, ouviu-a em tons de despedida e na promessa de retornar a este mundo.
Agora, João ouve novamente aquela voz. Desta vez, diferente. Ele não ouve o sussurro gentil do Servo do Senhor que, como o profeta anunciara: "Não clamará, não se exaltará nem fará ouvir a Sua voz na praça" (Isaías 42:2). Ao invés disso, João ouve a voz forte e penetrante do Cristo glorificado que soa aos seus ouvidos como uma poderosa trombeta.
O Filho do Homem
Ao ouvir a voz como som de trombeta, João virou- se e viu sete castiçais de ouro. Nos tempos antigos, os castiçais eram colocados no canto do aposento com uma pequena lamparina sobre si. O propósito do castiçal era manter a lâmpada no lugar de maior destaque do aposento. O castiçal não era a luz; ele era o suporte da luz. O mesmo ocorre conosco. Somos o suporte da luz de Cristo, neste mundo em trevas. Esta é a missão da Igreja.
Os castiçais visto por João são de ouro, o metal mais precioso. O ouro representa o grande valor da igreja. Nosso valor é incalculável. Jesus derramou seu preciosíssimo sangue para nos resgatar. Pagou por nós um preço superior ao do ouro e da prata (I Pedro 1:18- 19). Somos preciosos para Ele!
No meio dos castiçais, João vê a figura como de um homem. Não um homem comum! Não um homem qualquer, mas o Filho do Homem. Este é um título messiânico profundamente enraizado no Antigo Testamento, pois fala daquele que haveria de vir, ungido pelo Espírito, para inaugurar o reino de Deus na Terra.
O Profeta Daniel viu o Filho do Homem vindo para governar o mundo com soberana autoridade: "Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do Céu um como o Filho do Homem... E foi- lhe dado o domínio e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas O servissem: o Seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o Seu reino o único que não será destruído" (Daniel 7:13-14).
João observa as vestes de Cristo. Seus trajes suntuosos significam Sua autoridade suprema sobre a Igreja - a Sua soberania. Jesus não está mais vestido como Servo sofredor. Ele é visto com as vestes de um poderoso governante - as vestes daquele que domina: Ele estava "...vestido até os pés com um, vestido comprido. e cingido pelos peitos com um cinto de ouro"(Apoc. 1:13).
Nos tempos antigos, este era um aparato de reconhecida autoridade, dignidade e poder. Quanto mais longo o vestido, maior a autoridade. Por isso, na visão que lsaías teve de Jesus glorificado, as orlas de Seu vestido enchiam o templo (lsaías 6:1). O domínio de Cristo é infinito, não cabia no templo sequer uma representação dele - por menor que fosse a escala usada.
Seu Caráter Puro
João volta-se neste momento para a cabeça e o cabelo de Cristo: "E a Sua cabeça e cabelos eram brancos com lã branca, como a neve..." (Apoc. 1:14).
Os cabelos de Jesus são brancos. Não de um branco comum e vulgar. É um branco que refulge tão brilhantemente quanto a neve que cai num dia ensolarado. Este branco é símbolo da absoluta pureza e santidade de Cristo, Santidade é o atributo que mais sobressai em Cristo. É o topo de Seus atributos.
A Santidade de Cristo é vista em Seu ódio pelo pecado. Ele acha-se totalmente afastado do pecado. Para que se possa estar em sua presença, é necessário ser santo. Quando os anjos pecaram, foram expulsos do Céu, e separados da Sua presença. Por rejeitarem a Cristo Jesus, os homens serão expulsos de Sua presença no Juízo Final (e destruídos).
É santidade o que Cristo espera de Sua Igreja. Precisamos estar separados do mundo; não podemos ser como o mundo. Pedro nos adverte: "Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver. Porquanto escrito está: Sede santos, porque Eu Sou santo" (1 Pedro 1:15-16)
Seu Profundo Olhar
João contempla, neste instante, os olhos de Cristo, A visão torna-se sobremaneira impressionante. Raios de fogo saem dos olhos do Senhor Jesus: "...e os Seus olhos são como chama fogo" (Apoc. 1:14 u.pj.
Jesus vê os lugares mais profundos e secretos de cada Igreja. Nada Lhe está oculto. Porque "não há cri atura alguma encoberta diante dEle; antes todas coisas estão nuas e patentes aos olhos dAquele a Quem havemos de prestar contas" (Hebreus 4:13).
Jesus observa tudo com uma visão mais poderosa que raios X. Nada escapa à Sua atenção. Nada pode obscurecer-Lhe a visão. Nenhum conhecimento está fora de Seu alcance. Ele vê perfeitamente cada ministro e membro de Sua Igreja.
Com olhar penetrante, Jesus sabe completamente cada detalhe sobre nós. Não há pensamento secreto, palavra ou intenção que Jesus não conheça! De fato, Jesus conhece nossos pensamentos mesmo antes de os expressarmos (Salmo 139:4). Ele lê a nossa correspondência sem ter de abrir o envelope!
Com olhos penetrantes como chamas de fogo, Jesus olha para Sua Igreja. Ele diz à Igreja em Éfeso: "Eu sei as tuas obras" (Apoc. 2:2). A Esmirna, Ele observa: "Eu sei tuas tribulações" (Apoc. 2:9). A Pérgamo Ele fala: "Eu sei onde habitas" (Apoc. 2:13). Às Igrejas em Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia Ele diz: "Eu sei as tuas obras" (Apoc.2:19e3:1,8e 15)
Com "os Seus olhos como chamas de fogo" Jesus está a olhar e acompanhar a vida de cada membro de Sua Igreja. E o que é que Ele procura? A resposta pode ser dada numa única palavra: Santidade. Jesus busca. Jesus espera. Jesus sonha em ver santidade na vida dos membros de Sua Igreja.
Sua Disciplina Severa
A visão vai além . Observando a Cristo, João vê que de Sua boca saía uma arma mortal - uma espada: "... e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes..." (Apoc.1:16). À espada de dois fios mostra a autoridade judicial de Cristo para administrar disciplina em Sua Igreja. Quando a Palavra de Deus é desobedecida, Jesus empunha Sua espada para disciplinar. Mas o inimigo de Cristo não é a igreja, e sim o pecado.
Com esta espada afiada, Jesus remove cirurgicamente o pecado de Seu corpo - a igreja. O pecado é um tumor maligno! Se o seu corpo for atingido pelo câncer, com certeza você fará o possível para recuperar a saúde. Isso requer submissão ao bisturi do cirurgião. Não porque você odeie seu corpo, mas justamente por amá-lo.
O pecado, da mesma formo, tem que ser extirpado do corpo da Igreja - onde quer que ele se encontre! Jesus ama Sua igreja e deseja-lhe a saúde espiritual. Por isso, onde houver pecado Ele o remove com a Sua espada aguda de dois fios.
Embora pareça traumático, esse tratamento não é maléfico ou vão, O pecado tem de ser removido, a disciplina tem de ser aplicada, por amor ao membro e por amor ao corpo - a Igreja.
Em sua graça, Cristo muitas vezes contém Sua disciplina para dar mais tempo para que nos arrependamos. Ele prefere que nós mesmos tratemos o pecado. Mas não devemos pensar, nunca, que Sua tardança significa que Ele não vai nos disciplinar - que Ele esteja passando por altos nossos pecados. A Bíblia adverte: 'O Senhor é tardio em irar-se, e de grande poder. e ao culpado de maneira alguma terá por inocente (Naum 1:3).
Apelo
Esta visão, dada a João, nos traz um alerta final, da parte de Deus. O tempo é curto. todos as profecias estão se cumprindo. O fim se aproxima. Cristo virá em breve. Aliás. Ele já está voltando. Não há mais tempo a perder! Esta é a hora mais importante de toda a História humana São os momentos que precedem a volta de Jesus Cristo. E tempo de acordar e servir ao Senhor. E tarde da noite!
O apóstolo Paulo nos adverte: "e isto digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertardes do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé. A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos pois as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz (Romanos13:11-12).
Esta passagem mostra crentes espiritualmente sonolentos. Indiferentes ao cumprimento das profecias. Alheios aos sinais da vinda de Jesus. Mas já é tarde, o amanhecer da volta de Cristo está despontando. A igreja precisa estar pronta; é hora de despertar e dar à trombeta o sonido certo. É hora de avisar o mundo! Jesus está voltando!
SINOPSE do $UCE$$O:
Foco & Ação = Prazer
(Assim vê, aquele que toma consciência da arte de viver bem)
Desipnotize-se
Existem dois polos que regem a nossa vida: Polo Positivo e Polo Negativo. Podemos associá-los aos: Polo Norte e Polo Sul, que também regem a Terra e nos influenciam sobremaneira. O entendimento que arrancamos da nossa mente, do nosso pensamento, nos coloca fortes e falsos limites.
As brincadeiras e gozações feitas por nossos amigos e parentes, ficam impregnadas no nosso subconsciente. O poder da palavra é hipnotizante! A maioria humana, subjuga-se à hipnose da mídia, ficando na inércia, apenas na compulsão. A maioria não pensa, é pensada! Portanto, uma minoria que se condicionou, a pensar e enxergar, ou seja, optou pelo condicionamento positivo, obtiveram o sucesso. Olhe só o que fizeram conosco, nos adjetivaram de incompetentes, ridículos, gordos, magros, feios, enfim a verborragia é muito grande que redunda em medo. Então o que nos restou da hipnose aplicada sobre a nossa personalidade, foi o medo! Medo disto, e medo daquilo.... Agora se fez uma enorme confusão na nossa mente.
Vamos falar de você, quando encafifa com uma ideia, simplesmente está praticando a auto-hipnose positiva ou negativa. O poder da hipnose é, o poder da crença, da fé. O poder dos "flashes", dos seus lampejos, os quais têm efeitos subliminares maiores do que a palavra de qualquer hipnólogo, então quando você assiste aos apelos comerciais, você pensa se controlar, porém, vai compulsivamente às compras. Ao assistir os jornais que enfatizam a criminalidade e o banditismo, não se apercebe hipnotizado negativamente pelas notícias macabras, até ficar apavorado, com medo da vida, a insegurança é tamanha que você tem fobia do ser humano, a tal misantropia, aversão ao ser humano, sentindo a solidão, ficando a sua mercê. Este fato, pode afetá-lo profissionalmente, colocando-o na inépcia, ou na inaptidão profissional, preste atenção: isso está ocorrendo na sua depreciativa visão mental que poderá plasmá-la pela falta de autoestima. Você estará neuro associando suas falsas qualidades impostas pelos seus "amigos", através de suas chantagens emocionais, os quais assim também agem pelo efeito hipnótico dominó de condicionamentos do sistema global. Ou seja: "A inconsciência humana anda à solta". Creio plenamente na essência humana, e respeito profundamente a sua fé religiosa, ou filosofia de vida. Acredito piamente nas boas intenções dos homens, este é o grande motivo pelo qual escrevo convicto de que a palavra pensada, escrita e falada alimenta a alma, ela sana nossas dores, traz prosperidade, paz, ânimo, alegria, fé, união familiar e social, e principalmente o amor fraternal. Aquela palavra sincera, a qual independe de qualquer muleta protecionista, a do bom-senso, a da ética, despojada dos maus sentimentos.
Equilibre a sua vida nos negócios, no amor, na convivência social, e na paz interior. O meu desejo é: vê-lo sempre em estado de equilíbrio, livre do medo, da solidão, da doença, da dor, da aflição, do desânimo, e da apatia pela vida, e para tanto, terá de se aplicar na técnica do relaxamento profundo, para alcançar o estado extrassensorial de bem-aventurança.
"MEDITAÇÃO PROFUNDA"
Caso não tenha conhecimento disto, saiba: você pode num simples clique mental, entrar em estado de graça, diante da mais aflitiva dificuldade, liberando dentro de você os hormônios: ENDORFINA, DOPAMINA, SEROTONINA e ADRENALINA substâncias naturais produzidas pelo seu cérebro, eliminado-lhe as dores, e dando-lhe euforia, e alegria de viver, que é, a maneira pela qual a natureza divina cuida de seus filhos, quando se preparam para tais adversidades.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
ENDORFINA
Hormônio presente no cérebro, na hipófise e em outros tecidos dos animais vertebrados, e que tem efeito analgésico semelhante ao da morfina. Este neuro-hormônio atua como analgésico na supressão da dor, e, com isso, suscita sensação de bem-estar e tranquilidade e um efeito antiestresse. Associa-se sua produção incrementada a alguns tipos de exercícios físicos, sejam aeróbios ou anaeróbios, quando se atinge um certo grau de esforço, ou através de estado hipnótico de relaxamento profundo.
DOPAMINA
Mediador químico, indispensável para atividade normal do cérebro.
SEROTONINA
Substância cristalina existente no cérebro dos vertebrados e invertebrados, de importante ação tanto neurotransmissora (responsável pelas reações de prazer e bem-estar) como vasoconstritora, com propriedades que lembram as de algumas drogas alucinógenas.
ADRENALINA
Hormônio produzido pela medula das glândulas suprarrenais, importante estimulador da pressão sanguínea e da atividade orgânica, produtora de excitação, ímpeto, energia provocados por atividade estimulante, ânimo, vigor, disposição para agir: Vai ser preciso muita adrenalina para enfrentar e vencer esse problema.
Seja sábio!
Desipnotize-se!
Descondicione-se
Conscientize-se
Pense sobre isso
jbcampos

Durante algum tempo da vida de uma criança abandonada por seu pai, ou até mesmo pela mãe, a mesma vive em um constante sofrimento, pois vê seus colegas de escola sendo feliz com seus pais, comemorando datas especias como dia das mães, dos pais, aniversário, dia das crianças, enfim tendo uma vida como deveria ser, porém a dela não é bem assim.
A dor é muito dificil de entender e até mesmo de superar, quando a criança cresce muitas vezes vive revoltada e muito rebelde, faz tudo que tem vontade, não da ouvidos a ninguém e alguns acabam entrando para um caminho sem volta, culpa daqueles que as largaram, que não pensaram como seria o futuro dessa criança, só que os mesmos não se dão conta de que tudo que se planta, também se colhe.
Acabar com o futuro de uma criança por um capricho ou por ser inconsequente, faz de você alguém insensível, e dessa criança uma pessoa forte, pois aprende a lidar com as dificuldades da vida desde pequena.
Tatiane Sodatti Silva
Corra para fora de Si.
Tente pensar por si próprio, sem ouvir a voz do alheio,
cuidado para não entrar num estranho devaneio
Idéias solidas podem de confundir,
ai então é hora de parar e agir.
Parar de pensar e agir é cair no modismo,
é olhar para baixo e enxergar um profundo abismo.
Idéias aqui e ali não param de se fundir,
corra para algum lugar talvez irá conseguir....
Conseguir o que , não adianta fugir,
fugir com artifícios que a lei não cansa de proibir.
Felicidade aparente
se estas linhas fixou em sua mente
Tu fazes parte desta gente.
rogerioalcolea@gmail.com
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Morri
Aqui gostaria de estar,
Neste globo terrestre já não posso mais pisar
Estou só,
minh'alma sofre como as provações de Jó.
Somente minh'alma é que pode se pronunciar,
o meu corpo num lindo jardim f lorido
eternamente a descansar.
Neste mundo já não faço parte,
o meu nome está gravado na sepultura
como se fosse arte.
Sentimentos ainda posso sentir,
lembranças da minha via terrestre,
se fosse pintar um quadro não conseguiria colorir.
O meu cadáver duro e frio,
fechado numa caixa que alguém um dia esculpiu.
Um conselho eu dou para os que possuem um tabernáculo carnal
Procure praticar o bem
evite certamente o mal.
rogerioalcolea@gmail.com
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Autopia de ser um Servidor Linux
Bytes e bytes de vivências,
Gravadas num enorme hard disk.
Às vezes buscando na memória cachê
Pequenas idéias, pequenas lembranças.
Talvez com bad block devido ao stress,
corriqueiro do dia a dia.
De tempos em tempos um descanso na fazenda,
Ouvir os sons dos pássaros, estágios de uma desfragmentação,
E estar pronto novamente para produzir e produzir.
Os anos se passaram é a hora de upgrade,
Apagam-se memórias permanentes e pequenas recordações,
restam apenas um gabinete , um flopy
e um cd-rom que raramente consegue ler algo.
Ou melhor, não resta, lá no fundo de uma prateleira
A fim de ser reutilizada partes de seu conteúdo.
Quem sabe uma nova existência na louca utopia de ser
Over clockizado com um software revolucionário,
Rodar linux e virar um servidor.
Rogério Thiago Alcoléa- Aprendiz de Poeta
rogerioalcolea@gmail.com
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Desempregado.
Estamos ai, a escolha é sua
bem vindo a vida, bem-vindo a rua.
Para expressar o que sinto de parábola usarei.
Minha carreira, uma viagem
para que lugar não sei.
Vi muito da janela deste trem,
belas paisagens, belas ruínas.
Pessoas gritando,
outras falando amem.
Desta viagem apesar dos pesares,
As paisagens pretendo levar,
As ruínas, muito obrigado aqui irei deixar.
A bagagem me desculpe por direito levarei,
Dentro dela todo conhecimento e amor que cultivei.
Me perdoe.. se magoa um dia deixei,
é para você essa linha com carinho dediquei.
O trem continua, minha parada é aqui,
como tudo na vida, hoje tenho que parti.
A uma nova viagem, buscando seguir,
com ética e dignidade usando o que aprendi.
rogerioalcolea@gmail.com
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Oh! Elipse que me inspira.
Traz-me enfastia não poder observá-la de perto
Es tão linda Oh! Elipse incandescente
Deretes o calor desta escuridão.
Não temo o breu que te circunda.
Olha a orbe e não te encalistra
Antes só do que cheia de indivíduos,
pavoneando suas pequenas conquistas.
Solidão não, aqui no planeta azul,
um panegírico incessante a tua perfeição.
Ingênua quem sabe, olho límpido,
não conheces a maldade dos seres,
que a louvam.
Talvez seus dias contados,
Como formigas que descobrem o doce,
hão de descobrir algo para sugar sua alma,
e ofuscar seu brilho.
rogerioalcolea@gmail.com
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Sistema
Reprodutores de um sistema falido,
Que não nos leva alugar nenhum.
O ideal é a revolução ,
Para chegarmos num bem comum.
O que fazer para mudar?
Se a massa acomodada com suas idéias
nos deixa a desejar.
Capitalismo a elite sustentando o egoísmo,
miseráveis procurando no lixo dos ricos
algo para saciar a fome.
Pessoas matam para adquirir
o dinheiro fabricado pelo homem.
A elite esbanjando seus bens
que foram adquiridos sem sacrifícios.
Seres lutando para ganhar um salário
só para sustentar seus vícios.
Ingratidão
pessoas vendendo o corpo para ganhar o pão.
rogerioalcolea@gmail.com
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Mundo medíocre.
A lucidez me padroniza a mediocridade deste mundo.
A embriaguez me abre uma única janela que me faz sair deste mundo medíocre.
A confusão de sentimentos em sintonia com o sorriso de um alcoólatra transmite para os seres que os observam uma certa felicidade disfarçada de angustias reprimidas.
Tudo para sair do mundo real, ou apenas para esquecer as punhaladas provinda da ganancia que nos rodeia
rogerioalcolea@gmail.com
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PENSAMENTOS NA ESTRADA
Sozinho nesta longa estrada,
tento mas não consigo pensar em nada
Turbilhões de pensamentos nesta caminhada,
cumprirei esta jornada
Sorri sozinho com meus próprios pensamentos,
são estes blocos de idéias
que vão e voltam com o vento.
Parece que penso ainda como criança,
com mais experiência
mas sem muita confiança.
A brisa levemente fria
paira sobre meu corpo e me arrepia.
O cheiro da natureza
me faz entrar em sintonia
com esta magnifica leveza
A beleza da natureza
entra em extremo contraste
com idéias e incertezas
Questões não respondidas
mesmo assim não deixo de apreciar
esta linda vida.
rogerioalcolea@gmail.com
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Capas Negras
Não sei porque insisto em viver,
o mundo não e mais aquele
quando buscava crescer
Poeiras sobre pessoas desmerecem
a raça humana
Capas negras envaidecem
camuflando o bacana
Desaparece entre muitos
a igualdade desigual
Faz com que leve a vida
magoando atrás do mal
Objetivos traçados
doa a quem doer
Capas negras vai sangrando
até a alma morrer
Gostaria de voltar, a infância sem igual
Onde sorria puramente
onde não enxergava o mal.
Fecharei este baú,
lançarei a chave ao abismo,
deixarei dentro dele todo ódio e egoísmo.
Mas também não sorrirei
não tenho razão para tanto
Talvez um dia rindo,
embaixo de um manto,
deixarei me levar pelo ultimo canto.
O azul do arco íris serei.
Quando olhares para cima
meu sinal deixarei.
Serei o símbolo da Alegria, Paz e Amor
Não haverás capas negras , não haverás dor
rogerioalcolea@gmail.com
##############################################################
Numa praça em Piracicaba.
Problemas sentimentais
visão a escurecer
de pé não estava mais
sem muito saber.
Sentado ali estava
vários seres ao seu redor,
e querem saber...
- Família?
- Alguém morreu?
- Fez por merecer?
Com a visão ainda
escura
Sua pronuncia calada
seres desconfiam que se foi
sua verdadeira amada.
Enquanto um evangélico
grita em seu sermão
ao olhar aquele ser
vou-lhe fazer uma oração.
Sobre a cabeça sua mão
palavras fortes e de consolação
Perguntas ainda são feitas
respostas ainda não
O guarda que ali estava disse:
- Cumpri minha missão.
Ao levantar o indivíduo que tinha
caido no chão.
O pregador despediu-se
até logo meu irmão.
E eu que ali observava
Voltei para o serviço
Sei lá porque escrevo
Não tinha nada a haver com isto.
rogerioalcolea@gmail.com
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Reflexão do viver.( a pintura é a mesma de sempre )
Um ano se finda nada se muda,
pessoas eufóricas, outras pedindo ajuda.
O que terá de tão especial
na entrada do novo milênio ?
Evolução, nada estagnado ,
Para compreender esta transformação
não precisa ser intelecto nem um gênio .
O que diz respeito ao ser humano,
muitos regridem e muitos evoluem na arte da vida.
Enquanto uma família feliz enriquece,
milhares de pessoas se sacrificam em sua vida sofrida.
A vida é um quadro cravado na parede
que algum dia alguém quis pintar.
A pintura é a mesma de sempre
só muda a forma de pensar.
Pessoas sacrificam outras,
até fazem pôr merecer ...
Se buscas a felicidade, cultive o amor
E verás que a alegria está dentro de cada ser ...
rogerioalcolea@gmail.com
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A felicidade nas pequenas coisas.
A massa cinzenta entra em erupção,
a alma vaga sobre as nuvens.;
Saltará lá de cima, melhor não .
Reflito na minha vida terrestre,
valores, tabus, bloqueios metais,
recordo nos conselhos do mestre.
Como é bom o agora,
momentos que não voltam jamais.
A brisa passa e leva-o embora.
No meu ser habita uma extrema felicidade,
gostaria de fazer feliz toda a humanidade.
Recordações passam sobre minha mente,
Coisas , cores, lugares, sons e gentes.
Um flash do meu passado ,
uma infância bonita e alegre,
fraternidade e amor sempre ao meu lado.
O tempo apaga a minha vida.
Infância , adolescência não serão mais vivida.
Temos que viver sempre com emoções ,
são gestos simples que marcam nossos corações.
Um sorriso, um olhar, se tu deres valor ,
significará mais que uma noite de amor.
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A Tristeza em teus olhos.
Tio me dá um trocado,
seus olhos descrevem a tristeza
de um garoto mal tratado.
"Deus" lhe pague , muito obrigado
as vezes para comer o pão
as vezes para sustentar viciados.
Sua mão é estendida , tristeza em seu semblante
irmãos passando fome, drogas , misérias
mesmo com tudo isto a vida leva avante. .
Imagine o coração deste ser machucar,
ao ver você o vidro de seu carro fechar.
Se tu não pode ajudar ,
de apenas amor.
Fale uma palavra amiga
com certeza darás valor
Não quer apenas seu dinheiro
que tu gastas em abundância
Quer Ter uma vida digna
E aos seus irmãozinhos
dar uma boa infância.
Seus olhinhos encheram de lágrimas
ao escutar uma engratidão. . .
Ao pedir ajuda no semáforo :
- Vai trabalhar vagabundo
- Para mim você é ladrão.
Do mesmo jeitinho que estes garotos pedem
Peço para ti agora :
Faça o bem enquanto é tempo pois um dia
Desta vida irás embora.
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Sonhos.
Sonhos se confundem com a realidade,
Sonhos bons , sonhos ruins,
sonhos que expressam desejos que estão dentro de mim.
Sonhos sem pré conceitos, sonhos que
expressam nossas verdadeiras essências.
Sonhos que representam nossos íntimos
que nos mostra nossas carências
As vezes me pego sonhando acordado,
sonhando sobre meu futuro ,
tentando enxergar por detrás de um enorme muro.
Quem somos nós para sonhar ?
almas fracas, praticamos injustiças
e temos intenções ingratas.
Mas não podemos deixar de sonhar ,
pois sonhar nos trás bem perto
desejos e conquistas difíceis de se concretizar.
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Tua alma Transparente
A transparência de tua alma
em teus olhos não cessam de cintilar
Meu ser procura em teus lábios
saciar a minha sede de amar.
Tua pele aveludada
com sinceros toques, por mim é acariciada
Se pudesse congelar,
congelaria os teus beijos e abraços,
nestes momentos magníficos atariam
em nós eternos laços.
Não consigo deslizar em tais linhas
A magestosidade do que estou sentindo
Sinto o meu coração pulsar,
entoando um lindo hino
e a cada sorriso teu sobre o horizonte
este hino vai fluindo.
Em teus braços me acalmo do mundo moderno
Minh'alma a levitar gostaria de ser eterno.
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O ritmo do amor..
As pálpebras se fecharam
O ritmo do coração se eleva
Como naquele instante mágico
Retratado por Adão e Eva.
O sangue se flui , de uma forma jamais fluida
Sobre o corpo deitado que ali estava
Arrebatados para a dimensão do amor
Ali nada nos faltava.
Sobre uma sinueta uma escultura divina e macia.
Com os olhos abertos desacreditava
Na magnificência do que via.
Meus lábios sobre teu corpo
Deslizavam em demonstração
das grandezas de sentimentos
que detenho em meu coração.
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Sinto Saudades
O antes sempre será
Melhor do que o agora.
Momentos atrás maravilhosos
Outrora , foram embora.
Loucuras insanas
Êxtases de sensações
Talvez ilusões
O que já foram emoções
Lições,
Escorregões,
Regressaria?
Com certeza,
Impares gozaria
O meu ser invade,
Saudade
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Verdade?
A verdade não existe.
Existem mentes doutrinadas a pensar
Da mesma forma causando sensações
Disfarçadas de uma veracidade coletiva
Vida , Grande Mentira
A cada verdade , duas mentiras se cultivam
O que colhera?
Regresse no hoje
Começaste a mentir para ti mesmo
Ao levantar , reproduzindo mentiras alheias
Maltratando seu próprio ser
Colherás o que plantaste
Talvez sem merecer.
Sofrerás muito
Quem sabe
Estágios do aprender.
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Euforia Musical
Angustia no ser
Talvez merecer
crescer, status
aparecer.
Vocação presente
Pulsar ,
ritmo ausente.
Querendo sair , sons,
claves, musicas, tons.
Vozes gritantes, fãs
Criticas e jogos, clãs.
Alegria fantasiosa
Dar o que está guardado
Sair da alma.
Sem ser crucificado.
Mostrar todo talento
Cantar, pular ao relento
Lual , flauta , violão
Guitarra ,Baixo, Bateria
Euforia, Euforia , Euforia
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Sede de Paz.
Acordei de um sono profundo,
deparei com o mundo real
era bom quando eu sonhava,
ter acordado foi o meu mal.
Agora sofro pôr almas alheias,
No meu corpo circula um sangue
Frio que pulsa sobre minhas veias.
Sensível com tanta destruição,
Posso lutar contra " isto " mas lutarei em vão.
Fico olhando para o relógio
vendo os segundos se movimentar,
a cada movimento do ponteiro
um corpo estendido no chão
que não para de sangrar.
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Dê graças ao divino.
Olho para cima e observo o caminhar das nuvens,
lindo magnifico todos temos o direito de apreciar
Seres, montes e montanhas, brisa pássaros a cantar.
Pare um instante e valoriza a visão que tu tens ....
A felicidade se valoriza na simplicidade,
se tu quiseres muito enfeitar,
pelos vão de teus dedos a mesma irá escapar.
Tolos são aqueles que buscam alegria nos bens materiais ..
Um dia todos partiram, restará nada mais do que uma vaga lembrança, e nossos corpos serão consumidos pelos animais.
Escrevo em vão, coisas minha,
feche os olhos e graças a luz divina,
de estar podendo ler e decifrar tais linhas.
Nos momentos difíceis da vida temos que manter a calma
Isto fará que preservemos a saúde da alma.
O melhor remédio para canseira é o descanso
para a raiva um coração manso.
Para o ciúmes a confiança
Para o ódio a tolerância.
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Eis que levitava..
Eis que levitava
com os olhos fechados enxergava
algo que a principio desacreditava
No mundo não mais estava
Minha vida terrestre ali se findava
Maravilhoso o que contemplava
o mundo em forma de miniatura eu observava.
Assim pude entender a essência de quem liderava.
Pude compreender a divindade do criador
que tanto nos amava
Muitos seres pude ver
Alguns praticando o bem
outros não fazendo por merecer.
Alguns preocupados com o porquê da existência......
Outros imitando o alheio sem querer saber de suas essências.
Outros pensando apenas em trabalhar ,em dinheiro ganhar
Esquecendo as maravilhas que estão ai para contemplar.
Triste fiquei .....
Os seres humanos não valorizam o Redentor
Fanatismo ,rituais sem valor.
Em busca da ganância, almas sacrificadas
Não foi em vão que seus pés e suas mãos na cruz foram cravadas
Agora pare e viva!
A vida é uma só , não seja digno de dó.
Valorize cada ser,
cada pôr do sol e cada nascer,
Valorize uma flor.
Dê para receber amor..........
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Dispersão Mental.
A vista enubada
Vozes, múrmuros, tons
Frases pronunciadas que entram e saem
Sem nenhuma edificação
Sem artifícios , sobriedade total,
apenas cansaço e stress do mundo atual
Apenas o corpo
a alma está muito longe daqui.
Aonde será que ela estará?
Tentando fugir?
Assunto interessante ,
atenção nula,
viagem ao além do inexistente.
Mente vazia
A emissão de um eco no horizonte
Que se perde na minha insignificãncia.
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Amor turbulento
Promessas impossíveis prometi
Era sincero não fingi
Me entreguei
meu coração e meu corpo te dei
Não pensava
que este amor se minguaria e se acabava
Eu agora sofro
neste barco já não embarco mais, e nem em outro
Talvez momentâneo seja
E com o passar do tempo o meu coração te deseje
Nunca mais amarei
no meu coração, devido a desi lusão
espaço jamais abrirei
Me martirizo por momentos lindos não aproveitar
jamais pensava que este amor ia se acabar.
Não posso pensar em tua ausência
sentimentos ruins tocam o meu coração
deixa transmitir a minha carência.
Uma incógnita no ar
Para não sofrer com esta desilusão
procuro nisto não pensar.
O amor é mais forte que isto,
se tu insistir
terei que desistir
e meu rumo prosseguir.
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Absurdo Môr.
Absurdo o que sinto pôr t i
Não esperava sentir o que sinto
a primeira vez que te vi
Algo não palpável
,¨sentimentos¨, a vida é inexplicável .
Se tivesse poderes guardaria
meus sentimentos e os teus
numa caixinha fecharia.
O que sinto pôr ti é muito bom
Jamais negaria.
É mais do que amor
não tinha mais esperança
que isto aconteceria.
Agora paro e reflito
nosso amor tem que ser infinito.
Se nós agirmos sempre corretamente
outros seres não terão nosso corpo nossa mente.
"Deus" valoriza a sinceridade e o respeito ,
se tu continuar a me amar e a me respeitar
te amarei sempre ficarás no meu peito.
A prudência e a base da inteligência ,
Somos e seremos felizes , basta ter paciência .
Imagine nós dois flutuando
altura as poucos alcançando.
Observaremos o mundo lá de cima,
veremos muito mais do que é visto,
Verás que o mundo é mal que não fazemos
parte disto.
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Acorde para a Natureza.
Temos que refletir no futuro de nossa nação
O que será de nós com tanta poluição
A hora é esta
Vamos salvar nossas florestas
Conhecemos a mãe natureza
Sabemos de suas maravilhas
e de tuas belezas
Preserve o que resta desta riqueza.
Para ver o que está acontecendo
com a nossa natureza, não precisa ter vivência .
Pessoas desmatam, poluem ,
acabam com nossa fauna com tanta imprudência .
Temos que fazer um minuto de silencio pôr dia
é nossa vida que está morrendo.
Haja paciência......
Com tanta destruição
não há como haver compreensão
Tem que haver conscientização.
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Degustação da liberdade.
No teu coração ,na tua mente não posso entrar
Se pudesse voltarei a te apaixonar
Nada é mais forte que o amor
por isto que sinto tanta dor
Que motivo tão forte
Te levaria a pensar na morte?
O meu coração morreu
O brilho dos teus olhos tu não devolveu.
Se tu pensas em amar outro ser
ódio fará o meu coração ter
Sentimentos ruins me domina
Na minha mente teu sorriso ainda me fascina.
Talvez aprenda a degustar a liberdade
sem amor apenas com amizade.
Sorrisos para manter as aparências
com as dificuldades é que adquirimos vivências.
Não sei mais sobre o amor
para mim estou fazendo um favor.
Para sair desta depressão lutarei com vigor,
é lutando que nos damos valor.
A muitos anos não me expressei
os sentimentos falaram mais alto e chorei
Se fosse nascer de novo muitas coisas não faria
curtiria bastante a vida e jamais me apaixonaria.
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Foi um Pesadelo.
Durmi ,
O relógio tocou e eu não acordava.
A paixão falou mais alto e por anos,
achava que te amava
Sonolento eu estava
Não sabia ao certo se meus atos te agradava
Deitado num colchão macio e aconchegante,
a rotina passou a ser um fato relevante.
Se não fugia se entregava ,
ai então o mundo para ti acabava.
Visões do mundo diferentes,
corações opostos, duas mentes.
Ninguém foi o dono da razão,
me feriu , partiu meu coração.
Já era tarde , então acordei
muito tempo perdi.
Refleti e conclui
Não foi bom
Apenas me iludi,
sofri.
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Reconquista
Queria também parar e pensar,
se tento refletir começo a viajar.
Não consigo finjo que não amo
e nem ligo.
A aparência pode enganar
Mas não cessarei de te amar.
Não me acanho de expressar o que sinto,
escrevo linhas sinceras e não minto.
Acho que assim simplesmente
Não irá acabar
Moverei montes e montanhas para te reconquistar.
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Frases fictícias .
A relação espaço e tempo,
nos obriga regras cumprir
Deixamos a essência
Alheios servir
Nunca chegamos ?
Aonde estaremos?
Nunca chegaremos..
O homem contra si mesmo.
Olhos medíocres
Cameras que perseguem
Em busca da verdade
Mentira de alguém.
Privacidade
nem nas profundezas do oceano.
Tua mente estará lá
acusando teu engano.
Não se deixe levar
Encare
Frases fictícias
Algo para se pensar.
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El espectáculo de la vida. |
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No meio da peça, aplausos e reconhecimento do publico |
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Acorde para a Natureza |
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Temos que refletir no futuro de nossa nação |
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Verdade? |
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A verdade não existe. |
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O antes sempre será |
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|
Cidade Maravilhosa |
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Oh! Titulo absoleto. |
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|
Lagrimas de sangue |
|
Lagrimas de sangue |
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|
Cidade Maravilhosa |
|
Oh! Titulo absoleto. |
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|
Asas a um pássaro cego. |
|
Do que adianta voar, |
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|
"Deus Escreve" |
|
" Deus Escreveu". |
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Semeando a Poesia |
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Escrevem pouco e dizem muito. |
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Vertentes Musicais
A arte da combinação do som,
Suavidade, e ternura harmônica.
sucessões de sons agradáveis a audição.
Musicas das esferas,
capazes de vibrar constelações,
esferas celestes, estrelas e planetas.
Musicas, patrimônio de um povo, ritos e sons
remetem a focloridade.
Musicas sem destinos religiosos,
Profaníssimo.
Musica celestial, musica sacra dos Deuses,
Voltada a alcança-los.
Grandes peças sinfônicas,
centenas de instrumentos em sincronia,
em cima do que foi escrito.
A que sai da alma,
musica vocálica.
A quem se destina a tal,
musicante.
Quem musicocrafou, sons da natureza ?
Musicocrafar sons de um sentimento,
a tristeza de uma opera,
a alegria de um Axé.
Musicista todos nós,
Musicofilia a maioria,
Musicofobia, como pode existir!!!!!
Sem musica, sem essência,
Buscamos a perfeição,
Hiper-sensibilidade da audição,
Sermos sensíveis a diferença de um bemol,
a um sustenido.
Ao tempo de uma oitava de nota.
Musicalizar sentimentos?
Musica é arte, quadros abstratos que transmitem
Em cima de uma bagagem individual de cada ouvinte.
O que me deixa feliz talvez lhe trará tristeza.
Rogério Thiago Alcoléa)
rogerioalcolea@gmail.com
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Semeando a Poesia
Escrevem pouco e dizem muito.
Poetas são como o semeador que
plantam árvores sem saber que vai
descansar em suas sombras.
Sombras que aliviam o calor, sombras
que trazem sombras.
Poetas não possuem almas, são a própria
alma, são os próprios sentimentos,
buscam o porque daquela brisa,
o porque de tal sorriso,
o porque de tanta desarmonia.
Poetam não vivem!
Apenas descrevem vidas alheias, sentem
o imperceptível.
Poetas não choram, engolem seco, cristalizam
suas lágrimas, e as transformam em linhas.
Missão árdua, descrever o indescritível,
buscar a essência de sentimento de outrem,
talvez nunca sentido, talvez nunca vivido.
Poetas não envelhecem, petrificam,
imortalizam seus nomes e vivem para sempre,
deixam o que foi sentido,
e em cada leitura, um novo sentimento,
que fortalecem sua imortalidade.
rogerioalcolea@gmail.com
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Que venha a dor e anestesie tal sofrimento !!!!!
Íncola desta cápsula incolora,
Degustando o amargo de gariroba,
Furente pôr Ter que Ter, para ser
Minguando neste invólucro,
Encalistrado pôr estar ali.
Face para baixo, como quem observa
vermes embraseado,
horizonte solidão,
sem visão,
anelídeos na terra batida.
Difícil libertar-se,
embalsamado em plantas
leguminosas papilionáceas.
Contas de A até x,(dzeta)
para virar fagulha de um explosão,
Oferecer o corpo ao leu íntomo,
para que suguem seu sangue.
Quem sabe com tal moléstias a dor seja,
o anestésico para mingúes enraizada.
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
LMNOPQRSTUVWXYZ
L
Letra
tear
reta
arte
Letra é arte.
Letra alerta.
Letra arreta.
Letra é aleta.
Ela é tear: ata, reata e atrela.
A letra está para o átomo,
como o poema, para a matéria.
Poema é amor entre letras.
Pode ser minúscula em Bashō.
Pode ser maiúscula em Camões.
Letra não é nada sem o leitor
ou é um muro de incompreensões.
Mas só alcançará a completude
uma vez que unida a suas irmãs,
tal como a aranha tece sua rede
e capta no orvalho a luz da manhã.
Três letrinhas já podem ser poema,
como, em sânscrito, a palavra Om.
O poeta escritor, sem a alma gêmea
do leitor, o poeta seu irmão,
morre doente, na pobreza extrema,
como Camões morreu na solidão.
Mesmo Camões, sem ter lido Bashō,
não foi reconhecido ainda em vida,
não faz sentido uma letra só,
mas apenas quando está unida
a uma outra e depois outra e assim
sucessivamente ad infinitum...
Dedico estas menores e piores redondilhas ao Paulo Leminski
Lê mim se quiser
Me lê sem querer
Entre eu e você
O que der e vier
Um soneto à mãe
O perfume e a beleza das cores
das flores que ela tanto amava,
para sempre, serão nosso deleite,
refletem, pois, o que dela emanava.
E, mesmo não tendo sua presença
densa, em corpo físico, entre nós,
ainda a teremos sempre presente
na mente e no coração. Somos sós,
quando isolados nas paredes do ego.
Mas somos todos um só, irmanados
em fronteiras além do infinito,
sem barreiras, que separam, do tempo.
Assim a sentimos, extasiados
pelo que pode ainda ser sentido.
Um soneto ao pai
Quisera eu ter o dom de expressar,
de forma tão verdadeira e bela
e simples como, à noite, o luar,
a sua luz atravessa a janela,
para, quem sabe, tentar transmitir,
com palavras, a justa homenagem,
mais valiosa que possa existir,
ao amigo, ao exemplo, ao homem!
Ao pai, que muito amo e que me ama,
hoje só agradeço; nada peço.
Dedico este soneto em que trabalho
àquele cuja vida é um poema,
àquele cujo nome é um verso:
Erasto Villa-Verde de Carvalho.
"Amar se aprende amando"
Dormir se nasce sabendo
Chorar também é instinto
Andar se aprende caindo
Viver, desafio estupendo
Sorrir se aprende sorrindo
Fazer se aprende errando
Cantar, em aulas de canto
"Amar se aprende amando"
Dançar, só rodopiando
Ler se apreende lendo
Escrever, no pensamento
Expressar-me experimento
Proseando e versejando
Drummondeandradeando
Outros sonetos ao amor
I
Sei que o amor está em toda parte
e aparece quando menos se espera,
quando se chega e quando se parte:
o amor é fícus, o amor é hera.
Árvore frondosa de grandes copas.
Erva que se espalha pela parede.
Ora nos enleva alto, ora brota
como praga, musgo ou limo verde.
Hoje amo amor de árvores belas,
antes sementes, agora florescem:
todos que as veem se admiram delas.
Mas também sei do amor que dá em pedras,
que se espraia, nos agarra e endoidece.
Prefiro o amor fruto ao amor quimera.
II
Quero me embriagar de poesia.
Beber palavras até saciar
a sede que me resseca a alma.
Degustar o néctar da ambrosia
de versos em caldas. Eu tomaria
litros e mais litros de letras tintas,
tonéis de carvalho, harmonizadas
com as melhores especiarias.
E depois, dançaria com a musa,
ao som das estrelas. Sobre o tapete
verde, então, tiraria a sua blusa
e sorveria o doce deleite
que escorreria por fora de sua
taça de amor, tal como sorvete.
Corpo de dor / Corpo de luz
A meu irmão espiritual Namadev (in memorian), que, além de tantas outras preciosidades, me apresentou a obra do mestre espiritualista Ekchart Tolle.
I
Enquanto perco a minha consciência,
uma intensa dor de mim se apodera,
como se eu fosse uma outra pessoa
não tão boa como a que antes eu era.
Deixo-me dominar pela emoção
que de tão forte a mim me controla,
pensamentos tolos que vêm e vão,
sem a noção do Ser, do aqui e do agora.
Depois me vem o arrependimento,
a dor do remorso que me devora.
E desse modo retroalimento
o corpo de dor que dentro em mim mora.
Como me livrar dele? Não sei. Tento
forçá-lo daqui de dentro pra fora.
II
Dor que volta mais forte do que antes.
Meu semblante até a mim apavora.
Já com a face toda retorcida,
como suicida que só aguarda a hora
de terminar com sua própria existência,
nem mesmo eu a mim me reconheço.
Quero começar novo recomeço,
estar consciente da Consciência
e mais presente em minha presença.
Não há solução à base da força.
A mente que descontrolada pensa,
observada de maneira atenta,
naturalmente uma hora se cansa
e na quietude então se assenta.
III
Assim surge silenciosamente
quem sempre esteve, mas despercebido,
aqui mesmo, contudo escondido
pelo ego que me dominava a mente.
Sem nome ou forma, refoge aos sentidos.
Em relação ao mundo é transcendente.
O Eterno só é aqui, no presente.
O Infinito nunca é definido.
O corpo de dor, desaparecendo
aos poucos, perde a sua densidade,
pois só existia em meu pensamento.
Quieta a mente com naturalidade,
alívio sinto enfim bem aqui dentro:
só o Corpo de Luz É, na realidade.
Ahimsa
Política não é religião,
assim como partido não é seita.
Sem a liberdade de expressão,
a Democracia não se sustenta.
O discurso de ódio interessa
só a quem toma o poder à força.
Para que o povo o retome depressa,
criatividade e inteligência
são necessárias na resistência,
desobediência civil pacífica,
como ensinou Mahatma Gandhi.
Sua doutrina da Não Violência
é uma grande verdade histórica
que o brasileiro agora apreende.
Vermelho (des)encarnado
I
Do pau-brasil se extrai o pigmento
para tingir tecidos de vermelho:
a cor que provoca tanto espanto
em quem se ufana de ser brasileiro.
A cor menos visível do espectro
está na pele dos índios Tupi.
Quando aportaram os estrangeiros,
eles já se encontravam aqui.
A que mais se aproxima do negro,
como o sangue derramado em vão,
é pois a cor que causa tanto medo,
a cor que se ausenta sem a luz,
qual a fogueira que vira carvão
à medida que o fogo se reduz.
II
Do pau-brasil se extrai o pigmento
para tingir tecidos de vermelho.
Mas o desconhecimento é tanto
que ignoram até o que é ser brasileiro!
Se o vermelho não está na bandeira -
como o verde das matas devastadas,
o azul do céu de nuvens poluídas,
o amarelo do ouro que orna igrejas
na Europa -, está na pele dos índios
que habitavam esta terra quando
os brancos a tomaram (tempos idos?),
no sangue que derramaram enquanto
saqueavam e ficavam mais ricos
à custa de almas desencarnando...
III
Revogaram o vermelho das rosas.
Proscreveram o vermelho do sangue.
Confinaram o vermelho das roupas
aos limites de um sonho estanque.
Censuraram palavras de ordem.
Proibiram as frases de efeito.
Determinaram os livros que podem
ser, nas mais nobres estantes, enfeites,
e queimaram em fogueiras medíocres:
os outros; rosas e roupas vermelhas.
E chamaram sonhadores de míopes,
ignorando sua própria cegueira.
Pois o sonho arrebenta os diques,
como o sangue escorre das veias.
Vossa Excelência tem a palavra
A linguagem do advogado verdadeiro,
dita de forma tão dura quanto polida,
que a Justiça nela brilhe por inteiro
e trespasse a falácia em aço construída,
há de ser. Pois, como o diamante, milenar,
forte nos textos dos clássicos, que cultiva,
o advogado deve assim se expressar,
bravo, com voz serena, todavia altiva.
E que esse mesmo brilho, de tão reluzente,
pleno de simples e honesta sabedoria,
possa enfim ofuscar a fala do sofista.
Que sirva não a si, mas sim a seu cliente.
Nem o gesto ou a beca, nada em demasia.
Assim seja, claro, na voz e na escrita.
Ser ou estar?
Tantas vezes de novo reinvento
outro eu que eu sei que sempre sou:
político, poeta, músico ou
advogado mesmo, virulento
assim como estou neste momento,
que já não sei se sou persona grata!
Mas para mim isso pouco importa,
contanto que eu continue sendo
eu. Mas quem sou eu? Nem quero saber!
Cabeça doida, teorias tortas.
Ser ou estar? É de estarrecer!
Clamo pela paz, ao amanhecer,
ideias certas, vida bem disposta!
Diferente de mim, não posso ser.
Haicais. 20.6.2016
Está amanhecendo
O canto de um passarinho
Frio... Frio... Frio
Cinzas no ar
Revoada de quero-queros
Poeira nos sapatos
Seca no cerrado
Queria tomar chuva
até encharcar a alma
O dia se esvai
O sol que entra na sala
não me aquece dentro
São grilos da noite
zumbindo no meu ouvido
ou grilos da mente?
Haicais. 21.6.2016
Alta madrugada.
Canta o carro-de-boi?
Não! O carro de lata.
"Inverno austral"
Dias curtos, noites longas
Sul do e-quæ-dor!
Dia do Yoga:
atividade no templo;
paz no coração.
Haicai. 22.6.2016.
Porto Alegre? Sim.
Mas trago nesta viagem
frio no coração.
Outro paiz (23.6.2016)
Bah sal
Bah céu
Brazil
Bah sol
Bah sul
Bah frio
Balbucio
Bah chá
Bah tchê
Bah xi
Bashō
Babaçu
Baiacu
Baba, Rio!
Haicais da Bahia (jul.2016)
O sol é a estrela
do dia, mas a tristeza,
o astro de dentro.
Eu robotizado
Estrelas no Universo
O mar me lambeu
Carta à Segunda Pessoa
Digníssima Senhōra,
Onde estás que não respondes?
Só nos versos de Pessoa,
de Cabral de Melo Neto?
Ah, eu chamo-te à toa...
É aqui que tu te escondes?
Nestes versos que destoam,
pois versejo, não poeto?
Farias a mediação
entre mim e a Terceira,
mas sem ti, na solidão
desta língua brasileira,
José, Chico e João,
Severino e Donana,
o Mané, a Conceição,
Seu Tião e Bastiana,
até mesmo os de cima
ficam sós, na Casa Grande,
que ninguém consegue rima
se te fazes de importante.
Preto não fala com branco,
só com a excelência dele,
e, se o olha no olho,
chicote lhe queima a pele.
Na tribo, criança, cacique,
homem, mulher são auá.
Mas carioca é muito chique,
lugar de branco falar.
Inclusive padre Antônio,
irreverente com Deus,
era cerimonioso
quando pregava aos seus.
E o plebeu não se dirige
diretamente ao Rei.
Por isso que sumiste
ou causa de que? Não sei.
Ei! Fugiste para onde?
Diz-me, ora pois! Que é de ti?
Coronel ou lobisomem,
estás com medo de quê?
Não podes abandonar
tantos filhos de João,
de Maria e de José!
És cristã ou és pagão?
Foste para além-mar
com a família real?
Não temos com quem parlar
de igual para igual!
Voltasse pra Portugal,
sem coragem de lutar,
e levasse, além de terra,
que dizias tanto amar...
(Vossa Mercê me perdoe
se já lhe não dou ao respeito!
Vosmecê não se chateie,
não falo mais com você!
Suncê levasse daqui,
além de terra - já disse!),
ouro, prata... mineral,
toda riqueza que existe,
e largasse uma língua
nesse mundo, sem igual!
Pois italiano, espanhol,
português de Portugal
prosam contigo de boa,
em Roma, Madri, Lisboa.
Aqui te tratam tão mal
quanto foram maltratados.
Nesta terra desigual,
pobre e rico tão distantes,
não estranha no Brasil
idioma nunca dantes...
Onde mal falam ocê,
agora, em tempo real,
duas letrinhas, mais nada,
é tudo que lhe restou.
Nem me refiro a bandeira
branca, pedindo a paz,
levanto sim a vermelha:
que não tornes nunca mais!
Desde que, neste país,
Pombal, pedante Marquês,
proibiu a língua Tupi
e impôs o Português,
gerações degeneraram-te,
na fala e na escrita,
cansadas de palmatória,
de chibata. Que desdita!
Como disse o malfalado,
Severino Cavalcanti,
chefete dos Deputados
(tão insignificante,
mas nos anais registrado):
- Recolha-se à insignificância
de Vossa Excelência!
Vc já está bloqueado!
Sopro divino
Caro internauta, você sabe respirar? Todos nós respiramos e, isto é óbvio, porém, nunca prestamos atenção neste dom divino. A respiração é a nossa vida, pois, podemos ficar sem comer e sem beber por vários dias, e ainda assim, podemos sobreviver, mas jamais passaremos alguns minutos sem a respectiva respiração. A não ser que sejamos evoluídos na arte da meditação profunda, como fazem alguns poucos gurus indianos, que se aprofundam nesta fabulosa capacidade divina de meditar. Aliás, estamos falando sobre o que é divino na realidade tudo o é, dissociarmos a matéria do espírito é o nosso grande erro. Sabe o que acontece quando nos distanciamos do espírito, perdemos o elo de intimidade com nós mesmos, com a nossa essência, ego, substrato, eu maior, alma, enfim tudo o que redunda no ser. E depois ficamos reclamando da sorte, é como se fechássemos as portas às dádivas divinas, pois, a nossa fé fica bloqueada, posto que, entendêssemos que a nossa matéria é mortal e frágil diante de qualquer resfriado. Quando nos propusemos a falar de respiração, o fizemos embasados na nossa vida de seres mortais, porém, todo nosso traço emocional passa pela respiração controlada. Quando se controla a respiração controla-se as emoções, fica-se mais centrado na realidade da vida cotidiana, e aproxima-se do espírito, portanto, também de Deus. O oxigênio é o alimento principal do cérebro e do sangue, veja bem, amigo, estamos falando enfaticamente de vida e saúde. Fica-nos muito claro que, ao controlarmos a nossa respiração, estaremos assentando o nosso espírito, estaremos nos sossegando diante das adversidades da vida, esta é a nossa meta para uma qualidade de vida digna da nossa atitude, da nossa ação. Respiração é o sopro divino, isto é bíblico, portanto, vamos aprender a respirar corretamente, e aumentar nossos poderes psíquicos e extrassensoriais. Tudo o que falamos se nos parece muito simples, mas não é! Aqui depende fundamentalmente de disciplina, até porque, trata-se de estado de espírito. Para se praticar uma respiração correta, se faz necessário o desejo e a ação, que vai realçar a disciplina. "Querer é poder". Qualquer exercício físico mental depende do estado de espírito do praticante. Essa preparação psicofísica fica a encargo de um "Coach", de um treinador, de um conselheiro, de um preparador. Quando se une a matéria ao espírito o praticante ganha, e muito na sua qualidade de vida pessoal e familiar, já que passa a emanar alegria, equilíbrio e prazer aos que o rodeiam. No entanto, a respiração é o elo mais forte para se alcançar os bens espirituais, acompanhados do equilíbrio através do relaxamento consciente. Estes bens espirituais vêm modificar a sua saúde, suas finanças, seus amores, enfim a sua alegria de viver. O oxigênio é etéreo, impalpável, invisível, pois, tem tudo a ver com o espírito, qual a nossa visão ao traspassar um vidro blindado, o que é simplesmente fantástico, posto que nem um tiro de grosso calibre possa fazê-lo.
Pense nisso.
jbcampos
ALBERTO DE JESUS DOS SANTOS segue pela rua, noite fria de uma insistente garoa. Seus passos aumentam de acordo o ritmo dos pingos que agora tornam-se mais fortes. Estava ansioso para chegar em casa, pois era aniversário da sua filha Rebeca que estaria completando naquela data, naquela noite de garoa os seus 6 aninhos de vida. Ele aumenta os passos por vários motivos que impulsionam seu caminhar.
Eis que surge na mesma rua uma viatura de policia, que ao passar por Alberto, freia bruscamente e já lhe dá a voz autoritária: ENCOSTA NA PAREDE.
Bairro de classe média, todo mundo é suspeito, principalmente sendo negro, andando em passos apressados pela noite e com o tempo chuvoso, dava o tom característico (Na visão do policial) que se travava de um suspeito.
Ele tenta falar algo mas é interrompido. O policial desse de arma na mão e diz: Mandei encostar na parede seu preto safado.
Seria pela cor o emprego da elevação do tom de voz daquele funcionário público, que ao vestir uma farda e empunhar uma arma, agora tornava-se tão arrogante?.
Alberto obedece e já começa MANTER O CONTROLE DA SITUAÇÃO, pois sabia que naquele momento, sua pele estaria em plano de condenação por parte daquele policial.
O que você tem nessa mochila crioulo? Ele responde: É um bolo que estou levando para o aniversário da minha filha Senhor.
Bolo de aniversário? Tá chique em negão. Deixa eu ver, abra essa mochila. Alberto tenta fazer com cuidado para não amassar o bolo, mas o policial puxa com força e o bolo cai na calçada.
A Ira de Alberto se inflama, mas ele tenta não transparecer isso para não piorar a situação.
Sarcasticamente, o REPRESENTANTE DA LEI DIZ: - Que pena, negão, parece que não vai ter mais aniversário. Ele pisa no bolo enquanto pergunta ao indefeso contribuinte (que inclusive paga pela farda, pela viatura, pela gasolina, mas só não paga pela truculência desse despreparado policial) Você tem passagem pela polícia? Mostra os seus documentos negrinho.
Ele pede autorização para pegar sua carteira (lentamente) pois não queria fazer nenhum movimento para que o seu interlocutor não achasse que ele estava reagindo aquela abordagem.
O POLICIAL PEGA A CARTEIRA E ABRE LENTAMENTE PARA CONFERIR A DOCUMENTAÇÃO.
Usa a lanterna para melhor fazer a leitura, Um outro policial desse da viatura e pergunta: Tudo bem ai Sargento? Sim, está tudo bem. Só vou conferir os documentos desse crioulo. A gente bem que podia dar uma ciranda com ele né não?
Deixa esse preto ir embora, é só mais um vagabundo vagando pela rua.
Alberto continua imóvel e sem que eles percebam aciona o celular, como se fizesse uma comunicação em secreto.
O debochado policial rir e acha até interessante a ideia da CIRANDA.
Mas é aconselhado a apenas fazer a revista. Aquilo não era uma revista, era na verdade uma humilhação, pela qual o Sr. Alberto passava naquele momento
Ao analisar a documentação, o Sargento fica estarrecido, olha para a sua PRESA, ali imóvel á sua frente sem lhe dizer uma palavra sequer. Ele olha para o colega, e ao fazer a leitura, da identificação onde se lia:
“República Federativa do Brasil – Ministério da Defesa, EXERCITO BRASILEIRO (Serviço de Identificação do Exército)
Carteira de Identidade numero (xxxxx) Lei 3069 de 08 de Janeiro – e Lei 2136 de 29 de agosto de 1983
Nome ALBERTO DE JESUS DOS SANTOS
TENENTE CORONEL R1”.
Afasta-se , faz continência e começa pedir desculpas. Nisso um carro preto com 5 oficiais do Exercito, chega naquele exato momento, um helicóptero faz a varredura do local com possante holofote.
Eles rendem os policiais da viatura, e perguntam ao TENENTE CORONEL ALBERTO: Está tudo bem Senhor?
Sim. Quero que prendam esses marginais fardados imediatamente, comunique aos seus superiores que tratem da expulsão imediata da corporação e prisão desses mal servidores.
O Arrogante policial ia falar algo, mas o Tenente ordenou: CALE A SUA BOCA SEU IDIOTA. Eu tinha deixado o meu carro a poucos metros daqui porque tinha furado o pneu e a garoa foi aumentando e eu tive que aumentar os passos para chegar em casa quando você de forma irresponsável me fez perder o bolo de aniversário da minha filha.
Você terá tempo para pensar na merda que você fez, achando-se superior a outra pessoa por conta da sua pele.
As providencias foram tomadas, conduziram os policiais para a sua respectiva corporação onde foi lavrado o BO, onde os ocupantes da viatura tiveram suas prisões efetuadas para procedimentos futuros regido pela legislação.
Lição:
Não se olha, não se mede e nem tampouco se condena alguém pela cor, pelas vestes, pela aparência, pela forma de falar, de andar, de comer, ou pelo local onde mora, pelo partido que vota, pelo time que torce, pela cidade ou estado que vive. Cada cidadão tem o direito de ir e vir, pois este direito lhe é assegurado pela Constituição Nacional Brasileira , conforme art. 5º, XV, que prevê:
Enquanto pensava em você, a luz que brilhava dentro de mim era tão intensa que não percebia que já se fazia a noite.
Enquanto pensava em você, sentia um calor tão forte aquecendo meu peito, que não percebia o inverno que acontecia lá fora.
Enquanto pensava em você, o amor que dominava meu coração era tão grande, que não percebia a indiferença corroendo o âmago das pessoas.
Enquanto pensava em você, senti que a vida parava, para esperar e assistir meu momento.
“Você não morre, Belo Corpo dentro do caixão, porque levo-lhe no esquecimento, como aquela menina do poema”, gretei à noite olhando para a vida! Mas o Corpo, o Belo Corpo dentro do caixão, o corpo que parecia um anjo em oração, que como um instrumento musical continuava a tocar e que eu precisava tocá-lo, danadamente, se refazia e em distância luzente e eu, com a força do gerúndio, aí matando-o.
– Porque um belo corpo dentro de um caixão, meus Deus, por que não em vida, como uma árvore cuja eu poderia subir e colher-lhes os frutos, ou, como um presente a tanto tempo sonhado e que tanto mereço, que eu pudesse abri-lo em casa, sem medo e sem culpa e como fome e com sede. Meu Deus, por que!
– Por que, meus Deus! ó corpo, vir-te num caixão e tão vestido de vida, por que não pude conhecer teus movimentos e perguntar teu já conhecido nome e ouvir tua já conhecida e aclamadora voz e assistir minha vida inteira em teus olhos de poesia! Desta vez sentindo amor eu chorei e pude, então, voltar para perto dele.
Eu ainda me pergunto se vamos conseguir evitar essa guerra. Se as pessoas de outros países vão sobreviver, eu ainda estou rezando por eles. Eu sinto as fortes batidas do coração de cada guerreiro, de cada lutador que está prestes a entrar no campo de batalha. Eu ainda quero gritar para todos... Para abaixarem as suas armas. Estou passando por uma geração complicada. Brigas, intrigas, traições, guerras. O que está havendo por aqui? Essas pessoas lutando pelas suas vidas, pela sua justiça, estão lutando até o amargo fim.
Eu apenas não quero ver essas pessoas dando o último suspiro. Não parem de respirar, vamos parar essa briga. Vamos prender o mundo corrompido, vamos fazer a coisa certa. Eu ainda quero saber onde está o botão retroceder, pois vejo que ultimamente as pessoas estão sendo cruéis com os outros. Por favor, vamos mudar? Vamos mudar de postura? Não provoquem guerra. Vamos lutar pela nossa justiça de forma correta.
Juntem todas as esperanças perdidas, não precisa seguir exemplo de ninguém, apenas seja você mesma. Você procura por saída, você procura por soluções na sua vida, mas não consegue achar. Por favor, não vá, não se mate. Esse não é o fim. Eu sei que as palavras e as ações das pessoas perfuram o nosso corpo inteiro. Mas não desista dos seus sonhos, siga em frente. Faça sua vida valer a pena. Lute pelos seus sonhos, pela sua família, pela honra, por tudo. Ache um propósito, ache as palavras de glória e acredite em você mesmo.
Faça como os outros. Lute pelo seu futuro distante. Apenas não entre em pânico, eu sei que a vida é difícil, mas é normal continuarmos errando. Mas apenas deseje viver o futuro. O seu futuro que você está planejando, que você está programando. Eu sei, parece que os sentimentos deles, os corações dessas pessoas foram esquecidos. Precisamos acalmar a fúria deles, antes que aconteça uma desgraça. Vamos fazer eles sentirem a paixão, o amor, a paz transbordarem.
Você já alguma vez ficou parado pensando por um tempo o quanto de danos você causou nas pessoas e nos lugares onde você pisou? Pois é, agora nós estaremos diante de uma cena de batalha, assistindo cada pessoa perdendo vida e esperança. Não seja como eles, que querem pisar em todo mundo. Eu queria tanto gritar para eles pararem com isso e desfazerem isso, mas com certeza eles não vão me ouvir. Não vão querer desfazer nada e esse não é o caminho certo.
Chorar ou correr, eis a questão. Parece que eles nem fazem questão de procurar a resposta que está dentro de si. Por favor, não seja como eles. Tenha consciência disso. Eu ainda não entendo o porque ainda tento parar essas brigas se até a mídia quer sangue, ódio e medo. Afinal, o ódio está devorando a população inteira. Arranhões, destruições serão deixados após a violência.
Todos devem se perguntar o porque não conseguem alcançar o que querem, simples, vamos parar de alimentar o nosso ódio e lutar pelo que é nosso juntos. Não rejeitem a mão que está disposto a te salvar. Vamos tentar apagar essa raiva, angústia. Por favor vamos parar com essas brigas. Não neguem o seu salvador.
Mais uma noite chegou e eis -me aqui. Pensativa e olhando por esta janela onde a chuva bate insistentemente no vidro. Olho essas gotas de chuva e me pego pensando nele, desejando que ele estivesse aqui. A chuva sempre me foi querida e desejada. Aqui faz tanto calor! Mas, hoje em dia, depois que o conheci, a chuva me faz lembrar dos momentos que vivi com ele. Me arrependo das decisões tomadas,me arrependo de ter deixado ele ir.
Muitas vezes me angustio pensando que eu entreguei ele de mão beijada para quem tanto o queria. Tudo porque tive medo. Eu não tive coragem de largar tudo e recomeçar algo novo.
Afinal, sempre fui muito guiada pela razão. E mesmo o amando , eu não conseguiria deixar de primar pela razão. Eu, nos meus 34 anos de vida, sempre fui assim: centrada, decidida, dona de mim. Jamais me imaginei numa situação de pensar se não deveria ter agido diferente. Porém, depois dele, passei a duvidar das minhas decisões. Nem sempre sou assim, fria e pensando com os pés no chão. Sei sonhar, sou romântica, tenho meus sonhos de amor. Porém, entre o medo de amar e ser amada ou pensar que poderia ter meu coração quebrado, preferi ficar com a segurança de não ser deixada ou trocada, optei por ser racional ao extremo. Em nós mulheres esse sentimento é muito forte, o medo de ser deixada. Não sei se todas são assim, mas eu sou assim. Esse medo de ser deixada, de não ser o bastante para a pessoa que elegemos , muitas vezes nos faz tomar caminhos errados.
De que me adianta passar a noite aqui, olhando para a chuva fria que cai lá fora? Insisto em ficar porque assim, ao chorar, não me sinto só. É como se ela chorasse comigo.
O despertador toca e percebo que é hora de deixar as lembranças e voltar à realidade. Levanto e me arrasto ao banheiro, depois à cozinha e por fim me decido a trocar de roupa. Apanhando as minhas pastas e bolsa, saio correndo para não perder o elevador e descer até a garagem. Enfrentar o trânsito até chegar ao trabalho já será a minha primeira prova de fogo.
Ao chegar em frente ao prédio onde trabalho, meu celular avisa que uma mensagem chegou. É minha amiga. A mensagem diz:
"Adivinha quem acabei de ver? Teu amor."
Meu coração acelera. Nossa, se ela viu ele, isso significa que ele voltou a morar aqui? Ele está de novo na nossa cidade? Isso é demais! Respondo ela:
"Quando viu ele? Me conta logo."
"Ele estava sozinho, num barzinho que fui ontem com a Maiara. Estava um gato!"
Meu coração bate tão forte que penso que vai sair pela boca. Uma notícia assim, logo cedo. Não são todos os dias que as coisas começam assim tão bem. Sozinho. Que palavra maravilhosa. Indago mais sobre ele.
"Sozinho? Certeza? Quanto sozinho?"
"Fui conversar com ele. Sozinho, sozinho. Solto para a vida. Na hora do almoço, te conto mais. Só queria que se preparasse para o que virá. Você pode reconquistar teu amor. Até depois."
Minha manhã vai ser angustiante. Esperar até a hora do almoço. Não sei se vou aguentar. Mas, uma coisa é certa: vou poder ver ele novamente. Tocar ele. Falar com ele. Minha vida amorosa vai ter de volta um objetivo: conquistar aquele que era meu e eu mandei embora.
(Anjo Eros)
Código do texto: T6141869
Não é como se isso me custasse algo
Porque toda vez que coloco meus
olhos em ti
Sinto o tempo parar
Vejo e revejo momentos
O Pouco que sei sobre ti, é quase que suficiente para escrever mil paginas
das suas virtudes, e de seus grandes defeitos.
É dificil fazer um principe sorrir, eles costumam ser muito exigentes.
Que me faz pensar, como tu sendo como es...
Se cativou pela plebeia mais desengonsada do seu Palacio?
Essa que vive sempre com os cabelos embaralhados
Que corre sem rumo
Que como o que tem
Não se veste bem
E o seu comportamento estabanado leva tudo o que vê ao seu redor
Você, que em ti se rodeia de grandiosos castelos, que tem como lei
a pura sacanagem e a libertinagem
Se encantou logo por ela, que guarda contigo até pedras se forem dadas
por amor.
Ele é o vento e corre em direçoes diferentes, pode ser brando, pode ser forte
pode destruir.
Ela é o fogo, com o vento pode se alastrar , porém o mesmo se ventar forte o
bastante por certo acabará com o fogo.
Ela é os sonhos, sempre muito distante daquilo que realmente deseja pra si
E ele a realidade, poe seus pés sobre o chão e se firma a ponto de nada conseguir
o desprender mais dali.
Ela é o amor, bobo e fatal
Ele a razão
E juntos tudo se unem pouco a pouco um sem entender o outro
Mas quando ambos entrelassam as mãos
Tudo se torna um só.
Sr.LvRocha
Dedicado a um amor, estarei te esperando sempre no mesmo lugar.
inócua e ignorante?
é a sensação que tenho
quando volto ao lugar
que julgo ser meu refúgio
refúgio, escape
refúgio da dor,
não é do meu feitio
praticar maquiavelices contra meus colegas
seres humanos
mas me parece bem claro que nem todos pensam assim como eu
nem como você
e nem como os outros
todos temos pensamentos diferentes
isso é o que nos difere
eu acho tão injusto quando sou obrigada a sofrer
na mão daqueles possuintes de má índole
acabo me culpando por ter que vivenciar aquele tipo de situação
me autoflagelo
quando me autoflagelo eu costumo perceber
o quão inocente sou diante daqueles acontecimentos que me ocorrera
e eu sei que posso superar
ser mais forte
se eu seguisse em frente
sem me doer sequer um pouco
não seria eu
seria apenas uma alma perdida
no vazio de uma mente sem coordenação
e aqui dentro,
sem um coração
Quando Maria nasceu, pequena em altura e peso para os padrões, chorou alto e forte como fazem a maioria das crianças, em seguida sorriu, aninhou-se ao peito da mãe e já sonhando descansou.
Lá pela quinta semana de vida, ainda na barriga da mãe, sonhou pela primeira vez e gostou, entrando para um mundo de sonhos e melodias multicores não só seu, de muitas crianças mais.
As canções que brotam dos corações desses pequenos são delicadas, mas há músicas para gostos diversos, afinal é um mundo de sonhos de crianças de todas as partes do mundo, entendendo-se em sua linguagem universal, a do amor puro e espontâneo, selada com beijos e risos.
Maria conheceu a todos, mas um menino tinha algo de especial, até nascera no mesmo dia, na mesma maternidade, com uma diferença de poucos minutos, foi o tempo exato de sua mãe, Dona Rosa, sair com ela para Dona Rita chegar e ter o João, garoto forte, grande, quase que não chora se não fosse o Doutor dar um empurrão.
Maria, João e todas as crianças desse mundo sentem as flores coloridas, perfeitas, acarinhadas por borboletas, beija-flores, rouxinóis, abelhas e outras vidas que surgem a todo instante.
Sonhos bons de crianças são rascunhos caprichados de todas as formas de expressão, resultando em aquarelas de doce emoção.
Maria e João, como já sabemos, marcaram encontro e viveram 13 anos de magias, quando seus caminhos tomaram outras direções por escolhas que fizeram nessa ocasião.
Maria olha pela janela, observa a vida lá fora, sente o aroma das flores do seu jardim, ouve os cantos dos rouxinóis a acompanhar o bailado dos beija-flores e uma brisa que traz melodias não esquecidas.
Sua mãe, Dona Rosa, insiste - Maria, minha filha, até hoje você pensa naquele menino, deixa de sonhar, volta...
Maria, calma, sorri contida lembrando do acanhado João e acredita que o sonho não acabou.
Pois é, pode crer, já faz uns dias que eu vi na TV
A ilusão de um mundo forte e igual sem o que temer
Já fez uns dias que eu to tentando e não consigo nem descrever
A sensação de estar sozinho e não ter nada mais a perder
Em meio a todo esse caos marginal eu criei foi um triângulo
A sociedade me vigia por qualquer que seja o ângulo
Mas dentre muitos deles o único que nunca poderão ver
É o interno e o mental que dita os meus proceder
Minha visão fica mais turva a cada passo e a cada dever
De casa é nada comparado a tudo que eu tenho a escrever
Jogar umas verdade na cara mesmo tipo coisa que não se vê
Porque a minha já tá lavada na falta de perceber
Que os meus pecados e os meus erros eu não posso retroceder
As minhas verdades são desilusões piores que o suceder
Das dinastias escondidas que ninguém consegue mais crer
Idade das trevas perto de hoje é só a ponta do perecer
Significado pra minha alma parece que é a criação
Da realidade paralela que na matrix virou a razão
Ignorância é a escolha mais fácil, aceita pelo coração
Porque mais cega que a minha vontade é só minha dedicação
Para qualquer futuro incerto a escolha perdeu sentido
Se o destino for calculado pelo universo não há instinto
Ou intuição, pra você não mais confiar naquele menino
Que se acha pra caralho mas não pôde apertar o gatilho
Da arma letal, dita que eu dito qual é minha motivação
Tentar fazer o mundo virar ou retornar para criação
Originalidade de papo virou cópia de descrição
Assim como a margem do errado tornou-se a minha ação
Ou a minha reação para a falta de satisfação
Se tiver certo ou errado, por favor me dê uma explicação
Não sei mais no que acreditar, será que isso é tudo invenção?
Da minha cabeça de achar que todo o mundo é são
Subconsciente aqui é mato, Froid já previu a situação
Que ser meio doido nessa cidade é melhor que a construção
Daquela suposta auto-imagem que mente pra concepção
De que tudo nessa sociedade virou uma grande competição
Mas todo mundo já sabe, nunca cresce quem se acha melhor
Somente a certeza de que bom mesmo é competir consigo só
Vou te falar, deu até um nó, na minha garganta de tanta dó
Na correria que tá essa vida não preciso mais de vovó
Pra me dar conselho bobo, imagina se eu to preocupando
Se você tá me vigiando toda vez que eu tô pecando
Quando eu tava realizando o meu sonho não deu valor
Mas se eu gastar minha grana contigo você vai notar nem minha cor
Porque dinheiro não tem cheiro muito menos tem preconceito
Onde estiver ele torna o inimigo no melhor amigo de peito
Faz vilão virar herói que se passa por um bom sujeito
Fez até o pior de papo e o mais feio ganhar o respeito
Das vadia, falo mesmo, não preocupo com seu julgamento
De feminista ou machista o que eu não quero é ser o jumento
Que não enxerga que extremismo é o maior desenvolvimento
Da decadência da nossa tribo de índios com "pensamento"
Porque aqui nada e tudo mudou, essa é a cara dos novos tempos
Sentiu saudade da colônia é só visitar um de nossos centros
Aglomerado não é favela é só um monte de filamento
Ninguém olha mais pra cá só pra tela do auto sustento
Movido à droga, festa, álcool, puteiro é divertimento
Rede social é a nova mídia que dita comportamento
De uma criança adulta e jovem que pensa que entretenimento
É cuidar da vida dos outros e não ter o próprio segmento
Dessa reta simples, lógica, minha vida virou traçar
Suas vontades mais imersas de comigo um dia poder transar
Pode ter certeza que com você isso nunca vai rolar
Não dou moral pra vagabunda que não se põe no seu lugar
Trabalhador é só mais um, bonito mesmo é o Neymar
Ele que paga as suas conta? Ou você tá indo se endividar?
Pagar 10 conto nas Arábia só pra ver um otário chutar
Uma bola bilionária que no final tá cheia é de ar
Depois ele têm a coragem de vir aqui e me falar
Que o alienado aqui sou eu só porque eu gosto de pensar
Devo ser mesmo é o outsider destinado a só resmungar
Que todo mundo é diferente e todo mundo tinha que mudar
Difícil mesmo é ser humilde e um dia parar pra olhar
Que o errado deve ser eu só porque que eu quero estudar
Treinar é coisa de mongoloide, a parada mesmo é trepar
Zoar com a cara próximo é bom, nova forma de se reafirmar
Status na roda hoje dita o quanto tu vai ganhar
Contexto, contato e conchavo ta importando mais que se formar
Profissional bom mesmo é aquele que adora puxar
O saco daquele chefe viado tá na cara que gosta é de dar
Se a realidade ta essa merda no é ventilador que eu vou jogar
Na tuas costas a culpa deve ser minha ou então do Pablo Escobar
Nos dias eu já percebi que nada mais tá querendo mudar
Se não surgir ninguém de bem e chato só por querer melhorar
Melhor que ontem só se for o pó branco que tu vai cheirar
Pior que amanhã só se for a nota, já até sabe quanto vai tirar
Colando do nerd zuadão que acha que te passar
Resposta da prova é o único jeito dele se entrosar
Então para de ser otário e vê se começa a acordar
Filho da puta passa por cima, duas vezes se tu deixar
Ficar calado no final, meu brother, só vai te ajudar
Melhor sozinho do que ter "amigo" colante só na hora do chá
4:20 é hipocrisia, até parece que têm lugar
Limite, horário, forma ou data pra que eu pare dichavar
Essa maconha é medicina ou foi criada pra te matar?
Será que ela te deixa muito doido ou té faz até levitar?
Os fantasmas tentaram roubar foi seu nome ou seu passado
Realizado que hoje em dia o negro permanece escravizado
Em trabalhos de cargo baixo e escolas sem ar condicionado
Renegado pelo sistema sob o qual ele vive e está destinado
Já vai dar umas 2 da matina e mesmo assim eu não tô cansado
De escrever umas verdades bem indiscretas aqui nesse teclado
Porque parece que eu to preso num pesadelo mesmo estando acordado
Espero que não sejam em vão essas palavras escritas em itálico
A primeira vez que li não entendi muito.
Sussurros me diziam ao pé do ouvido:
-Claro que é mentira, erros de dados da internet.
Mas no fundo, uma sensação quente, como água fervendo pro café me dizia também:
- Isso pode fazer parte daquilo que ela dizia no passado, eu acho que é verdade.
Verifique números, datas, idades, tempos, nomes de pessoas, e tudo bateu. Putz é isso mesmo!
Instantaneamente presenciei passado e presente, num looping fracional, parece que eu olhava minha pele, meu corpo, meu agora e não reconhecia.
Uma mentira tem o poder de fazer toda uma verdade se quebrar sim, eu senti esse gosto.
Vi diante de mim meus meses, anos e etapas todas distorcidas, até mesmo coisas que eu nem sabia do porque, agora tô aqui, sentada, com os joelhos no chão, não sei se agradeço ou se choro.
Olhar atravessado, pensamentos distantes fazem parte desse meu cotidiano de agora, e de novo, olha, eu achava que não existia mais destino, mas ele existe sim, eu como sempre somente não o entendi ainda.
Como será que ele teria sido ? Será que iria parecer o pai? Ou ela ?
Será que ele iria ter um pouco de mim? Ou não? Será que ela amaria mais ele por ter sido com ''ele'' ? do que a mim? Essa estranha sensação não sai do meu peito, batendo bem forte, tentando tirar lascas do coração.
"Você precisa entender! Ele foi seu irmão, você só soube disso agora !"
Como que pode alguém saber da existência de outra pessoa assim, no dia a dia ? Normal né ? Acontece ?
Mas pra mim não, não entra na minha cabeça, mudou tudo, parece que estou tendo que configurar meu eu de novo, ninguém teve empatia.
E nem peço por mim, peço por aquela menina que cresceu tomada, detida, é por ela, que não entendia nada, mas que abaixou a cabeça, que seguiu tudo direitinho e quando errou, quase morreu.
Eu tô com pena dela, se machucou tanto e nem sabia do porque, agora como que ela faz para apagar os machucados da pele, e bem pior, da memória?
Sabe Carlos, eu fico pensando, como ela reagiu a sua morte, como que ela chorou, o quanto sentiu, e se fosse hoje? Eu perguntaria:
- Mãe, tá pensando no que, que está com o olhar tão distante agora, encostada na porta?
-Nada filha, tô pensando no Carlos.
Como explicar tal diálogo para essa menina ?
O ruído e as flores lá de fora, permanecem no positivismo me mandando encarar e continuar, eu tô tentando, juro, eu preciso só de tempo para entender essa turbulência dentro desse novo caos, eu preciso entender além do meu agora, preciso voltar no passado, e explicar para aquela menina tudo isso, e esperar pacientemente que ela entenda, daquele adeus, das proibições, dos nãos, que eu acho que ela tinha direito de ter vivido sim, daquela linha reta que ela tentou seguir sim, mas que caiu, e ela não teve culpa. Eu preciso explicar para ela que não teve culpa de nada, que uma coisa, uma decisão e vontade de outra pessoa, não intencionalmente, arruinaram aquele momento, o meu momento.
Eu preciso agora que ela mais que entenda, que ela consiga me olhar de volta sem me culpar pelo hoje.
''Ao meu irmão que não conheci''. Sua vida foi sentida como brasa de fogo encostada na pele.
- Você sabe, bruxa velha ! Por que?
- O que eu sei, meu filho!
A terrível transfiguração do rapaz a faz tremer. Sabe que pode correr perigo enfrentando-o assim, mas nada tem a temer Quão terrível e desastroso foi o relacionamento daqueles dois. óleo e água não se misturam, era claro que um teria que desistir. Pena ter sido ela. Era tão boa, caridosa e amorosa. Jamais conheceria alguém de alma tão límpida e pura. Vinte anos apenas, na flor da idade.
- Você sabe sim. Ela deve ter dito a você!
- Nem todos têm a tua estrutura e tua força e destemor ante a vida. Algumas pessoas são fracas. Ela era linda por dentro e por fora, mas frágil e sensível demais. Jamais teria vivido muito mais tempo. Conseguiu chegar ao máximo. Não agüentava mais, meu filho!
- Mais o que?
- Até um simples espirro a assustava. Ela tinha medo de você, medo que a abandonasse, medo que a traísse, medo de não o satisfazer, medo de tudo...como explicar?
- Jamais faria mal a ela!
- Mas não dizia a ela. Você sempre procurou manter uma certa distância entre vocês, o que ela não concebia e não aceitava. Você não era carinhoso, o que a matava aos poucos, pois precisava de carinhos constantes. Você falhou meu filho dentro do que ela acreditava como certo mas não falhou dentro do que você acha correto. Por isso não se culpe. Ninguém tem culpa.
- Você estava certa sua bruxa velha. Eu não devia ter me aproximado dela.
- Você se enganou! Esqueça! Não se pode mudar o passado. Um dia ou outro teriam que se cruzar, se não com ela, com outra semelhante. Você as atrai. É a lei da natureza. O mais forte devora o mais fraco. Algo dela, espero, ficou em você, nem tudo se perdeu. Em mim pelo menos ficou muito. Já sou velha, mas ainda posso transmitir aos outros um pouco do que aprendi com ela, principalmente às crianças.
- E eu? O que faço de minha vida agora?
A velha senhora o olha demoradamente, ele sabe, ela nada tem com isso mas tenta dar ao seu olhar um ar de total comiseração. Talvez seja mesmo o que sente, mas sabe que ele odeia a piedade alheia, odeia esta fraqueza que de repente tomou conta de sua vida. Gostaria de responder-lhe que continuasse a viver, mas sabe que ele mesmo já respondeu a si mesmo e quem sabe esqueceria aquilo tudo facilmente.
- Eu não tive culpa! Eu a amava demais, muito, muito...
Finalmente ele foi embora, seus soluços ainda ecoam pelo prédio. Talvez em seu leito de morte Serena esteja ouvindo seus soluços. Dona Teresa murmura para si mesma, enquanto apara um galho seco de uma samambaia, uma prece a Deus para que ele mude, que aprenda algo.
Dona Teresa termina de tirar o ultimo galho seco e olha as plantas ao redor. Todas verdes e bonitas. Continua ainda murmurando para si mesma. Sim! Cante Serena! Cante!
Não é que eu não te
ame, mas é que essa palavra dita por mim me assusta, derrepente não esteja eu
sendo sincera ao dizer isso, e a ultima coisa que quero é ser desonesta;
Confesso que já falei inúmeras vezes essa palavra para minha mãe, meu pai,
minha avó e avô, minha maninha, e essas foram 100% de sinceridade mas quando se
tratava de namorado, noivo ou simpatizantes (rs) acredito que o amor não é do
jeito que nos expressamos; Quando estamos namorando , da todo aquele gás,
surpreende a moça (o),
A leva em lugares encantadores, fala pouco, escuta
muito,
Denomina como um critério estar na presença dela, e vice-versa;
E é
aquele fogo, aquela sede de se vê todos os dias, vontade de gritar para o mundo
O que sente para com o mesmo, é meu bem, meu amor, eu te amo, quero me casar
com você, você é a mulher da minha vida (...);
Convenhamos isso é paixonite,
dentro de três meses você cansa por que já sabe tudo (ao menos acha que sabe),
já não vê a graça que via nas piadas;
Ignora quando não está afim;
É
ignorante e não escolhe palavras para serem ditas, simplesmente as dizem;
Faz
o parceiro (a) se sentir alguém sem importância, alguém medíocre ...
E por aí
vai...
Mas quando você ama de verdade a pessoa, você quer ir com
calma;
Quer que tudo aconteça de verdade, não como uma criança que vai com
sede ao pote de doces;
Mas como um adulto sensato, que prefere que tenha a
sua hora para que coma uma pequena porcentagem, para que assim dure um tempo
necessário que você já possa comprar outro pote (se é que me entende);
Na
realidade já disse "te amo" para os poucos homens na qual namorei, e quer saber
...
Não foi sincero, foram palavras jogadas no meio do mar, que se afogaram e
nunca acharão o seu "corpo", pois então...
Hoje eu entendo a força e o poder
da palavra amor, sei que não sinto paixão mas ainda é muito cedo para que diga
"eu te amo", ainda é cedo para que faça eu planos para o futuro com o
mesmo;
Na verdade no terreno de amanhã não garanto nada, sei que aprendi a
ser forte, e aprendi que ninguém tem tudo que quer de seu parceiro, família e
amigos e irá ser sempre assim;
Acredito na Vida, e eu tenho uma, e ele tem
outra, e mesmo que um dia tenhamos algo maior, ainda sim precisarei dos MEUS
momentos e ele também, acredito que assim viveríamos com mais harmonia, paz,
tranquilidade...
Ah...
Tem uma frase que gosto muito que diz o seguinte:
"Prioridades corretas e uma boa
administração de que hoje é o único momento que temos para agir. O passado é
irrevogavelmente findo, e o futuro é apenas uma
possibilidade" (Dorothy Kelly Patterson) e ponto
final; Ela sabe o que diz quando menciona que hoje é o único momento que temos
para agir; Choramingar o passado? Planejar um futuro que ainda nem existe? Isso
é um terreno muito incerto, seria como pisar em nuvens, ou desafiar as leis da
gravidade e da natureza;
Vejamos, no inicio de um relacionamento o cara faz
de tudo para impressionar a moça,
é planos e mais planos, e ilude a inocente
moça que começa tão somente a viver a vida de seu parceiro (que aliás é bom, em
alguns momentos, agora o tempo todo é deixar de viver a própria vida); Daí ele
começa a puxar o tapete por que ele fica entediado (Sacola ... rh), daí
complica; O "seu" namorado quer dizer que é "Seu" não SEU, o que é sutil a
diferença mas muitos não caem em si; Ele tem vida própria e você também; Fala
serio, ele quer jogar bola, dexe-o; Ela quer ir ao shopping com as amigas,
deixe-a; quando começa a controlar um ao outro não é mais amor, o amor é dócil e
não maltrata, não acrescenta dores; As pessoas vivem na dependência uma das
outras, fazem planos contando com fatos que não são reais, na realidade vão além
da imaginação (como pode né?! E isso ocorre com muita frequência à todos os
dias), não é uma dor que se tome só sobre si somente, ocorre com pessoas ricas,
pobres, medianas, bonitas, feias, todos estamos abertos a quaisquer tipos de
problemas, sejam eles quais forem;
Mas só depende de você tocar para frente
ou da um ponto final;
Só depende de você separar o amor, da obsessão e passar
isso para seu parceiro, mesmo que sejam casados, precisam de seu tempo pois se
não houver o mesmo ele saberá tudo sobre você e assim cairá numa rotina brava
que talvez não tenha mais jeito algum, e daí só piora; Dê ao seu parceiro votos
de confiança assim ele se sentira mais seguro e menos propício a fazer qualquer
coisa que te aborreça por ser proibido;
As pessoas se torturam por que gostam
de serem torturadas, elas se deixam torturar-se, é como ter um problema há muito
tempo, você o tem por que só pensa no problema, se houvesse concentração na
resolução seria menos um; As pessoas preferem títulos de coitados, à titulo de
vencedor, de dignidade ou algum outro que talvez não tenha eu citado;
Faça à
diferença, não se debulhem em lagrimas por que seu namorado ou marido preferiu
um jogo de baralho ou de futebol à ficar contigo, tenha vida própria, seja feliz
com ou sem ele, deixe a dependência de lado que isso dá nojo aos
redores;
especialista nesse assunto;
Se fosse
como uma graduação, diria que não teria passado do primário;
Aliás, ninguém é
um expert no assunto, todos sempre temos algo à aprender,
Mesmo aqueles que
dizem que sabem, ou algo do tipo...
"Eu sei ... eu sei... mas eu disse que
sei"
Esse meu amigo, está mais perdido do que cego em tiroteio,
Gozado,
não?
Pois então...
Amar não é aprender a gostar dos defeitos de seu parceiro (como muitos dizem) ,
Na realidade amar é lutar com ele, sem agredi-lo verbalmente, é dizer que o ama e quer ele ao seu lado por um tempo inestimável, por isso quer isso ou aquilo outro;
Seja sincero, quando há algo que você sabe que tem prejudicado seu relacionamento, escolha dizer ao seu
parceiro, mas atenção escolha as palavras corretas, escolha se doer à
apunhalar;
Escolha guardar o momento de raiva e transparecer serenidade, e quando houver um tempo oportuno e palavras que condizem o mesmo, daí pode se
expressar de forma simples e clara, sem nenhum tom de autoridade ou superioridade, se mantenha sempre abaixo
quando ele (a) se exalta, pois "olho por olho e o mundo acabará cego";
Amar é escolher, saber expressar-se á fazer do momento triste,
sombrio, angustiante, um momento de aprendizagem;
Entender que a vida nos surpreende e que seu parceiro não será perfeito, e sempre haverão problemas em sua vida, mas não jogue em cima do seu parceiro, até desabafe mas tente separar e entenda que os problemas existem para serem solucionados, mesmo que muitos prefiram que "eles" sirvam de desculpas por algo que fez de errado, mas o fato é que quando não busca a solução do problema e fixa nele, só gerará mais e mais problemas, e cá pra nós... Problemas foram feitos para diminuir, não para somar;
Amar é apoiar em tudo, se o seu parceiro tinha tudo ontem, muitas ações na bolsa e perere-perere, então hoje ele não tem nada, perdeu tudo;
Você deve ama-lo mais, pois nessas
horas seu parceiro precisa de uma companheira, amiga, conselheira mas não mostre
pena, dó, isso aflige a seu parceiro (a), mostre que mesmo que ele perca tudo,
nunca perderá o seu amor para com ele, e isso só o deixará mais forte para
seguir em frente, mesmo que tenha que começar do 0;
O dinheiro acaba, então não coloque o dinheiro como posição de amor, por que quando envolve o mesmo desconfio que não haja mais o amor;
O dinheiro é bom, mas ele não pode nunca ser colocado acima de preceitos, honras, pessoas; Pois no mundo atual as pessoas vem colocando dinheiro acima de vidas, é tanta opressão, matam por dinheiro, roubam por dinheiro, então se o dinheiro é realmente
mais importante que os tais , posso dizer que você não valoriza a vida,
nem aos que andam ao seu redor, está supervalorizando o indevido, impróprio;
Não ame pela beleza, a beleza é algo que é conveniente aos nossos olhos,
mas nem sempre será assim, mesmo que nos tempos atuais existam plásticas,
drenagens, cremes anti-idade;
A beleza acaba, e acabará uma hora ou outra, as
pessoas não são amáveis por serem belas, na realidade vai mui além; A pessoa tem
que ter caráter, cultura, mansidão, tende à ter algumas inúmeras qualidades, mas
a beleza acho que posso dizer que é só um acessório;
Ajudar ... Ajuda, mas
pode ser também que atrapalhe;
A beleza quando não se é bem usada vulgariza a
imagem da pessoa até para seu companheiro;
A beleza pode causar transtornos obsessivos , pode deixar-la egoísta, e fazer com que as pessoas ao seu redor a menosprezem;
Então mais do que desejar-se ser bela(o) , para seu companheiro
(a), deseje ser mais atencioso, prestativo, bom, e fique bonito também mas tenha
limite sempre;
O amor é mais que uma simples aparência, na verdade é muito
mais que isso;
Quando se ama esquece-se de você e passa a viver para seu
companheiro, quando realmente transborda amor, percebe que sua maior alegria
é vê o seu amor "feliz",acaba notando que sua felicidade implica na felicidade dele e v ice-versa, e com os dois pensando dessa forma vivem assim em harmonia;
Por fim da mensagem...
Amar é ultrapassar limites e barreiras, é aguentar quando acha que não aguenta,
é suportar o impossível, e viver um sonho,
É viver como se não houvesse amanhã, e sentir
que é correspondido com o mesmo,
É saber que sempre haverão diferenças sobre
diferenças mas você, em nome desse amor pode supera-las,
É viver sabendo que você faz parte de uma edificação,
porém nessa edificação só existem duas colunas uma é você, a outra é seu companheiro, como já é difícil sustentar uma edificação com duas colunas ... Deve saber que quando você cair, tudo se desaba, e a não ser que queira uma reformulação, uma grande e enorme reforma, mudança completa; Se não for isso meu caro, nada voltará a ser como antes ou como um dia fora;
Ou seja, não haja em prol do bem esperando uma recompensa, ou não haja
em prol do mal esperando uma atitude do mesmo, mas que à cada ação, à cada agir
seja do seu interior, seja de muita boa vontade e grado;
Não faça nada esperando recompensa, mas faça para contagiar e inundar o seu ser e o do mesmo de muita alegria;
Seja bom, integro, sincero, tenha caráter, tenha garra,
punho, ultrapasse barreiras, montanhas,lute com o seu amor, lute em prol dele,
lute para ele, e faça da sua felicidade a felicidade dele, e tenha certeza que
tudo fluirá.
Silas Corrêa Leite, escritor premiado em verso e prosa, embaixador itinerante de Itararé, promotor literocultural da chamada Literatura Itarareense dentro da literatura contemporânea brasileira, elogiado por crítica especializada até da USP e por membros da ABL-Academia Brasileira de Letras, destaque na chamada grande mídia, inclusive televisiva, presente em quase todas as redes sociais, colaborando com sites de renome, no Brasil e no exterior, inclusive na América espanhola, Europa, África e Ásia, quando ainda era pobre e garçom do Bar do Calixtrato começou a escrever com 16 anos em jornais de Itararé, das Famílias Lages e Contieri, e atingiu nesse ano de 2019 mais de trinta livros, a saber, o início:
-01)-“Raízes e Iluminuras”, Poemas Escolhidos Para a Antologia de Concurso do Prêmio Eduardo Dias Coelho, Menção Honrosa, Elos Clube, Comunidade Lusíada Internacional, Ano 1995, poemas do acervo do autor representando Itararé, o Elos Clube de Itararé, Comunidade Lusíada Internacional, Gestão Maria de Lourdes Luciano Nonvieri.
-02)-“Trilhas e Iluminuras”, libreto, Poemas, Coleção Prata Nova, Editora Grafite, Ano 1998, Editor Ademir Antonio Bacca, RS.
-03)-“Porta-Lapsos”, Poemas, Editora All-Print, Ano 2005. SP. Uma espécie de coletânea antológica de seus melhores trabalhos, inclusive premiados em concursos de renome.
-04)-“Os Picaretas do Brasil Real”, Poema Social, Série Cantigas de Escárnio e Maldizer, e-book free, Editora Thesaurus, Brasília-DF, Ano 2006. Um poema social épico, crítico, feroz e voraz, bem ao estilo politizado e humanista do autor também enquanto pensador e crítico social.
-05)-“Campo de Trigo Com Corvos”, Contos premiados do autor, Editora Design, Santa Catarina, Ano 2008, obra finalista do Prêmio Telecom/Ficções, Portugal. Quase todas os causos, ficções e invencionices do livro, são trabalhos falando de Itararé que ama tanto.
-06)- ASSIM ESCREVEM OS ITARAREENSES, Primeira Antologia de Prosa de Itararé, Editora All-Print, São Paulo, Idealizador, Editor e Organizador Silas Correa Leite, com co-organizadora a Professora Maria Apparecida S. Coquemala, obra que expõe as vertentes da literatura Itarareense, de iniciantes, emergentes a consagrados.
-07)-“O Rinoceronte de Clarice”, ebook de sucesso, primeiro Livro Interativo da Rede Mundial de Computadores, único no gênero e de vanguarda, com contos fantásticos, cada ficção com três finais, um final feliz, um final de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto, Editora Hotbook, Rio de Janeiro. Foi destaque na mídia (Estadão, Jornal da Tarde, Diário Popular, Revista Época, JBonline, Poetry Magazine (EUA), Revista Kalunga, Revista da Web, Revista Ao Mestre Com Carinho, Minha Revista (RJ), CBN RJ, Programa Momento Cultural/Jornal da Noite, TV Bandeirantes, Márcia Peltier, Programa de TV “Na Berlinda”, Canal 21, Programa Metrópolis, TV Cultura de SP e Programa Provocações (Antonio Abujamra), TV Cultura de SP. E-book recomendando como leitura obrigatória na matéria Linguagem Virtual, no Mestrado de Ciências da Linguagem, na UNICSUL, Santa Catarina, tese de Mestrado na Universidade de Brasília e Tese de Doutorado em Semiótica na UFAL-Universidade Federal de Alagoas, com o Tema: “O Livro depois do livro: a Experiência Literária Hipertextual”. Obra disponível no site: www.biblioteca.universia.net/ - A Tese de Doutorado do ebook (livro virtual) “O RINOCERONTE DE CLARICE”, contos surrealistas e fantásticos, está disponível atualmente no link do site: http://bdtd.ufal.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=197
-08)-“O Homem Que Virou Cerveja”, Crônicas Hilárias de Um Poeta Boêmio, Editora Giz/Primus, SP, Prêmio “Valdeck Almeida de Jesus” (Salvador, Bahia), Ano 2009. Causos hilários, de humor e de crítica social do autor.
09)- “BULBOS TRANSVERSOS” Poemas e Desconcertezas – Abril, 2013 – Um mosaico bem contemporâneo de vários poemas do autor, obra disponível no site: https://www.clubedeautores.com.br/livro/bulbos-transversos#.XNstMBRKiUk
10)-DESVAIRADOS INUTENSILIOS, Poemas do Mundo da Web, Editora Multifoco, Rio de Janeiro, 2013. Outro livro de poemas modernos do autor, de sua safra contemporânea e universal.
11)- ESTADOS DA ALMA, Acordes Dissonantes de "Mins", ebook, free, pelo site de Portugal WWW.carmovasconcelos-fenix.org/Escritor/silas-correa-leite-02.htm
12)-GOTO, Romance, A Lenda do Reino do Barqueiro Noturno do Rio Itararé, Editora Clube de Autores – www.clubedeautores.com.br. Obra considerada pela crítica especializada como o melhor livro do autor. Crítica da obra (fragmento): “Mais de oitenta anos depois, a bucólica Itararé agora entra pela porta da frente da Literatura Brasileira e ganha foro comparável ao do Yoknapatawpha County de William Faulkner (1897-1962) na literatura norte-americana, e de Macondo de Gabriel García Márquez (1927-2014) e de Santa Maria de Juan Carlos Onetti (1909-1994) na literatura latino-americana. A paulista Itararé é o palco das aventuras contadas por Aristides, ou Ari, ou ainda Goto, personagem do romance Goto – o reino encantado do barqueiro noturno do rio Itararé. Obra do século XXI, em que toda a coerência formal da narrativa já foi desrespeitada, Goto surge como romance pós-moderno, ou seja, é fragmentado, desintegrado e de linguagem rebelde, assumindo-se como não-romance ou anti-romance, ao romper com as fôrmas literárias do Romantismo e do Modernismo, como diria o insuperável professor e ensaísta Massaud Moisés (1928). Afinal, o barqueiro, em seu trabalho de levar gente de uma margem para outra do rio Itararé, contava para o que ouvia, mas falando na primeira pessoa, exatamente do mesmo modo como havia ouvido o caso. Com isso, o romance adquire também um sentido polifônico, ou seja, composto por muitas vozes que não a do autor, tal como definiu o crítico literário e filósofo da linguagem russo Mikhail Bakhtin (1895-1975), ao analisar a obra de Fiódor Dostoiévski (1821-1881). É nesse sentido que se pode dizer que Goto alcança o status de pós-moderno. (Adelto Gonçalves, Professor da USP), Link:https://www.academia.edu/30183759/LETRASRESENHA_CR%C3%8DTICA_GOTO_DE_SILAS_CORREA_LEITE
13)-TROIOS PERIGRITANTES, Microcontos, 2014, Editora Clube de Autores. Alguns dos melhores microcontos do autor, inclusive o seu na categoria literária do menor microconto do mundo e trabalhos premiados.
14)-O TAO DA POESIA, Poemas na Linha de Tao, 2014, Editora Clube de Autores – Poemas na linha de TAO do autor.
15)-NÃO DEIXEM QUE TE TIREM A PRIMAVERA, Livro de Alta Ajuda, 2014, Editora Clube de Autores
00)-VISTA A MINHA PELE, Afropoemas do autor, inclusive o próprio poema com o nome do livro que foi usado em mestrado cadernos didáticos, projetos pedagógicos, revistas de educação, teses de TCC e também usado em palestras e mesmo em concursos literários de comunidade afrodescendente.
16)-PENSATAS, Ensaios literoculturais. Vários textos, artigos e ensaios sobre cultura, literatura, comportamento social e afins, entre inéditos e publicados em sites, revistas, etc.
17)-PIRILAMPADAS, Poemas Infanto-juvenis, Editora Pragmatha, 2014. Coletânea de poemas infantis e infanto-juvenis do ator.
18)-SURTAGENS, Microcontos, Editora Tinta Livre, ebook: in http://www.tintalivre.com/surtagens?search=Surtagens - Site para comprar: http://www.tintalivre.com/
19)-O MENINO QUE QUERIA SER SUPER-HEROI, Romance Infanto-juvenil do autor, 2014, site Amazon, ebook: http://www.amazon.com.br/MENINO-QUE-QUERIA-SUPER-HER%C3%93I-Infantojuvenil-ebook/dp/B00K9EECBK
20)-Se as árvores pudessem falar, 2017, ebook pela Editora Saraiva-SP, poema épico do autor, sobre a linguagem das arvores.
21)-GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repertório, Romance Infantojuvenil, Autografia Editora, Rio de Janeiro. Também considerado um dos melhores livros do autor, sobre uma criança na barriga gestora da mãe contando como é lá dentro. Um dos livros mais elogiados e mais vendidos do autor. Alguns comentários sobre a obra: Resumos (fragmentos) de Críticas do romance GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repertório, Romance, de Silas Correa Leite, Editora Autografia, RJ
01.GUTE GUTE, BARRIGA EXPERIMENTAL DE REPERTÓRIO, Editora Autografia, O ROMANCE DE SILAS CORREA LEITE
“(...) Como em tudo o que faz, Silas Corrêa Leite é atrevido e criativo. Desta vez, nos aparece com este experimento ficcional, ao revés de René Chateaubriand, nas suas "Memórias de Além Túmulo" - são as sensações e questionamentos do nascituro. Um ser, supostamente em formação, mas com a personalidade pronto e a linguinha bem afiada. Humoroso - no sentido bergsoniano mas também dos humores corpóreos - e crítico, Gute Gute é uma reflexão uterina, se me perdoam o trocadilho, sobre a vida, o tempo, as relações sociais. Uma autorreflexão, se quiserem, porque o autor está dentro, perdoem de novo, do livro e do útero do mundo. Com a sua linguagem solta, coloquial, Silas Corrêa Leite nos traz gostosuras do tipo "contentezas", "brincadezas", "barrigal", "meda", "sexteen", "as fuselagens das minha mãe" etc. Mas não se engane o leitor. Silas vai a profundidades filosóficas, e mostra exemplos de erudição, formando quase um roteiro pedagógico. É ler para crer.(...) Joaquim Maria Botelho – Presidente da UBE-União Brasileira de Escritores. Jornalista, tradutor e professor.
02.Flora Figueiredo Sobre GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repertorio, Romance de Silas Corrêa Leite - Olá, Silas. Neste final de semana li seu trabalho. Imediatamente, me conectei com esse bebê que pensa, age e se comunica com agilidade e graça. O texto fluente, espontâneo, atual, faz com que o leitor se apegue às mirabolâncias do Gregório/ Thiago/Pedro/Caetano Frederico. Fica-se na expectativa do que virá a seguir, dentro da flutuação que se opera no ventre da mãe. Sua inventividade nos ata ao cordão umbilical da criança e é tão vívida que, sem perceber, fiquei ansiosa pela hora do parto. Parabéns pela ideia e pela maneira como a desenvolveu. Fique com meu aplauso, FLORA FIGUEIREDO é Poetisa, cronista e tradutora paulista, autora de Florescência, Calçada de Verão e Amor a Céu Aberto (1992).
03.Professor Universitário opina sobre GUTE GUTE, Romance - “Olá Silas, GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repertório é gostozinho de Ler, mas muito pequeno... A gente queria continuar. O que torna a leitura mais agradável é a familiaridade que a gente tem com seu vocabulário, neologismos, frases peculiares, exclusivas”. Samuel Barbosa, Professor, graduou-se em Letras, Pedagogia, Supervisão Escolar e Especialização em Língua Portuguesa com produtiva carreira acadêmica.
04.O romance Gute Gute do prosador e poeta itarareense Silas Corrêa Leite, se constitui de relatos da vida de um bebê de altíssimo QI, no útero materno, em fase final de gestação. E que relatos! Que vidinha venturosa e aventureira.Aventureira? Sei que vão estranhar, mas acreditem, assim viveu esse guri no útero da mãe que o poeta chamou de troninho - onde ele se aninhava, qual passarinho no ninho agasalhante - até que chegasse a hora do parto, ou melhor, da partida para a realidade aqui fora. A vida do guri não se limitava ao interior e exterior do útero na barriga materna. Extrapolava, captando tanto o mundo físico como o psicológico das gentes lá fora. Ou seja, as limitações impostas pelas paredes uterinas não o impediam de ter contato com outros meninos e meninas de outros úteros, inclusive no mundo virtual. E a linguagem? Via de regra hilária, entre os bebês comodamente instalados nos seus troninhos. É mesmo para gargalhar. E quanta fofocas entre eles, quantos namoricos... Leiam o livro. Vão divertir-se muito, comover-se também, pois o Silas sabe muito bem como despertar o interesse e a emoção de seus leitores. Maria A.S. Coquemala é professora de Língua e Literatura Portuguesa, especializada em Linguística e pedagogia, formada pela PUC-Campinas.
05.Gute Gute: Reflexões e Impressões de um Bebê na Barriga da Mãe - Livro de Silas Corrêa Leite nos inspira a imaginar o mundo de onde viemos e para o qual queremos, em algum momento de nossa vida, voltar: o útero materno. Gute Gute – Barriga Experimental de Repertório é um romance cuja originalidade nasce já no argumento de traçar linhas sobre fantasias, peripécias, experiências, sensações e impressões de um ser em gestação. Pensar sobre esta primeira fase da experiência humana é inerente às questões sobre nossa existência: de onde viemos, por que viemos, do que somos feitos, para onde vamos? Contudo, embora imaginar o que acontece dentro de uma barriga em processo de gestação seja uma curiosidade comum, apontar caminhos e se arriscar palpites que viram frases e poesias é algo original e inspirador. Daí o subtítulo “Barriga Experimental de Repertório”: o autor reúne questionamentos sobre vocabulários, canções e sons que ouve de dentro da barriga da mãe e que servem para o ser como indicações sobre como será a “vida lá fora”. Gute Gute- Barriga Experimental de Repertório, o romance com um olhar questionador sobre alguém que ainda está para nascer, vem acrescentar à prateleira de livros próprios do poeta e escritor premiado em concursos e autor de outros livros em prosa e verso. Clélia Gorski – Publicitária e autora do livro Separada & Dividida (Novo Século), Jornalista e apresentadora da Rede Bandeirantes
06. Silas Corrêa Leite, além de professor, é escritor eclético com obras literárias as mais variadas, de crônicas, contos, poesias a romances de refinado bom-gosto. Premiado dezenas de vezes por seu trabalho jornalístico, crítico literário e bom resenhista, Silas se inscreve entre os escritores mais produtivos com obras de grande alcance social e cultural. Sebastião Pereira da Costa - jornalista/escritor, autor entre outros de “A História Oculta” e “Não Verás Nenhum País Como Este”, Editora Record (RJ).
07. Opinião de um Cineasta de Renome:
GUTE GUTE, Barriga Experimental de Repertório, Editora Autografia, RJ, Romance, de SILAS CORRÊA LEITE: Esta obra de Silas Corrêa Leite pressupõe um bebê especial (Asperger? Autista?), de inteligência precoce, relacionando-se – já no ventre materno - com o mundo, as pessoas e as coisas, mesmo ainda sem uma noção precisa de como funciona aquele universo pré (ou será pós?!) qualquer coisa que ainda não se sabe. Essa ideia de Silas, uma barriga experimental de repertório, é um achado. Mas não pensem os leitores em encontrar na obra grandes reflexões filosóficas ou quânticas, mesmo sendo os pais da criança Doutora em Filosofia e Psicóloga, ela, e Professor de Filosofia e Filólogo, ele. Sobram, sim, frases de efeito, ditos populares, palavrório regional paulista de Itararé e farto uso de citações da música popular e de heróis de histórias em quadrinhos. Não são palavras jogadas ao vento, é bom notar. O estilo anárquico do autor comporta sentidos que se alinham e realinham ao longo de suas duzentas e poucas páginas, conferindo à obra o mérito de prender de fato a atenção do leitor. Os capítulos, abertos com citações que vão de Michael Jackson a Octavio Paz, de Walt Disney a Fernando Pessoa, se sucedem à espera do parto (ou “chego”, conforme prefere o recém-nascido), apontando para a vida lá fora, repleta de paredes que, ao contrário do ventre materno, não dá mais para ver. “Macacos me mordam”, como diz o bebê na ruptura do cordão umbilical. Como disse, a ideia é um achado. Mas não se encerra aqui. Mais que um romance acabado, Gute Gute pode ser visto como a barriga experimental, ou melhor, como texto—base de um filme de animação em 3D, cuja equipe se encarregaria de um traçado audiovisualmente equivalente ao que Silas compôs com suas anárquicas palavras.
Gregorio Bacic – Diretor de Tevê e de Cinema, Escritor, Pensador, Crítico.
08. LETRAS/Crítica:
O antirromance de quem ainda vai nascer: Gute Gute, Barriga Experimental de Repertório, de Silas Corrêa Leite: Depois de publicar Goto – o reino encantado do barqueiro noturno do rio Itararé (Joinville-SC: Editora Clube de Autores, 2014), obra nitidamente do século XXI, em que toda a coerência formal da narrativa já foi desrespeitada, o poeta e ficcionista Silas Corrêa Leite ressurge agora com Gute Gute – Barriga Experimental de Repertório (Rio de Janeiro: Editora Autografia, 2015), outro romance pós-moderno, igualmente fragmentado, desintegrado e de linguagem rebelde, que se apresenta como não-romance ou antirromance, assumindo um rompimento definitivo com as fôrmas literárias do Romantismo e do Modernismo. Conhecido como ciberpoeta, Silas, um dos mais originais escritores deste Brasil pós-moderno, surpreende, mais uma vez, com um relato fragmentário de um bebê de altíssimo quociente intelectual (QI) que, ainda no útero materno, mas em fase final de gestação, já demonstra sentimentos, reações e faz citações, algumas de raízes populares e outras de poetas e pensadores famosos. Abusando do recurso da intertextualidade, o romancista faz o seu personagem ainda sem nome questionar não só momentos íntimos da mãe como manifestar algumas reflexões e impressões a respeito do mundo que há de viver fora do útero.
Com tanta originalidade, por certo, Gute Gute – Barriga Experimental de Repertório começa a atrair os leitores desde as primeiras linhas, ao fazer questionamentos sobre termos, canções e sons que o protagonista ouve de dentro da barriga da mãe. Como diz o autor na introdução, o romance trata da relação da criança, ainda na forma fetal, com tudo o que a cerca: “o lar, as barulhanças nos derredores, as tristices e contentezas de formação, as formatações e configurações evolutivas de meio, os sentimentos de base e aprumo, a sensibilidade generalizada de compreender e ser inteirado da vida intrauterina a partir do que rola lá fora, no exterior, a partir do que sente no colmeial do adjacente barrigal”.
Dividida em seu quatro livros e subdividida em muitas partes, esta obra reproduz também as angústias de uma futura mãe ainda adolescente, que se deixou engravidar por quem não pretende assumir o filho. Lê-se: “(...) – Eu não estava no programa... falhou o calendário, a cartelinha, alguma coisa que deveria estar vestido e não estava, alguma coisa que deveria ter usado, sei lá mais o quê... Eu fui um acidente de encontro... Acidente de percurso, sei lá... (...). Como se percebe, o poeta Silas Corrêa Leite, com muita criatividade, atrai o leitor com uma linguagem do dia-a-dia brasileiro, ou melhor, do mundo caipira do interior de São Paulo e do Paraná, colocando novamente em evidência a cidadezinha de Itararé, com suas ruas de pedras, onde nasceu, na divisa entre estes dois Estados, e com a qual mantém vínculos familiares e sentimentais até hoje. Como dele já escreveu o romancista Moacir Scliar (1937-2011), percebe-se que Silas Corrêa Leite sente prazer em narrar, “prazer este que se transmite ao leitor como um forte apelo – o apelo que se espera da verdadeira literatura”.
(*) Adelto Gonçalves, jornalista, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP): LINK: http://port.pravda.ru/sociedade/cultura/29-11-2016/42217-antirromance-0/
23)-MOCORONGOS, microcontos, ebook: Veja versão free: https://www.widbook.com/ebook/read/mocorongos
24)-ILUMIDEIAS – Coletânea de Haicais, poemetos estilo japonês, em três versos/tercetos, do autor, escritos ao longo de mais de cinquenta anos.
25)-ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS – Sendas Edições, Romance ecumênico, o segundo livro escrito pelo autor. Primeira de uma anunciada trilogia, a obra preserva o estilo anárquico e demolidor do seu autor, no campo místico. Resenha crítica da obra no LINK:
https://www.jornalopcao.com.br/opcao-cultural/silas-correa-leite-retorna-a-cena-literaria-com-ele-esta-no-meio-de-nos-167882/
26)-PLANETA BOLA, Causos e acontecências do futebol, Editora Simplíssimo. O autor diz de seu amor pelo futebol, de seu fanatismo pelo Corinthians.
27)-MUITO ALÉM DO CORAÇÃO SELVAGEM DA COISA, Wathpadd. Livro escrito nessa plataforma da internet, a partir de um inicial depoimento de um aluno problemático, querendo fugir de casa, de si, do mundo. Com final fantástico.
28)-DESVÃOS DE ALMAS, Editora Penalux, microcontos do autor, na sua linha e estilo de nanonarrativas impactantes e com desaforismos e escárnios.
29)-O MARCENEIRO, A ULTIMA TENTATIVA DE CRISTO, Romance, Editora Viseu. O surpreendente e assustador primeiro livro escrito pelo autor, mais de trinta anos atrás, só agora pode ser finalmente lançado. Você vai ler e não vai acreditar. Polêmico, diferenciado, conta de Cristo no Brasil, de discos-voadores, do Papa Carol, do FBI, de milagres, viagens interestelares, pandimensionais, diz de profecias, registros contundentes da história sendo revelados depois de tudo e apesar de toda história ser remorso, como diria o poeta Drummond.
30)-DESJARDIM, Muito além do farol do fim do mundo, romance, ebook no link:
https://www.amazon.com.br/DESJARDIM-Muito-Al%C3%A9m-Farol-Mundo-ebook/dp/B074T3HG4Q
31)-O lixeiro e o presidente, Romance Social, ainda no prelo. Quem é o lixeiro, tipo aspone? Quem é o Presidente que jogou sua história no lixo? (“Esqueçam tudo o que eu falei”). E de Fernando em Fernando, o Brasil foi se ferrando. Mordaz, o autor conta de bastidores sórdidos dos antros palaciais de picaretas o Brasil S/A de podres poderes, em que o inimigo do povo está no governo.
32)-VACA PROFANA, microcontos estranhos, uma soma de continhos, contículos, trabalhos curtos em prosa, ficção apurada do autor, incluindo o premiado menor microconto do mundo. Ler para se assustar.
33)-LAMPEJOS, livreto, Poemas, editado na Argentina pela Sangre Editorial
-Esse é um imediato apanhado generalizado do Itarareense Silas Corrêa Leite. Ler para crer. Contatos com o autor: poesilas@terra.com.br Assessoria de Imprensa, CULT-NEWS Divulgação:La-goeldi@bol.com.br Site: www.artistasdeitarare.blogspot.com/
“Em qual espelho ficou perdida a minha face?”, suspirou, angustiada.
Moira é uma juíza renomada, aposentada há alguns anos, que mora em uma suntuosa mansão. Mas, apesar de toda a sua riqueza, não tem herdeiros. Logo após a aposentadoria, ela entrou em crise, pois encontrou-se frente a frente com a pergunta que a inquietou por toda a sua vida: quando será o meu tempo?
Ao sair de seu quarto, Moira caminha até uma grande janela, no final do corredor, e põe-se a observar a chuva. À medida que cada pequeno cristal d’água cai sobre a grama, traz à tona, com toda a vivacidade, as antigas memórias da aurora de sua vida.
A pequena Moira adorava dias de chuva, pois, nesses dias, sua mãe tinha o hábito de contar histórias, sentada em uma cadeira de balanço, para ela e suas duas irmãs, que faleceram em um trágico acidente quando Moira tinha apenas cinco anos de idade. Por isso, a menina cresceu sufocada pela superproteção materna e pelas altas expectativas do pai.
Agora, em frente à grande janela, Moira estava tão absorta em seus pensamentos que não percebeu o avançar das horas. Permaneceu nesse transe até as sete horas, quando a governanta veio chamá-la para tomar seu desjejum. Alguns instantes depois, Moira estava perante a mesa posta com fartura, mas estava sem apetite, e quis tomar apenas uma xícara de chá.
“De fato, do fundo do poço só se pode tirar memórias ou mesmices...”, refletiu Moira.
Que contraste Moira enxergou entre a fartura desse café da manhã, para uma única pessoa, e todas as refeições de sua família – ou até mesmo a ausência delas – em seus dias de infância. Essa percepção transportou-a para o dia em que sua mãe recebeu um misterioso presente de uma falecida senhora: uma penteadeira de mogno, com miligramas de ouro incrustado em desenhos floreados, e um espelho embutido no majestoso móvel.
Moira aprendeu a ler e escrever bem cedo. Seus dias eram milimetricamente administrados pelo pai, que tinha um único objetivo na vida: fazer com que a filha jamais enfrentasse as mesmas privações pelas quais ele passou. Por isso, a menina tinha de estudar, dia e noite, para que, no futuro, tivesse uma profissão de prestígio e retorno financeiro a curto prazo.
Após o seu desjejum, Moira caminha por vários corredores e decide ir até o seu oásis particular: uma biblioteca de grandes dimensões, com prateleiras até o teto, todas preenchidas com edições de luxo de centenas de livros, desde os clássicos até os contemporâneos da literatura universal, em vários idiomas. Um leve lampejo acende uma fagulha em seus olhos azuis. Ela está no único lugar em que realmente se sente realizada.
Moira pensou como teria sido sua infância em uma biblioteca como aquela, como teria se divertido inventando suas próprias histórias, ou até mesmo imaginando ser a protagonista de seus romances favoritos.
Quando menina, seus passatempos favoritos, nas folgas de sua pesada rotina de estudos imposta pelo pai, eram ler contos de fadas e romances que a transportavam para outros momentos e mundos, e brincar em frente à majestosa penteadeira de sua mãe. Ao contemplar o espelho, ela não via a pequena garota de belos cachos castanhos e olhos azuis cintilantes, e sim a protagonista da história que estava lendo ou escrevendo.
O maior sonho de Moira era se tornar uma grande escritora no futuro. Por isso, ela tinha um diário, no qual criava um mundo todo seu, cuja única lei era a liberdade. Bem, esse era o seu sonho, porém ele não estava nos planos de seu pai, que queria, a todo custo, que ela fosse rica. Por essa razão, ela escondia seu diário na última gaveta do imponente móvel de mogno, assim também como sua força para escolher o próprio destino.
Ainda na biblioteca, uma pequena lágrima cai dos tristes olhos azuis de Moira, ao lembrar de seu antigo diário infantil e perceber o quanto a sua existência foi vazia... Vazia de significado, e, principalmente, de felicidade.
“Cada instante do nosso passado nos faz ser quem nós somos”, disse consigo mesma.
Nesse instante, a governanta entra na biblioteca e encontra Moira em prantos.
– A senhora está se sentindo bem? – perguntou a governanta.
– Não se preocupe comigo, só estou um pouco emotiva – disse Moira, enxugando as lágrimas.
– Desculpe interrompê-la, mas o Contador está lhe aguardando na sala de visitas. Devo pedir-lhe que retorne em outro momento? – disse a governanta, com um olhar compreensivo.
– Não. Diga que irei descer em alguns minutos – disse Moira, resignada.
– Certo, senhora. Você realmente está se sentindo bem? – insistiu a governanta.
– Obrigada pela preocupação, mas o meu problema não pode ser resolvido agora – disse Moira, enigmática. – Não deixe o Contador esperando, diga que irei em instantes.
A compaixão de sua funcionária a fez viajar mais uma vez em suas memórias. Moira viu-se perante o seu único e melhor amigo, que era também seu vizinho. Os dois costumavam brincar juntos no quintal de suas casas. Ele costumava ouvir pacientemente as queixas de Moira sobre a superproteção dos pais e como se sentia sufocada por isso. O garoto sempre a alegrava e distraía com suas histórias, pois ele também era dono de uma imaginação fértil. Porém, estava fadado a um destino no qual sua criatividade de nada valia. Ele era extremamente pobre, vivia em uma miséria maior do que a família de Moira jamais experimentaria. Por isso, quando completou apenas dez anos de idade, teve de começar a trabalhar em uma fábrica de tijolos, para que a família não definhasse de fome.
Temendo que a filha se apaixonasse pelo garoto quando eles chegassem à juventude e, assim, tivesse um destino diferente do que ele planejara, o pai de Moira proibiu a amizade das duas crianças, o que as condenou a um caminho no qual não havia tempo nem espaço para amizades ou sentimentos, somente para a monotonia diária e a solidão.
O temor do pai de Moira tinha uma explicação. No passado, ele é que fora o melhor amigo pobre de sua esposa. A avó, que Moira jamais conhecera, era uma mulher muito rica, que tinha apenas duas filhas, dentre as quais a primogênita um dia viria a ser a mãe de Moira. Contudo, a rica senhora não aprovava o relacionamento entre sua distinta filha e um rapaz tão humilde, pois acreditava não passar de um mero interesse financeiro. Por isso, deserdou sua primogênita no dia em que recebeu a notícia do casamento, e se ausentou, assim, para sempre da vida de sua filha. Somente em seu leito de morte arrependeu-se pela dura decisão e suplicou a sua segunda filha, a única herdeira de toda a sua fortuna, que entregasse a penteadeira à sua irmã, pois era uma relíquia que atravessava gerações de primogênitos dos seus antepassados.
Agora, em seu escritório, Moira discute acaloradamente com o seu Contador, pois descobre um desfalque em suas finanças. E toda essa agitação causa-lhe uma enorme dor no peito, e ela cai desmaiada.
Quando Moira recobra seus sentidos, ela encontra-se deitada em sua cama e percebe o olhar cansado de sua governanta, que ficara em vigília a noite inteira, cuidando de sua estimada senhora. Um turbilhão de pensamentos invade a mente de Moira. Ela enxerga sua vida como um delicado castelo de areia que está sendo soprado pelo impetuoso vento da morte. Restam, agora, poucos grãos... Ela percebe que sua existência foi preenchida unicamente pelas ausências de seu passado.
Em seu peito, aquela mesma dor se acentua; ela enxerga uma luz muito forte e imagina como teria sido a sua vida se ela tivesse, de fato, tomado as rédeas de seu próprio destino. Pois, em seu último suspiro, ela compreendeu que o futuro é um quebra-cabeça, com inúmeras lacunas, que podem ser preenchidas por várias peças disponíveis.
Inquieta, com a respiração ofegante, Moira desperta no dia de seu décimo oitavo aniversário. Tudo não passou de um sonho...
VELOSO, Gabriela Lages. Conto O Relicário. Revista Intransitiva - Memórias que nos atravessam, Rio de Janeiro, p. 62 - 67, 09 dez. 2020.
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